Se, porventura, Maximiliano Pereira continuar no Benfica vão ser poucos os adeptos benfiquistas dispostos a perdoar-lhe amorosamente, como sempre fizeram, a mais pequena falha em campo, coisa que raramente acontecia.
- Devias ter ido para o Porto! - é o grito que surgirá das bancadas sempre que o uruguaio desacertar.
É no que dão estes romances insuportavelmente esticados para lá do tempo razoável da intriga. Enjoam.
Não tendo havido consenso entre as partes para a renovação do contrato antes do fim de 2014, era certinho que a discussão do futuro do jogador iria ser um dos pratos fortes do defeso de 2015, até à exaustão.
Maxi Pereira está há oito anos na Luz e, devagarinho, foi-se afirmando como um esteio da equipa, como uma referência de empenho e de dedicação que conquistou o coração dos adeptos convencidos de que tudo aquilo que o viam fazer em campo era obra de um insuspeito benfiquismo intercontinental que lhe corria nas veias desde a hora em que nasceu, lá longe no Uruguai.
A dor iminente de se perder um excelente defesa-direito tem vindo a ser suplantada, e brutalmente, pela decepção de uma evidência mil vezes mais castigadora. A de que, afinal, Maxi Pereira não é do Benfica desde pequenino, é apenas um profissional de futebol - e dos bons! - que faz contas à vida e deita os olhos ao seu futuro.
A esta chatíssima novela nem sequer falta um suposto vilão. Trata-se do empresário do jogador, esse grande malandro que quer enfiar Maxi no Porto tal como já fez no passado com Cristian Rodriguez, outro uruguaio por si agenciado que transitou da Luz para o Dragão sem pensar duas vezes.
Porque o processo foi muito rápido, a deserção de Cristian Rodriguez causou surpresa e comoção. O eventual trânsito no mesmo sentido de Maxi Pereira já não causará surpresa nem, muito menos, comoção porque este enredo abusa da lentidão e da paciência geral.
Exaspera-se, em primeiro lugar, o público que concede benevolentemente um tempo legítimo para estes suspenses. Mas depois, vendo a acção engonhar, acaba toda a gente por se desinteressar do assunto. Qualquer que seja o desfecho, já vai tão longa a conversa que, francamente, deixou até de ser emocionante para passar a ser coisa enfadonha, entediante. Talvez seja esta a estratégia do Benfica para perder Maxi Pereira para o Porto ou para qualquer outro emblema sem que haja revolta na Luz.
- Vamos aborrecê-los de morte com o caso Maxi Pereira até ser um alívio a sua partida! E, assim, se perderá sem fazer ondas um jogador que foi importantíssimo no renascer do Benfica para a conquista de títulos e na consequente recuperação da auto-estima da casa que andou muito por baixo durante anos a fio.
Aconteça o que acontecer, é nossa obrigação agradecer a Maxi Pereira a entrega total em oito anos ao serviço do Benfica. Foi frequentemente notável o seu contributo.
Ao ponto de nos fazer achar que, finalmente, já havia entre os jogadores quem interpretasse maravilhosamente o papel de moicano de eleição, servindo de exemplo não só para os mais novos do balneário mas também de exemplo para os nossos adeptos imparáveis que se reviam inteiros e de alma lavada naquele uruguaio não menos imparável.
No Benfica, Maximiliano Pereira foi sempre Maxi.
O Maxi Pereira da Luz. Nunca Mini Pereira.
Mini Pereira será para os outros. E acabem lá com isto, por favor.
Se já é arrevesado e injusto despromover Maxi Pereira a Mini Pereira feitas as contas aos tais oito anos passados pelo uruguaio no Benfica - e vá ele para onde for -, o que dizer do absurdo da transformação de Marco Silva em Marco Selva após um ano em Alvalade com a conquista de um título oficial coisa que não se via por aquelas bandas há uma quantidade de anos?
Os presidentes ao presidir podem fazer o que lhes dá na gana. Aliás, em alguns casos, foi para isso mesmo que foram eleitos. Contratar e despedir funcionários é uma das atribuições de quem preside e o exercício da vontade suprema, o luxo das decisões indiscriminadas, o poder absoluto sem quem o contrarie são as pequenas alegrias de quem, de repente, se vê numa altíssima posição de comando sem saber muito bem como.
O despedimento com alegada justa causa de Marco Silva é uma decisão que cabe na área de legitimidade do presidente do Sporting e que, por isso mesmo, não se discute a sua autoridade - presidente é presidente - embora, tudo o indique, venha a ser discutido em tribunal.
Despediu, está despedido, acabou-se a conversa.
É normal, é futebol.
O que não é normal nem é futebol é esta coisa malsã de andar o presidente despedidor, consumado o acto, a insultar o treinador despedido com palavras feias e destruidoras do carácter de um profissional que desse ponto de vista, profissional, não falhou no seu ano de trabalho. Ou falhou?
O presidente do Sporting quer fazer de Marco Silva um Marco Selva.
Quer-me parecer que, neste capítulo, não vai ter sorte nenhuma.
Amigos sportinguistas e portistas dizem-me que não querem o Maxi Pereira nos seus respetivos clubes porque, sendo ele um caceteiro de primeira ordem, passará a vida a ser expulso já que nem o Porto nem o Sporting gozam da proteção dos árbitros ao contrário do que sucede com o Benfica.
No fundo, não acreditam no que dizem.
Pois se fosse assim nem o Sporting se dava ao trabalho de contratar o treinador campeão Jorge Jesus nem o Porto se incomodava a desviar jogadores campeões do Benfica. Bastava-lhes seduzir árbitros. Uns poderiam até depositar uns quantos milhares de euros na conta de um qualquer fiscal-de-linha distraído enquanto outros poderiam impor à descarada os produtivos métodos da fruta e do cafezinho com leite.
Mas não. O que querem mesmo é jogadores do clube campeão e o treinador do clube campeão, o que se compreende.
No entanto, confesso que gosto desta fama que o Benfica bi-campeão ganhou. Considero mesmo uma maravilhosa novidade ouvir os nossos rivais utilizar os mesmos argumentos que nós, benfiquistas, utilizávamos quando as coisas corriam ao contrário dos nossos desejos materiais.
Por exemplo, quando o Argel, que tinha passado pelo Porto, chegou ao Benfica e levou o seu primeiro cartão amarelo num dos seus primeiros jogos de águia ao peito, levantou-se imediatamente um coro de inteligentes nas bancadas da Luz:
- Se ainda fosses do Porto não tinhas levado amarelo!
É esta a lógica das emoções no mundo da bola. O reportório é muito escasso e pouco imaginativo no que diz respeito a reclamações e a justificações. Se, outro exemplo, Jorge Jesus falhar no Sporting - como se deseja deste lado da Segunda Circular - ainda vão dizer muitos inteligentes que o Benfica mandou o seu antigo treinador no papel de emissário disfarçado para destruir o Sporting a mando de Luís Filipe Vieira com quem fingiu estar zangado.
As histórias repetem-se e repetem-se e repetem-se.
E é assim que andamos todos entretidos.
Afinal parece que o Jonas já não se vai embora. Era uma pena se fosse porque se trata de um grande artista e de um exímio goleador. Julgo que a receita do sucesso do Benfica na última época se ficou a dever ao eixo Júlio César, num extremo, e Jonas, no extremo oposto.
Os dois veteranos brasileiros deram à equipa de 2014/2015 uma eficácia que chegou a ser posta notoriamente em causa depois da debandada de meia-equipa do lindo triplete de 2013/2014.
Seria um descanso partir para a época de 2015/2016 com o mesmo eixo de sábios no ativo. Júlio César a não deixar os golos entrar e Jonas a meter golos nas balizas dos adversários. Quanto aos demais, logo se verá quem vem e quem vai. Mas estes dois, se for possível, é para deixar estar como está.
Excelente decisão da Liga ao impedir que os jogadores emprestados defrontem os seus clubes emprestadores. Tudo o que é em prol da transparência é bom para o negócio e para toda a gente. A única pessoa que pode ficar triste com esta regra é o Miguel Rosa porque assim, deixa-se de falar dele naquelas duas vezes por ano em que era o jogador mais famoso e mais influente de Portugal.
Fonte: Leonor Pinhão @ A Bola
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