domingo, julho 10, 2016

Ser ou não ser uma besta

No já distantíssimo ano de 1962, Eusébio jogou a final da Taça dos Campeões Europeus, que o Benfica disputou com o Real Madrid em Amesterdão. Foi uma noite triunfal para o Benfica, que venceu por 5-3 – "o resultado que Deus fez", como rezaria a canção –, e para Eusébio, que marcou dois golos, um deles na conversão de um livre a uma distância considerada impossível da baliza de Araquistain, o consagrado guardião espanhol. Eusébio tinha 19 anos, um físico imponente e, na 2ª parte dessa incrível final, deu cabo da defesa da então melhor equipa da Europa com uma arte que deslumbrou público e crítica. 

A força de Eusébio, a potência dos seus remates, a velocidade do seu arranque, a personalidade em campo, a confiança em si próprio – atrevendo-se a pedir ao "senhor Coluna" que o deixasse chutar o tal livre que daria golo porque "estava com fé" – fizeram do moçambicano uma estrela de um dia para o outro. Tinha 19 anos, era negro, uma joia oriunda do já moribundo império colonial português. Acabada a final de Amesterdão, o ainda atordoado Alfredo Di Stéfano resumiu a exibição do jovem Eusébio em poucas e sábias palavras: "Eusébio es una besta." Eusébio é uma besta, disse Don Alfredo, e referia-se a tudo o que o impressionou no avançado do Benfica. A presença física e a excecional qualidade ofensiva do seu futebol. Chamou-lhe besta como quem se curva perante um talento maior. 

Se o francês Guy Roux, por contágio, e todos os nacionais que nos últimos meses se dedicaram militantemente, por despeito, a colocar em causa a idade de Renato Sanches lhe tivessem chamado besta em vez de mentiroso, não haveria tribunal neste mundo que os condenasse a pagar um cêntimo que fosse de indemnização por danos morais e patrimoniais infligidos ao jogador de 18 anos que levou o Benfica às costas até ao título na época passada e que é jogador do Bayern Munique deste o dia 1 deste mês. Sim, porque Renato é outra besta do ponto de vista do físico. E tudo indica que vai continuar a ser uma besta por muitos e bons anos ao serviço do poderoso clube alemão que não perdeu a tempo a contratá-lo, para desconsolo de Mourinho, que o quereria consigo em Manchester. Sanches já não é jogador do Benfica, a sua realidade agora é outra, mais europeia, chamemos-lhe assim. Em Portugal, dificilmente será ressarcido pela via judicial das insinuações sobre a sua idade e de outras considerações inspiradas num racismo torpe que passou incólume na nossa imprensa especializada. Mas vivendo e trabalhando na Alemanha tem agora uma cobertura diferente. O Bayern que trate do caso pelas vias competentes para que Renato Sanches possa ter a idade que tem. E para que possa ser uma besta à vontade. 



Outras histórias 
Fernando Santos muda de alcunha? 
Nós, os portugueses, não resistimos a estas coisas dos afetos  
Ou Fernando Santos conduz a Seleção ao seu primeiro triunfo em competições da mais distinta envergadura – passando a ser conhecido por "o senhor engenheiro do Europeu" – ou terá de passar o resto da carreira, que se deseja longa e profícua – a ser continuamente apelidado de "o engenheiro do penta", o que, não deixando de ser verdade e altamente meritório, é bem menos espetacular do que o novo "sobriquet" que lhe será colado dando-se o caso de Portugal vencer a final de amanhã em Paris. Trata-se, portanto, de uma oportunidade única para "o engenheiro" se ver livre da alcunha que ostenta desde a longínqua temporada de 1998/1999, quando levou o FC Porto ao feito inédito do quinto título consecutivo. Mas não vai ser fácil, dada a valia do adversário. De qualquer modo, Fernando Santos já conquistou o afeto do País. Não pelo futebol que a equipa pratica, mas pelo abraço que trocou com os seus filhos no fim do jogo de Lyon. Nós, os portugueses, não resistimos a estas coisas. 



Sobe e Desce 
Sobe 
O orgulho dos meregues - Chamartín 
Em Lyon, Bale e Ronaldo, as estrelas maiores do Real Madrid, trocando amigáveis confidências no final do Portugal-País de Gales, que sorriu ao português. 


Uma estreia para muitos - Marquês de Pombal 
Ir a correr para o Marquês terá sido uma esfuziante experiência vivida pela primeira vez por muitos adeptos da Seleção desabituados destas práticas festivas. 


Uma festa portuguesa - Torre Eiffel 
Em Paris, a Torre Eiffel iluminou-se com as cores da bandeira nacional, para gáudio dos milhares de portugueses que vivem e trabalham na capital francesa. 


Pérola 
"Já se sabe que Portugal faz sempre alguma parvoíce", John Toshack


Fonte : Leonor Pinhão @ correio da manha

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