sábado, setembro 26, 2015

Saúde para dar e vender

Da vesícula de Pinto Costa às dores de crescimento de Luís Filipe Vieira. 26.09.2015 00:30 Quebrando o silêncio de mais de dois anos a que se impôs depois das celebrações advindas daquele já distante minuto em que o Kelvin conferiu ao Porto o seu último título nacional, Pinto da Costa surgiu agora, recuperado de tão inóspito e longo mutismo e também, felizmente, recuperado da recente extração da vesícula, para saborear em público com palavras há muito ansiadas a ainda fresquíssima vitória obtida sobre o grande rival da Capital.

Para o presidente do Porto, como se compreende, as famosas "dores de crescimento", que o presidente do Benfica anunciou mais do que a tempo como sendo sintomas da fase de transição em que os bicampeões nacionais se veem agora metidos, não são, de todo, "dores" nenhumas. Antes pelo contrário, as dores dos outros são fortíssimos sinais de uma saúde esplendorosa, de uma recuperação sensacional contrariando os prognósticos mais sisudos da medicina e da ciência que vinham apontando, com crueldade, para o fim de uma era avassaladora de sucessos em que o Porto vendia saúde e até comprava saúde, enquanto o Benfica definhava sem rei nem roque que lhe valessem.

Era o que parecia, era. Um Benfica impante de há uns poucos anos para cá. A verdade é que se levantou mais depressa Pinto da Costa da cama do Hospital onde foi parar por causa da tal vesícula inflamada – pudera! –, do que se levantou o presidente do Benfica da marquesa de enfermaria do Seixal onde foi parar porque assim o quis, sofrendo estoica e patrioticamente das tais "dores de crescimento" que já estão a dar muito que falar.

Foi o golo do (duas vezes) André que salvou Lopetegui de uma grande indisposição geral que esteve mais do que à vista e que concedeu a Pinto da Costa a alta clínica por que esperava há muito, muito tempo. Voltou-lhe até a voz, como que por milagre, para proclamar ao país que o que fez falta ao Benfica no Dragão foi o treinador que o Sporting tem agora de sobra. Provavelmente, tem (duas vezes) razão. A saúde e a disposição oratória do presidente do Porto, no fundo, dependem de coisas singelas. E, decididamente, muito mais do que a vesícula, que não lhe servia para nada, o que lhe fazia falta à saúde era mesmo uma vitória sobre o Benfica. Outras histórias: Concurso mundial de anormalidades Na Bundesliga nunca tinha acontecido um suplente entrar em campo e marcar 5 golos em 9 minutos como fez Lewandowski, o polaco do Bayern. Nem na Bundesliga nem em campeonato algum do mundo civilizado. Em Portugal, a semana também foi marcada por uma raridade. O Benfica, que é o campeão nacional embora não pareça, somou a sua terceira derrota consecutiva fora do Estádio da Luz e uma coisa destas não acontecia há 58 anos. Há 58 anos tinha acabado de se inaugurar a RTP, faltavam ainda três anos para o jovem Eusébio aterrar em Lisboa e já só faltavam quatro para a data de fundação dos The Rolling Stones que, por sinal, continuam no ativo. De Inglaterra também nos chegaram números loucos. O Man. United propõe-se despender 125 milhões de euros por Ronaldo. Destas três anormalidades, a maior de todas é a do Benfica, ou não concordam? Guardiola, Van Gaal e Rui Vitória, todos levaram as mãos à cabeça. Mas foi o treinador português quem as deixou lá ficar mais tempo.  


Sobe e Desce: 
Sobe - Maicon (FC Porto) - Sem recurso ao escadote 
O árbitro apitou para intervalo e Maicon protagonizou esta acrobacia explicando a Jonas quem é que estava a jogar em casa. 

Desce - Sporting Lizbon - Perdidos na tradução 
Sobe a pimenta ao nariz sempre que lá fora se referem ao "Sporting Lisbon". Os turcos do Besiktas são outros que tais.  

Desce - Luisão (Benfica) - Os segredos do clássico 
Não basta ao "capitão" do Benfica liderar uma equipa que desaprendeu de ganhar e ainda teve de ouvir piadas do Aboubakar. 


Pérola 
"Aquele abraço a Jesus serviu para disfarçar muita coisa", Ricardo Quaresma (FC Porto).

Fonte: Leonor Pinhão @ Correio da Manha

Programa Ler + caro

Milhares de pessoas entregaram esta semana uma queixa na Provedoria da Justiça porque os manuais escolares mudam todos os anos e atingem preços exorbitantes. Realmente, as pessoas queixam-se de tudo. O facto de ser preciso adquirir manuais escolares diferentes todos os anos parece uma astúcia comercial mas é, na verdade, uma estratégia pedagógica: penaliza o repetente, obrigando-o a comprar novamente o livro do ano que acabou de reprovar, mas dá-lhe uma nova oportunidade, permitindo-lhe tentar a sorte com um livro diferente daquele que lhe causou tantas dificuldades. Por outro lado, o preço dos manuais é uma lição que o estudante aprende ainda antes de ter aberto o livro: fica a saber que ainda não estudou o suficiente para deixar de ser burlado por editoras gananciosas. Também funciona como um incentivo para permanecer na escola. O aluno sente que tem de dedicar-se ao estudo até deixar de ser parvo.

Neste momento, tenho em casa pacotes de leite com um prazo de validade superior ao de certos manuais escolares. Pessoalmente, estou convencido de que os livros duram demasiado. Se eu mandasse, os alunos teriam de comprar um livro novo todos os trimestres. O próprio acto de adquirir o livro constituiria metade do programa de estudos. Dirigindo-se à livraria de três em três meses para adquirir novos manuais actualizados, o estudante tomaria consciência da forma como o conhecimento científico se vai substituindo a si mesmo. Compreenderia a teoria de Thomas Kuhn sobre o modo como as revoluções científicas se sucedem sem nunca ter lido o livro. Eu, que li o livro, não o percebi bem - pelo menos tão bem como entenderia se tivesse de adquirir sucessivamente livros sobre a mesma matéria por causa de pequenas alterações.


Por outro lado, a aquisição constante de livros caros funciona, também, como uma experiência científica. Gastar centenas de euros em manuais todos os anos permite observar o efeito da privação de alimentos no organismo. Em muitas famílias, parte do dinheiro destinado à alimentação vai para os livros; a fome gera subnutrição; o aluno estuda os efeitos da subnutrição no manual de biologia e verifica-os no próprio corpo. Não é um roubo, é uma visita de estudo permanente.

Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão

terça-feira, setembro 22, 2015

segunda-feira, setembro 14, 2015

Frases - XVIII


“Pense em uma majestosa árvore coroada por uma cúpula de folhagens. Ela estende ao longe seus galhos e sua glória. Como a árvore surgiu? Graças à imensa energia presente na semente.”

Catharose de Petri



sexta-feira, setembro 11, 2015

Uma gravidade folgazona

A festa que o PS organizou em Santo Tirso, para assinalar a abertura do ano político, merece a atenção de quem gosta de política, mas sobretudo de quem gosta de festas. Os apreciadores de folguedo conhecem bem vários modelos de festividade. A festa da espuma, a festa da cerveja ou a festa do champanhe são alguns exemplos de pândegas bem divertidas. Ora, a festa do PS chamava-se "Festa da Confiança". Digamos que não entusiasma. A introdução de um valor político no nome da festa parece retirar um pouco de alegria ao festejo. Do mesmo modo, uma hipotética "Festa da Idoneidade", ou uma "Festa da Repartição Mais Equitativa da Riqueza" acabariam igualmente por frustrar o objectivo da recreação. Eu percebo o pensamento que orienta a realização de uma "Festa da Confiança", sobretudo porque é o mesmo que me faz inventar jogos muito giros para levar as minhas filhas a fazerem o que eu quero. Destaco o "Jogo de Ver Quem Aguenta Mais Tempo Calado e Quieto", ou o "Super-Desafio Para Apurar Quem É o Maior a Ingerir Verduras". São brincadeiras que, na aparência, prometem folgança, mas que todos sabemos não passarem de estratagemas para impingir brócolos ou obter cinco minutos de sossego. Certos padres recorrem a ardis semelhantes quando falam aos seus jovens paroquianos naquilo que eles acreditam ser a linguagem da juventude e dizem: "Ei, malta da pesada, sabeis o que é extremamente fixe? A abstinência." A "Festa da Confiança" é um fruto desta mesma árvore.

Depois da "Festa da Confiança", António Costa resolveu introduzir na campanha outra festa triste: o matrimónio. Na página de facebook da campanha foi publicada uma fotografia de um jovem António Costa, abraçando a mulher com um gesto que se encontra naquele sítio onde a ternura faz fronteira com a intenção de praticar um sequestro. O texto que acompanha ?a foto diz: "António Costa e Fernanda ?Tadeu casaram há 28 anos. Não houve festa mas sim um hambúrguer rápido no Abracadabra na Rua do Ouro (...)." Um candidato a primeiro-ministro sente necessidade de dizer que não houve festa quando casou. Concede que comeu um hambúrguer, sim, mas rápido. Suponho que tivesse sido inadmissível saboreá-lo lentamente. Obtendo até disso - valha-me Deus! - algum prazer. António Costa não tem tempo para festas. A não ser que sejam festas ajuizadas, como a da confiança. ? A alternativa à austeridade é um homem austero.

Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão


terça-feira, setembro 08, 2015

sábado, setembro 05, 2015

Não se atirem aos miúdos

O Benfica viu-se aflito para ganhar ao Moreirense 05.09.2015 00:30 No último dia de agosto fechou o mercado de verão e o Benfica comprou uns miúdos que vão direitinhos para a equipa B. Era suposto haver alegria com estas aquisições de imberbes em prol da formação, mas parece que os adeptos do Benfica ficaram francamente aborrecidos por não terem visto aterrar nas suas instalações uns quantos jogadores em idade adulta e com créditos estabelecidos. Com espírito filosófico, há quem se deite a lembrar que no ano passado por esta altura ainda não tinham chegado à Luz os dois brasileiros de idade adulta e de créditos firmados que foram fulcrais para a revalidação do título: Júlio César e Jonas, as duas sobras do mercado do verão de 2014 que o Benfica teve a arte de resgatar. 

E com espírito vingativo, há também quem não admita lamentos pela falta de agressividade do Benfica no mercado da gente crescida tendo em conta que, nos últimos anos, o que mais se ouviu na Luz foram lamentos pela inexistência de aposta nos miúdos da equipa B, o que impediria, jurava-se patrioticamente e a pés juntos, um Benfica sempre campeão, cem por cento ‘made in Seixal’ e num sensacional curto prazo. 

Dilacerado por estas dúvidas metódicas que palpitam nas bancadas e pelo país inteiro, o Benfica viu-se e desejou-se para ganhar ao Moreirense no Estádio da Luz. Mas não foi, certamente, por ter utilizado dois jovens jogadores portugueses – Nélson Semedo e Gonçalo Guedes e um jovem brasileiro, Victor Andrade – que a equipa trocou as transições rápidas pelas transições lentas que levam ao desespero os adeptos. Não se atirem aos miúdos, eles estão simplesmente a crescer. E à nossa frente. 
Os responsáveis do Benfica já decidiram sobre os custos da equipa que querem construir. O que nem é surpresa. Há muito vinha sendo anunciada a contenção de despesas e a aposta na escolinha. Os adeptos do Benfica que, num passado recente, exigiam a formação em campo, vão agora decidir se passam a temporada inteira a amaldiçoar as suas antigas crenças ou se, já conformados, vão pregar beatificamente sobre a condescendência que é sempre necessária com os mais jovens. Eis um belíssimo sentimento cuja ausência tanto criticavam no antigo treinador. 


Outras histórias 
A prazo mas com altos dividendos  
Integrado na seleção argentina, Nicolás Gaitán concedeu uma entrevista a uma estação de televisão – a TYC Sports. Para além de não se mostrar triste por não ter saído para um qualquer emblema multimilionário, o jogador explicou aos seus compatriotas que, no Benfica, joga onde o treinador mandar e que até já jogou na posição de defesa-direito numa final europeia. Não ficou claro se Gaitán estava a elogiar a sua polivalência ou se estava a criticar o treinador do Benfica que o mandou defender uma lateral na final da Liga Europa com o Chelsea. Na verdade, tanto faz. 

Gaitán ficará na Luz pelo menos até ao fecho do mercado de inverno, o que garante ao Benfica mais quatro meses do seu talento. Será um Gaitán a prazo, mas com altos dividendos, é o que se espera. Tal e qual como se viu no sábado passado. Do seu pé esquerdo saíram as soluções para dois dos três golos do Benfica. Custa aos benfiquistas imaginar este Benfica sem Gaitán. Aos que não são benfiquistas, não custa nada, antes pelo contrário. 


Sobe e Desce 
Sobe: 
Raúl Jiménez - Que serviço tão rápido O mexicano marcou um golo assim que tocou na bola pela primeira vez na sua estreia na Luz. E viu-se que também é acrobata. 

Maxi Pereira - Estão todos convertidos Há um bicampeão no Dragão. E salta à vista. Já não há adepto portista que não tenha aderido à fé ‘maxipereirista’. Pudera… 

Desce: 
Jesus e Carvalho - A subir bancadas Treinador e presidente começaram o jogo no banco e acabaram na bancada. Foi sempre a subir. Ainda que por ordem do árbitro.   

Pérola 
Augusto Inácio - "Eu não contribuo ‘pró’ Benfica TV"


Fonte: Leonor Pinhão @ Correio da manha

sexta-feira, setembro 04, 2015

Um energúmeno sem qualidade

O incidente ocorrido no comboio entre Amesterdão e Paris, em que um terrorista foi manietado por quatro passageiros, revela um aspecto que costuma ser pouco referido: estamos perante terrorismo de péssima qualidade. Esta é uma área na qual a incompetência se saúda. O criminoso estava armado de uma metralhadora, uma pistola e um x-acto, circunstância que chama imediatamente a atenção: a combinação de armamento de guerra com material escolar indica uma formação técnica bastante deficiente. Além disso, o terrorista deixou-se dominar por quatro turistas, sendo que um deles era um consultor informático sexagenário. Não deve haver muitas coisas mais humilhantes para um terrorista do que ser imobilizado por um idoso especialista em Java Script. O curso de terrorismo que este delinquente frequentou foi, provavelmente, ministrado por uma espécie de Tecnoforma síria, mais interessada em recolher fundos do Estado Islâmico do que em fornecer formação criminosa de qualidade. (Para efeitos legais, gostaria de declarar que, na minha opinião, os cursos da Tecnoforma eram muito bons, e que o facto de, segundo os jornais, terem sido dirigidos a 1063 formandos para nove aeródromos municipais, sendo que, desses nove, só três se encontravam em actividade, não indica - repito, não indica - que a empresa estivesse mais interessada em recolher fundos europeus do que em transmitir conhecimentos avançados sobre gestão aeroportuária.)

O caso do terrorista frustrado levanta ainda um problema filosófico interessante. O criminoso em causa é um energúmeno incompetente. Tem duas falhas graves: é energúmeno e é incompetente. No entanto, um energúmeno competente, que tem apenas um defeito, é pior do que este, cuja personalidade é duplamente imperfeita. Neste caso, quanto mais defeituoso, melhor. O que nos leva à questão, também difícil, do castigo a aplicar a um delinquente deste tipo. Se a nossa sociedade castiga um terrorista bem-sucedido, talvez devesse premiar, de algum modo, um terrorista incapaz de consumar o seu terror. Até para incentivar o alistamento de idiotas nas organizações criminosas. Se conseguirmos excluir a figura do "génio do crime", tão popular na ficção, e substituí-la, na vida real, pela figura do "imbecil do crime", teremos um mundo melhor. Sobretudo se recompensarmos os criminosos incompetentes do mesmo modo que recompensamos os heróis competentes. As homenagens devem fazer-se em vida.

Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão

Desporto de fim de semana - 2024/03/16

Sábado, 2024/03/16  - 14:00 - Futebol - Fc Penafiel -v- SL Benfica B - Liga Portugal 2 | 23/24 - Jornada 26  - 15:00 - Basquetebol - SL Ben...