segunda-feira, outubro 31, 2016

Telma e Luís

Aconteceu na quarta-feira e provocou o maior dos desassossegos nas hostes benfiquistas, o que se compreende. Caía já a tarde num morno esplendor outonal depois de um fim de semana de temporais medonhos quando, primeiro timidamente, um sussurro assomou olimpicamente pelas agências noticiosas para depois, já à descarada, se instalar no seu devido lugar na ordem de importância dos sucessos do dia. A Telma Monteiro tinha renovado por cinco anos o contrato que a ligava ao Sport Lisboa e Benfica. 

Sabendo-se a paixão que há em Portugal pelas modalidades ex-amadoras, não custará muito imaginar a angústia que se instalou entre os adeptos benfiquistas no momento em que deixaram de ter dúvidas sobre a continuidade na família daquela mulher de 30 anos que lhes tinha trazido uma medalha de bronze do Rio de Janeiro. Telma ia continuar a ser nossa, sim, mas a que preço? Era esta a inquietação da grande nação benfiquista. Quanto foi preciso pagar à maravilhosa judoca – uma fortuna, certamente! – para que abdicasse daquela incrível oportunidade que se lhe ia deparar em breve? A oportunidade única de ser apresentada no decorrer do intervalo do próximo Sporting-Arouca! Uma pessoa pode ser campeã de muitas coisas no país e no estrangeiro, pode ter medalhas a dar com pau, pode ter vencido nos maiores palcos do mundo mas quantos superatletas, quantos heróis modernos se podem dar ao luxo de sonhar com uma consagração deste quilate. 

Na modalidade do futebol, a mais popular entre todas, o Benfica vai à frente no campeonato e aquilo que os benfiquistas menos querem é convulsões no balneário dos tricampeões nacionais. A ver se a coisa vai direitinha até ao fim. Por isso arrepiavam-se os utentes do Estádio da Luz só com a ideia de o novo salário de Telma se equivaler ao de Grimaldo ou, pior ainda, ultrapassar num euro que fosse o montante do salário de Cervi, isto só por serem todos louros naturais apesar de pertencerem a um clube com origens muito, muito populares. 

O presidente do Benfica, felizmente, não demorou muito tempo a tranquilizar os adeptos que muito sofrem por amor e apresentou a Telma do plano quinquenal 2016/2021 nessa mesma noite a uma plateia de apoiantes que respirou de compreensível alívio, pudera. Pois se a nossa judoca estava ali a ser reapresentada a toda a gente era porque, de certeza, não seria reapresentada outra vez no intervalo do Benfica-Paços de Ferreira em andor privativo. É que ninguém merece. Posto isto, o presidente disse que tinha fome de vitórias e foram todos jantar. 


O público em geral, ansioso por circo, ficou dececionado 
A questão do ‘tetra’ desenterrada depois de 90 anos pelo presidente do Sporting e sua equipa de investigadores tem tanta importância prática como a questão dos vouchers do ano passado repescada este ano à falta de melhor. Disso mesmo prestou prova o presidente do Sporting ao comparecer de estadista no lançamento do livro ‘Almanaque do Leão’, obra de Rui Miguel Tovar, um excelente jornalista que reitera, com a maior naturalidade do mundo, a verdade histórica dos 18 títulos conquistados pelo Sporting em 110 anos de existência, quase um século a ver navios. 

O público em geral, ansioso por circo, esperaria que Bruno de Carvalho avançasse com três kits Eusébio e uma providência cautelar que impedisse a distribuição do livro que patrocinou. Mas o público ficou dececionado em geral. 

O presidente do Sporting apadrinhou a cerimónia e não se ralou nada porque o fulcral não é o ‘tetra’ de há 90 anos. 

O importante é a chieira. É para isso que o ‘tetra’ serve...



Fonte: Leonor Pinhão @ Correio da manha

quinta-feira, outubro 27, 2016

O homicídio em série e o bidé

No momento em que escrevo, o autor dos crimes de Aguiar da Beira continua a monte. A GNR tem sido criticada por não ter conseguido capturá-lo, o que me parece injusto: as autoridades sabem que o tempo conta a seu favor, uma vez que, após uma semana a viver no mato, mais cedo ou mais tarde o assassino revelar-se-á, muito provavelmente, pelo cheiro. Este é, aliás, um aspecto que os principais comentadores costumam descurar: a relação entre a fuga às autoridades e a higiene pessoal. Uma coisa é ludibriar a polícia durante o dia e depois pernoitar no Ritz, após um banho quente e retemperador. Outra coisa é andar a monte no pinhal, sem papel higiénico, escova de dentes e uma muda de roupa. É diferente ser um assassino foragido em Nova Iorque, onde há sempre uma espelunca com águas quentes e frias disposta a acolher hóspedes esquisitos sem fazer muitas perguntas, e dedicar-se à mesma actividade nas matas de Trás-os-Montes, podendo apenas aspirar a um curral de ovelhas como abrigo. Há dias, quando ouvi um comentador de um canal de televisão por cabo fazer um apelo ao homicida por, segundo disse, estar convencido de que ele teria acesso à comunicação social, ocorreu-me que também isso talvez fosse improvável. Mesmo na hipótese remota de ter conseguido subscrever um bom pacote de canais nos bosques do distrito de Vila Real, é difícil imaginar que o criminoso faça uma pausa na fuga à polícia para verificar se estão a apelar à sua rendição na CMTV. Na verdade, além de afectar a higiene pessoal, a evasão para a floresta dificulta a vida cultural, na medida em que um foragido pretende espairecer e não consegue ver um pouco de televisão, deseja comprar o jornal e não pode, quer ir à ópera e é complicado.

Além de um péssimo plano de fuga, Pedro Dias tem um nome decepcionante para assassino. Toda a gente percebe o potencial de um nome como Charles Manson para crismar assassinos e inspirar futuras estrelas da música. Mesmo em Portugal, temos um passado de foragidos com outra grandeza, como Faustino Cavaco, que fugiu da prisão de Pinheiro da Cruz em 1985 e andou um mês a monte. Faustino Cavaco é um nome bastante apresentável para uso de um bandido. Não surpreende que um Faustino possa ser infausto, e estamos acostumados a que um Cavaco nos dê cabo da vida. Mas, no nome de Pedro Dias, há uma banalidade que não assusta ninguém. Um cantor chamado Marilyn Dias não venderia um único álbum.


Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão


segunda-feira, outubro 24, 2016

Futebol para Budistas

Recorrendo a muita da sua juventude, o Benfica portou-se como gente crescida na Ucrânia. Hoje é no Restelo. Os mais velhos da equipa que expliquem aos mais novos e aos acabados de chegar o empenho a que um clássico obriga. Entre eles há um - franco Cervi - que não vai demorar muito tempo por aqui. este minúsculo argentino, dono de um futebol maiúsculo, tem capacidade para se revelar o melhor comunicador da indústria, pelo muito que de maravilhoso nos comunica jogando. 

Cervi foi disputado pelo Benfica e pelo Sporting. Anunciado como certo em Alvalade, acabou por aterrar na Luz. São estas as querelas entre rivais que interessam ganhar e não as dos comunicados infantiloides nem, muito menos, as dos facílimos e por isso mesmo desprezíveis, diagnósticos de insanidade à vista desarmada.

A nossa ideia de que o futebol não era para budistas durou até haver redes sociais. Melhor: durou até esta semana, quando um budista confesso do Instagram mandou Cristiano Ronaldo "fazer o mesmo à mãe", comentando uma fotografia do jogador português pisando distraidamente o canteiro onde assenta uma estátua de Buda. Em portugal, o mais recente budista do futebol não é em si menos surpreendente.

Trata-se do presidente do FC Porto, o próprio. Instado a comentar a versão requentada do não-caso dos vouchers, Pinto da Costa surgiu em público para dizer que "isso são coisas que discutidas não trazem nada de bom ao futebol" e, ainda mais zen, rematou de trivela:" Eu não alinho a falar sobre que clube for em problemas dessa espécie," Ficaram os benfiquistas sem fôlego perante a benevolência do grande adversário. Já em Alvalade foi mais perturbador o que se seguiu. Perante o inconveniente altruísmo alheio, não é que se viraram os teclados para a pobre Alemanha e desataram a chamar nomes aos tipos do Borussia de dortmund? Por tudo isto era conveniente que o Benfica entrasse hoje no Restelo com o maior respeito pelo adversário e ganhasse o jogo com pacifismo. No nosso futebol não é budista quem quer. É budista quem pode.


Fonte: Leonor Pinhão @ record


sábado, outubro 22, 2016

Desculpas permanentes

Na última terça-feira, o treinador do Sporting não esteve no banco a dirigir a equipa no jogo com o Borussia Dortmund tal como já não tinha estado no jogo com o Légia. O Comité de Disciplina da UEFA castigou-o com dois jogos de suspensão em função do seu comportamento incorreto em Madrid naquela quase-vitória que depois foi um quase-empate até à chegada do minuto 88. Como estarão recordados, no regresso a Lisboa, o treinador do Sporting atirou-se forte e feio à UEFA, essa organização retrógrada que persiste em limitar a ação dos treinadores durante os jogos obrigando-os a uma postura só exigível à família real inglesa à hora do chá. 

É, no entanto, de crer que o ataque público de Jorge Jesus às normas de conduta europeias lhe tenha agravado a pena com um segundo jogo de suspensão. 

Naturalmente, não é essa a opinião do Sporting nem do próprio Jesus. A culpa foi de um português que colabora com a UEFA, um péssimo patriota, que, segundo a Comunicação oficial de Alvalade, mandou os fotógrafos do Santiago Bernabéu "tirar fotografias ridículas" ao treinador, um seu compatriota, quando este se viu na bancada depois da ordem de expulsão. Não era preciso Jorge Batista, "press officer" da UEFA há décadas, ter mandado ninguém tirar fotografias para que uma audiência televisiva de vastos milhões espalhados pelo mundo tivesse a oportunidade de ver o treinador do Sporting seguindo, com intenso dramatismo, os instantes finais e fatais do jogo no meio dos adeptos madrilenos que, por sinal, pareciam bastante divertidos, pudera. 

No entanto, o ataque a Jorge Batista prosseguiu na véspera do jogo com os alemães. Jesus, certamente aborrecido por não poder estar no banco, sentenciou que o segundo jogo do castigo que lhe foi aplicado teve "a mãozinha de um delegado português". O tal que lhe mandou tirar "fotografias ridículas" como se uma coisa destas fosse possível sem a colaboração do fotografado. A teoria da desculpabilização permanente é muito própria do futebol nacional e internacional mas, com toda a franqueza, o Sporting tem vindo a especializar-se neste culto. Os outros, os outros… a culpa é sempre dos outros. 

E, assim sendo, para atenuar o incómodo da última derrota, convirá talvez afirmar perentoriamente que o primeiro golo dos de Dortmund teve ‘a mãozinha’ da águia Vitória e que o segundo golo do mesmo Dortmund teve a ‘mãozinha’ do Barbas. 

Já o golo anulado a Coates teve, certamente, a ‘mãozinha’ da Polícia Judiciária enquanto o penálti reclamado e não assinalado aconteceu por ordem expressa do secretário-geral da ONU que é do Benfica, pois claro.


Fonte: Leonor Pinhão @ correio da manha

quinta-feira, outubro 20, 2016

Frankenstrump uma historia menos conhecida de Mary Shelley

O meu nome é Victor Frankenstrump e estudei ciências na universidade de Ingolstadt. Ao longo da minha frequência universitária pude aperceber- -me de que Ingolstadt é uma cidade com bastantes consoantes. Não há muito mais aspectos notáveis nesta aborrecida localidade, pelo que os meus amigos e eu resolvemos dedicar-nos com algum afinco ao alcoolismo. Numa noite de tempestade, um dos meus colegas apostou que eu não era capaz de criar um monstro feito de partes de cadáveres humanos e cérebro de gorila. Aceitei a aposta e fomos imediatamente para o cemitério pilhar sepulturas. Tínhamos alguma experiência no assunto porque essa tinha sido, precisamente, a actividade em que tinham consistido as praxes da universidade no ano anterior. Levámos os cadáveres para o laboratório da universidade e compusemos um corpo bastante grotesco, mas ainda assim razoavelmente parecido com o de um ser humano. A cabeça era especialmente estranha, porque pertencia a um homem que tinha morrido com um ataque de icterícia, e o rosto tinha agora um tom alaranjado, excepto ao redor dos olhos, onde era cor-de-rosa. Foi impossível obter o cérebro de um gorila, mas entretanto ocorreu-me que meu tio, Amílcar Frankenstrump, falecido na semana anterior, tinha a mundividência de um primata. O cérebro de meu tio era demasiado pequeno para a caixa craniana do monstro, de modo que preenchemos o resto do espaço com palha, para que não chocalhasse. Depois de cosidas as partes do corpo, levámos o monstro para um descampado e atámo-lo a um pára-raios, esperando que a descarga eléctrica de um relâmpago lhe desse vida. O relâmpago atingiu-o em cheio na cabeça, o que fez com que parte da palha que se encontrava no interior do crânio saísse. Quando se levantou, o monstro estava zangado mas decidido. Disse que “o lugar das gajas era na cozinha”, que “isto precisava era de um Salazar em cada esquina”, que “estrangeiros é na terra deles”, e que tinha uma vontade incontrolável de governar os Estados Unidos da América. Rimos bastante, porque era óbvio que, apesar de parcialmente composto de palha, mesmo assim faltavam-lhe habilitações para ocupar sequer o cargo de espantalho num campo de milho. Talvez pudesse fazer carreira como atracção de feira, mas nunca conseguiria estar perto de ser eleito para a Casa Branca. Fomos descansados beber mais uma garrafa de absinto, finda a qual sentimos alguma vontade de votar nele. Mas temos a certeza que passa após uma boa noite de sono.

Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão


terça-feira, outubro 18, 2016

"A minha bancarrota é de propósito!" – responde-lhe logo outro responsável jurando que recusou vender três jogadores por 95 milhões só para meter nojo. "Isso para mim são trocos!" – rejubila quem recusou vender por 80 milhões um jogador que venderia por 30 milhões só para fazer pirraça. 

O FC Porto foi, portanto, o último dos grandes a publicitar os seus sucessos financeiros. 58 milhões de euros de prejuízo. Não é pecado, é opção. O Benfica foi o primeiro, como se sabe. Apresentou contas positivas que são uma pouca-vergonha quando lhe bastava alugar o inimputável taxista Máximo à voragem das redes sociais para se desgraçar totalmente. É por causa de iniquidades como estas que as contas do Sporting "fazem bem". Assim o assegurou o seu presidente. Fazem bem ao futebol e, como se não bastasse, fazem ainda melhor ao próprio Sporting que, em 2016, de tão folgado que anda, até já anda a consumir receitas de 2018. E porquê? Porque sim. 

Entretanto, e enquanto o ‘DN’ não voltar a publicar duas páginas propostas pelo presidente do Sporting a explicar aos confundidos leitores como a sua bancarrota é muito mais moderna e promissora do que a bancarrota dos outros, é dever de quem ama o futebol sugerir, a custo zero, soluções que sirvam para manter tudo exatamente na mesma ou, na melhor das hipóteses, para piorar e fazer inveja à concorrência. 

Por esta ordem de ideias, o Benfica tem obrigatoriamente de lipoaspirar o Taarabt e mandá-lo para a Sampdoria por troca com o Djuricic. O FC Porto tem de convencer o V. Guimarães a trocar o Marega pelo Depoitre e a ficar-lhe eternamente agradecido. O Sporting neste capítulo da surpreendente rentabilização de contratações não rentáveis, como aliás em todos os demais capítulos, segue muito à frente dos rivais. Para desespero de muita gente – e até para desespero de muitos sportinguistas bárbaros –, o Sporting tem à mão a possibilidade de fazer muito dinheiro se quiser, e isto por amor à ficção nacional, vender à TVI para as novelas da tarde e à SIC para as novelas da noite o agora ator Eric Cantona. É certo que dói sempre vender um pedaço da História. Mas é assim a vida empresarial. Vão-se os anéis, ficam os dedos. E nisto andamos todos entretidos enquanto não chega o inverno.


OUTRAS HISTÓRIAS 
Encontros do Benfica com o Santos: Do penálti falhado de Zé Augusto ao penálti falhado de Zé Gomes 
Uma cortesia de Ederson permitiu ao Santos empatar com o Benfica na festa com que Léo encerrou a sua longa e profícua carreira. Quando Benfica e Santos se encontram há sempre qualquer coisa que fica para a História. Por exemplo, os 3 golos de Eusébio no encontro de 1960 em Paris. Que só não terão sido 4 golos porque o treinador Béla Guttmann não permitiu que fosse o "menino" a converter o penálti resultante de uma falta cometida sobre o "menino", pois claro. Há 56 anos, encarregar-se-ia Zé Augusto desse pontapé e falhou. Há 8 dias, na festa de Léo, houve outra grande penalidade falhada pelo Benfica. E foi outro "menino" a provocá-la – provocou, aliás, 2 castigos máximos – e a falhá-la porque Rui Vitória, ao contrário de Guttmann, decidiu entregar a Zé Gomes a responsabilidade de converter o castigo. Que não fique, portanto, triste o luso-guineense de 17 anos por ter esbanjado o que parecia fácil. Falhar penáltis contra o Santos sempre foi indubitável selo de qualidade.


Fonte: Leonor Pinhão@correio da manha

quinta-feira, outubro 13, 2016

Uma coisa em forma de Lifestyle para apagar PMS

Tenho dedicado alguma atenção à nova secção de Lifestyle, que cada vez mais jornais têm. Como, infelizmente, a minha life possui pouquíssimo style, esperava recolher ali informações preciosas. Até agora, porém, não posso dizer que tenha conseguido. O primeiro facto saliente das secções de Lifestyle é o próprio título. Já tínhamos Política, Economia, Sociedade, Internacional, Cultura e Desporto. Fazia falta, ao que se constata agora, uma categoria em estrangeiro, que albergasse uma série de notícias rejeitadas pelas rubricas tradicionais. O admirável poder de síntese da língua inglesa é, neste caso, muito útil, uma vez que um eventual nome português da secção Lifestyle teria de ser qualquer coisa como Repositório de Curiosidadezinhas Meio Parvas Extraídas da Internet, Dicas de Beleza e Charlatanices Pseudo-Científicas em Geral, o que seria demasiado comprido, com muita pena minha e de todos os amantes do nosso idioma.

Vale a pena fazer uma pesquisa rápida pelo Lifestyle dos media portugueses, para percebermos melhor como o mundo mudou. Uma publicação propõe a seguinte peça jornalística: “25 razões para gostar do Outono”. Não sei como foi possível, mas houve um tempo em que as pessoas passavam pela vida sem que os meios de comunicação social lhes dessem razões para apreciar estações do ano. Entre as 25 razões para gostar do Outono, o artigo destaca “Ficar em casa” e “Batons” que, de facto, são o tipo de coisa que, na Primavera, Verão e Inverno, faz menos ou nenhum sentido. Um jornal publica um interessante artigo intitulado “O que são os pontinhos brancos que temos nas unhas?” e depois dedica 1100 caracteres a apresentar a seguinte resposta: “Nada de especial.” Outro jornal, na mesma edição em que apresenta um “iPod para cães que sofrem de ansiedade”, avança com uma questão central: “Setembro é o melhor mês para fazer anos?” E responde afirmativamente à pergunta, justificando com um conjunto de 13 motivos (menos 12 do que as razões para gostar do Outono, mas ainda assim um trabalho de fundo) entre os quais sublinharia, e cito: “Os signos mais fixes.”

Anseio pelas excelentes investigações que esta nova categoria vai proporcionar, e por conhecer as figuras maiores do jornalismo lifestyliano, os Woodward e Bernstein da ninharia, e cá estarei para os aplaudir, quando vencerem o Pulitzer da pepineira.

Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão

domingo, outubro 09, 2016

É só falazar, falazar

Era desnecessário o comunicado do Benfica a explicar aos incautos que o presidente do clube ao dizer 'por favor, não falem dos outros clubes' não feriu nem os Estatutos do Clube nem a Constituição da República restringindo o direito à liberdade de expressão dos adeptos e aos associados com maior ou menos expressão pública, o que seria francamente intolerável. As próprias palavras de Luís Filipe Vieira seriam desnecessárias se a Natureza providenciasse a todos os da sua casa lucidez e modéstia em doses bastantes para que ninguém sucumba à doença infantil da microfonite aguda face à tenda que se vê montada do outro lado da rua.

Vieira sabe que, pelo segundo ano consecutivo, o Benfica está a ser levado ao colo por aquilo a quase convencionou chamar, por respeito à instituição, 'comunicação' do Sporting e que, por incrível que pareça, já conheceu melhores dias. Se, por exemplo, o 'kit' Eusébio fez o seu relativo furou na imprensa em Outubro de 2015, já esta 'denúncia' de Outubro 2016 sobre ameaças a árbitros não mereceu sequer chamada de primeira página nos três jornais desportivos em circulação. Imagine-se só o que será e o vai acontecer à denúncia de Outubro de 2017.

Basicamente será aquele estribilho que já cantava a Beatriz Costa, em 1936, numa revista do 'Parque Mayer:
- É só conversar, falazar, falazar...
Foi um sucesso imediato. O espectáculo esteve meses em cartaz e tinha o curioso título de 'Arre Burro!'

É portanto, do interesse de Vieira, porque é do interesse do Benfica, obstara que sejam os franco-atiradores benfiquistas e preencher o espaço noticioso sobre o actual momento do rival. Houvesse coragem e esses blocos informativos seriam ocupados pelas reflexões provenientes da 'massa crítica' do Sporting que começa agora a sair da clandestinidade fazendo até por merecer uns valentes apodos do presidente em exercício, o que também não nos diz respeito.

Com a eleição de António Guterres para secretário-geral da ONU, confirma-se a velha denúncia de Pinto da Costa. O Benfica persiste em 'meter gente em lugares importantes'. Parabéns!

Na morte de Mário Wilson, disse Toni que com ele privou no futebol mais do que ninguém entre os ainda vivos: 'O teu filho branco curva-se perante a memória do seu segundo pai.' Poucas palavras, é certo, mas que nos dizem tanto sobre Mário Wilson e, obviamente, sobre o próprio Toni. E, perdoem-me o abuso, poucas palavras que nos dizem tanto sobre aquilo que queremos que nunca deixe de ser o Benfica.


Fonte: Leonor Pinhão @ Record


sábado, outubro 08, 2016

Desporto de fim de semana - 2016/10/08

Futebol
Sábado, 2016/10/08 - 15:00 - FC Vermoim -v- Benfica - Supertaça Futsal Fem. 2016/17 (ABola TV)
 - 17:00 - Inglaterra -v- Malta - WC2018 UEFA (SportTv1)
 - 18:15 - Sporting -v- Benfica - Supertaça Futsal 2016/17 (TVI)
 - 19:45 - Alemanha -v- República Checa - WC2018 UEFA (SportTv1)
 - 20:00 - Santos -v- Benfica - Amigáveis Clubes 2016 (BTv 1)


Segunda-feira, 2016/10/10
 - 19:45 - Ilhas Faroé -v- Portugal - WC2018 UEFA (RTP1)
 - 19:45 - Holanda -v- França - WC2018 UEFA (SportTv1)


Terça-feira, 2016/10/11
 - 17:30 - Liechtenstein -v- Portugal - Euro U21 17 (Q) (TVI)
 - 19:45 - Eslovénia -v- Inglaterra - WC2018 UEFA (SportTv2)

Quarta-feira, 2016/10/12
 - 00:30 - Argentina -v- Paraguai - Eliminatórias 2018 CONMEBOL (SportTv2)
 - 01:30 - Venezuela -v- Brasil - Eliminatórias 2018 CONMEBOL (SportTv1)

Sexta-feira, 2016/10/14
 - 18:00 - Toulouse -v- Monaco - Ligue 1 16/17 (SportTv1)
 - 19:30 - Borussia Dortmund -v- Hertha BSC - 1. Bundesliga 16/17 (SportTv3)
 - 20:15 - 1º Dezembro -v- Benfica - Taça Portugal 16/17 (SportTv1)




Tenis
Sábado, 2016/08/10
 - 09:30 - Andy Murray (1.14) -v- David Ferrer (5.00) -  ATP - Beijing (CHN) - Hardcourt - World
 - 14:00 - Milos Raonic (1.67) -v- Grigor Dimitrov (2.10) -  ATP - Beijing (CHN) - Hardcourt - World
 - 12:30 - Elina Svitolina (3.40) -v- Agnieszka Radwanska (1.28) -  WTA - Beijing (CHN) - Hardcourt - World



Formula 1
2016/10/09 - GP Japão
 - Nico Rosberg (GER/Mercedes) 2€
 - Lewis Hamilton (GBR/Mercedes) 2.20
 - Max Verstappen (NED/Red Bull) 15€
 - Daniel Ricciardo (AUS/Red Bull) 15€
 - Kimi Räikkönen (FIN/Ferrari) 17€
 - Sebastian Vettel (GER/Ferrari) 26€
 - Sergio Perez (MEX/Force India) 151€
 - Nico Hulkenberg (GER/Force India) 251€
 - Fernando Alonso (ESP/McLaren) 401€
 - Valtteri Bottas (FIN/Williams) 501€
 - Jenson Button (GBR/McLaren) 501€
 - Romain Grosjean (FRA/Haas) 501€
 - Carlos Sainz Jr. (ESP/Toro Rosso) 751€
 - Daniil Kvyat (RUS/Toro Rosso) 751€
 - Felipe Massa (BRA/Williams) 751€
 - Esteban Gutierrez (MEX/Haas) 1001€
 - Jolyon Palmer (GBR/Renault) 1501€
 - Kevin Magnussen (DEN/Renault) 2001€
 - Pascal Wehrlein (GER/Manor) 5001€
 - Esteban Ocon (FRA/Manor) 5001€
 - Luiz Felipe Nasr (BRA/Sauber) 5001€
 - Marcus Ericsson (SWE/Sauber) 5001€




Benfica na TV
Sábado, 2016/10/08
 - 15:00 - SL Benfica -v- CD Torres Novas - Basquetebol Femininos - Supertaça(BTV)
 - 15:00 - FC Vermoim -v- SL BenficaFutsal Femininos - Supertaça (A Bola TV)
 - 15:30 - CR Évora -v- SL Benfica - Rugby
 - 17:00 - SL Benfica -v- Handball Kaerjeng - Andebol (BTV)
 - 18:15 - Sporting CP -v- SL Benfica - Supertaça Futsal (TVI)
 - 20:00 - Santos FC -v- SL Benfica - Futebol (BTV)
 - 21:30 - OC Barcelos -v- SL Benfica - Hóquei

Domingo, 2016/10/09
 - 18:00 - FC Porto -v- SL Benfica - Basquetebol - Supertaça (TVI 24)
 
Quarta-feira, 2016/10/12
 - 19:15 - SL Benfica -v- Futsal Clube Azeméis - Futsal - 1ª Jornada (BTV)
 - 21:00 - SL Benfica -v- V. Guimarães - Basquetebol - 1ª Jornada (BTV)
 - 21:00 - Riba D'Ave HC -v- SL Benfica - Hóquei



Donald Trumpolineiro

Num país europeu, um candidato a presidente que se comportasse como Donald Trump perderia debates até contra uma cadeira vazia. Nos Estados Unidos, aguenta-se bastante bem contra uma candidata da qual se diz ser a mais bem preparada de sempre. No debate de segunda-feira, Hillary Clinton acusou Trump de não pagar impostos. Sabemos como, num país decente, ou até mesmo em Portugal, um candidato acusado de não cumprir os mais básicos deveres de cidadania reagiria: “Não lhe admito, sotôra. Isso é mentira. E é uma inverdade, também. Uma inverdade falsa, ainda por cima. Vamos discutir as grandes questões, sotôra; não entre pelo ataque pessoal, que não é isso que interessa às pessoas lá em casa.” A resposta de Trump foi ligeiramente diferente. Disse assim: “Isso significa que sou esperto.” Na Europa, o debate teria acabado ali e Clinton seria nomeada presidente na hora, porque toda a gente concordaria que não valia a pena gastar tempo e dinheiro numa eleição depois de um erro tão colossal. Nós também achamos que só os parvos é que pagam impostos, mas temos o bom senso de nunca o dizer em público. No entanto, nos Estados Unidos, é possível concorrer à presidência lastimando o estado das finanças públicas enquanto se adopta um comportamento que contribui para a degradação do estado das finanças públicas.

Mais adiante, Clinton fez nova acusação impensável: Trump não pagou a muitos dos trabalhadores que ajudaram a erguer o seu império imobiliário. Mais uma vez, o espectador europeu previu um desmentido enérgico: “Sotôra, isso é campanha suja. Pagar salários é das coisas mais belas do mundo, juntamente com o pôr-do-sol e o sorriso das crianças.” Trump voltou a surpreender: “Provavelmente, não fiquei satisfeito com o trabalho deles.” Vale a pena lembrar que uma das promessas de Trump é criar milhões de postos de trabalho. Creio que está a dizer a verdade: é mais fácil criar postos de trabalho quando não se pretende pagar salários.

Hillary também cometeu erros. Acusou o seu adversário de querer baixar os impostos para ricos como ele, o que só pode ser falso. Já tinha ficado estabelecido que Trump não paga impostos nenhuns, pelo que é impossível taxar abaixo de zero. Em segundo lugar, referiu, e bem, a obsessão de Trump pelo local de nascimento de Barack Obama. Mas, assim como, durante anos, Trump pediu para ver a certidão de nascimento do presidente americano, agora Clinton devia responder na mesma moeda e pedir para ver a certidão de óbito de Donald Trump. Trump é um senhor cor de laranja com o discurso e a aparência física de quem foi empalhado. É muito improvável que esteja vivo.

Antigamente, uma pessoa com as ideias e a personalidade de Donald Trump não se candidatava a presidente dos Estados Unidos: tentava matar o presidente dos Estados Unidos. Tenho saudades desses tempos. Estávamos todos mais seguros.


Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão


quarta-feira, outubro 05, 2016

2016 - 5 de Outubro - Implantação da República Portuguesa


A Implantação da República Portuguesa foi o resultado de uma revolução organizada pelo Partido Republicano Português, iniciada no dia 2 de Outubro e vitoriosa na madrugada do dia 5 de Outubro
de 1910, destituiu a monarquia constitucional e implantou um regime republicano em Portugal.

A subjugação do país aos interesses coloniais britânicos, os gastos da família real, o poder da igreja, a instabilidade política e social, o sistema de alternância de dois partidos no poder (o Partido Progressista e o Partido Regenerador), a ditadura de João Franco, a aparente incapacidade de acompanhar a evolução dos tempos e se adaptar à modernidade — tudo contribuiu para um inexorável processo de erosão da monarquia portuguesa do qual os defensores da república, particularmente o Partido Republicano, souberam tirar o melhor proveito. Por contraponto, o partido republicano apresentava-se como o único que tinha um programa capaz de devolver ao país o prestígio perdido e colocar Portugal na senda do progresso.

Após a relutância do exército em combater os cerca de dois mil soldados e marinheiros revoltosos entre 3 e 4 de outubro de 1910, a República foi proclamada às 9 horas da manhã do dia seguinte da varanda dos Paços do Concelho de Lisboa.Após a revolução, um governo provisório chefiado por Teófilo Braga dirigiu os destinos do país até à aprovação da Constituição de 1911 que deu início à Primeira República. Entre outras mudanças, com a implantação da República, foram substituídos os símbolos nacionais: o hino nacional,a bandeira e a moeda.

Fonte : wikipedia

sábado, outubro 01, 2016

Olha a Liga Europa

O Sporting fez na terça-feira o que tinha de fazer. Ou seja, ganhar ao Légia de Varsóvia em Alvalade e somar os três pontos que lhe seria imperdoável não somar nesta discussão europeia de baixo gabarito. O alto gabarito vem já a seguir. Trata-se dos jogos com o B. Dortmund, tão favorito quanto o Real Madrid ao apuramento. 

Legitimamente, o Sporting sonha intrometer-se nas contas do grupo e afastar qualquer uma das potências que o sorteio lhe meteu no caminho. Nada disto é impossível. Os polacos, que em dois jogos somam oito golos sofridos e zero pontos, já foram à vida. Não porque no futebol não haja milagres, mas porque a qualidade de jogo que apresentam nem na Liga Europa faz sentido. 

Ao cabo de duas jornadas da fase de grupos da Liga dos Campeões, com o devido respeito pelos três representantes nacionais, a tal Liga Europa parece ser o seu destino mais do que provável e sem desonra para as respetivas famílias. 

Vamos por partes, o Sporting tem de fazer melhor do que as equipas de Dortmund e de Madrid nos confrontos diretos com estes impressionantes adversários para continuar em prova na Liga dos Campeões. É certo que já fez aquilo que nem o Porto nem o Benfica conseguiram: ganhar em casa a um adversário de menor qualidade. E por isso tem três pontos, que lhe podem vir a ser de extrema utilidade. 

Os teóricos da bola poderão considerar que as derrotas do Porto em Leicester e do Benfica em Nápoles foram "normais" porque os ingleses e os italianos são, sem dúvida, as equipas mais fortes que têm pela frente nos seus grupos. Anormalidades só a sonora expressão do resultado do Benfica no Estádio de San Paolo e a mania – quase um vício – de Slimani no que toca a marcar golos a Casillas seja onde for. 

O certo é que Benfica e Porto falharam onde o Sporting não falhou. Nos jogos em casa perderam pontos com adversários menos cotados como são o Besiktas e o Copenhaga. É nestes pormenores que o destino se joga. Sem margem para o mais pequeno erro, Rui Vitória e Nuno Espírito Santo sabem o que os espera nos próximos desafios internacionais: a obrigatoriedade de os ganhar todos, em casa ou fora, contra adversários que, sendo do meio da tabela europeia, podem causar mossas nas ilusões de grandeza dos dois emblemas mais titulados em Portugal. 

Por tudo isto, afigura-se a Liga Europa como o destino do Benfica se não conseguir vencer por duas vezes o D. Kiev, do Porto se não conseguir vencer por duas vezes o Brugge, e do Sporting se não conseguir vencer por duas vezes o Dortmund. Tudo isto se apresenta difícil e cansativo. Descansarão depois na Liga Europa, é o que parece. 

A originalidade deste Porto reside no seu presidente 
Este Porto que se vai habituando a perder não é o Porto que conhecemos nos últimos 30 anos. Mais precisamente nos últimos 27 anos, visto que o Benfica ganhou os três últimos títulos de campeão, o que já não estava nos hábitos da Luz. 

Os clubes quando ganham são todos iguais e quando perdem ainda mais iguais se tornam. O Porto, que não vence um título desde a Supertaça de 2013 erguida por Paulo Fonseca, vive agora os transtornos dos perdedores. Os adeptos protestam, os comentadores comentam, os treinadores sucedem-se, os dirigentes demitem-se, enfim, o costume em todo o lado. 

A originalidade deste momento portista é apenas o seu presidente. E o que o seu presidente diz. Que a culpa é do "centralismo" lisboeta – francamente! – e que os assobios no Dragão não são dos adeptos mas sim dos titulares "das centenas de convites" que o clube é obrigado a entregar a "empresas" por conta "dos contratos comerciais". Neste Porto salva-se Otávio, o novo. Não o velho, obviamente.


Fonte: Leonor Pinhão @ correio da manha

Eu e os condóminos

Pré-publicação do próximo livro de José António Saraiva, um diário baseado em conversas privadas que manteve com a porteira do seu prédio e no contacto privilegiado que foi tendo, ao longo de 35 anos, com os seus vizinhos.)

22 de Abril
Diz que a vizinha do 3º direito anda metida com o senhor da mercearia. Recebi a notícia com surpresa, pois estava convencido de que a vizinha do 3º direito era lésbica, uma vez que usa o cabelo curto e conduz um jipe. Além disso, sempre me olhou com bastante repugnância, no elevador. A propósito, aprecio elevadores. Levam-nos onde pretendemos ir, tanto para cima como para baixo, com eficácia e rapidez. Nutro grande admiração por quem os inventou.

2 de Maio
Consta no prédio que eu me embriago. Segundo a porteira, os vizinhos não encontram outra explicação para os raciocínios que costumo expender no átrio do prédio, quando me cruzo com eles. É estranho, porque não bebo. O único uso que dou aos copos é encostá-los à parede para escutar as conversas do casal que mora na casa ao lado. Sou um grande apreciador de copos. Quem os inventou estava bastante inspirado. Creio que são o meu recipiente favorito. Há copos de vários tipos: de vidro, de plástico, de papel... Há até uns copinhos feitos de chocolate, para beber ginja. Mas estes são menos bons para escutar os vizinhos, na medida em que sujam a parede – e, no verão, a própria orelha.

3 de Maio
Nem de propósito, encostei um copo à parede e escutei uma conversa interessante. Os vizinhos estavam a falar noutro condómino do prédio, mas não consegui identificá- -lo. Segundo eles, tem barba, cara de fuinha e, por vezes, as orelhas sujas de chocolate. Quem será o palerma? Vou tentar indagar junto da porteira, se a vir lá em baixo, junto à porta. Gosto muito de portas. O modo como dividem assoalhadas, embora permitindo a entrada, exerce sobre mim grande fascínio. De acordo com o que tenho observado, umas vezes, as portas estão abertas; outras, encontram-se fechadas.

15 de Maio
A vizinha da frente esteve a tomar banho. Com o auxílio dos meus binóculos, pude constatar que é uma pessoa que opta por sabonete, em vez de gel de banho. Normalmente não espreito pessoas no duche, mas o seu falecido pai disse-me que ela gosta muito de ser observada enquanto trata da higiene pessoal. Parece-me que a vizinha me viu e está a chamar a polícia. Vou citar aquela confidência do seu falecido pai quando os agentes me tocarem à campainha. Gosto muito de campainhas. Há vários tipos de toque, desde o tradicional trrrim ao mais moderno tlim tlão. Quando escrevo textos desta qualidade recordo-me sempre das palavras de um falecido membro da academia sueca, que me disse que tinha havido um engano, em 1998. Em vez de José Saramago, queriam ter dado o prémio a José Saraiva. Ambos os nomes começam por “José Sara”, e os suecos fizeram confusão. Quando deram pelo erro, já o nome do outro estava gravado na placa. Gosto muito de placas.


Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão

Desporto de fim de semana - 2024/03/16

Sábado, 2024/03/16  - 14:00 - Futebol - Fc Penafiel -v- SL Benfica B - Liga Portugal 2 | 23/24 - Jornada 26  - 15:00 - Basquetebol - SL Ben...