[Todos os anos, por esta altura, o presidente dos Estados Unidos organiza um jantar com os jornalistas que fazem a cobertura da Casa Branca e profere um discurso humorístico em que faz pouco dos jornalistas, dos outros políticos e de si mesmo. Esta é a minha proposta de discurso para o nosso presidente, se cá houvesse tradição semelhante. E se Cavaco fosse dotado da capacidade de rir.]
Boa noite. É um prazer estar na presença de jornalistas, especialmente em eventos como este, nos quais não podem fazer perguntas. Há uns anos fui mal interpretado, quando disse que perdia apenas cinco minutos por dia com os jornais. De facto, se perco cinco minutos a lê-los, por outro lado invisto bastante mais tempo a tentar colaborar colocando notícias, como ficou claro quando o meu assessor inventou aquela divertida história acerca de escutas no meu gabinete. A propósito, relembro o meu pedido para que se deixem de lado as tricas partidárias, porque isso afasta os cidadãos da política.
Aproveito a vossa presença para esclarecer também que, quando disse que havia limites para os sacrifícios que podiam ser pedidos às pessoas, tive o cuidado de não definir que limites eram esses. Foi por isso que não intervim quando o governo continuou a procurar esses limites. Trata-se de uma curiosidade científica, e a ciência, no nosso país, precisa muito de incentivo.
Gostaria também de dizer aos senhores jornalistas que vou propor algumas medidas de moralização da vida política. Por exemplo, considero um escândalo que o anterior primeiro-ministro, apesar de já não se encontrar em funções há cerca de quatro anos, continue a viver numa habitação paga pelo Estado português, com direito a alimentação. Estes privilégios têm de acabar.
Um pouco mais a sério, posso dizer-vos que considero absolutamente esfarrapada a desculpa avançada pela defesa de José Sócrates, segundo a qual o ex-primeiro-ministro pedia dinheiro emprestado em envelopes por não confiar nos bancos. Eu sou a prova viva de que se pode confiar até no BPN, onde as minhas acções valorizaram 150%.
Quero finalizar apelando uma vez mais aos compromissos. A estabilidade governativa é fundamental para o crescimento, como pode ser comprovado pelos últimos anos. Com uma maioria absoluta estável cresceu o desemprego, cresceu a dívida e cresceu o risco de pobreza.
Fonte: Ricardo Araujo Pereira@Visão
Sem comentários:
Enviar um comentário