sábado, novembro 19, 2016

À esquina em hora de ponta

Do ponto de vista do benfiquismo olímpico, o mais puro e desinteressado, toda esta cegarrega da troca de galhardetes entre os presidentes do Sporting e do Arouca serviu apenas para desviar as atenções do que realmente de grave e inaudito aconteceu no decorrer do último jogo entre os dois emblemas. Foi ao minuto 9 quando João Pereira, no esforço de lançar a bola da linha lateral, entrou abusivamente em campo resultando desta ilegalidade o primeiro golo dos anfitriões. Trata-se de uma especialidade do veterano lateral do Sporting. 

Na época passada foi também assim que levou a sua equipa à vitória em Tondela. Retiro, portanto, o "inaudito" porque de inaudito não teve nada este episódio do lançamento da bola não tão lateral quanto o querem fazer parecer tendo em conta que a autoridade presente em campo – Carlos Xistra com o Tondela e de novo Carlos Xistra em Alvalade – entendeu ser tudo conforme as regras. 

Para que ninguém em todo o Portugal comentasse no recato dos lares ou no espavento dos estúdios de televisão mais esta atroz ilegalidade de João Pereira validada pelo juiz da partida entenderam os responsáveis dos serviços de inteligência que a melhor distração seria facultar ao público o filmezinho mudo do casual encontro entre os Pinhos e os Carvalhos num corredor de Alvalade que mais fazia lembrar, diga-se com franqueza, uma esquina do Bairro Alto em hora de ponta, naturalmente. Ao natural bulício daquele fatal cruzamento "indoor" só faltou mesmo um vendedor de castanhas mais a carripana com o seu velho fornozinho de lata a fumegar para baixo. 

Viu-se assim um país, que se quer moderno e civilizado à Europeia, obrigado sem remissão a discutir a composição química do material expelido pelo presidente do Sporting na direção do seu congénere arouquense como se uma coisa dessas tivesse, de facto, qualquer espécie de interesse social ou científico para o futuro de todos nós em geral e do desporto-rei em particular. Não, não tem importância alguma este "fait divers" difundido com o intuito de desviar as atenções do escândalo que foi o primeiro golo sofrido pelo Arouca na sua visita a Alvalade. E com sucesso porque ninguém mais falou no assunto, pudera. 

Como se tudo isto não bastasse, o Arouca volta a Alvalade daqui a uma semana e meia para a Taça da Liga. A CNN, a SKY News, a TVE, que até deixou de transmitir touradas, a RAI e a Al Jazeera já solicitaram credenciais. Não para garantirem transmissão do jogo mas para assegurarem os "diretos" do corredor mais famoso do mundo da bola. É a guerra global das audiências que só honra o país dos campeões da Europa. 


Por pouco ou nada chinês que seja o tal filósofo chinês   
Por muito pouco – ou nada – chinês que seja o tal "filósofo chinês" que Jorge Jesus citou de cor na sua alocução à imprensa antes do jogo com o Praiense a contar para a Taça de Portugal, é da mais elementar justiça reconhecer ao treinador da equipa de futebol de Alvalade o indisputado estatuto de elemento mais e melhor qualificado na atual "estrutura" leonina e também o de cidadão mais pacato e avesso a polémicas que subsiste na mesmíssima organização. 

Quando, recentemente, Jorge Jesus se referiu em público aos méritos da "estrutura invisível" do Sporting fê-lo com conhecimento de causa e, certamente, com uma pontinha de revolta amplamente justificada. Num lugar em que tudo é que não é futebol é absurdamente "visível", o treinador fez por relevar a invisibilidade do dia a dia de trabalho dos profissionais de Alvalade num momento em que, na realidade, o futebol propriamente dito parece não merecer a importância devida à atividade fulcral do clube. Isto não é fácil.


Fonte: Leonor Pinhão @ correio da manha

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