sexta-feira, junho 26, 2015

Mini Pereira e Marco Selva

Se, porventura, Maximiliano Pereira continuar no Benfica vão ser poucos os adeptos benfiquistas dispostos a perdoar-lhe amorosamente, como sempre fizeram, a mais pequena falha em campo, coisa que raramente acontecia. 
- Devias ter ido para o Porto! - é o grito que surgirá das bancadas sempre que o uruguaio desacertar.
É no que dão estes romances insuportavelmente esticados para lá do tempo razoável da intriga. Enjoam. 
Não tendo havido consenso entre as partes para a renovação do contrato antes do fim de 2014, era certinho que a discussão do futuro do jogador iria ser um dos pratos fortes do defeso de 2015, até à exaustão. 
Maxi Pereira está há oito anos na Luz e, devagarinho, foi-se afirmando como um esteio da equipa, como uma referência de empenho e de dedicação que conquistou o coração dos adeptos convencidos de que tudo aquilo que o viam fazer em campo era obra de um insuspeito benfiquismo intercontinental que lhe corria nas veias desde a hora em que nasceu, lá longe no Uruguai.
A dor iminente de se perder um excelente defesa-direito tem vindo a ser suplantada, e brutalmente, pela decepção de uma evidência mil vezes mais castigadora. A de que, afinal, Maxi Pereira não é do Benfica desde pequenino, é apenas um profissional de futebol - e dos bons! - que faz contas à vida e deita os olhos ao seu futuro.
A esta chatíssima novela nem sequer falta um suposto vilão. Trata-se do empresário do jogador, esse grande malandro que quer enfiar Maxi no Porto tal como já fez no passado com Cristian Rodriguez, outro uruguaio por si agenciado que transitou da Luz para o Dragão sem pensar duas vezes.
Porque o processo foi muito rápido, a deserção de Cristian Rodriguez causou surpresa e comoção. O eventual trânsito no mesmo sentido de Maxi Pereira já não causará surpresa nem, muito menos, comoção porque este enredo abusa da lentidão e da paciência geral.
Exaspera-se, em primeiro lugar, o público que concede benevolentemente um tempo legítimo para estes suspenses. Mas depois, vendo a acção engonhar, acaba toda a gente por se desinteressar do assunto. Qualquer que seja o desfecho, já vai tão longa a conversa que, francamente, deixou até de ser emocionante para passar a ser coisa enfadonha, entediante. Talvez seja esta a estratégia do Benfica para perder Maxi Pereira para o Porto ou para qualquer outro emblema sem que haja revolta na Luz.
- Vamos aborrecê-los de morte com o caso Maxi Pereira até ser um alívio a sua partida! E, assim, se perderá sem fazer ondas um jogador que foi importantíssimo no renascer do Benfica para a conquista de títulos e na consequente recuperação da auto-estima da casa que andou muito por baixo durante anos a fio.
Aconteça o que acontecer, é nossa obrigação agradecer a Maxi Pereira a entrega total em oito anos ao serviço do Benfica. Foi frequentemente notável o seu contributo.
Ao ponto de nos fazer achar que, finalmente, já havia entre os jogadores quem interpretasse maravilhosamente o papel de moicano de eleição, servindo de exemplo não só para os mais novos do balneário mas também de exemplo para os nossos adeptos imparáveis que se reviam inteiros e de alma lavada naquele uruguaio não menos imparável.
No Benfica, Maximiliano Pereira foi sempre Maxi.
O Maxi Pereira da Luz. Nunca Mini Pereira.
Mini Pereira será para os outros. E acabem lá com isto, por favor.


Se já é arrevesado e injusto despromover Maxi Pereira a Mini Pereira feitas as contas aos tais oito anos passados pelo uruguaio no Benfica - e vá ele para onde for -, o que dizer do absurdo da transformação de Marco Silva em Marco Selva após um ano em Alvalade com a conquista de um título oficial coisa que não se via por aquelas bandas há uma quantidade de anos?
Os presidentes ao presidir podem fazer o que lhes dá na gana. Aliás, em alguns casos, foi para isso mesmo que foram eleitos. Contratar e despedir funcionários é uma das atribuições de quem preside e o exercício da vontade suprema, o luxo das decisões indiscriminadas, o poder absoluto sem quem o contrarie são as pequenas alegrias de quem, de repente, se vê numa altíssima posição de comando sem saber muito bem como.
O despedimento com alegada justa causa de Marco Silva é uma decisão que cabe na área de legitimidade do presidente do Sporting e que, por isso mesmo, não se discute a sua autoridade - presidente é presidente - embora, tudo o indique, venha a ser discutido em tribunal.
Despediu, está despedido, acabou-se a conversa.
É normal, é futebol.
O que não é normal nem é futebol é esta coisa malsã de andar o presidente despedidor, consumado o acto, a insultar o treinador despedido com palavras feias e destruidoras do carácter de um profissional que desse ponto de vista, profissional, não falhou no seu ano de trabalho. Ou falhou?
O presidente do Sporting quer fazer de Marco Silva um Marco Selva.
Quer-me parecer que, neste capítulo, não vai ter sorte nenhuma.


Amigos sportinguistas e portistas dizem-me que não querem o Maxi Pereira nos seus respetivos clubes porque, sendo ele um caceteiro de primeira ordem, passará a vida a ser expulso já que nem o Porto nem o Sporting gozam da proteção dos árbitros ao contrário do que sucede com o Benfica.
No fundo, não acreditam no que dizem.
Pois se fosse assim nem o Sporting se dava ao trabalho de contratar o treinador campeão Jorge Jesus nem o Porto se incomodava a desviar jogadores campeões do Benfica. Bastava-lhes seduzir árbitros. Uns poderiam até depositar uns quantos milhares de euros na conta de um qualquer fiscal-de-linha distraído enquanto outros poderiam impor à descarada os produtivos métodos da fruta e do cafezinho com leite.
Mas não. O que querem mesmo é jogadores do clube campeão e o treinador do clube campeão, o que se compreende.
No entanto, confesso que gosto desta fama que o Benfica bi-campeão ganhou. Considero mesmo uma maravilhosa novidade ouvir os nossos rivais utilizar os mesmos argumentos que nós, benfiquistas, utilizávamos quando as coisas corriam ao contrário dos nossos desejos materiais.
Por exemplo, quando o Argel, que tinha passado pelo Porto, chegou ao Benfica e levou o seu primeiro cartão amarelo num dos seus primeiros jogos de águia ao peito, levantou-se imediatamente um coro de inteligentes nas bancadas da Luz:
- Se ainda fosses do Porto não tinhas levado amarelo!
É esta a lógica das emoções no mundo da bola. O reportório é muito escasso e pouco imaginativo no que diz respeito a reclamações e a justificações. Se, outro exemplo, Jorge Jesus falhar no Sporting - como se deseja deste lado da Segunda Circular - ainda vão dizer muitos inteligentes que o Benfica mandou o seu antigo treinador no papel de emissário disfarçado para destruir o Sporting a mando de Luís Filipe Vieira com quem fingiu estar zangado.
As histórias repetem-se e repetem-se e repetem-se.
E é assim que andamos todos entretidos.


Afinal parece que o Jonas já não se vai embora. Era uma pena se fosse porque se trata de um grande artista e de um exímio goleador. Julgo que a receita do sucesso do Benfica na última época se ficou a dever ao eixo Júlio César, num extremo, e Jonas, no extremo oposto.
Os dois veteranos brasileiros deram à equipa de 2014/2015 uma eficácia que chegou a ser posta notoriamente em causa depois da debandada de meia-equipa do lindo triplete de 2013/2014.
Seria um descanso partir para a época de 2015/2016 com o mesmo eixo de sábios no ativo. Júlio César a não deixar os golos entrar e Jonas a meter golos nas balizas dos adversários. Quanto aos demais, logo se verá quem vem e quem vai. Mas estes dois, se for possível, é para deixar estar como está.


Excelente decisão da Liga ao impedir que os jogadores emprestados defrontem os seus clubes emprestadores. Tudo o que é em prol da transparência é bom para o negócio e para toda a gente. A única pessoa que pode ficar triste com esta regra é o Miguel Rosa porque assim, deixa-se de falar dele naquelas duas vezes por ano em que era o jogador mais famoso e mais influente de Portugal.

Fonte: Leonor Pinhão @ A Bola

Governocar: o maior 'stand' da Europa

Segundo o Jornal de Notícias, Cristiano Ronaldo tem 17 carros. Segundo o Correio da Manhã, Passos Coelho tem cinco. No dia 11 deste mês, o CM noticiou que chegaram 34 carros novos para os membros dos gabinetes do Governo, dos quais cinco para o gabinete do primeiro-ministro. A 24 de Agosto do ano passado, no entanto, o CM noticiava, citando fonte governamental, que o Governo tinha gasto um milhão de euros a renovar a frota de 56 chefes de gabinete dos ministérios. Mas a 18 de Outubro de 2013, o jornal i informava que, segundo um relatório da Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública, o Governo gastara 160 milhões de euros numa frota de 13.653 automóveis, que servia o Executivo e outros organismos estatais. Oito meses antes, a 25 de Fevereiro desse ano, o DN noticiava, citando outro documento da mesma entidade, que o Estado tinha 27.533 automóveis, incluindo veículos das forças de segurança. Ao serviço do Governo estavam 444 veículos, dos quais 186 para membros do Executivo e 258 para as secretarias-gerais. Mas menos de três anos antes, a 12 de Julho de 2010, o Sol dizia, citando a Presidência do Conselho de Ministros, que o Governo de Sócrates tinha renovado a frota do Estado comprando 922 automóveis, incluindo um Mercedes no valor de 134 mil euros para transportar altas individualidades estrangeiras e convidados.

Começa a ficar clara a razão pela qual há tanto trânsito em Lisboa. Ao domingo há a voltinha dos tristes, durante a semana há as voltinhas dos altos dignitários. As rubricas de trânsito, na televisão e na rádio, deviam incluir a rota dos membros do Executivo, para o cidadão poder escapar aos engarrafamentos. "Evite o eixo norte-sul porque há 17 secretários de Estado que moram em Telheiras e utilizam essa artéria. Trânsito complicado também na A5, devido ao elevado número de assessores residentes em Cascais, e no IC 19, por causa da comitiva do primeiro-ministro, vindo de Massamá."

Normalmente, esta atenção aos carros do Governo tem o seu quê de demagógico. Mesmo constatando que, ao que parece, a frota automóvel se renova com frequência semestral e esgota a produção de cinco Autoeuropas. Mas adquirir dezenas de carros novos para o Governo ao mesmo tempo se viaja de avião em turística e se vai à praia de saco de plástico na mão é o equivalente ao método dietético daquelas pessoas que colocam adoçante no café enquanto comem um pastel de nata. Passos Coelho precisa de um nutricionista de Estado.

Fonte; Ricardo Araujo Pereira@A Bola


quinta-feira, junho 25, 2015

Musica Classica - II



Antoni Gaudí

Antoni Gaudí (Reus ou Riudoms, 25 de Junho de 1852 — Barcelona, 10 de Junho de 1926) famoso arquitecto catalão e figura de ponta do Modernismo catalão. Grande parte da obra de Gaudi é marcada pelas suas grandes paixões: arquitectura, natureza e religião. 

Gaudi dedicava atenção aos mais ínfimos detalhes de cada uma das suas obras, incorporando nelas uma série de ofícios que dominava: cerâmica, vitral, ferro forjado e marcenaria. 

segunda-feira, junho 22, 2015

Frases - XII


"You don't manage people; you manage things. You lead people."

  - Admiral Grace Hooper

sexta-feira, junho 19, 2015

Kizomba - I

A barreira da língua

A fé é tudo no futebol. Se não houver fé no futebol nem um bilhete se vende nas bilheteiras dos estádios.

Até ao final da tarde de segunda-feira, quando foi publicamente apresentado o novo treinador do Benfica, Rui Vitória era a primeira escolha de Luís Filipe Vieira mas creio que não era a primeira escolha da larga maioria dos adeptos do Benfica.
Assim que foi apresentado, Rui Vitória passou a ser a primeira escolha da larga maioria dos adeptos do Benfica porque o que tem de ser tem muita força.
«A partir do momento em que é treinador do meu clube passa logo a ser o melhor treinador do mundo» - é esta a liturgia que, de um modo geral, toda a gente de índole disciplinada segue quando surge um novo treinador com quem não se contava.
E há um mês ninguém contava que o Benfica fosse mudar de treinador. Ao Rui Vitória aproveitamos já para desejar, no mínimo, seis anos no posto.
Como o anterior treinador esteve seis anos no posto não é de um momento para o outro que uma pessoa se sintoniza com o novo treinador - estas coisas levam o seu tempo. Eu, por exemplo, tive grande dificuldade em perceber os primeiros minutos do discurso de Rui Vitória na tarde da sua apresentação. Era a primeira vez que falava para nós. E tudo aquilo que dizia soava-me arrevesado, a estrangeiro, a uma língua esquisita que abusava de concordâncias com grande desfaçatez.
Houve mais gente nossa a queixar-se do mesmo.
Depois, com o andar da conversa, os nossos ouvidos foram-se habituando devagarinho ao falar de Rui Vitória e, por fim, já todos compreendíamos quase tudo do que nos queria comunicar quando chegou ao fim da sua alocução.
Mas quase tudo não é tudo. Se, no entanto, no próximo dia 9 de Agosto o Benfica conquistar a Supertaça ficará logo ultrapassada a barreira da língua entreposta, pela força de um hábito antigo, entre o novo treinador do Benfica e os adeptos.
É com isso que todos contamos. E Rui Vitória também.


Foi bem mais agradável de se ver a exibição das segundas linhas da Selecção contra a Itália do que a exibiçãozinha das primeiras linhas da Selecção com a Arménia.
No jogo com a Arménia a Selecção limitou-se a cumprir com aquilo que se lhe pedia: uma vitória. No jogo com a Itália, um adversário historicamente intratável, fez bastante mais do que lhe era exigido. Acabou mesmo por ganhar o jogo por uma goleada de 1-0. Tendo em conta a arte italiana de resguardar a sua baliza ganhar por l-0 à Itália é sempre uma goleada. Estão todos de parabéns.


Este ano não vai haver Taça da Honra. O simpático e intermitente troféu de abertura de época organizado pela Associação de Futebol de Lisboa foi suspenso do calendário por falta de quórum, chamemos-lhe assim. Regressará em 2016, isto se o Benfica não se resolver, novamente, a ter outras ideias para a sua pré-temporada.
Uma choruda digressão do Benfica pelo continente americano no próximo mês de Julho retirou o emblema dos campeões nacionais do programa da Taça de Honra e, sem Benfica, a AFL decidiu que a prova não fazia sentido.
A homenagem é grande ao Benfica mas é pequena à Taça de Honra que, por este caminho, nunca mais alcança o estatuto de competição mini-clássica mas, ainda assim, muitíssimo estimável do futebol lisboeta. 
Poderia a Associação de Futebol de Lisboa ter pensado em organizar, neste Julho de 2015, um triangular envolvendo Sporting, Belenenses e Estoril no lugar do quadrangular que se realiza com o elenco completo. Mas assim não vai acontecer. Não há Benfica, não há nada para ninguém.

A propósito da derrota na final do campeonato de futsal, o presidente do Sporting atirou-se aos árbitros em geral e exigiu um apocalipse de Estado sobre todas as modalidades desportivas que se praticam em Portugal. «Não admitimos mais desrespeitos», correu a escrever no Facebook.
O presidente do Porto, por sua vez, entendeu proclamar que dispensaria de bom grado o seu treinador, qualquer treinador, se confiasse no desempenho dos fiscais-de-linha ao longo da temporada futebolística. 
Mas isto alguma vez foi maneira de ganhar campeonatos?
Imagine-se o estado de choque em que ficou, depois de ouvir Pinto da Costa falar sobre fiscais-de-linha, aquele mesmo fiscal-de-linha da Luz que, validando o golo irregular do Maicon ao cair do pano, acabou por oferecer o campeonato de 2012 ao Porto.
O futebol está todo de férias, menos na parte que mete apitos.


Teve mais arte a colocação da fotografia de Jorge Jesus no alegre painel da equipa bicampeã nacional em exposição na loja do Estádio da Luz do que a sua remoção às mãos de um zelota anónimo magoado com os acontecimentos.
O episódio já tem umas semanas, eu sei, mas até pareceria mal não dizer nada sobre esta inusitada prática negacionista no historial do Benfica tendo em conta que até uma fotografia de João Vale Azevedo continua, e sem constrangimentos, à vista de todos no Museu do clube por uma questão de decência.
É no sentido da criatividade que digo que teve mais arte quem se lembrou de colocar a imagem de Jesus numa vitrina na Luz celebrando com os jogadores o título de campeão quando, se bem se lembram, foram comedidíssimos os festejos do então treinador do Benfica, sempre sisudo e sozinho, fazendo até adivinhar, a quem se entretém a decifrar expressões, o que aí vinha...
Em função da materialidade dos eventos foi, portanto, um abuso colocar a imagem de Jesus à força numa festa a que mal compareceu. Tirá-lo do grupo foi ainda pior.


Voltando ao treinador do grande Benfica. Rui Vitória disse muitas coisas que os benfiquistas gostaram de ouvir. Não lhe deve ser difícil porque sendo ele também benfiquista sabe do que a casa gasta e sabe, sobretudo, do que a casa gosta. 
No dia da sua apresentação, deixou expressa a vontade de «fazer mais na Champions do que foi feito no passado». E quem é que não aprecia uma coisa destas?
Os adeptos tiveram oportunidade de voltar a rejubilar quando o treinador do Benfica se afirmou disposto a «apostar em cinco, seis ou sete jovens jogadores» para atacar a época de 2015/2016. A juventude é outro tema sensível na Luz, como bem sabemos.
No seu todo, a cerimónia de apresentação de Rui Vitória decorreu com decoro e dignidade em ambiente de fé no futuro. A fé é tudo no futebol. Se não houver fé no futebol nem um bilhete se vende nas bilheteiras dos estádios.
Luís Filipe Vieira pediu publicamente o tri a Rui Vitória. E eu acredito que sim, que o Benfica pode voltar a ser campeão.
Quanto à promessa do treinador de «fazer mais» na Champions com «cinco, seis ou sete jovens jogadores», francamente, já me parece bastante mais difícil de chegar lá.


Com a vitória no campeonato de futsal terminou em inaudita beleza a temporada das modalidades em que o Benfica, andebol à parte, esteve ao seu melhor nível que é aquele de ganhar tudo o que surja pela frente. 
O jogo que se veio a revelar decisivo do campeonato de futsal foi na casa do Sporting que chegou aos 2-0 de vantagem perto do fim da primeira parte. Odivelas foi ao rubro, naturalmente.
Com o entusiasmo do momento rebentaram-se umas bombas de fumo que deixaram «o ar irrespirável» no pavilhão provocando «grandes dificuldades aos jogadores», segundo concluíram os comentadores da RTP, estação que transmitiu o jogo em directo.
Por ser um clube de origem popular, com pulmões proletários mais resistentes à fuligem e às alterosas fornalhas, o Benfica deu-se melhor com a fumarada do que o adversário e foi num ambiente tão favorável quanto espesso que reduziu para 2-1 dando início à reviravolta.
A decisão do jogo e do título teve de esperar, no entanto, pelos penalties e acabou por sorrir ao Benfica. O Sporting ficou muito zangado com o árbitro que mandou repetir por duas vezes os penalties do Benfica visto que o guarda-redes do Sporting estava francamente adiantado em relação à linha de baliza. O que não é permitido no futsal.
No futebol também não é permitido o guarda-redes adiantar-se no momento do penalty.
Com um árbitro destes tínhamos ganho a final da Liga Europa ao Sevilha e a Beto. Também teria sido mais do que merecida essa vitória."


Fonte: Leonor Pinhão @ A Bola

Musica Clássica - I


Compositor: Beethoven
Tema: Symphony No. 9

quinta-feira, junho 18, 2015

Onze para cada lado e no fim suborna a Alemanha

É uma vergonha que haja escândalos no futebol internacional e nós não participemos. Portugal: é a hora

Tudo o que sei sobre imoralidade, devo-o à FIFA. Não sei se o leitor reparou no que eu fiz aqui. Parafraseei a conhecida frase de Albert Camus: "Tudo o que sei sobre a moral, devo-o ao futebol." Está bem apanhado, não está? É pena que Camus já cá não esteja, para completar a sua educação: aprendia moralidade com o futebol e imoralidade com o organismo que manda no futebol.

As pessoas que não se interessam por futebol perderam esta semana, além de mais um curso completo de ética, aulas importantes de economia, geopolítica e direito internacional. Se o leitor deseja cultivar-se, devia assistir a um Paços de Ferreira-Marítimo. Para começar. Depois poderá ir evoluindo, devagarinho, para jogos mais complexos, até estar apto a acompanhar o processo de organização de um mundial. Nessa altura, poderá compreender a investigação que o jornal alemão Die Zeit divulgou esta semana. Parece que, há dez anos, a Alemanha enviou armas para a Arábia Saudita como forma de garantir que aquele país daria o seu voto aos germânicos para que estes pudessem organizar o campeonato do mundo de futebol, em 2006 - o que veio a suceder. Além disso, a Volkswagen e a Bayer prometeram fazer investimentos avultados na Coreia do Sul e na Tailândia se estes países votassem, igualmente, na Alemanha. Repare que o assunto é interessante e digno, uma vez que se trata de futebol e democracia, dado que o objectivo é ganhar uma eleição. Infelizmente, o voto de Portugal na FIFA não parece ser apetitoso e, pelo menos até agora, não há notícia de que nos tenham oferecido armas nem dinheiro. É uma pena, porque isso faria mais pelo desenvolvimento sustentado da economia portuguesa do que vários governos. Creio que Portugal deveria aplicar-se na exportação de votos. País que desejasse organizar o mundial poderia candidatar-se ao nosso voto favorável, mediante a apresentação de um caderno de investimentos. Além do voto, Portugal pode oferecer ainda uma ou outra infra-estrutura, caso o país interessado possua meios para desmontar e transportar estádios às peças, podendo para o efeito escolher entre o de Aveiro, o de Leiria e o do Algarve, por exemplo. Se a FIFA organizar um mundial de futebol de seis em seis meses, podemos livrar-nos da crise já em 2018. Se há coisa que não nos falta é gente com experiência em conspirar nos bastidores do futebol. Temos as competências, temos o chamado know-how, temos a experiência. É uma vergonha que haja escândalos no futebol internacional e nós não participemos. Portugal: é a hora.

Fonte: Ricardo Araújo Pereira@Visao

quarta-feira, junho 17, 2015

Rock I

Temos uma "Highway to Hell" mas em contrapartida apenas uma  "Stairway to Heaven".



Artista: Led Zeppelin
Musica: Stairway to Heaven

terça-feira, junho 16, 2015

Foge, cão

No século XIX, Almeida Garrett ridicularizou a distribuição estonteante de títulos nobiliárquicos com a fórmula "Foge, cão, que te fazem barão. Para onde? Se me fazem visconde?". 

Enfim, era um sintoma da decadência do regime, glosado também por Antero de Quental ou Teixeira de Pascoaes. 

Agora só nos faz falta um satírico desse gabarito, posto que Presidente das Medalhas já temos: chama-se Aníbal Cavaco Silva e acabou de condecorar – já depois de ter premiado figuras gradas da nossa bêbeda democracia como Zeinal Bava – a própria troika (através do ex-ministro das finanças Teixeira dos Santos) e, claro, o estilista da sua amantíssima esposa. 

Calma: o senhor que veste a dita Primeira-Dama teve mesmo direito ao mais alto grau de uma das principais condecorações, a comenda de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, habitualmente atribuída a quem preste serviços relevantes a Portugal, no país e no estrangeiro, assim como serviços na expansão da cultura portuguesa, da sua história e dos seus valores. E agora? Ainda é preciso explicar mais alguma coisa sobre a putrefação da República? Fui.

Fonte: Joana Amaral Dias @Correio da Manha

segunda-feira, junho 15, 2015

A questão da lavandaria do Sporting

Vai ser um “defeso” como há muito não se via.
Teremos, já temos, uma pausa de Verão intensamente marcada pelo renascer furioso da rivalidade entre os dois clubes grandes da cidade de Lisboa.
Tudo porque Jorge Jesus optou por dar um rumo novo à sua carreira.
Não terá sido grande o passo. Na verdade, bastou-lhe atravessar uma rua para mudar de patrão e para deixar perplexos os adeptos do Benfica.
E, como não podia deixar de acontecer, para deixar eufóricos os adeptos do clube rival. Assim como uma plêiade, não menos eufórica, de comentadores imparciais da cabeça aos pés para quem o novo treinador do Sporting ganhou, de um dia para o outro, qualidades humanas e morais jamais adivinháveis nos seis anos em que foi treinador do Benfica.
Tudo tem a sua medida. A quase nenhuma visibilidade do campeonato português não fez correr esta notícia em rodapé nos noticiários da CNN e de outras estações de televisão estrangeiras mas em Portugal não se fala noutra coisa, obviamente.
A rivalidade entre Benfica e Sporting é centenária e alimenta-se destes pormenores. À míngua de títulos, o Sporting tinha de fazer qualquer coisa e fez. Levou-nos o treinador e quer levar-nos jogadores. O ataque ao património material poderá ser melhor ou pior sucedido em termos práticos, já quanto ao património imaterial não vão ter sorte nenhuma.
Não há “Carrega, Benfica!” que se transmute em “Carrega, Outra Coisa Qualquer!”, por mais invejável que seja – e é mesmo – o grito popular e genuíno da nossa gente.


Diariamente, os jornais vão-nos agora dando conta do assolapado romance entre o novo treinador do Sporting e o seu presidente, fascinado por ter perto alguém que percebe quase tanto de futebol como ele.
Agências de comunicação contratadas vão passando, diligentemente, para a opinião pública através da imprensa o quanto Jesus tem impressionado Bruno de Carvalho com o seu conhecimento dos mais ínfimos pormenores no que respeita ao funcionamento e ao recheio da Academia de Alcochete.
O presidente está encantado porque o novo treinador sabe tudo. Até sabe de cor e salteado o número de calçado de toda a equipa B do Sporting.
Um dia destes, é mais do que certo, ainda ouviremos Bruno de Carvalho repetir as palavras míticas com que a não menos estarrecida tia do Vasco Santana celebrou o êxito do sobrinho no exame final do curso de medicina no filme “A Canção de Lisboa”:
- Ele até sabe o que é o esternocleidomastóideo!
E sabe mesmo.
Voltemos à materialidade desta imortal rivalidade histórica entre os dois grandes clubes de Lisboa.
As últimas notícias são amplamente favoráveis ao Benfica. De acordo com os dados divulgados pela empresa GFK/CAEM, que mede as audiências televisivas, a final da Taça da Liga disputada entre o Benfica e o Marítimo bateu de largo a final da Taça de Portugal disputada entre o Sporting e o Sporting de Braga.
O resultado foi de 1.890.500 contra 1.634.00 espectadores. Ganhou a Taça da Liga.
O que não deixa de ser um dado material curioso porque a Taça de Portugal, para todos os efeitos, é uma competição muitíssimo mais importante e sonante do que a Taça da Liga.
Com o novo treinador do Sporting ao comando, o Benfica venceu 5 edições da Taça da Liga. Pode-se dizer, com toda a propriedade, que a Taça da Liga é realmente a competição-fétiche de Jorge Jesus.
E, por isso mesmo, não é atrevimento prognosticar que as próximas 5 Taças da Liga vão acabar impantes na sala de troféus de Alvalade.
Paciência.
- Adeus Taça da Liga! – aproveito e despeço-me já de ti.


Com todos estes acontecimentos fraturantes a preencher a agenda dos noticiários e das vidas familiares, há temas menores da nossa vida em sociedade que foram ficando para trás e que arriscam o completo olvido se ninguém os puxar à tona.
Eis um deles:
- O inquérito do Ministério da Administração Interna ao comportamento do sub-comandante da PSP de Guimarães que agrediu um cidadão à vista dos filhos e do avô dos filhos já produziu algum tipo de conclusão ou será que considera o Estado português o facto das crianças terem sido convidadas para a festa do título no Estádio da Luz como ressarcimento suficiente para as vítimas e como reposição do bom aspecto geral?


O presidente do Benfica afirmou-se publicamente “desiludido” mas “não surpreendido” com a saída de Jorge Jesus para Alvalade. E sobre o assunto mais nada disse. Assenta-lhe bem o laconismo nesta altura do campeonato precisamente porque não há campeonato nesta altura.
Quando houver campeonato será outra loiça. Num passado recente, correu mal a história ao Benfica sempre que deixou ir embora os seus últimos treinadores campeões. A sucessão de Toni em 1994 e a sucessão de Giovanni Trapattoni em 2005 redundaram em retumbantes fracassos e nenhum destes treinadores saiu da Luz para se ir enfiar na casa de um rival, o que aumenta os factores de risco.
Nestas coisas do futebol, quem tem razão, quem é esperto, quem é visionário é quem vence.
O presidente do Benfica continuará pela vida fora a ser muito elogiado por ter prolongado o contrato com Jesus no fim da temporada funesta de 2012/2013 – em que o Benfica perdeu tudo em duas semanas – pela razão simples de o Benfica ter, depois disso, ganho dois campeonatos consecutivos com o mesmo treinador que uma parte significativa dos adeptos queria ver pela porta fora.
A “genialidade” dos presidentes constrói-se de vitórias.
Vieira, que não segurou Jesus como se impunha para muita gente que só quer o bem do clube, corre o risco de voltar a ser genial se o Benfica, comandado seja por quem for, vencer o próximo campeonato.
E se, no próximo dia 9 de Agosto, o Benfica derrotar o Sporting na decisão da Supertaça também Vieira será genial pelo menos até à primeira jornada do campeonato. Depois logo se verá...
Mas uma eventual derrota na Supertaça colocará o presidente do Benfica em maus lençóis perante os adeptos no arranque da temporada. Já uma eventual derrota no campeonato fará com que lhe chamem de tudo menos de genial lá para Maio de 2016.
O presidente do Benfica estará, certamente, preparado para se confrontar com qualquer uma destas possíveis situações – ou é genial ou antes pelo contrário –, sendo que a segunda é bem mais desagradável do que a primeira a que já estava acostumado.
E nós também.


No passado fim-de-semana, o segundo jogo dos play-offs do campeonato de futsal foi disputado sob um calor insuportável no pavilhão da Luz.
Chamou-me a atenção um amigo para o facto, indesmentível, de o treinador do Sporting, suando em bica como todos os presentes, nunca ter despido o casaco do traje oficial para se aliviar do sufoco em mangas de camisa.
- Está com medo de ser despedido – foi a conclusão a que chegou.
Tudo isto porque a acusação do gabinete jurídico do Sporting a Marco Silva refere que o treinador ao não usar o fato completo e oficial do clube no jogo com o Vizela para a Taça de Portugal desrespeitou gravemente o regulamento interno o que configura motivo de justa causa para a rescisão unilateral do seu contrato.
Este será, porventura, o argumento mais exótico que ressalta das 400 páginas da acusação a Marco Silva.
Veio-se depois a saber que o Sporting só forneceu a Marco Silva um fato completo para a época inteira – estava-se ainda no tempo das bifanas – e que o treinador só se apresentou em Vizela com roupa de treino porque a lavandaria de Alvalade demorou a devolver-lhe o seu único fato oficial limpinho, limpinho, limpinho como mandam as regras.
Bem me queria parecer que, neste Sporting, as grandes questões são de lavandaria.



DESTAQUE:
Nestas coisas do futebol, quem tem razão, quem é esperto, genial, quem é visionário é quem ganha campeonatos.


Fonte: Leonor Pinhão @A Bola

Somos felizes e não sabemos

"A confirmar-se que estamos felizes, talvez os portugueses queiram experimentar um pouco de sofrimento, para desenjoar de tanto nirvana"


Quando Pedro Passos Coelho disse, esta semana, que a história dos últimos anos tinha tido um final feliz, muita gente discordou por considerar que isto que vivemos não é felicidade. Eu discordo porque acho que isto não é um final. O que é infeliz.

Cada um terá a sua noção de felicidade, mas é mais difícil divergir naquilo que é ou não um final. Podemos discutir se o copo está meio cheio ou menos vazio (embora, no que me diz respeito, seja raro ter inquietações filosóficas deste tipo, na medida em que bebo quase sempre pela garrafa), mas creio que ninguém hesita acerca do momento em que o copo está completamente vazio. Um final não costuma deixar dúvidas. Mas o FMI continua a vir cá periodicamente, o que parece indicar que isto ainda não acabou. Além de que costuma vir com propostas que não trazem grande felicidade.

No entanto, como já tive oportunidade de observar, com muita perspicácia, o conceito de felicidade muda de pessoa para pessoa. Os fetichistas de pés ficam felizes com a mera contemplação de pés. Talvez o primeiro-ministro seja um fetichista de desemprego. Ou de dívida. Ou de pobreza. Por outro lado, a felicidade do final de uma história depende de quem a conta. Uma história em que o Drácula consegue ferrar o dente no pescoço de um desgraçado não tem, em princípio, um final feliz. A menos que seja o Drácula a contá-la. Para nós, o governo de Durão Barroso não teve um final feliz. Até porque redundou em Santana Lopes. Mas, para Durão Barroso, foi das mais lindas histórias que já se escreveram.

Talvez o problema esteja no próprio conceito de felicidade. É possível que Passos Coelho se satisfaça com pouco (recordo que ele apreciava a companhia de Miguel Relvas). Mas, para o resto do País, creio que a notícia de que isto é felicidade foi recebida com desilusão. De duas, uma: ou a felicidade não é isto ou tem sido muito sobrevalorizada. A confirmar-se que estamos felizes, talvez os portugueses queiram experimentar um pouco de sofrimento, para desenjoar de tanto nirvana.

Há ainda outro problema no conceito de final feliz de Passos Coelho (tão diferente do de certas casas de massagem): para o primeiro-ministro, temos sido todos muito virtuosos. Temos feito sacrifícios, pago dívidas, trabalhado a dobrar (os que têm trabalho). Ora, de acordo com a minha experiência, não é possível ser virtuoso e feliz ao mesmo tempo. A maior parte das coisas que me fazem feliz não são virtuosas, e vice-versa. Ou bem que se é virtuoso, ou bem que se é feliz. Temos de optar. E Passos Coelho também.

Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão

Frases - XI


"Someone is sitting in the shade today because someone planted a tree a long time ago." 

  - Warren Buffett 

quinta-feira, junho 04, 2015

Anéis de ouro a um tostão

Assistiu-se esta semana, na imprensa portuguesa, a mais um "Momento Mastóideo". O "Momento Mastóideo", que eu assinalo sempre que posso, é inspirado naquele passo do filme "A Canção de Lisboa" em que Vasco Santana, já reformado da vida boémia, responde a todas as questões do exame de medicina, incluindo à última, e mais difícil, sobre o esternocleidomastóideo. "Rico filho! Ele até sabe o que é o mastóideo!", comenta uma das tias da província, muito impressionada. O "Momento Mastóideo", que me orgulho de ter cunhado, ocorre sempre que uma tia da província se deixa impressionar pela erudição de um rico filho.

Esta semana, a tia da província foi o jornal Público. Três quartos da primeira página de domingo eram dedicados a um trabalho sobre linguagem corporal. O título era: "Os gestos que traíram os protagonistas do caso BES". Por baixo, dizia: "Um especialista em linguagem corporal analisou os depoimentos na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES e chegou a conclusões surpreendentes." As conclusões surpreendentes são, em resumo, estas: todos, ou quase todos os inquiridos mentiram à comissão ou, pelo menos, não disseram tudo o que sabiam. Peço ao leitor que contenha a surpresa. Imagino os espasmos violentos que experimenta nesta altura. A culpa foi minha, que não o preveni para o assombro que ali vinha.

O rico filho é Rui Mergulhão Mendes (RMM), "especialista em apurar a veracidade de testemunhos através da linguagem corporal", a quem o Público pediu para analisar os depoimentos de Ricardo Salgado, Carlos Costa e outros. O jornal avisa que o especialista é "formado no Body Language Institute, de Washington". (Rico filho! Ele até estudou num instituto localizado no estrangeiro!) Quem desejar saber mais sobre este instituto deve dirigir--se ao site de Janine Driver, chamado "Lyin' Tamer" ("A Domadora de Mentirosos"), que é a fundadora, presidente e proprietária do prestigiado instituto. O site inclui um vídeo de um talk-show diurno em que Driver é convidada para dar conselhos acerca da linguagem corporal de senhoras que pretendem engatar cavalheiros em bares. E tem também uma ligação para o Body Language Institute, que promete "Cursos certificados para potenciar a confiança, o carisma e a carreira". Vê-se que RMM concluiu o curso com aproveitamento, porque apresentar-se como "especialista formado no Body Language Institute, de Washington" gera muito mais carisma do que dizer que se frequentou umas aulas ministradas por uma autora de livros de auto-ajuda. De acordo com o Público, os especialistas em linguagem corporal são tão importantes que "os canais de televisão norte-americanos convocam regularmente peritos na análise da linguagem não-verbal para comentarem, em horário nobre, os casos mediáticos". (Ricos filhos! Eles até são convidados para falar nas televisões da América! E em horário nobre!) Não admira, por isso, que a análise de RMM tenha detectado, segundo o Público, "muitos indícios de mentiras, inverdades, omissões, lapsos linguísticos e incongruências". Como é evidente, eu, que ainda hoje não sou capaz de distinguir uma mentira de uma inverdade, quis saber mais sobre o estudo do especialista.

O método de detecção de mentiras (e também de inverdades) consiste na análise de "micro-expressões". RMM observou "assimetrias nas sobrancelhas" de Álvaro Sobrinho, "desaparecimento corporal" em Ricardo Salgado, um "leve levantamento do lábio superior" em Carlos Tavares, um "fechar mais prolongado dos olhos" em Zeinal Bava, um "microtoque no nariz" de Paulo Portas e um "levantamento assimétrico de um dos cantos da boca" em Granadeiro. Quase todos os inquiridos recorreram ao igualmente suspeito "acto de ventilar". No entanto, o especialista dedicou a maior parte da sua atenção a comichões. Neste ponto, o Público pergunta, e bem: "Como distinguir uma simples comichão, normal, de um sinal emocional?" RMM tem experiência em destrinçar comichões e não se atrapalha: "Não há comichões por acaso. Os micropruridos que aparecem na cara surgem por indicação do nosso cérebro. Pica-nos ali e não é sem querer. Porque é que tocar no nariz está tão associado à questão da mentira? Porque irrigamos mais sangue e a extremidade do nariz é mais sensível e o sangue jorrou ali ou faltou (...). E faz comichão. (...) Quando ocorre um pico de comichão e nós coçamos, geramos uma sensação de acalmia, é uma forma micro de nos pacificarmos (...)." Para uma pessoa que, como eu, passa grande parte do dia a coçar-se, esta revelação é perturbadora. Eu minto quando estou a ler, minto a ver televisão, por vezes minto até a dormir.

RMM avança ainda com uma descoberta que escapou a todos, incluindo aos deputados da comissão que, distraídos com insignificâncias como o conteúdo dos testemunhos, também já tinham deixado passar em claro a maior parte das comichões: "Há um pormenor curioso: Portas e Salgado iam rigorosamente vestidos da mesma forma, com a mesma gravata, o mesmo casaco, a mesma camisa. O que nada nos diz sobre linguagem corporal, mas não deixa de ser interessante." Muito, muito interessante. Acabo, aliás, de fundar o Instituto da Indumentária Equivalente, cujo objecto de estudo é, precisamente, a influência da alfaiataria nas comissões de inquérito. Fico à espera do telefonema do Público. Temos primeira página para o próximo domingo.

Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão

Que lástima ter sido o Benfica a empurrá-lo para Alvalade

Em público e em privado, muita gente filósofa se tem deleitado a concluir, de forma precipitada, que depois de dois anos sem ganhar qualquer troféu o Porto entrará irremediavelmente num contraciclo que o reconduzirá aos patamares de relativa singeleza competitiva em que viveu desde a data da sua fundação, seja ela qual for, até à eleição de Pinto da Costa como presidente do clube.
Não é, no entanto, a primeira vez que uma parvoíce destas se faz ouvir.
Já tinha acontecido na viragem do século haver quem pensasse exactamente a mesma coisa quando o Porto perdeu três campeonatos de seguida, dois para o Sporting e um para o Boavista.
Anunciou-se logo ali, perentoriamente, o fim da consabida hegemonia do Norte que relegara os dois grandes clubes de Lisboa para a modéstia em função dos seus respetivos e sonantes historiais.
Não podia ter sido maior o engano.
Nessa altura coube ao Benfica, oferecendo numa bandeja o treinador José Mourinho ao Porto, contribuir fortemente para a solução do problema que se anunciava nas Antas. O Porto respondeu imediatamente com um “bi”, recompôs-se e depois disso ainda fez um “tetra” e um “tri”. Lembram-se?
O episódio Mourinho de 2002 ainda hoje se discute pelas nossas bandas. Há correntes filosóficas que, por exemplo, defendem que foi um erro histórico do Benfica. 
Outras correntes defendem que, perante as exigências de Mourinho para regressar à Luz, o clube jamais poderia ficar refém de um treinador tendo procedido bem em fazê-lo seguir para o Porto.
Como nunca conseguirei entender como é que um clube pode ficar refém de um treinador que soma títulos atrás de títulos – alguma vez em Manchester alguém se terá sentido refém de Ferguson? –, confesso que sempre vi a coisa mais pelo lado do erro histórico.
Oxalá que nunca se venha a repetir.


A próxima temporada abre com um Benfica-Sporting ou com um Sporting-Benfica, como se preferir, no dia 9 de Agosto. E com novos treinadores nos respetivos bancos, é o que tudo indica. Certo é que o primeiro derby do ano trata da discussão da Supertaça que coloca frente a frente o vencedor da Liga e o vencedor da Taça de Portugal. Falta, portanto, pouco mais de dois meses para o acontecimento que, como sempre, promete.
Passaram-se, entretanto, 28 longuíssimos anos desde que uma Supertaça foi discutida entre os emblemas da Segunda Circular. Ou seja, demorou quase três décadas voltar a acontecer a suposta divisão dos títulos verdadeiramente sonantes do nosso futebol – Campeonato e Taça de Portugal – pelos dois “grandes” da cidade de Lisboa.
A explicação é fácil. Neste dilatado hiato de 28 anos, o Benfica conquistou 8 campeonatos e o Sporting apenas venceu 2. Há ainda que contar 1 título nacional para o Boavista. O que sobrou, e foi imenso, coube tudo ao Porto que para além de campeonatos somou Taças e Supertaças a perder de vista.
Por isso mesmo a Segunda Circular viu-se despromovida pela opinião pública a Terceira Circular e, mais impiedosamente ainda, viu-se até relegada a Quarta Circular nos anos em que nem o Benfica nem o Sporting conseguiram conquistar nada daquilo que verdadeiramente interessa, o que aconteceu por 4 vezes na década de 90.
A última Supertaça jogada entre Benfica e Sporting aconteceu em 1987 e, em bom rigor, o Sporting qualificou-se para essa discussão por ter sido o finalista vencido da Taça de Portugal frente ao Benfica que fez a “dobradinha” nessa temporada. 
Voltemos rapidamente ao presente que nos coloca perante esta situação de contornos quase museológicos de vermos a dita Segunda Circular recuperar metaforicamente o estatuto de Primeira Circular do futebol português.
Para além do excelente trabalho do Benfica ao longo de 34 jornadas e do excelente trabalho do Sporting na jornada do Jamor, que fenómeno raro se terá passado em 2014/2015 para que o triunfo do “centralismo” pudesse voltar a acontecer?
Os próximos anos dirão, certamente, se foi apenas um acaso, nada mais do que uma coincidência feliz para os clubes da Capital. 
Ou se houve qualquer coisa de mais substancial que possa ter justificado estas ocorrências num momento em que o Porto, contrariando o preceito de ouro do seu missal, não consegue estar de boas relações com o Sporting contra o Benfica ou de boas relações com o Benfica contra o Sporting. 
Aqui está um fenómeno que também não se via há coisa de três décadas. E esta é que é a grande novidade que marcou as últimas duas épocas.


Nunca haverá em Portugal uma rivalidade que se compare à rivalidade entre os dois maiores de Lisboa. Por isso lhes chamam “eternos rivais”. É uma situação estrutural. Já quanto às flutuantes rivalidades do Benfica e do Sporting com o Porto trata-se, enfim, de uma situação conjuntural.O Benfica ganhou na sexta-feira a Taça da Liga e o Sporting ganhou no domingo a Taça de Portugal e, desde então, já nem sei quantas vezes ouvi benfiquistas e sportinguistas trocarem entre si notáveis galhardetes de ironia:
- Parabéns pela Taça da Cerveja!
- Parabéns pela Taça das Bifanas!
Enquanto for só isto ninguém se magoa.


O Benfica conquistou, portanto, a sua sexta Taça da Liga e, por mim, pode continuar nesta senda.O adversário foi o Marítimo que deu muito que fazer mesmo jogando com menos um durante quase toda a segunda parte.
O homem do jogo foi, uma vez mais, Jonas porque marcou o primeiro golo do Benfica e porque ofereceu o segundo e decisivo golo do Benfica a Ola John depois de ter fintado quatro adversários no espaço de um metro quadrado na área maritimista. Foi mais um exagero do brasileiro.
A verdade é que tantas vezes foi Jonas o homem do dia nesta época que mais vale dizer que Jonas foi o homem do ano apesar de ter chegado à Luz já com a temporada em andamento.
Foi, aliás, uma temporada bastante aceitável com a conquista de três títulos oficiais – Supertaça a abrir, Liga e Taça da Liga a fechar.
Só faltou fazer melhor na Taça de Portugal e fazer qualquer coisa que se visse pela Europa. Este ano não se viu Benfica europeu, o que não teve graça nenhuma, mas talvez a isso se fique a dever o bi-campeonato que teve a sua graça até pelas circunstâncias em que foi conquistado. 
É que não foi nada fácil. O Benfica, perdendo mais de meia equipa com que tinha brilhado na época anterior, soube reconstruir-se em modo operário e exibindo sempre uma enorme frieza de espírito a que se chamou pragmatismo.
Compreende-se, assim, a alegria benfiquista pelos sucessos internos desta temporada mas, repito, engana-se quem acreditar que o Benfica voltou aos tempos em que com qualquer treinador se arriscava a ser campeão.


No sábado passado o Benfica lá voltou a Guimarães para celebrar mais um título nacional, desta vez o de basquetebol. Antes da festa houve que ganhar o decisivo terceiro jogo do play-off à equipa do Vitória que jogava em casa fortemente apoiado pelo seu público.O basquetebol é um espectáculo que fica bem no pequeno ecrã e a realização esteve à altura da importância e das emoções do acontecimento. 
Nos momentos em que os treinadores pediam pausas no jogo os telespectadores usufruíam do privilégio de poder ouvir Carlos Lisboa e Fernando Sá dando instruções aos seus jogadores… em inglês, a língua franca da modalidade.
Mas quando o presidente da Federação entregou a o troféu a Diogo Carreira foi em bom português que os campeões cantaram o feito.
“Campeões, campeões, nós somos campeões!”
E são mesmo. Pela quarta vez consecutiva.


Com um corte de cabelo que o faz parecer um jovenzinho, Pablo Aimar regressou ao futebol no domingo passado depois de um ano de ausência dos relvados e de três operações ao joelho. O argentino que nos encantou entre 2008 e 2013 voltou a jogar com a camisola do seu River Plate catorze anos depois de ter trocado o clube de Buenos Aires pelo clube de Valência que ainda nem sequer pertencia ao senhor Peter Lim.Foi um prazer rever as deambulações líricas de Pablo Aimar, já com 35 anos, durante o quarto-de-hora final do jogo do River com o Rosário Central. Ah, os artistas…


E lá vai o Jesus para o Sporting perder a graça toda que nós lhe achávamos. E que lástima ter sido o Benfica a empurrá-lo para Alvalade. Sim, porque é sempre muito feio um patrão oferecer uma redução salarial a um trabalhador com méritos. Acontece muito disto na nossa sociedade doente. E alguma vez tinha de chegar ao futebol. Que pena ter sido logo ao Benfica.

Fonte: Leonor Pinhão @ A Bola

segunda-feira, junho 01, 2015

Frases - X


"Management is doing things right; leadership is doing the right things."

 -  Peter Drucker


Desporto de fim de semana - 2024/03/16

Sábado, 2024/03/16  - 14:00 - Futebol - Fc Penafiel -v- SL Benfica B - Liga Portugal 2 | 23/24 - Jornada 26  - 15:00 - Basquetebol - SL Ben...