terça-feira, julho 19, 2016

De 'Jorge Mendes' a 'Aurélios'

Assim que viu afastada a Alemanha na meia-final, A Federação gaulesa providenciou um autocarro de caixa aberta, decorado com as cores do triunfo que não lhe escaparia neste Campeonato da Europa. O festivo meio de transporte destinado a passear os jogadores franceses pelos Campos Elísios na noite do último domingo foi fotografado e filmado na sua viagem desde a paragem até às imediações do Stade de France onde, tal como estava previsto, recolheria os seus laureados passageiros. Nos dias que antecederam a final, os anfitriões do evento não se coibiram de considerar como já decidido. Era um pró-forma logístico.

No fim, a França perdeu. Morreu pela boca e não é a primeira vez que uma equipa de futebol se vê gloriosamente acabrunhada por um desfecho contrário às previsões dos seus maiores dos seus publicistas e dos seus adeptos inevitavelmente contagiados pela histeria reinante. Os responsáveis portugueses, inteligentemente, optaram pelo silêncio, que é de ouro, e deixaram o adversário festejar o título e programar as festividades sem um remoque. Em termos públicos, foi o presidente do Sporting o único a deixar-se levar pelo orgulho ferido da nação perante o triunfalismo no campo adversário: 'Tenho sentido arrogância do outro lado', disse. E disse muito bem embora se possa considerar que não será ele, propriamente, a pessoa mais indicada para apontar o dedo a quem quer que seja em matéria de triunfos dados como adquiridos, visto que ainda há coisa de poucas semanas inaugurou , com pompa e muita imprensa, no museu do seu clube, o espaço destinado a albergar para a eternidade o troféu correspondente ao título de campeão nacional da época 2016/17 que só começa daqui a um mês.

O Benfica arrancou com um empate sem golos num jogo com alguns momentos de animação tendo por adversário o Vitória de Setúbal. A curiosidade dos adeptos centrava-se naturalmente nos reforços. Confesso que a minha curiosidade estava posta em Paulo Lopes, o guarda-redes obrigado a ser titular tendo em conta que Ederson e Júlio César não estão operacionais. E esteve muito bem o Paulo Lopes durante o jogo e nas grande penalidades. Eis uma excelente notícia.

A nossa equipa nacional lá trouxe de França a taça comprovativa do título europeu conquistado e logo deixou de ser a equipa dos 'Jorge Mendes' - lembram-se? - para passar a ser a equipa dos 'Aurélios'. Oh , Éder, que milagre!


Fonte: Leonor Pinhão @ Record

Treinadores das mentes

Foi ouvida mil vezes na noite de domingo uma frase que, aparentemente, resumia os sentimentos dos adeptos portugueses na hora do triunfo tendo em conta que o adversário era a França e o local da ação era Paris: "Embrulha, Platini!" e logo se seguia, inevitavelmente, uma série de palavrões de fazer corar o Éder. Vingativos, é certo, os nossos compatriotas entrevistados aos magotes pelas estações de televisão. Os mais velhos não perdoam a Platini o Europeu de 1994, os mais novos não lhe perdoam o Europeu de 2000. Os de meia-idade não lhe perdoam nada. 

Vingativos mas desfasados da realidade porque Platini já não é jogador nem presidente da UEFA e vive agora como um sujeito indiciado de crimes graves o que, para nós, deveria ser mais do que suficiente para dar as contas como saldadas. Mas não damos. "Vai-te catar, Platini!", etc… etc… E se aquela bola rematada por Sagna que foi direitinha ao poste da baliza de Patrício tivesse entrado – como todos previmos – ainda hoje e por décadas a vir se diria que Portugal só não foi campeão europeu porque o retirado Platini não deixou. 

Na noite de Paris foi, assim, Michel Platini a ausência mais presente do lado francês. Do lado português, a presença mais ausente foi a de Susana Torres pelo menos até ao momento em que Éder, o herói dos heróis, agradeceu à sua "mental coach" – treinadora da mente – todo o trabalho que o conduziu até aquele patamar de glória transformando a simpática ex-bancária que mudou de ramo numa figura de dimensão nacional. 

No entanto, não foi apenas Susana Torres a sair deste Europeu com os seus maravilhosos dons certificados pela prática. Também Cristiano Ronaldo se revelou um excecional "mind coach", treinando a mente de João Moutinho para se atirar sem tremeliques à sua grande penalidade no desempate com os croatas e, no dia D, treinando a mente de Éder (que já vinha suficientemente treinada) para ser ele o autor do golo fatal para as aspirações francesas. E assim aconteceu. 

Reza e rezará a História que Éder foi o herói improvável desta saga. E foi, dentro do campo, a jogar. Mas quem diria que Cristiano Ronaldo, ‘o autodenominado melhor jogador do Mundo’ como o definiu Cantona, se viria a revelar, fora de campo, sem jogar, como o herói improvável na pele de treinador-adjunto da mente do selecionador principal e treinador de corpo inteiro da mente dos seus colegas de equipa? E com que brilho o fez. E com que resultado! Só por isto merece, no mínimo, duas Bolas de Ouro, uma pelo futebol que joga, outra pela entrega total à sua nova vocação. 



No campo dos insultos racistas aos racistas dos franceses… 
Os excessos têm sido essencialmente de índole verbal neste transe português. E ainda bem, as palavras voam. O grito vernacular de Éder – que continua autorizado a tudo – naquele momento na Alameda e o desabafo do presidente da República – que também continua autorizado a tudo – anunciando uma ida a Fátima "por conta disto", terão sido os pontos altos dos delírios oratórios destes dias. 

É verdade que Portugal é campeão da Europa mas ainda não é um Estado de religiosos nem, muito menos, uma taberna a céu aberto. No campo dos insultos racistas aos racistas dos franceses, Payet é o eleito porque "arrumou" com Ronaldo propiciando-lhe uma noite de glória como treinador-adjunto e não só. 

Payet que fez a Ronaldo muito menos do João Morais fez a Pelé no Mundial de 1966 com proveito para as nossas cores e sem que o deus brasileiro conseguisse sequer acabar o jogo a dar instruções ao que sobrava do "escrete". O francês é apenas uma pobre imitação de Morais no século XXI. 


Fonte: Leonor Pinhão @ correio da manha

quinta-feira, julho 14, 2016

Champanhe morno

PortugalVou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguémSabesEstou loucamente apaixonado por tiPergunto a mim mesmoComo me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentúgal
Jorge de Sousa Braga

Não sei se estou preparado para isto. Quando, depois de levantarem a taça, os jogadores da selecção começaram a cantar aquela linda canção (cito a letra: “E esta merda é toda nossa, olé”), percebi finalmente. Naquele momento, eu, que sou um português antigo, ainda estava a trabalhar na lista das desculpas para justificar a derrota. Jogaram sujo, lesionaram-nos o Ronaldo, é sempre difícil jogar contra a equipa da casa, o livre do Raphael Guerreiro, que pena, bateu na trave. Renato Sanches, que tem menos 25 anos do que eu, já estava a saltar com os amigos, reclamando a posse do território francês, cinco metros à frente do Presidente da França. O mais impressionante era a desfaçatez, a desinibição, a alegria insolente, uma maneira tão pouco portuguesa de ser português. Eu não sabia o que era aquilo.

Mas devia ter desconfiado. Primeiro, Sara Moreira e Patrícia Mamona tinham sido campeãs nos europeus de atletismo. E depois, as traças. Milhares de traças enormes, no estádio da final. Era óbvio que tinha acontecido qualquer coisa. Só no fim do jogo se percebeu o que era. As traças tinham acabado de comer 11 milhões de xailes negros. Por isso é que eram tão grandes e gordas. Quem tiver uma explicação melhor, ponha o braço no ar. Ninguém? Bem me parecia. Só pode ter sido isso: as traças tinham carcomido uma espécie de Portugal antigo e foram celebrar junto do Portugal novo.
Quando, a 19 de Junho, após o segundo empate frente a uma equipa fraca, o seleccionador disse que só voltaria a Portugal no dia 11 de Julho, e com a taça, abanei a cabeça. Neste momento, gostaria muito que o eng. Fernando Santos me dissesse cinco números e duas estrelas. Fui um português antigo até ao fim do jogo, nunca acreditei no que dizia Ronaldo, que é um português novo há muito tempo, e por isso nunca me passou sequer pela cabeça que fosse preciso pôr o champanhe no gelo. Após o apito do árbitro, festejei com champanhe morno, como todos os parvos.
E agora? O que é isto? Onde está aquela tristeza mansa, aquele conforto de quem não se deixa inquietar por sonhos improváveis, aquele encolher de ombros de quem tentou sem convicção nenhuma, excepto a convicção de que nem valia a pena tentar? O que é que estes rapazes fizeram ao meu país? Como é que o Éder se atreveu a chutar dali, de onde era evidente que seria impossível? Não ouviu o que disseram dele os colunistas e as redes sociais? Não ouviu o que eu próprio disse exactamente um segundo antes de ele chutar? Onde está a certeza da minha pequenez, a minha vergonha, o meu complexo de inferioridade? Que mundo novo é este em que o futebol são 11 contra 11 e no fim esta merda é toda nossa? Eu já estava habituado ao antigo Portugal e agora vou ter de aprender a gostar deste. Não sei se estou preparado para isto.

Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão

Rumo ao 1, outra vez

Quem havia de dizer que a nossa Selecção, a indisputada dona do futebol mais entediante deste Europeu, chegava à final de Paris? Pelos vistos, toda a gente. Porque não houve em Portugal nestes últimos dias frase mais dita, gritada e soluçada do que a velha máxima do 'eu sempre acreditei', o que, sendo verdade, é admirável em função das hesitações exibidas nesta caminhada. Sendo mentira, continua a ser admirável porque se a fé move montanhas, como dizem, mais difícil lhe deve ser impor-se em retroactivos à população de descrentes em geral.

Acreditassem ou não acreditassem - o que interessa isso agora? - a questão é que a Selecção portuguesa segue 'Rumo ao 1', porque em todo o seu historial (sénior) nunca conseguiu ganhar um torneio desta envergadura. O mais perto que esteve desse céu foi há 12 anos mas viria a perder, a final do Euro'2004 para a Grécia, perante o desconsolo de um país inteiro que tão depressa sempre acreditou como deixou de acreditar quando o árbitro apitou para o fim e só valeu o golo de Charisteas e o nosso embaraço.

Rumo ao 1, portanto. Portugal tem tudo para vencer. Tem uma raça de futebol capaz de adormecer até o adversário. E tem a sua velha toalha branca de volta. A toalha branca que Eusébio enrolava no braço para dar sorte sempre que a Selecção jogava foi na quarta-feira o adereço com que Pepe se apresentou na bancada. Pepe, note-se, quando joga bem é português mas quando compromete passa logo a ser brasileiro. Tal como Renato Sanches que quando joga muito tem 25 anos e quando joga pouco tem 18. É nestas coisas que temos de acreditar. Rumo ao 1, outra vez, quem diria?"


Fonte: Leonor Pinhão @ Record


domingo, julho 10, 2016

Ser ou não ser uma besta

No já distantíssimo ano de 1962, Eusébio jogou a final da Taça dos Campeões Europeus, que o Benfica disputou com o Real Madrid em Amesterdão. Foi uma noite triunfal para o Benfica, que venceu por 5-3 – "o resultado que Deus fez", como rezaria a canção –, e para Eusébio, que marcou dois golos, um deles na conversão de um livre a uma distância considerada impossível da baliza de Araquistain, o consagrado guardião espanhol. Eusébio tinha 19 anos, um físico imponente e, na 2ª parte dessa incrível final, deu cabo da defesa da então melhor equipa da Europa com uma arte que deslumbrou público e crítica. 

A força de Eusébio, a potência dos seus remates, a velocidade do seu arranque, a personalidade em campo, a confiança em si próprio – atrevendo-se a pedir ao "senhor Coluna" que o deixasse chutar o tal livre que daria golo porque "estava com fé" – fizeram do moçambicano uma estrela de um dia para o outro. Tinha 19 anos, era negro, uma joia oriunda do já moribundo império colonial português. Acabada a final de Amesterdão, o ainda atordoado Alfredo Di Stéfano resumiu a exibição do jovem Eusébio em poucas e sábias palavras: "Eusébio es una besta." Eusébio é uma besta, disse Don Alfredo, e referia-se a tudo o que o impressionou no avançado do Benfica. A presença física e a excecional qualidade ofensiva do seu futebol. Chamou-lhe besta como quem se curva perante um talento maior. 

Se o francês Guy Roux, por contágio, e todos os nacionais que nos últimos meses se dedicaram militantemente, por despeito, a colocar em causa a idade de Renato Sanches lhe tivessem chamado besta em vez de mentiroso, não haveria tribunal neste mundo que os condenasse a pagar um cêntimo que fosse de indemnização por danos morais e patrimoniais infligidos ao jogador de 18 anos que levou o Benfica às costas até ao título na época passada e que é jogador do Bayern Munique deste o dia 1 deste mês. Sim, porque Renato é outra besta do ponto de vista do físico. E tudo indica que vai continuar a ser uma besta por muitos e bons anos ao serviço do poderoso clube alemão que não perdeu a tempo a contratá-lo, para desconsolo de Mourinho, que o quereria consigo em Manchester. Sanches já não é jogador do Benfica, a sua realidade agora é outra, mais europeia, chamemos-lhe assim. Em Portugal, dificilmente será ressarcido pela via judicial das insinuações sobre a sua idade e de outras considerações inspiradas num racismo torpe que passou incólume na nossa imprensa especializada. Mas vivendo e trabalhando na Alemanha tem agora uma cobertura diferente. O Bayern que trate do caso pelas vias competentes para que Renato Sanches possa ter a idade que tem. E para que possa ser uma besta à vontade. 



Outras histórias 
Fernando Santos muda de alcunha? 
Nós, os portugueses, não resistimos a estas coisas dos afetos  
Ou Fernando Santos conduz a Seleção ao seu primeiro triunfo em competições da mais distinta envergadura – passando a ser conhecido por "o senhor engenheiro do Europeu" – ou terá de passar o resto da carreira, que se deseja longa e profícua – a ser continuamente apelidado de "o engenheiro do penta", o que, não deixando de ser verdade e altamente meritório, é bem menos espetacular do que o novo "sobriquet" que lhe será colado dando-se o caso de Portugal vencer a final de amanhã em Paris. Trata-se, portanto, de uma oportunidade única para "o engenheiro" se ver livre da alcunha que ostenta desde a longínqua temporada de 1998/1999, quando levou o FC Porto ao feito inédito do quinto título consecutivo. Mas não vai ser fácil, dada a valia do adversário. De qualquer modo, Fernando Santos já conquistou o afeto do País. Não pelo futebol que a equipa pratica, mas pelo abraço que trocou com os seus filhos no fim do jogo de Lyon. Nós, os portugueses, não resistimos a estas coisas. 



Sobe e Desce 
Sobe 
O orgulho dos meregues - Chamartín 
Em Lyon, Bale e Ronaldo, as estrelas maiores do Real Madrid, trocando amigáveis confidências no final do Portugal-País de Gales, que sorriu ao português. 


Uma estreia para muitos - Marquês de Pombal 
Ir a correr para o Marquês terá sido uma esfuziante experiência vivida pela primeira vez por muitos adeptos da Seleção desabituados destas práticas festivas. 


Uma festa portuguesa - Torre Eiffel 
Em Paris, a Torre Eiffel iluminou-se com as cores da bandeira nacional, para gáudio dos milhares de portugueses que vivem e trabalham na capital francesa. 


Pérola 
"Já se sabe que Portugal faz sempre alguma parvoíce", John Toshack


Fonte : Leonor Pinhão @ correio da manha

sexta-feira, julho 08, 2016

Reviver o passado antes de ele passar

Primeiro, a Inglaterra saiu da União Europeia. Na altura em que se realizou o referendo que determinou o chamado Brexit, ninguém percebeu a verdadeira dimensão da tragédia. O problema não foi só a Inglaterra ter saído, foi sobretudo a Alemanha ter ficado.

Depois, Donald Trump venceu as presidenciais americanas. Conforme prometido, construiu um muro a separar os Estados Unidos e o México. Dois anos depois, os americanos exigiram que o muro fosse derrubado, porque os impedia de fugir para o México.

Depois, Boris Johnson tornou-se primeiro-ministro de Inglaterra. Rapidamente se percebeu que Johnson tinha em comum com Trump mais do que apenas o facto de frequentarem o mesmo cabeleireiro. A Escócia e a Irlanda do Norte abandonaram o Reino Unido, várias cidades inglesas pediram a independência e a Grã-Bretanha passou a chamar-se apenas Bretanha, pela razão de já não ser grã. Boris Johnson acabou a governar Birmingham e dois bairros nos arredores de Liverpool, territórios a que agora se chamava Inglaterra.

Depois, Marine Le Pen venceu as presidenciais francesas e expulsou do país todos os imigrantes. No campeonato do mundo de 2018, a selecção francesa perdeu por 5-0 com a Tunísia, por 7-0 com Marrocos e por 12-1 com a Argélia.

Depois, um cientista descobriu um fóssil de âmbar dentro do qual se encontrava um mosquito que havia picado o dr. Oliveira Salazar. A partir dessa amostra, fez clones suficientes do antigo ditador para concretizar o sonho de certos frequentadores de tabernas e Portugal passou a ter um Salazar em cada esquina. Um dos Salazares tentou tomar o poder mas percebeu que já estava ocupado por outro estadista não eleito, o sr. Subir Lall, e compreendeu que mais valia estar quieto.

Quando o Reino Unido abandonou a União Europeia, gerou-se incerteza e os mercados caíram. Quando Trump foi eleito presidente, gerou-se mais incerteza e os mercados voltaram a cair. Quando Marine Le Pen substituiu Hollande, gerou-se nova incerteza e os mercados caíram mais um pouco. A certa altura, os mercados acabaram por perceber que o mundo tem sido incerto desde o Big Bang, mas nem assim se deixaram de mariquices.

Depois, foi preciso resgatar mais 157 instituições financeiras, e os cidadãos do mundo inteiro passaram a entregar o seu salário integral directamente aos bancos, para poupar tempo, por saberem que, mais tarde ou mais cedo, o seu dinheiro acabaria por ir lá parar. Assim, sempre se evitava a extenuante angústia da espera.

Depois, numa cimeira internacional, Trump, Johnson, Le Pen e três Salazares juntaram-se num canto a rir de Kim Jong-un, a quem chamavam “o moderado”.

Depois, as minhas filhas casaram com dois rapazes que tinham tatuagens e andavam de mota. Tendo em conta o estado em que se encontrava o mundo, achei que podia ser pior.


Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão

domingo, julho 03, 2016

Para os lados e para trás

Fãs de Portugal e fãs ou Bayern Munique, o que têm em comum? Um grande sorriso, naturalmente. De um lado e do outro não houve quem não rejubilasse com o Polónia-Portugal. Os portugueses porque viram a equipa nacional qualificar-se para as meias-finais do Europeu ao cabo de 5 empates nos 90 minutos regulamentares - é obra! Os adeptos do Bayern Munique porque viram um jogo abrilhantado com dois lindos golos de jogadores dos seus quadros, - Lewandowski e Renato Sanches, o que também não deixa de ser obra. Mas obra do poder financeiro, convirá acrescentar. Os opulentos, no mesmo jogo, ainda voltaram a ver os mesmos contratados acertar com distinção nas redes quando chegou o momento do desempate através de grandes penalidades.

Ficaram os portugueses encantados com a boa fortuna que os vem acompanhando neste torneio - oxalá se venha a dizer que este foi um Campeonato da Europa atípico...- e ficaram os adeptos bávaros com a soberba reforçada tendo em conta o contributo efectivos das suas duas estrelas. No Portugal ideal, onde a clubite mete férias quando joga a Selecção Nacional, o voo triunfal de Rui Patrício bem poderia ter relançado o arraial de bandeiras às janelas no centro de Lisboa se no centro de Lisboa, no lugar de forasteiros. ainda vivessem portugueses.

Na Alemanha, no entanto, talvez por ser um país mais industrializado, a clubite nunca mete folga. Por isso, mesmo os adeptos do rival Borussia Dortmund ficaram destroçados com os golos de Lewandowski - um cepo de todo o tamanho - e de Renato Sanches - que só joga para os lados e para trás. Onde é que já se viu uma coisa destas?"


Fonte : Leonor Pinhão @ Record


Liga cala comentadores

A Liga de Clubes anda numa roda-viva para regular o que, por natureza, não tem regulação possível. É certo que na última temporada entrou em campo uma nova arma que em muito contribuiu para embrulhar o campeonato, as taças e tudo o que mexe num invólucro de suspeição e de desconsideração que nunca se tinha visto. Trata-se da arte do "comentadorismo" nas estações de TV que funciona todos os dias em todos os canais até à exaustão do público e ao desespero dos visados que, reconheça-se, são todos os que, por estatuto ou ambição, andam nestas vidas de discutir títulos e outras honrarias o ano inteiro. 

Não foram poucas as vezes que os departamentos de comunicação do Benfica e do Porto, através das vias oficiais, e o presidente do Sporting, através da sua conta pessoal no Facebook, se insurgiram veementemente contra este ou aquele comentador por ter deixado escapar uma verdade incómoda ou uma aldrabice de todo o tamanho em função dos gostos de cada um. Na época passada o estatuto de "comentador" ganhou foros de uma importância tão grande que, dizem os estudiosos, pode decidir títulos e processos judiciais. Foi esta a novidade de 2015/2016 e desse espetáculo diário nasceram inauditas trocas de insultos. 

O Sporting, por exemplo, apelidou de "cães de fila" os comentadores do Benfica, o Benfica de uma maneira geral ignorou os comentadores do Sporting concentrando-se no presidente do clube, diagnosticando-lhe um transtorno funcional, e o velho Porto de Pinto da Costa, quando perdeu tudo, recuperou o chavão do "centralismo da Capital". Agora veio a Liga tentar pôr cobro ao "comentadorismo", anunciando disposições tomadas em assembleia geral: os comentadores que passem das marcas serão multados – mas quem estabelece as marcas? – e os dirigentes de clubes e SAD ficam proibidos de participar regularmente em programas de debates – mas, na realidade, que poder legislativo tem a Liga para impor a cidadãos da República limitações ao uso da liberdade de expressão? Todas estas questões serão respondidas quando a época oficial começar e todos os comentadores voltarem à liça desprezando olimpicamente os ditames da Liga no que respeita à contenção e urbanidade. Só pode ser assim: ou se marimbam os comentadores das TV para as multas e proibições da Liga ou, num gesto de boa vontade, acatam as disposições da associação patronal do futebol e, para variar, vão passar a época de 2016/2017 debitando para as suas contas no Facebook tudo o que lhes vai na alma sem filtro. Isto porque o recurso ao Facebook não foi proibido pela Liga. E isso, sim, seria um escândalo. 



Outras histórias 
Ainda sobre a liberdade de expressão  
A propensão para diagnosticar nos outros o seu próprio mal 
A liberdade de expressão é um bem pelo qual vale a pena lutar todos os dias. Como nem no defeso o presidente do Sporting esmoreceu na pedalada oratória, merece reconhecimento. No último sábado, concedeu uma entrevista ao ‘Expresso’ e acusou o presidente do Benfica de ter "uma obsessão pelo Sporting". Levou até o diagnóstico mais longe: "É uma obsessão que é uma patologia e eu não tenho condições para curar patologias." É verdade, não tem. Houve logo quem, por maldade, visse nesta tirada a propensão clínica para diagnosticar nos outros o seu próprio mal. A "obsessão" pelo rival que o presidente do Sporting vê no presidente do Benfica tem graça mas não chega aos calcanhares de uma outra sua constatação, há já uns meses, quando, precisamente numa sexta-feira à noite, lamentou através da sua conta no Facebook os pobres tristes que, por não terem nada de útil para fazer, passavam as sextas-feiras à noite a publicar lamentos nas redes sociais. Isto sim, foi muito à frente. 



Sobe e Desce 
Sobe 
Contra a 'clubite' - Segunda Circular 
O abraço de Renato Sanches e Adrien Silva assim que terminou o Portugal-Croácia foi um maravilhoso gesto contra a lamentável "clubite" que reina no País. 

18 anos de ouro - Renato Sanches 
Estreou-se aos 18 anos num Europeu e estreou-se aos 18 anos a marcar num Europeu. Assinou o empate e converteu a sua grande penalidade nos desempates. Que mais? 

Estirada acertada - Rui Patrício 
A qualificação para as meias- -finais do Europeu ficou garantida com esta estirada de Rui Patrício no último penálti polaco. No momento decisivo, Patrício não falhou. 


Pérola 
"A única vez que Jesus foi empurrado foi pelo Cardozo", João Gabriel 



Fonte: Leonor Pinhão @ correio da manha

sexta-feira, julho 01, 2016

Parabéns sporting!!!


O Sporting Clube de Portugal faz hoje 110 anos. Um grande clube, com uma História imensa e um contributo essencial para o Desporto em Portugal. É e será sempre o rival do Benfica, mesmo em períodos de poucos sucessos desportivos. Tem a ver com uma rivalidade construída no sangue da sociedade, no seu ADN. Crescemos juntos na mesma cidade, formámo-nos rivais sendo vizinhos e logo levámos ao mundo a eternidade na saudável disputa. O Sporting é um clube que respeito, que merece respeito, que se dá ao respeito (falo do clube e da sua identidade, não de incendiários dirigentes). E eu não quero que mudem a tinta dos matraquilhos. O jogo dos jogos em Portugal é o Benfica-Sporting porque é o jogo entre os dois maiores clubes nacionais. Parabéns, Sporting!


SL Benfica 2016/2016 - TriCampeão - 33/35

#Juntos somos mais fortes!!!


Um Abraço de um TriCampeão!!!

Rumo ao 36!!!




O bode está cansado de expiar

É impressionante a quantidade de gente que tem vindo a tratar os britânicos que optaram por sair da União Europeia como se fossem idiotas. Que os ingleses do “remain” achem os ingleses do “leave” um bando de tontos, isso é lá com eles; que um considerável número de portugueses, do alto da sua democracia com 42 anos, apareça a dar lições de sapiência política aos cidadãos de Reino Unido, já me parece bastante patético. Uma pessoa pode lamentar, como eu lamento, que o Reino Unido tenho optado por sair da União Europeia, mas não deveria passar pela cabeça de ninguém dar lições de bom-senso democrático aos habitantes das ilhas britânicas e andar para aí a proclamar que a “emoção” venceu a “razão”.

Aliás, tendo em conta que há 20 anos Portugal transformou em estrondoso bestseller o livro de António Damásio O Erro de Descartes, naquilo que pode ser considerado um dos mais bizarros fenómenos da história do mundo editorial português, poderíamos ao menos ter lido as badanas e aprendido que não existe essa coisa da razão separada da emoção. Em termos científicos, as emoções são essenciais na adopção de comportamentos racionais. Em termos retóricos, os “emotivos” são apenas aqueles com os quais nós, os “racionais”, não concordamos. Não há nada de irracional na decisão da Grã-Bretanha sair da União Europeia, no sentido em que há razões válidas que o justificam e que nada têm a ver com xenofobia. A única irracionalidade que por aqui anda, e já tresanda, é a forma como inúmeros políticos, partidos e até governos estão a querer fazer da União Europeia um daqueles Judas de trapos e sarapilheira que se surram e se queimam nas festas populares, para esturricar o pecado.

Com certeza que a União Europeia tem inúmeros problemas burocráticos, democráticos e diplomáticos, mas o maior é ter-se transformado no bode expiatório de todos os males das nações que a compõem. Excesso de imigrantes? União Europeia. Excesso de apatia para com os mortos no Mediterrâneo? União Europeia. Excesso de austeridade? União Europeia. Excesso de tolerância para com os países incumpridores? União Europeia. Excesso de liberalismo? União Europeia. Excesso de proteccionismo? União Europeia. A União Europeia é acusada de tudo e do seu oposto. Ela foi transformada no alvo de todas as frustrações, muitas delas completamente contraditórias, porque ela própria, como diriam os ingleses, é um “sitting duck” – está lá, é grande, não se mexe e ninguém a defende. É só carregar no gatilho.

David Cameron carregou, disparou um referendo e o primeiro pato a cair foi o Reino Unido. É possível que outros se sigam enquanto os políticos não pararem de acusar a União Europeia de todos os problemas que os rodeiam e que eles não conseguem resolver. Ontem Durão Barroso disse uma coisa acertada: se os accionistas de uma sociedade passam o tempo inteiro a dizer que ela não presta, as acções desvalorizam. Com excepção da Alemanha, é isso que todos os países têm feito. Veja-se o caso português e o discurso da autocomplacência: a crise de 2011 e a austeridade foram culpa da troika que nos veio espremer; nós, pobres inocentes, fomos empurrados para um endividamento louco porque os alemães queriam que comprássemos os seus carros. A estratégia é sempre esta: não fomos nós, foram os outros – foi Bruxelas. É uma estratégia tentadora, mas grave, porque o bode está esgotado de tanto expiar. Ou lhe damos uma boa folga ou fenece. E nós com ele.


Fonte: João Miguel Tavares @ Publico


Desporto de fim de semana - 2024/03/16

Sábado, 2024/03/16  - 14:00 - Futebol - Fc Penafiel -v- SL Benfica B - Liga Portugal 2 | 23/24 - Jornada 26  - 15:00 - Basquetebol - SL Ben...