segunda-feira, abril 06, 2009

O silêncio dos inocentes é ensurdecedor

Uma semana depois de Avelino Ferreira Torres ter sido ilibado de todos os crimes de que era acusado, Pinto da Costa foi também considerado inocente pelo douto tribunal de Gaia. «Les beaux esprits se rencontrent», como dizem os franceses, mas eu não falo francês e nunca percebi o que é que eles queriam dizer com aquilo. No caso do presidente do Porto, condenado em definitivo no âmbito da justiça desportiva, o tribunal considerou que não é problemático que os árbitros visitem a casa de dirigentes desportivos na véspera de arbitrarem jogos dos seus clubes, que o árbitro em questão tinha beneficiado o Porto apenas moderadamente e que as testemunhas de acusação não tinham credibilidade (nem as que acusavam Pinto da Costa de corromper pessoas nem as que o acusavam de lhes ter pago para dizerem que não corrompia pessoas). Enfim, nada que quem lê jornais há já uns anos não estivesse à espera. A célebre factura da viagem ao Brasil, compreendo-o agora, também tinha trabalhado numa casa de alterne.

Como toda a gente, suponho, estranho o silêncio que a comunicação social portuguesa tem dedicado à carreira de Mick Phelan. Durante anos, nenhum dos nossos jornais se esqueceu de assinalar que os êxitos do Manchester United eram também (senão sobretudo) do prof. Carlos Queirós. O prof. Carlos Queirós tinha revolucionado o Manchester United. O prof. Carlos Queirós tinha levado para Manchester métodos que tinham deixado boquiaberta toda a Bretanha — que é grã. O prof. Carlos Queirós era indispensável no Manchester United e Alex Ferguson nem queria ouvir falar na sua saída. Havia uma razão para isto: Alex Ferguson só fazia as substituições, todo o trabalho importante era feito pelo prof. Carlos Queirós. O prof. Carlos Queirós não era o treinador-adjunto de Alex Ferguson, Alex Ferguson é que tinha a honra e a sorte de ser o treinador principal da equipa técnica onde pontificava o prof. Carlos Queirós. O prof. Carlos Queirós inventou jogadores, ganhou taças, foi campeão de Inglaterra e da Europa. Nisto, o prof. Carlos Queirós veio treinar a selecção portuguesa e deixou o Manchester condenado à ruína. Alex Ferguson, imprudentemente, substituiu o indispensável prof. Carlos Queirós por Mick Phelan. Exacto, Mick Phelan. O antigo treinador-adjunto do Norwich, do Blackpool e do Stockport County. E, embora os jornais portugueses o tenham ignorado, Mick Phelan já foi campeão do Mundo de clubes, lidera o campeonato inglês, e está nos quartos-de-final da Liga dos Campeões. Para quando a atenção devida ao trabalho de Mick Phelan?

Tenho saudades de acompanhar a carreira de treinadores-adjuntos brilhantes.

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