Aconteceu na quarta-feira e provocou o maior dos desassossegos nas hostes benfiquistas, o que se compreende. Caía já a tarde num morno esplendor outonal depois de um fim de semana de temporais medonhos quando, primeiro timidamente, um sussurro assomou olimpicamente pelas agências noticiosas para depois, já à descarada, se instalar no seu devido lugar na ordem de importância dos sucessos do dia. A Telma Monteiro tinha renovado por cinco anos o contrato que a ligava ao Sport Lisboa e Benfica.
Sabendo-se a paixão que há em Portugal pelas modalidades ex-amadoras, não custará muito imaginar a angústia que se instalou entre os adeptos benfiquistas no momento em que deixaram de ter dúvidas sobre a continuidade na família daquela mulher de 30 anos que lhes tinha trazido uma medalha de bronze do Rio de Janeiro. Telma ia continuar a ser nossa, sim, mas a que preço? Era esta a inquietação da grande nação benfiquista. Quanto foi preciso pagar à maravilhosa judoca – uma fortuna, certamente! – para que abdicasse daquela incrível oportunidade que se lhe ia deparar em breve? A oportunidade única de ser apresentada no decorrer do intervalo do próximo Sporting-Arouca! Uma pessoa pode ser campeã de muitas coisas no país e no estrangeiro, pode ter medalhas a dar com pau, pode ter vencido nos maiores palcos do mundo mas quantos superatletas, quantos heróis modernos se podem dar ao luxo de sonhar com uma consagração deste quilate.
Na modalidade do futebol, a mais popular entre todas, o Benfica vai à frente no campeonato e aquilo que os benfiquistas menos querem é convulsões no balneário dos tricampeões nacionais. A ver se a coisa vai direitinha até ao fim. Por isso arrepiavam-se os utentes do Estádio da Luz só com a ideia de o novo salário de Telma se equivaler ao de Grimaldo ou, pior ainda, ultrapassar num euro que fosse o montante do salário de Cervi, isto só por serem todos louros naturais apesar de pertencerem a um clube com origens muito, muito populares.
O presidente do Benfica, felizmente, não demorou muito tempo a tranquilizar os adeptos que muito sofrem por amor e apresentou a Telma do plano quinquenal 2016/2021 nessa mesma noite a uma plateia de apoiantes que respirou de compreensível alívio, pudera. Pois se a nossa judoca estava ali a ser reapresentada a toda a gente era porque, de certeza, não seria reapresentada outra vez no intervalo do Benfica-Paços de Ferreira em andor privativo. É que ninguém merece. Posto isto, o presidente disse que tinha fome de vitórias e foram todos jantar.
O público em geral, ansioso por circo, ficou dececionado
A questão do ‘tetra’ desenterrada depois de 90 anos pelo presidente do Sporting e sua equipa de investigadores tem tanta importância prática como a questão dos vouchers do ano passado repescada este ano à falta de melhor. Disso mesmo prestou prova o presidente do Sporting ao comparecer de estadista no lançamento do livro ‘Almanaque do Leão’, obra de Rui Miguel Tovar, um excelente jornalista que reitera, com a maior naturalidade do mundo, a verdade histórica dos 18 títulos conquistados pelo Sporting em 110 anos de existência, quase um século a ver navios.
O público em geral, ansioso por circo, esperaria que Bruno de Carvalho avançasse com três kits Eusébio e uma providência cautelar que impedisse a distribuição do livro que patrocinou. Mas o público ficou dececionado em geral.
O presidente do Sporting apadrinhou a cerimónia e não se ralou nada porque o fulcral não é o ‘tetra’ de há 90 anos.
O importante é a chieira. É para isso que o ‘tetra’ serve...
Fonte: Leonor Pinhão @ Correio da manha
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