quinta-feira, maio 28, 2015

Ninguém se esquecerá enquanto houver “youtube”

Será Jorge Jesus o próximo treinador do Benfica ou não será?
Será ou não será - é a questão do momento.
Eu, por exemplo, sou fã do nosso actual treinador. Estou-lhe grata pela onda de múltiplos títulos nacionais com que nos inundou nestes seis anos e não o culpo por o Benfica não ter ganho uma única Liga dos Campeões nestes seis anos nem por ter perdido duas finais consecutivas da Liga Europa em seis anos tendo em conta que há mais de sessenta anos que o Benfica não é campeão europeu nem se qualificava por dois anos consecutivos para uma finalzinha europeia.
Gosto também dos seus maravilhosos pontapés na gramática que descabelam os pretensos doutores da bola neste país atrasado da Europa em que as mais altas figuras do Estado dão consecutivas calinadas de português e passam incólumes, sendo gente douta e licenciada, aparentemente.
O trabalho de Jorge Jesus no Benfica é notável tal como foi notável a continuada aposta do presidente do Benfica em Jorge Jesus.
Cada um com as suas peculiaridades e os seus traços genuínos de carácter formaram uma dupla que restituiu ao Benfica a sua identidade resiliente, combativa, empolgante e ganhadora.
Por isso mesmo o Porto nunca desistiu de contratar o treinador do Benfica e o próprio Sporting, nestes seis anos de Jesus no Benfica, já tentou por mais de uma vez levá-lo para Alvalade.
E tudo pode acontecer porque, afinal, se trata de futebol. Jorge Jesus não é do Benfica como Toni, como Mário Wilson, como Chalana e como o próprio Eriksson que ainda há coisa de duas semanas lhe mandou, pela imprensa, um recado adorável de quem o tem na mais alta consideração: “Do Benfica Jesus só devia sair para o Real Madrid.” É precisamente o que penso sobre o assunto porque também tenho pelo actual treinador do Benfica a mais alta das considerações.
Jorge Jesus, no entanto, é um profissional de futebol e senhor do seu destino. Nos festejos do Marquês e, uma semana depois, na celebração no Estádio da Luz, o seu rosto fechado fez-nos suspeitar que o seu destino não é Chamartín nem o Dragão mas Alvalade.
Porquê? Porque pouco se parecia este Jesus tão contido com o Jesus que vimos a dançar com a multidão no ano passado. Mais se parecia este Jesus com o Marco Silva a quem nunca ninguém viu um sorriso em público desde que assinou pelo Sporting e vá lá saber-se porquê…


O facto de o Benfica ter demorado três décadas a conseguir a proeza singela de conquistar dois títulos consecutivos de campeão não chega para se poder dizer, como o disse Mário Wilson na década de 70 do século passado, que “qualquer um que treine o Benfica arrisca-se a ser campeão”.
É nestas coisas práticas que se deve pensar nos momentos de euforia que são muito bons de se viver mas que de práticos não têm nada.
Obrigada, mister. Por tudo.


No fim da tarde de segunda-feira, ainda a Benfica TV mantinha corriqueiramente no ar a programação da sua grelha semanal e já as televisões generalistas, pública e privadas, estabeleciam ligações em directo ao Estádio da Luz e à Praça do Município para não perderem um segundo que fosse do acontecimento em função dos seus campeonatos de audiências.
Num desses canais debatia-se até com sentida objecção intelectual o “exagero” das comemorações benfiquistas enquanto ao mesmo tempo, e mais uma vez à pala do mesmo Benfica, se ia facturando o ganha-pão.
O Benfica é muito mais do que um clube. É uma obra social.


Fez bem Luís Filipe Vieira em afirmar no salão nobre da Câmara que os benfiquistas voltarão a encher as ruas e as praças de Lisboa para celebrar as suas alegrias sempre que para tal haja motivo.
É que se nos proíbem de festejar os nossos simples sucessos desportivos ao ar livre, um dia destes ainda nos proíbem de nos manifestar em defesa de liberdades e de direitos nas mesmas ruas e nas mesmas praças da cidade.
Até nestas coisas vai o Benfica sempre à frente. Fico-lhe muito agradecida.


Para todos os efeitos, Jonas é o vencedor moral da “Bola de Prata”.
Quem é que não gosta de uma boa vitória moral?
Esta, a do nosso maravilhoso Jonas, foi das mais belas e empolgantes vitórias morais de que me lembro assistir. Um estádio inteiro a puxar por ele, uma equipa inteira a trabalhar para ele, ele próprio a fazer o que tinha de ser feito – marcar três golos inteiros – e um “bandeirinha” inteiro a decidir que não, nem pensar numa coisa dessas, era só o que faltava o Jonas ganhar a “Bola de Prata”.
Ficou o troféu entregue a Jackson Martínez o que ainda mais releva o feito de Jonas porque o colombiano é um jogador de categoria excepcional, provavelmente um dos melhores do mundo na sua posição.
Estão, assim, todos e muito sinceramente de parabéns. Jackson por ter ganho a “Bola de Prata”, Jonas por não a ter ganho, Lima pela sua infinita generosidade e o “bandeirinha” pela decisão tomada que, garantem três agências de comunicação dos rivais, não passou de uma manobra estratégica, um ato perverso, para “disfarçar” a devoção dos árbitros ao Benfica.
Em toda e qualquer circunstância a verdade é que sempre nos invejam, o que se compreende.


Maicon, o celebrado autor de um golo irregular e depois da hora que valeu o penúltimo título nacional do Porto, disse à partida para férias que o Benfica só foi campeão graças aos árbitros.
Nada há a acrescentar às palavras de Maicon.
Há piadas que se fazem a si próprias.


Um zapping rápido no serão televisivo de domingo.
A SIC transmite pelo vigésimo ano a sua gala dos Globos de Ouro e por lá se vê Vítor Baía, antigo guarda-redes e “capitão” do Porto, tranquilamente sentado na plateia do Coliseu de Lisboa assistindo ao espectáculo.
Caberá o histórico Baía no abominável grupo de “frequentadores da Capital” e do “centralismo nacional” que o presidente do Porto denunciou por ocasião da retomada de posse de Lourenço Pinto como presidente da Associação de Futebol do Porto?
Ao que parece estava uma casa fraca e Pinto da Costa constatou publicamente que a falta “de figuras” na cerimónia da AFP se devia ao facto, indesmentível, de “haver festa na Luz”.
É verdade que houve. E correu lindamente.
Pode já não se usar “o bloqueio a Cuba” mas o bloqueio psicológico à Capital segue impante. Ainda que menos triunfal. Bastante menos triunfal.
Quem não faltou à tomada de posse de Lourenço Pinto foi Valentim Loureiro. Para o presidente do Porto a presença do antigo presidente do Boavista e da Liga na cerimónia da AFP foi “sinal” de que “os antigos não esquecem”.
Também é verdade.
Nem os antigos esquecem, nem os modernos, nem os do futuro. Ninguém se esquecerá enquanto houver “youtube”.


No próximo fim-de-semana o Benfica poderá voltar a celebrar um título nacional em Guimarães. Trata-se do título de basquetebol que, a vir, se somará aos sucessos do hóquei em patins e do voleibol benfiquistas, campeões nesta temporada também inesquecível para as modalidades do Benfica.
Em Portugal as modalidades são muito estimadas mas o futebol é rei. Por isso mesmo foi muito bonita a homenagem que Rúben Amorim prestou aos campeões nacionais de hóquei em patins e de voleibol na noite em que ele próprio se sagrou campeão nacional de futebol.
O Rúben Amorim é benfiquista, está atento a tudo, é cá dos nossos. Não há volta a dar-lhe.


Amanhã o Benfica encerra os seus trabalhos de 2014/2015 disputando a final da Taça da Liga, a competição que o Benfica se foi habituando a ganhar antes de se começar a habituar a ganhar campeonatos, que é o que se deseja.
Por algum lado se tem de começar, não é? No caso do Benfica, começou-se pela Taça da Liga que é troféu nacional e oficial e, por isso mesmo, entra na contabilidade dos títulos conquistados.
O adversário de amanhã é outra vez o Marítimo. O mesmo Marítimo que, nesta temporada, repito, com dois treinadores diferentes ganhou por duas vezes ao Porto com o mesmo treinador.
O mesmo Marítimo que, no sábado, obrigou Júlio César a aplicar-se ao mais alto nível para que o jogo não chegasse ao intervalo com os campeões nacionais a perder em casa na tarde da sua justíssima consagração.
E, assim sendo, todo o respeito é pouco, caríssimo Benfica. Respeitinho pelo adversário, respeitinho pela Taça da Liga e respeitinho pelos muitos milhares de adeptos que irão até Coimbra porque não sabem fazer outra coisa que não seja correr quilómetros atrás de um sonho. De qualquer sonho.


Fonte: Leonor Pinhão @A bola

Carlos Paredes - Verdes Anos

O som que nos faz regressar a Lisboa

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Precisa-se: arguido

Marco António Costa, vice-presidente do PSD, está a ser investigado pelo Departamento de Investigação e Acção Penal do Porto. Espero, sinceramente, que seja inocente. Depois do encarceramento de um Sócrates, não sei se Portugal aguentaria a prisão de um Marco António. Uma coisa é sermos um país de gente corrupta, outra coisa é sermos uma revista à portuguesa passada na antiguidade clássica. A ignomínia aguenta-se melhor que o ridículo. Por sorte não existem, na política portuguesa, Anaximandros nem Dioclecianos, pelo que, em princípio, bastará manter Marco António fora da cadeia para evitar um enxovalho embaraçoso.

Admito que faz falta um bom arguido do PSD para equilibrar as contas com o PS. Os socialistas têm Armando Vara, um ex-ministro, a aguardar recurso de uma condenação a cinco anos de prisão; os sociais-democratas têm Duarte Lima, um antigo presidente do grupo parlamentar, a aguardar recurso de uma condenação a 10 anos de prisão. Fica quase ela por ela. Mas agora os socialistas têm um ex-primeiro--ministro preso, a aguardar acusação, e os sociais-democratas têm todas as suas grandes figuras em liberdade - o que se lamenta e estranha. Não contabilizo aqui, até por razões de espaço, outros dirigentes políticos, de ambos os partidos, sobre os quais recaem suspeitas de crimes de vários tipos. Desejo dedicar-me apenas à Liga dos Campeões dos sarilhos jurídicos, onde o PS se encontra em vantagem, com dois elementos proeminentes contra apenas um do PSD. Esta questão é muito importante porque, não havendo equilíbrio no número de potenciais trafulhas, a campanha eleitoral irá centrar-se no problema acessório de saber qual dos partidos tem mais bandidos, em lugar de servir para discutir vários outros problemas acessórios. Tendo apenas um tema acessório para debater, os partidos correm o risco de ficar sem assunto antes do fim da campanha, e podem ver-se forçados a debater as questões essenciais, embora ninguém saiba exactamente quais são. Mas, nestas coisas, é melhor não arriscar.

Se o filho de uma pessoa for preso por homicídio, o seu vizinho passa a poder gabar o seu próprio filho, que apenas furta auto-rádios. A detenção de José Sócrates teve um impacto tão grande na vida política que Passos Coelho sentiu que até podia elogiar Dias Loureiro numa queijaria. ?Ou se encarcera um alto dignitário do PSD depressa, ou nos arriscamos a ver Valentim Loureiro receber um doutoramento honoris causa.


Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visao

Sitiados - Vida de Marinheiro

Contando as horas que faltam para o regresso a Lisboa



quinta-feira, maio 21, 2015

Porque é que todos os motoristas de táxi são de direita?

Deve ser difícil e até opressivo viver num país sem humoristas de direita. Imagino que o facto de o governo ser de direita, a maioria parlamentar ser de direita e o presidente da república ser de direita seja um muito magro consolo

Na abertura da sua História do Riso e do Escárnio, o historiador Georges Minois escreve: "O riso é um assunto demasiadamente sério para ser deixado aos cómicos." É possível. Mas talvez também não seja sensato deixá-lo aos historiadores. No jornal em linha Observador, o historiador Rui Ramos (RR) escreveu um texto intitulado: "Porque é que todos os humoristas da rádio e da televisão são de esquerda?" Faltam-me instrumentos para saber se essa particularidade sócio-profissional se verifica na realidade. Sei apenas que Herman José, o maior humorista português, nunca revelou se era de esquerda ou de direita - o que, aliás, tem todo o direito de fazer. Mas admito que o problema, a existir, intrigue cientistas sociais em geral e irrite pessoas de direita em particular: deve ser difícil e até opressivo viver num país sem humoristas de direita. Imagino que o facto de o governo ser de direita, a maioria parlamentar ser de direita e o Presidente da República ser de direita seja um muito magro consolo.

RR descobriu o esquerdismo dos humoristas portugueses assim: "Quando o Observador teve o atrevimento de debater a Constituição, ficou mais uma vez à mostra a regulamentação política do piadismo rádio-televisivo." E apontou 1 (um) exemplo de crítica humorística à iniciativa do jornal: um texto de Bruno Nogueira e João Quadros na TSF. Na verdade, o que o Observador fez foi um pouco mais do que isso: avançou com uma proposta de revisão constitucional. RR lamenta: para os humoristas portugueses, "a Constituição não é para rir". É uma conclusão difícil de tirar, uma vez que o Observador não está a rir da constituição e Bruno Nogueira e João Quadros estão a rir da proposta de revisão constitucional levada a cabo por um sítio da internet: "Há jornais que oferecem serviços de jantar (...), o Observador está a dar uma revisão constitucional (...)", dizem eles. Isto tem graça (uma observação que escapou a RR).

De acordo com RR, este esquerdismo enviesa os temas escolhidos pelos humoristas: "Pode-se gozar com Cavaco Silva, mas não com Francisco Louçã". Surpreendentemente, a divisão ideológica, em Portugal, faz-se entre Cavaco e Louçã. RR não diz: "Pode-se gozar com Cavaco Silva, mas não com José Sócrates", porque a realidade não o permitiria, e não se deve deixar que a realidade estrague um bom argumento. Não, a direita é Cavaco e o seu contraponto, a esquerda, é Louçã. Na qualidade de humorista de esquerda, devo confessar, com muita vergonha, que, de facto, já fiz muito mais piadas acerca de Cavaco do que sobre Louçã. A minha desculpa é, evidentemente, esfarrapada: eu pensava que era mais interessante fazer humor sobre um homem que esteve no poder 20 anos, dez como primeiro-ministro e outros dez como Presidente da República, do que sobre um que, durante sete anos, foi coordenador de um partido que nunca chegou a atingir 10% dos votos.

Para RR, há duas razões para o esquerdismo unânime dos humoristas. Uma são "as vantagens que uma máscara de esquerdismo tem para um humorista". RR dá o exemplo de Justine Sacco, que foi despedida depois de ter posto uma piada no Twitter. Um homem chamado Sam Biddle chamou a atenção para a piada e incentivou ao enxovalho público global da autora na internet, e desse clamor resultou o despedimento. RR identifica os protagonistas da história como "a directora de relações públicas de uma das maiores empresas americanas da internet" e "um activista das redes sociais". Na verdade, Biddle era um jornalista de outra das maiores empresas americanas da internet, a Gawker Media (lema: "Today's gossip is tomorrow's news", ou "Os mexericos de hoje não as notícias de amanhã"), um conglomerado multimilionário de empresas de comunicação sediado nas ilhas Caimão. O episódio não teve rigorosamente nada de ideológico. Foi apenas mais um caso de concorrência entre gigantes da internet que beneficiou do facto de as pessoas que frequentam as redes sociais terem uma famosa incapacidade para reconhecer a ironia.

A segunda razão é esta: "À esquerda, parece dar-se uma tremenda importância a este tipo de profissões." RR avança com outro exemplo: durante a campanha das eleições inglesas, o trabalhista Miliband foi falar com o humorista Russell Brand "como a uma espécie de velho guru". Na verdade, Miliband foi ser entrevistado por Brand. A resposta à primeira pergunta começa com a frase "Você está totalmente errado", o tipo de comentário reverente que se faz a velhos gurus. RR acrescenta: "Ninguém imagina um episódio análogo à direita. (...) David Cameron não tem um humorista com dezenas de milhares de seguidores nas redes sociais para falar com ele, mas mesmo que tivesse, talvez não estivesse no topo da sua agenda de campanha". Cameron disse o mesmo. E, talvez por ninguém conseguir imaginar um episódio análogo à direita, a imprensa inglesa entreteve-se a publicar fotografias de encontros de Cameron com os conhecidos humoristas David Walliams (do programa Little Britain) e John Bishop, por exemplo, para que as pessoas conseguissem imaginar melhor.

Allison Silverman, guionista do programa The Daily Show, escreveu uma vez um artigo para a revista Slate em que identificava os cinco tipos de piadas que não entravam no programa de Jon Stewart. Um deles era este: piadas que recebem um aplauso em vez de uma gargalhada. Qualquer pessoa recebe palmas se subir a um palco e disser: "Isto é tudo uma cambada de bandidos." Fazer rir é mais difícil.

Em 2007, a Fox News exibiu um programa de sátira política inclinado ideologicamente para a direita, para combater o The Daily Show. Chamava-se The 1/2 Hour News Hour. Durou apenas 17 episódios, por uma razão bastante prosaica: não tinha graça. É o que costuma acontecer quando quem pretende fazer sátira política dá mais atenção à política do que à sátira. O negócio dos humoristas é o riso.

Pessoalmente, rio-me com P. J. O'Rourke ou José Diogo Quintela, mesmo quando eles estão a fazer pouco do que eu penso. Também acho graça a Stephen Colbert ou Jon Stewart, independentemente de muitas vezes concordar com eles. Serei um rústico, mas estou-me borrifando para a orientação política de um humorista (assim como para a orientação sexual, religiosa, ou o facto de preferir peixe grelhado a chanfana). A única coisa que me interessa na comédia é: tem graça? Logo por azar, é a única questão que não interessa a Rui Ramos.


Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão

Nós só queremos o Benfica campeão e os bandidos na prisão

Parabéns, Benfica!
O meu gato só tem dois anos e já é bicampeão nacional.
Tudo é relativo, portanto.


No domingo passado, consumada a revalidação do título, toda a ênfase foi posta no facto, indesmentível, de o Benfica ter demorado 31 anos para repetir esta singela proeza de se sagrar campeão em duas temporadas consecutivas.Ficou, no entanto, por assinalar uma outra efeméride não menos significante em termos sociais.
Há 31 anos que o Benfica não sabia o que era ser bicampeão mas há 34 anos que uma festa de um campeonato ganho pelo Benfica não era interrompida pela polícia de forma tão absurda e “desproporcionada”, para utilizar o eufemismo hoje corrente.
O Benfica ganhou o campeonato de 1980/1981 e festejou-o na Luz depois de uma vitória robusta sobre o Vitória de Setúbal a que se sucedeu a tradicional e pacífica invasão de campo pelos adeptos. A festa, no entanto, foi surpreendentemente interrompida por uma inenarrável carga da polícia de choque que levou tudo à frente.
A brutalidade das imagens e o número de feridos levou o incidente de 1981 até à Assembleia da República e aos protestos de César Oliveira, deputado socialista:
- O desejo de bater e de aleijar igualou ou excedeu a mais violenta repressão policial de Salazar e Caetano não poupando mulheres e crianças.
O presidente do Benfica em 1981 era Ferreira Queimado que, injustamente, haveria de ser responsabilizado e penalizado pelos sócios do Benfica perdendo as eleições, que se realizaram poucos dias depois, para Fernando Martins.
O presidente do Benfica em 2015 é Luís Filipe Vieira que teve imediatamente o bom senso de defender o nome do clube e de condenar, na mesma penada, os “vândalos profissionais” que em Guimarães e em Lisboa frustraram os desejos de uma noite tranquila.
A verdade é que até ao momento o único vândalo profissional identificado parece ser um polícia de Guimarães. Pelo seu punho, no auto de ocorrências, contou que se viu obrigado a espancar um cidadão à frente dos filhos porque o referido sujeito, tendo noção de que estava a ser filmado, quis “tirar proveito da situação”.
Como a gravação das imagens por um operador de câmara da CMTV não foram autorizadas por um juiz é provável que tudo isto fique impune.
Faltam identificar mais uns quantos, muitos, delinquentes amadores ou profissionais que destruíram e saquearam instalações no estádio do Vitória. E mais outros tantos vândalos profissionais ou amadores, à civil ou fardados, que em Lisboa esperaram pacientemente pela chegada da equipa ao palanque para começar a distribuir pancada indiscriminadamente.
O presidente do Benfica assumiu na hora perante os adeptos do clube e o país em geral que o Benfica tudo fará para colaborar com as autoridades na identificação dos delinquentes de Guimarães e de Lisboa.
Não demore, senhor presidente. A ver se ainda somos mais lestos do que o Ministério da Administração Interna que deu um confortável prazo de um mês para a conclusão dos inquéritos.
Rapidez, ação, decência. É isto, no fundo, que se exige e se agradece a um presidente do Benfica.
Porque nós só queremos o Benfica campeão e os bandidos na prisão.


Que bem assenta ao Benfica o título de campeão nacional de 2014/2015. Este ano foi tudo muito diferente do ano anterior porque o Benfica vendeu metade da equipa no Verão, perdeu jogadores importantes meses a fio por causa de lesões e ninguém acreditava muito na equipa.Foi bonita a festa dos jogadores junto da bancada repleta de benfiquistas em Guimarães e voltou a ser como sempre, empolgante, a magnífica e pacata romaria que leva até ao Marquês gente de todas as idades e de todas condições só pelo prazer de estar em família num dia bom. É, basicamente, o nosso Natal móvel benfiquista. Todos juntos numa praça da cidade. Oxalá possamos voltar a celebrá-lo no próximo ano.
Mas de todas as festas de domingo a melhor, a mais nossa, só nossa, foi a vivida na cidade do Porto e por todos os caminhos que levaram milhares e milhares de adeptos até ao Aeroporto onde a equipa embarcou rumo a Lisboa.
Talvez por não ter havido “organização” e se ter deixado a criatividade do momento entregue às massas tudo correu maravilhosamente, sem um incidente, com os adeptos sempre perto dos jogadores e os jogadores sempre perto dos adeptos ao logo e no fim de um percurso exaltante.
Em Lisboa, pelo contrário, houve “organização” a mais com tanta montagem, tanto corredor de segurança, tanto andaime circular, tanta passadeira vermelha, tanto protocolo, tanta distância entre jogadores e adeptos em nome da segurança que, nem de longe, se comparou o acontecimento deste último domingo à fabulosa comunhão com a equipa e à genuinidade popular dos festejos de 2010 e de 2014 no mesmo local e sem tendas VIP.


Não façamos confusões. O ajoelhar de Lopetegui no domingo passado não é comparável ao operático colapso de Jesus há dois anos.Isto da dignidade trágica não é para qualquer um.
Ficou-se pelo patético o ajoelhar de Lopetegui no Restelo. E o que mais ressalta da imagem, que logo correu o mundo, não é de todo a dor de um homem injustiçado pelo destino. O que mais ressalta é o facto indiscutível de que Lopetegui tem um belíssimo par de sapatos de camurça de cor castanha que não devem ter sido nada baratos.
No entanto, e a propósito de Lopetegui de joelhos, já ouvi muitos benfiquistas entregarem-se deleitados – pudera! – à conclusão errada de que a famosa organização do Porto já não é nada daquilo que em tempos chegou a ser.
E dizem, excessivamente optimistas:
- Então o homem sabia falar latim, sabia todos os cargos ministeriais do Rui Gomes da Silva, sabia quem era o Capela e o Barbas, sabia a data da fundação do Orfeão do Benfica e não sabia que nunca jamais em tempo algum se podia ajoelhar!?
Outros interrogam-se pasmados:
- Mas ninguém levou o homem a visitar o acervo audiovisual do Museu do Dragão?
E dizem estas coisas como se uma falha dessas fosse finalmente possível naquela velha e sólida organização de meter inveja. Julgo, francamente, que se estão a precipitar embora a natural euforia da revalidação do título possa servir como atenuante para estes erros de avaliação.
É claro que Julen Lopetegui teve consciência do que estava a fazer quando levou um joelho ao chão no Restelo.
Lopetegui sabe que o presidente do Benfica não hesitou em renovar contrato com Jesus depois de o nosso treinador se ter ajoelhado. Entendeu Lopetegui, naquele minuto fatal do Restelo, que se fizesse o mesmo, se ajoelhasse, o presidente do Porto não hesitaria, contra tudo e contra todos, em mantê-lo ao serviço seguindo o exemplo vitorioso do presidente do Benfica.
Lopetegui não se ajoelhou no domingo nem por ignorância, nem para exibir o bonito calçado, nem para dar motivos gáudio aos benfiquistas. Ajoelhou-se muito simplesmente porque quer continuar a ser o treinador do Porto e também porque agora desconfia de que nunca foi o favorito do seu presidente.


Calma! O Tiago Caeiro não é o nosso Kelvin.E, no entanto, o Benfica deve-lhe muito mais do que a efémera alegria de um golo que selou o título.
O Benfica deve a Tiago Caeiro ter-nos poupado o constrangimento de uma semana com o Marquês de Pombal com andaimes à vista de todos e à espera da festa que não era certa porque dependeria sempre de uma vitória no jogo com o Marítimo.
Tiago Caeiro, qual manto protetor, poupou-nos, no mínimo, a uma semana de angústias e de anedotas. E isso não tem preço.


O jogo do título, em Guimarães, não tendo golos não teve heróis.Excepção feita, naturalmente, ao jogador do Belenenses que marcou um golo a 350 quilómetros de distância, não houve nenhum outro nome de jogador que justificasse as aclamações benfiquistas pela importância da sua contribuição na penúltima e decisiva jornada.
À falta de heróis do dia souberam-nos ainda melhor, à noite, os vídeos caseiros de parabéns que alguns jogadores, que já não são nossos, enviaram para a nossa festa com as suas declarações de amor ao clube e aos adeptos.
Aimar, Matic, David Luiz, Saviola, André Gomes, Rodrigo, Javi Garcia, Fábio Coentreão, Witsel, Siqueira, Oblak, Dí Maria… foram tantos que responderam ao desafio. E sem que nada nem ninguém os obrigasse a tal gesto de imensa simpatia.
Ainda não há muitos anos era sina nossa ouvir antigos jogadores a falar mal do Benfica assim que se viam da Luz para fora. Agora não. Uma pessoa fica sempre contente quando vê as coisas a mudar para melhor. Para muito melhor.


Boa notícia para o Benfica é a assinatura do contrato com a Fly Emirates. É de altíssimo gabarito a marca do nosso patrocinador até 2018.Boa notícia também para o Sporting de Braga é a certeza de que na final do Jamor não levará com Carlos Xistra a apitar visto que Xistra foi o árbitro do Sporting-Sporting de Braga do último fim-de-semana e com grande prejuízo para a verdade desportiva


PS – Sobre o notório diferendo entre os Superdragões e o “Dragão Diário” gostaria de dizer que a minha simpatia vai toda para os Superdragões porque, tal como William Faulkner rematou o seu romance “Palmeiras Bravas”, também eu “entre a dor e o nada, escolho a dor”.

Fonte: Leonor Pinhão @ A bola

sábado, maio 16, 2015

Se adormeceres roubam-te as botas

Carrega, Benfica!
Tão lindo este grito, lindíssimo mas talvez excessivamente coloquial tendo em conta a seriedade do momento.
É que o Benfica chegou ao ponto em que só tem dois jogos por disputar e está a uma vitória de revalidar o título de campeão.
O primeiro jogo é na casa do Vitória de Guimarães onde, nesta época, o Porto empatou e o Sporting saiu goleado.
O segundo jogo é na Luz com o Marítimo que nesta época, com dois treinadores diferentes, ganhou dois jogos ao Porto sempre com o mesmo treinador.
Nada disto se apresenta fácil.
Carrega, Sport Lisboa e Benfica!
Assim mesmo, com o nome completo porque chegou a hora de ser inteiro. E porque inteiro soa ainda melhor.
Carrega, Sport Lisboa e Benfica!
Assim mesmo, com o nome inteiro porque chegou a hora de ser completo. E completo demora mais tempo a dizer. E prolonga-se a satisfação.
Carrega, Sport Lisboa e Benfica!
Com as sílabas todas. É música que não deixa dormir.
Dormir é que não, Sport Lisboa e Benfica, dormir é que nunca.
Por exemplo, num filme antigo de Roberto Rossellini, chamado Libertação, retratando, precisamente, o mestre do neo-realismo a libertação da Itália pelos Aliados no culminar da II Guerra, há todo um episódio com uma esfaimada criança napolitana que persegue um soldado norte-americano com a intenção de lhe roubar qualquer coisa que valha dinheiro no mercado negro.
Exausto nas suas deambulações pelas ruas de Nápoles com a criança sempre à perna, o soldado acaba por se encostar a uns escombros e, entorpecido pela brutalidade do Sol, fecha os olhos.
Diz-lhe o rapazinho com toda a franqueza da sua miséria:
- Se adormeceres roubo-te as botas.
E é precisamente o que acontece. O soldado adormece e acorda descalço.
Carrega, Sport Lisboa e Benfica!
Se adormeceres roubam-te as botas.


Nos instantes que se seguiram ao quarto golo do Benfica, refiro-me ao jogo do último sábado, a expressão de um destino já inelutável levou Vítor Bruno, jogador do Penafiel, a uma curta e fogosa série de atitudes provocatórias que resultaram, objectivamente, em dois cartões amarelos mostrados a jogadores do Benfica como castigo por terem caído na tentação de responder à letra.
Foi o momento mais quente do jogo e imediatamente se transmitiu às bancadas.
Uma pequena parte do público, entusiasmado com a robustez do marcador e aborrecido com Vítor Bruno que nos tirou Samaris do jogo de Guimarães, desatou a cantar «olés» enquanto os jogadores do Benfica trocavam entre si a bola frente ao ali mesmo despromovido Penafiel.
Não foi bonito, não. Mas a verdade é que esse dispensável exercício de crueldade não se prolongou por muito tempo porque logo outra parte do público, mais adulta, fez valer os seus bons pergaminhos e impôs gentilmente o fim dos «olés» e o respeito pelo adversário.
Benditas sejam as maiorias esclarecidas que ainda habitam os estádios de futebol.


O presidente do Porto, por cansaço ou por ter mais que fazer, delegou a propaganda, área em que era mestre, numa elite de estrategas perfeitamente capaz de organizar recepções festivas depois de derrotas – e por isso já se exige o ADN de volta – e não menos capaz de descortinar «um toquezinho xenófobo» na resposta do director de comunicação do Benfica à última intervenção pública do treinador Julen Lopetegui. 
Lopetegui até pode ser o melhor treinador do mundo mas não é, certamente, o melhor comunicador do mundo. Contra si tem aquela notória desarticulação de um boneco a dar pinotes mas com os fios sempre à vista.
Entretanto o director de comunicação do Benfica, por iniciativa própria ou não, lá respondeu à última vaga de lamentações de Lopetegui sem recurso a nada que o pudesse ofender.
Limitou-se a publicar uma imagem de uma bancada repleta de benfiquistas, o tal «manto protector» na sua opinião, e a tratar o treinador do Porto não pelo nome mas pela sua naturalidade de «basco» que muita o honra, certamente.
Trocar o nome a Lopetegui é diminuí-lo. E de gosto duvidoso quando é propositado, admitamos. Já chamar «basco» a Lopetegui que é basco não é diminuí-lo nem se reveste de qualquer acinte.
Só mesmo pessoas que, por qualquer motivo fútil ou por paixão funesta, já não podem mais ver um «basco» pela frente é que conseguem descortinar «um toquezinho xenófobo» nesta redundância de chamar basco a um basco.
Pelo andar da carruagem, um dia destes ainda lhe chamam mouro.


No princípio da semana, por causa da greve dos pilotos da TAP o Marítimo teve de pernoitar em Lisboa. No dia seguinte, antes do embarque paras o Funchal, a equipa treinou-se no Seixal devidamente autorizada pelo Benfica.
É um procedimento comum tal como o presidente do Marítimo se viu forçado a explicar recordando que a equipa da Madeira já anteriormente utilizou os campos de outros clubes de norte a sul do país, incluindo as instalações do Porto, sempre que se viu atrasada no continente por questões voos.
Como o Marítimo é o último adversário do Benfica nesta Liga o Porto reagiu oficiosamente a este episódio aéreo considerando-o um atentado à verdade desportiva. O presidente do Marítimo, por sua vez, considerou de «baixa intelectualidade» os protestos portistas. A verdade é que qualquer jogo que possa decidir um título arrasta consigo intricadas teorias da conspiração. É natural, o futebol é paixão não é império da lucidez. E o mais curioso é que a má fama da última jornada não nasceu esta semana no Seixal. 
A má fama da última jornada nasceu em Paços de Ferreira vai agora fazer três anos. Ainda ninguém se esqueceu. Eu também não. No entanto, para não dar parte fraca, aceitei placidamente a sagração do campeão e o pacote de negócios prontamente anunciado entre as partes.
E, francamente, houve ali alguma espécie de «amor», de «amor, só pode»?
Não, nunca, nada, zero.


Tiro maravilhosamente certeiro contra a xenofobia foi dado por Leonardo Jardim ao ser confrontado com o facto de o seu nome não constar na lista de candidatos ao prémio para o melhor treinador do campeonato francês.
- Eu só posso ganhar o prémio para o melhor pedreiro português em França – disse o madeirense.
Bravo!
Só espero que o Leonardo Jardim não se ofenda por o tratar por «madeirense».


Com todo o respeito pelo Vitória de Guimarães e pelo seu presidente da Assembleia Geral mas aquela tirada «se ganharem que vão festejar para o Marquês que é a casa deles» não terá um «toquezinho» de qualquer coisa menos aceitável?
Ainda o jogo de Guimarães não começou e já os benfiquistas, que aprenderam a não deitar foguetes antes da festa, foram mandados para o Marquês que, sensatamente, se recusam a reservar por causa das tosses.
Sempre se vai aprendendo com os erros, felizmente.
Um dos erros que, no entanto, pode ainda ocorrer dada a sensibilidade do tema é o de se prestar mais atenção às palavras inebriantes do alto dirigente vimaranense do que ao jogo propriamente dito com o Vitória de Guimarães. Que é o que conta.


O antigo árbitro Jorge Coroado – o introdutor da «azia» no léxico do nosso futebol – considera que foi muito mal nomeado o árbitro para o Belenenses-Porto mas que foi muito bem nomeado o árbitro para o Vitória-Benfica.
Não se pode ter tudo, é o que é.
Por sua vez, o Porto considera que foi pessimamente nomeado o árbitro para o Vitória-Benfica e, pior ainda, considera que foi terrivelmente nomeado o árbitro para o Belenenses-Porto.
Caramba, isto é que são muitas exigências.


PS - O Real Madrid não conseguiu fazer à Juventus o que o Benfica conseguiu há um ano: ganhar em casa e não perder fora. E mais nada!"


Fonte: Leonor Pinhão @A Bola


sexta-feira, maio 15, 2015

Adendas ao código deontológico do jornalista, por António Costa

O jornalista tinha dito apenas que entregar a elaboração do programa do partido a um grupo de independentes revelava falta de coragem política. Isto, para Costa, é um insulto reles. O que significa que este candidato a primeiro-ministro nunca foi a uma feira, nunca esteve 20 minutos no trânsito, nunca foi ao futebol. Alguém precisa de conhecer o mundo.
O primeiro ponto que deve ser esclarecido, no caso da mensagem enviada por António Costa a João Vieira Pereira, jornalista do Expresso, é o seguinte: diz-se um sms ou uma sms? Julgo que há bons argumentos a favor de ambas as opções mas, como não existem estudos sérios sobre este problema, com muita pena minha terei de me dedicar, ao contrário do que é meu hábito, à questão essencial, que é a substância da mensagem de António Costa. Talvez seja importante situar esta rabugice no contexto mais amplo de indisposições de Costa com a Imprensa. Todos recordamos o episódio ocorrido há alguns meses, quando uma jornalista da SIC teve a ousadia de fazer uma pergunta ao secretário-geral do PS. Na altura, António Costa considerou infamante que a jornalista lhe tivesse aparecido "detrás de um carro". A objecção parece admitir que há sítios detrás dos quais é legítimo que um jornalista saia, mas que um carro não é um deles. É um ditame ético um pouco vago e incompleto, mas fica registado.

Desta vez, Costa não argumenta com a localização a partir da qual o jornalista se apresenta, embora, tendo em conta o modo como o Expresso chega aos seus leitores, o pudesse ter feito: "Então o sr. vem de dentro de um saco de plástico para criticar o meu programa económico para a década?" Não, desta vez o problema é outro. Costa começa por dizer: "Senhor João Vieira Pereira. Saberá que, em tempos, o jornalismo foi uma profissão de gente séria, informada, que informava, culta, que comentava." Creio que este tempo é o chamado antigamente. Esta dificuldade não é exclusiva do jornalismo. Antigamente era tudo melhor do que agora. E o pior é que este agora vai ser o antigamente de amanhã.

Costa prossegue: "Hoje, a coberto da confusão entre liberdade de opinar e a imunidade de insultar, essa profissão respeitável é degradada por desqualificados". As pessoas que, ao contrário de António Costa, não fizeram estudos superiores, costumam exprimir a mesma opinião mas com uma formulação ligeiramente diferente: "Andam para aí a confundir liberdade com libertinagem. Ao menos, antigamente havia respeito."

E António Costa acrescenta: "(...) que têm de recorrer ao insulto reles e cobarde para preencher as colunas que lhes estão reservadas." Esta, para mim, é a frase mais importante da mensagem, na medida em que desmente os que acusam Costa de pretender domesticar as opiniões publicadas na Imprensa. Nada mais falso. António Costa não é contra insultos. É apenas contra o insulto reles e cobarde. O secretário-geral do PS desafia o jornalista a dirigir-lhe insultos elevados e corajosos. Deseja injúrias sofisticadas, o que só lhe fica bem. Mas o jornalista tinha dito apenas que entregar a elaboração do programa do partido a um grupo de independentes revelava falta de coragem política. Isto, para Costa, é um insulto reles. O que significa que este candidato a primeiro-ministro nunca foi a uma feira, nunca esteve 20 minutos no trânsito, nunca foi ao futebol. Alguém precisa de conhecer o mundo.


Fonte: Ricardo Araújo Pereira@Visão

sábado, maio 09, 2015

São estas pequenas coisas que se têm vindo a notar

Dias agitados estes.
Aconteceu de tudo na semana passada. Só faltou mesmo alguém telefonar da Austrália jurando à imprensa livre e à polícia de costumes que o árbitro nomeado para o jogo do Benfica com o Gil Vicente se ia apresentar em casa do presidente do Benfica para tomar chá, comer bolinhos e receber conselhos matrimoniais na véspera do jogo.
Foi um frenesim a anteceder o jogo de Barcelos. Que inusitado labor e concerto das forças da reação.
Mas forças da “reação” a quê, se futebol não é política?
Da reação ao possível – apenas isto, possível – bi-campeonato do Benfica.
E pela crispação mais do que latente perante essa mera hipótese, um eventual e singelo bi-campeonato parece capaz de fazer cair o alegado regime de décadas como um baralho de cartas.
E concorre nesse desmoronar o seu séquito natural de gratos, reconhecidos, penhorados, prestáveis, vigilantes, obsequiosos e, agora, preocupados agentes desportivos e agentes não-desportivos.
Acontece assim com todos os regimes. Um regime, por mais fantasioso que seja, não é uma entidade abstrata. Um regime é feito de gente bem instalada. E de todo um reportório.
De outra maneira como explicar que, na semana passada, do outro lado do mundo não houve dia que não telefonassem ao treinador do Gil Vicente a alertá-lo para a grande desonestidade de que ia ser vítima deste lado do mundo? 
Pobre árbitro que saiu de Barcelos inteiro e com a honra salva graças à solidariedade da equipa do Benfica que, correndo o tempo todo, nem lhe deu tempo nem ocasião para ser a figura do jogo, como era pretendido, tão pretendido. 
É verdade, no entanto, que o árbitro, que não nasceu para herói, decidiu todos os lances minimamente duvidosos em desfavor do Benfica não vá ser-lhe vetada a entrada na Austrália se, porventura, algum dia quiser ou precisar de lá ir.
Cinco a zero foi o resultado de Barcelos. Uma goleada, um ultraje para quem, à falta de imaginação, sonha recorrentemente em fazer de João Capela o próximo Pedro Proença. É o velho reportório, já bastante estafado, a ver se pega.
Se o Benfica jogasse sempre assim como jogou em Barcelos e ganhasse todos os seus jogos por cinco a zero de bola corrida, punha-se de vez termo às calúnias sobre os amigalhaços dos árbitros sempre disponíveis para nos oferecer campeonatos a troco de conselhos matrimoniais prestados em domicílio como tem sido público e notório nas últimas três décadas.


Jorge Jesus lançou Suleijmani em Barcelos em detrimento de Ola John e o sérvio não lhe deu motivos para arrependimento. Antes pelo contrário. Com Suleijmani há mais futebol. É o que se pretende.


O Sporting de Braga qualificou-se para a final da Taça de Portugal. Terá por adversário o Sporting. O presidente do Braga ficou muito feliz o que se compreende. Chegar ao Jamor é uma festa e no caso do Braga é uma festa merecida. 
O Sporting de Braga fez um bonito percurso e com muito mérito. Teve até artes para eliminar o Benfica, no Estádio da Luz, ainda numa fase precoce da bela competição. 
A cidade de Braga virá a Lisboa acompanhar e apoiar a sua equipa de futebol no jogo de decisão da Taça de Portugal. António Salvador prevê que 12 mil adeptos bracarenses se desloquem ao Jamor de modo a que o Arsenal do Minho não se sinta desacompanhado num dos desafios mais importantes do seu longo historial. Não se sentirá certamente desacompanhado o Sporting de Braga em Lisboa.
No entanto, o presidente do Braga, por via da compreensível exaltação, excedeu-se: “Se o Sporting diz que tem 3 milhões de adeptos nós vamos ter 6 milhões de adeptos a apoiar-nos”, disse Salvador mal terminou o jogo da “segunda-mão” da meia-final em Vila do Conde.
António Salvador fez mal ao meter o Benfica ao barulho. E fez mal à sua própria equipa. O Sporting de Braga para ganhar a Taça de Portugal só precisa de si próprio. 
O Vitória de Guimarães, por exemplo, que é o grande rival do Sporting de Braga, ainda há dois anos ganhou a final da Taça de Portugal ao Benfica dispondo apenas do apoio de 3 milhões de adeptos do Sporting.
Ao contrário do que pensa António Salvador, o Sporting de Braga para ganhar a Taça de Portugal não precisa para nada do apoio de 6 milhões de adeptos do Benfica. 
Muitos milhões, num caso destes, só atrapalham. 


O Benfica é que não se atrapalhou com a relva em Barcelos. Não era um simples tapete verde. Toda aquela erva, a retalho, dava para replantar dois ou três relvados à vontade.
Contra todas as expectativas, o único inconveniente prestado pela Natureza selvagem ao jogo foi o de se ficar sem saber se Jonas deixou a bola tocar no chão ou se rematou sem a deixar pousar no momento em que fez de forma soberba o segundo golo do Benfica dando o melhor destino a um cruzamento perfeito de Gaitán
E aí, sim. A culpa foi, efetivamente, da relva que não deixou ver.
Estava muito crescida. Mas não atrapalhou porque o Benfica também já está muito crescido. São estas pequenas coisas que se têm vindo a notar.


O próximo jogo do Gil Vicente é com o Porto no Estádio do Dragão. Se o treinador do Gil Vicente passar a semana a falar ao telefone para os antípodas não vai ter tempo para preparar convenientemente a sua equipa para tão alto desafio.
- Alô! Alô Barcelos! Aqui Austrália!
- Alô Austrália! Aqui Barcelos! Aqui Mota! Quem fala?
- Aqui Austrália, Mota! Aqui Australopetegui! 
E o tempo todo nisto.


Maxi Pereira marcou dois golos em Barcelos. Que pena não ter marcado mais um. Faria um “hat-trick” para abrilhantar a enormíssima folha de serviços prestados ao Benfica desde que chegou à Luz já lá vão uns bons anos.
Não seria, no entanto, um “hat-trick” puro. Para ser puro, segundo os cânones, o “hat-trick” exige que os três golos sejam obtidos de rajada pelo mesmo autor sem haver outros golos com outros autores pelo meio. 
Na verdade, pouco importam estes preciosismos quando se trata do uruguaio. Com golos ou sem golos, puro e de rajada são os seus atributos. Já para não falar dos lançamentos da linha lateral. 
Dizem-nos que está de partida o nosso inesquecível Maximiliano Pereira. Que pena, que grande pena.


O Boavista de Petit assegurou a permanência na primeira divisão no fim-de-semana passado quando ficaram a faltar três jornadas para o fim da prova. É obra. Com Petit tudo é possível. Aliás, sempre foi. Bem nos lembramos. Obrigada. Parabéns.


No sábado vem aí o Penafiel, uma equipa séria que luta para não descer. Para vencer o Penafiel o Benfica tem de ser mais uma vez a equipa séria que luta para ser campeã. De outra maneira, tudo se complicará. 
O Penafiel, por mais modesta que seja a sua classificação, merece o maior respeito. Seja quem for o árbitro, e já se sabe quem é, vai ter de suportar a campanha australiana da Brigada do Toque de Midas, vulgo Apito Dourado.
Mas esse não é o nosso campeonato. O Penafiel é que é do nosso campeonato.
Carrega, Sport Lisboa e Benfica!


Fonte: Leonor Pinhão@A Bola

Belém correspondents dinner

[Todos os anos, por esta altura, o presidente dos Estados Unidos organiza um jantar com os jornalistas que fazem a cobertura da Casa Branca e profere um discurso humorístico em que faz pouco dos jornalistas, dos outros políticos e de si mesmo. Esta é a minha proposta de discurso para o nosso presidente, se cá houvesse tradição semelhante. E se Cavaco fosse dotado da capacidade de rir.]

Boa noite. É um prazer estar na presença de jornalistas, especialmente em eventos como este, nos quais não podem fazer perguntas. Há uns anos fui mal interpretado, quando disse que perdia apenas cinco minutos por dia com os jornais. De facto, se perco cinco minutos a lê-los, por outro lado invisto bastante mais tempo a tentar colaborar colocando notícias, como ficou claro quando o meu assessor inventou aquela divertida história acerca de escutas no meu gabinete. A propósito, relembro o meu pedido para que se deixem de lado as tricas partidárias, porque isso afasta os cidadãos da política.

Aproveito a vossa presença para esclarecer também que, quando disse que havia limites para os sacrifícios que podiam ser pedidos às pessoas, tive o cuidado de não definir que limites eram esses. Foi por isso que não intervim quando o governo continuou a procurar esses limites. Trata-se de uma curiosidade científica, e a ciência, no nosso país, precisa muito de incentivo.

Gostaria também de dizer aos senhores jornalistas que vou propor algumas medidas de moralização da vida política. Por exemplo, considero um escândalo que o anterior primeiro-ministro, apesar de já não se encontrar em funções há cerca de quatro anos, continue a viver numa habitação paga pelo Estado português, com direito a alimentação. Estes privilégios têm de acabar.

Um pouco mais a sério, posso dizer-vos que considero absolutamente esfarrapada a desculpa avançada pela defesa de José Sócrates, segundo a qual o ex-primeiro-ministro pedia dinheiro emprestado em envelopes por não confiar nos bancos. Eu sou a prova viva de que se pode confiar até no BPN, onde as minhas acções valorizaram 150%.

Quero finalizar apelando uma vez mais aos compromissos. A estabilidade governativa é fundamental para o crescimento, como pode ser comprovado pelos últimos anos. Com uma maioria absoluta estável cresceu o desemprego, cresceu a dívida e cresceu o risco de pobreza.

Fonte: Ricardo Araujo Pereira@Visão

Desporto de fim de semana - 2024/03/16

Sábado, 2024/03/16  - 14:00 - Futebol - Fc Penafiel -v- SL Benfica B - Liga Portugal 2 | 23/24 - Jornada 26  - 15:00 - Basquetebol - SL Ben...