terça-feira, julho 19, 2016

Treinadores das mentes

Foi ouvida mil vezes na noite de domingo uma frase que, aparentemente, resumia os sentimentos dos adeptos portugueses na hora do triunfo tendo em conta que o adversário era a França e o local da ação era Paris: "Embrulha, Platini!" e logo se seguia, inevitavelmente, uma série de palavrões de fazer corar o Éder. Vingativos, é certo, os nossos compatriotas entrevistados aos magotes pelas estações de televisão. Os mais velhos não perdoam a Platini o Europeu de 1994, os mais novos não lhe perdoam o Europeu de 2000. Os de meia-idade não lhe perdoam nada. 

Vingativos mas desfasados da realidade porque Platini já não é jogador nem presidente da UEFA e vive agora como um sujeito indiciado de crimes graves o que, para nós, deveria ser mais do que suficiente para dar as contas como saldadas. Mas não damos. "Vai-te catar, Platini!", etc… etc… E se aquela bola rematada por Sagna que foi direitinha ao poste da baliza de Patrício tivesse entrado – como todos previmos – ainda hoje e por décadas a vir se diria que Portugal só não foi campeão europeu porque o retirado Platini não deixou. 

Na noite de Paris foi, assim, Michel Platini a ausência mais presente do lado francês. Do lado português, a presença mais ausente foi a de Susana Torres pelo menos até ao momento em que Éder, o herói dos heróis, agradeceu à sua "mental coach" – treinadora da mente – todo o trabalho que o conduziu até aquele patamar de glória transformando a simpática ex-bancária que mudou de ramo numa figura de dimensão nacional. 

No entanto, não foi apenas Susana Torres a sair deste Europeu com os seus maravilhosos dons certificados pela prática. Também Cristiano Ronaldo se revelou um excecional "mind coach", treinando a mente de João Moutinho para se atirar sem tremeliques à sua grande penalidade no desempate com os croatas e, no dia D, treinando a mente de Éder (que já vinha suficientemente treinada) para ser ele o autor do golo fatal para as aspirações francesas. E assim aconteceu. 

Reza e rezará a História que Éder foi o herói improvável desta saga. E foi, dentro do campo, a jogar. Mas quem diria que Cristiano Ronaldo, ‘o autodenominado melhor jogador do Mundo’ como o definiu Cantona, se viria a revelar, fora de campo, sem jogar, como o herói improvável na pele de treinador-adjunto da mente do selecionador principal e treinador de corpo inteiro da mente dos seus colegas de equipa? E com que brilho o fez. E com que resultado! Só por isto merece, no mínimo, duas Bolas de Ouro, uma pelo futebol que joga, outra pela entrega total à sua nova vocação. 



No campo dos insultos racistas aos racistas dos franceses… 
Os excessos têm sido essencialmente de índole verbal neste transe português. E ainda bem, as palavras voam. O grito vernacular de Éder – que continua autorizado a tudo – naquele momento na Alameda e o desabafo do presidente da República – que também continua autorizado a tudo – anunciando uma ida a Fátima "por conta disto", terão sido os pontos altos dos delírios oratórios destes dias. 

É verdade que Portugal é campeão da Europa mas ainda não é um Estado de religiosos nem, muito menos, uma taberna a céu aberto. No campo dos insultos racistas aos racistas dos franceses, Payet é o eleito porque "arrumou" com Ronaldo propiciando-lhe uma noite de glória como treinador-adjunto e não só. 

Payet que fez a Ronaldo muito menos do João Morais fez a Pelé no Mundial de 1966 com proveito para as nossas cores e sem que o deus brasileiro conseguisse sequer acabar o jogo a dar instruções ao que sobrava do "escrete". O francês é apenas uma pobre imitação de Morais no século XXI. 


Fonte: Leonor Pinhão @ correio da manha

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