segunda-feira, setembro 29, 2014

Frases - XV


O insucesso é apenas uma oportunidade para recomeçar de novo com mais inteligência.

Henry Ford


domingo, setembro 28, 2014

António Variações - Canção de Engate



Tu estás livre e eu estou livre
E há uma noite para passar
Porque não vamos unidos
Porque não vamos ficar
Na aventura dos sentidos

Tu estás só e eu mais só estou
Tu que tens o meu olhar
Tens a minha mão aberta
À espera de se fechar
Nessa tua mão deserta

Vem que amor
Não é o tempo
Nem é o tempo
Que o faz
Vem que amor
É o momento
Em que eu me dou
Em que te dás

Tu que buscas companhia
E eu que busco quem quiser
Ser o fim desta energia
Ser um corpo de prazer
Ser o fim de mais um dia

Tu continuas à espera
Do melhor que já não vem
E a esperança foi encontrada
Antes de ti por alguém
E eu sou melhor que nada
Refrão (3x)


Interprete: António Variações
Musica: Canção do Engate



sexta-feira, setembro 26, 2014

Claude Monet

Oscar-Claude Monet (Paris, 14 de novembro de 1840 — Giverny, 5 de dezembro de 1926) foi um pintor francês e o mais célebre entre os pintores impressionistas.

O termo impressionismo surgiu devido a um dos primeiros quadros de Monet, "Impressão, nascer do sol", quando de uma crítica feita ao quadro pelo pintor e escritor Louis Leroy: "Impressão, nascer do Sol” – eu bem o sabia! Pensava eu, justamente, se estou impressionado é porque há lá uma impressão. E que liberdade, que suavidade de pincel! Um papel de parede é mais elaborado que esta cena marinha. A expressão foi usada originalmente de forma pejorativa, mas Monet e seus colegas adotaram o título, sabendo da revolução que estavam iniciando na pintura.

Claude Monet nasceu em Paris, em 14 de novembro de 1840 na 9º arrondissement.3 Seu pai, Claude - Auguste, tinha uma mercearia modesta. Aos cinco anos, sua família mudou-se para Le Havre, na Normandia. Seu pai desejava que Claude continuasse no comércio da família, mas ele desejava pintar. Foi a sua tia Marie-Jeanne Lecadre que o apoiou a seguir a carreira artística, pois ela fora também pintora.

Em 1851, Monet entrou para a escola secundária de artes e acabou se tornando conhecido na cidade pelas caricaturas que fazia. Nas praias da Normandia, Monet conheceu, por volta de 1856, Eugène Boudin, um artista que trabalhava extensivamente com pintura ao ar livre nessas mesmas praias, e que lhe ensinou algumas técnicas ao ar livre.

Em 28 de janeiro de 1857, sua mãe morreu e, aos 16 anos, Monet abandonou a escola e foi morar com sua tia Marie-Jeanne Lecadre.

Em 1857, Monet foi para Paris estudar pintura, e foi aí que conheceu a sua primeira mulher, Camille Monet, a quem retratou muitas vezes, em quadros onde ela aparecia mais do que uma vez na mesma pintura.

Em 1859 Monet mudou-se para Paris. Frequentava muito a academia suíça de Paris onde copiava os grandes pintores. Em 1861 foi obrigado a servir no Exército na Argélia. Sua tia Lecadre concordou em conseguir sua dispensa do serviço caso Monet se comprometesse a cursar arte na universidade. Deixou o exército, mas não lhe agradou o tradicionalismo da pintura acadêmica.

Decepcionado com o ensino da pintura acadêmica na Universidade, em 1862 ele foi estudar artes com Charles Gleyer em Paris, onde conheceu Camille Pissarro e Gustave Courbet. Juntos desenvolveram a técnica de pintar o efeito das luzes com rápidas pinceladas, o que mais tarde seria conhecido como impressionismo.

A ponte Japonesa (The Bridge in Monet's Garden).
Em 1863, ajudado por seu amigo, Monet alugou um pequeno estúdio em Paris. No mesmo ano, Monet entraria para o Salão oficial de pintura de Paris: "Estuário do Sena" e "Ponte sobre Hève na Vazante".

No ano seguinte, Monet novamente expôs duas telas no salão de Paris: "Camille" ou "O vestido azul" e "A floresta em Fontainebleu". A tela "O vestido verde" recebeu grandes elogios por parte dos críticos e ganhou um prêmio no salão de Paris. Em "Camille", Monet retratou Camille Doncieux, que se tornaria sua futura mulher. No ano de 1867, Monet tentou inscrever a obra "Mulheres no Jardim" no Salão, que não a aceitou. A tela era tão grande que ele construiu uma vala para poder enterrar a parte inferior e atingir a parte superior da tela ao pintar. No mesmo ano, Monet e Camille teriam seu primeiro filho, Jean.


Casa de Monet em Argenteuil.
Em 1868, Monet entrou em dificuldades financeiras, teve um quadro inscrito no Salão de Paris, "Navio deixando o cais de Le Havre", que recebeu uma crítica negativa. Recebeu, no mesmo ano, medalha de prata na Exposição Marítima Internacional de Le Havre pela tela "O molhe de Le Havre".

Em 1870, Camille e Monet se casaram três anos após o nascimento do primeiro filho do casal. No mesmo ano, com o início da guerra franco-prussiana, Monet e sua família se refugiaram em Londres. De volta à França e com o pai já morto, refugiar-se em Le Havre não o atraía mais, por isso Monet mudou-se para Argenteuil, onde passou a receber seus amigos impressionistas (Édouard Manet, Pierre-Auguste Renoir, Alfred Sisley e outros). Na cidade, o rio Sena e as belas paisagens serviram de inspiração para numerosos quadros de Monet e seus amigos que puderam pintar ao ar livre.


Impressão, nascer do sol.
Em 1872 Monet pintou Impressão, nascer do sol (Impression: Soleil Levant (atualmente no Museu Marmottan de Paris), uma paisagem do Havre, exibida na primeira exposição impressionista de 1874. O quadro deu origem ao nome usado para definir o movimento impressionista.

Em 1878, Monet mudou-se para Paris com a família devido a crise financeira. No mesmo ano, nasceria seu segundo filho, Michel. Em férias com o casal Hoschédé, Monet acabou apaixonando-se pela mulher do Sr. Hoschédé, Alice. Um ano depois, Camille Doncieux morreu de câncer aos trinta e dois anos de idade.

Em 1883, Monet mudou-se para Giverny, na Normandia. Monet trocava correspondência com Alice até a morte de seu marido em 1891. No ano seguinte ele e Alice Hoschédé casaram-se.

Na década após o seu casamento, Monet pintou uma série de imagens da Catedral de Rouen em vários horários e pontos de vista diferentes. Vinte pinturas da catedral foram exibidas na galeria Durand-Ruel em 1895. Ele também fez uma série de pinturas de pilhas de feno.

Em 1899, Monet pintou em Giverny a famosas série de quadros chamadas "Nenúfares". Em sua propriedade em Giverny, Monet tinha um lago e uma pequena ponte japonesa que inspirou a série de nenúfares. Estas obras quando foram expostas fizeram grande sucesso. Era o reconhecimento tardio de um gênio da pintura.

Monet ao pintar Nenúfares se baseou no lago e a ponte japonesa de sua própria casa, no outono, porque era nessa época do ano em que as flores caiam sobre o lago criando uma linda visão na qual Monet resolveu pintar. A técnica de Monet para pintar quadros era bastante peculiar para as pessoas e outros artistas que o viam pintando, mas a técnica de Monet desenvolvida na época foi considerada mais tarde como umas das mais belas do mundo, que é o impressionismo, que aparenta ser de perto apenas borrões mas ao distanciar a visão, o quadro se forma nitidamente.

Nenúfares.
Monet teve uma catarata no fim da sua vida. A doença o atacou por causa das muitas horas com seus olhos expostos ao sol, pois gostava de pintar ao ar livre em diferentes horários do dia e em várias épocas do ano, o que foi outra característica do Impressionismo. Durante sua doença Monet não parou de pintar, - usou nessa época de sua vida cores mais fortes como o vermelho-carne e vermelho goiaba, cor tijolo, entre outros verdes, rosas, vermelhos e cores mais fortes.

Em 1911, com o falecimento de Alice e seu problema de visão, Monet perdeu um pouco a vontade de viver e pintar. Sua vontade só seria animada com a amizade de Georges Clémenceau, que lhe escrevia cartas de apoio.

Monet morreu em 1926 e está enterrado no cemitério da igreja de Giverny, departamento de Eure, na Alta Normandia, norte de França.4



quinta-feira, setembro 25, 2014

Do D’Artagnan ao cavalo do Gary Cooper

A troca de galhardetes entre Jorge Jesus e José Mourinho é assunto que morreu na semana passada. Quem o enterrou foi o treinador do Benfica que, ao invés do treinador do Chelsea, não tem licenciatura universitária mas teve o bom senso prático de não dar corda ao boneco. 
Até porque percebeu que a conversa lhe estava de feição, Jorge Jesus não deu troco às tiradas literárias de um José Mourinho fazendo-se douto e sabido perante um maltrapilho da língua e da gramática, porque foi a isto que o treinador do Chelsea quis reduzir o treinador do Benfica. Foi feio.
De uma maneira geral, as simpatias da opinião pública ficaram-se pela causa do maltrapilho neste combate desproporcionado e, por isso mesmo, para o inglório campo do amesquinhador.
Há expressões idiomáticas bem engraçadas na nossa língua, no nosso jargão. “Conheces fulano tão bem como eu conheço o D’Artagnan” é uma delas e não obriga a um conhecimento da obra de Alexandre Dumas, antes pelo contrário.
E há outros exemplos do género que até poderiam ser úteis ao próprio José Mourinho. Atente-se no episódio recente do empate do Chelsea em Manchester. 
Os londrinos deslocaram-se à casa do campeão City, viram-se a ganhar por 1-0 mas acabaram por se deixar empatar bem perto do fim do jogo, mercê de um golo de Frank Lampard, jogador que o Chelsea deixou sair para o rival depois de um romance de parte a parte que durou 13 anos em Stamford Bridge.
Naturalmente, terminado o jogo, a malévola imprensa britânica abeirou-se do treinador do Chelsea para colher a reacção do português ao golo do seu antigo jogador. Mourinho saiu-se com um “a história de amor acabou” o que, francamente, não é nada de especial como saída. 
Mais lhe valia ter-se inspirado na velha e consagrada tirada do grande e já desaparecido António Medeiros, outro treinador sem licenciatura universitária, que um dia, aborrecido com as questões que lhe colocavam alguns adeptos em fúria, a todos respondeu com um “vão mas é conversar com o cavalo do Gary Cooper!” 
Lembram-se? E acabou-se logo ali a conversa.
E tal como não é preciso ter lido Dumas para “não conhecer” o D’Artagnan, também não é obrigatório um doutoramento em coboiadas nem, muito menos, uma medalha de ouro num concurso olímpico de hipismo para se poder mandar alguém ir falar com “o cavalo do Gary Cooper”. 
Pelo menos é assim que eu vejo as coisas e com toda a imparcialidade.


O Moreirense esteve uma hora e picos a ganhar por 1-0 ao Benfica no Estádio da Luz e durante uma hora e picos ouvi-os cantar pelo caminho no regresso a casa. 
O treinador do Moreirense, como quem não quer a coisa, tinha avisado nas vésperas do jogo. “Se trouxermos os três pontos vimos a cantar o caminho todo.” Aparentemente ninguém fez caso. E chegando o Moreirense ao intervalo a vencer por 1-0 o Benfica, não se podendo dizer que o resultado fosse inferior à exibição, era justo o prémio para os organizadíssimos visitantes. 
E ainda mais justo o castigo para os lentíssimos donos da casa a quem, sejamos francos, nunca passou pela cabeça, ao longo do exasperante decorrer de uma tarde sofrida e desinspirada, verem-se na posição de líderes isolados do campeonato pelo fim da noite.
Por tudo isto, foi ainda mais saboroso o balanço do fim-de-semana.
No entanto, da exibição coletiva do Benfica pouco há a reter para além de alguns factos soltos. Tais como o empenho a 100% de Enzo Pérez, o regresso de Lima aos golos, uma bela estirada de Júlio César evitando um auto-golo de Jardel e, pairando acima destas ocorrências, a acertadíssima bomba de Eliseu que abriu o caminho à vitória.
Se estavam à espera os nossos jogadores de receber uma estrondosa ovação depois de perder em casa com o Moreirense, desenganem-nos rapidamente por favor. Estas singularidades do comportamento do público são isso mesmo, singularidades. E convém não abusar.
Agora segue-se uma viagem ao Estoril. O Estoril, ao contrário do Bayer de Leverkusen, é que é do nosso campeonato. Cuidado com o Kuca.


A diferença de potencial entre o FC Porto e o Boavista é de tal monta que nem os mais optimistas entre os seus rivais acreditaram que, com menos um em campo desde o meio da primeira parte, não conseguiria a renovada equipa azul e branca desembaraçar-se com toda a naturalidade do Boavista.
Passaram-se, entretanto, seis anos sem o Boavista entre os grandes. E na ante-ante-véspera do juízo jurisdicional sobre a não-existência da fruta, no decorrer do tal ressuscitado primeiro derby da Invicta logo aconteceu uma expulsão de um jogador do FC Porto antes da meia hora de jogo. Terá sido, conclui-se, a vingança do xadrez.
Foi, sem dúvida, surpreendente o zero-a-zero no Dragão no reencontro oficial dos emblemas, respectivamente, mais absolvidos e mais condenados do processo do Apito Dourado. 
Foi um bom jogo em termos de empenho de todos os intervenientes. Sem Maicon em campo, houve vinte e duas oportunidades para desfeitear Mika, contou Julen Lopetegui logo na flash-interview. É muita oportunidade desperdiçada.
O atributo mais notável que vem revelando este regressado Boavista é o contágio da equipa pela personalidade do seu treinador. Na noite de domingo foram 11 Petits em campo. Neste FC Porto em construção, tantas são caras novas, que também a personalidade do seu treinador só pode ser, para já, a argamassa da equipa. 
Resumindo: 11 Petis contas 10 Lopeteguis deu no que deu: 0-0.


No nosso panorama audiovisual surgem agora os três “grandes” empatados visto que cada um tem o seu canal próprio de televisão. O Sporting foi o último a chegar a este patamar tecnológico e informativo e, uma vez mais, os últimos são os primeiros. E os primeiros em quê?
É um facto indisputado que nenhuma estação de televisão propriedade de um clube de futebol, seja em Portugal seja na Conchinchina, nasceu para dar cartas na dificílima arte do desapego e da imparcialidade no que diz respeito ao comentário a embates desportivos envolvendo as suas cores. 
No entanto, é caso para se dizer que, em termos dos mínimos expectáveis nesse capítulo, a Benfica TV e o Porto Canal, por comparação com a Sporting TV, estão à altura de um “Washington Post” por comparação com a sempre desbocada “Gazeta de Mira Coelhos” que, se existisse, haveria de ser obra. 


Fernando Santos é o novo seleccionador nacional. Chega ao cargo que é um castigo, face ao panorama geral, com um outro castigo aos ombros, este imposto pela FIFA. Fernando Santos já soma dois castigos e ainda nem começou. 
Merece, por isso mesmo, toda a simpatia o seleccionador que já foi treinador do FC Porto, do Sporting e do Benfica. A escolha de Fernando Gomes, em termos de não fazer ondas e deixar toda a gente satisfeita, não podia ter sido mais criteriosa e cuidada.
Sobre o castigo imposto pela FPF a Fernando Santos – obrigando-o a ser seleccionador nacional em maré muito baixa de seleccionáveis – está já tudo dito. Sobre o castigo que lhe foi imposto pela FIFA garante a imprensa que pode ser revista e diminuída a pena aplicada. Ou seja, Fernando Santos pode ir mais cedo do que se esperava para o “banco” de Portugal.
A acontecer, trata-se de uma situação curiosa porque sendo encurtado o castigo ao ex-seleccionador da Grécia, como consequência é aumentado o castigo ao novo seleccionador de Portugal, obrigando-o a ir para o “banco” mais cedo que estava previsto… Boa sorte, mister!


Fonte: Leonor Pinhão@A Bola

A obra perdida de Samuel Beckett

(Sobe o pano. Dois vagabundos estão enterrados num monte de areia. Só lhes vemos as cabeças, de modo a que pareçam ter o mesmo corpo, sob a areia. O facto de ambos se chamarem António reforça essa ideia.)

- Boa noite.
- Isso fica-te mal, António.
- Foi só uma saudação.
- É a saudação típica dos doutores de Lisboa. No país real, as pessoas cumprimentam-se de outra forma. Devias ter dito: "Está bom, ti Manel?"
- Tu chamas-te António.
- Não interessa.
- Bom, vamos ao essencial: eu sou mais fotogénico do que tu, António. ?E tenho a voz mais grossa.
- Isso fica-te mal, António. O que tu estás a fazer ao PS não se faz. O meu vídeo demonstra isso muito bem.
- Aquele vídeo é da tua campanha? Pensei que fosse da minha.
- Não, vê-se bem que é da minha. Estou lá eu, a colocar terra num balde, simbolizando o terreno que preparei...
- Pensei que isso simbolizava o tempo que passaste a enterrar o PS.
- Isso fica-te mal, António. Depois começo a regar...
- Aquilo é regar? Eu achei que simbolizava o balde de água fria que foram os resultados das europeias.
- ... e depois tu apareces e colhes o cravo que eu fiz crescer.
- Bom, mas nesse caso o vídeo é muito ofensivo para mim.
- Não te admito, António. A rábula do ofendido é minha. Escolhe outra estratégia. Porque é que o vídeo te ofende?
- Porque eu apareço a colher o cravo. Tu sabes que eu sou de origem goesa. É uma referência muito rasteira ao facto de os indianos andarem sempre com flores.
- Que disparate. Estou ofendido com o facto de te sentires ofendido, António.
- Estas ofensas pessoais são consequência da tua falta de ideias. Só tens seis propostas e meia.
- Sempre são seis propostas e meia a mais do que tu tens.
- É falso. Sei exactamente o que é necessário fazer. O País precisa de fisioterapia. E eu preciso de metáforas melhores.
- O que tu estás a fazer é uma grande deslealdade, António. Eu ando a esgravatar desde o tempo da JS. Ali, caladinho, a trabalhar o partido para finalmente tomar o poder. E agora apareces tu, de repente, para receber os louros.
- Por falar em aparecer de repente: como é que tu conseguiste ser o primeiro a aparecer na entrada do Altis quando o Sócrates perdeu as eleições? Foste pelo elevador de serviço?
- Não compares. A tua deslealdade é maior que a minha, António. Eu passei os últimos três anos a percorrer o País, em almoços com militantes. Eu já não posso ver carne assada, António. E agora tu, que nem tens posição acerca do défice e da dívida, queres apropriar-te do meu trabalho.
- Eu tenho coisas maravilhosas para dizer sobre o défice e a dívida, mas este não é o momento indicado. Há demasiadas variáveis. Temos de esperar até as variáveis pararem de variar. Enquanto o mundo não parar quieto, não vale a pena falar sobre o défice e a dívida.
- Isso fica-te mal, António.
- Eu nem percebo porque é que tu fazes tanto finca-pé em disputares as legislativas se já prometeste que te vais demitir quando fores primeiro-ministro.
- Só me demito se tiver de aumentar os impostos.
- Nos últimos 40 anos, conheces algum primeiro-ministro que não tenha aumentado os impostos?
- Isso é verdade. Mas fica-te mal, António.
- O que é que achas do vestido de lantejoulas que eu estou a usar hoje?
- Fica-te mal, António.

(Cai o pano)


Fonte: Ricardo Araújo Pereira@Visão

segunda-feira, setembro 22, 2014

domingo, setembro 21, 2014

Leonard Cohen - 80 anos




"Waiting For The Miracle"


Baby, I've been waiting, 
I've been waiting night and day. 
I didn't see the time, 
I waited half my life away. 
There were lots of invitations 
and I know you sent me some, 
but I was waiting 
for the miracle, for the miracle to come. 
I know you really loved me. 
but, you see, my hands were tied. 
I know it must have hurt you, 
it must have hurt your pride 
to have to stand beneath my window 
with your bugle and your drum, 
and me I'm up there waiting 
for the miracle, for the miracle to come. 

Ah I don't believe you'd like it, 
You wouldn't like it here. 
There ain't no entertainment 
and the judgements are severe. 
The Maestro says it's Mozart 
but it sounds like bubble gum 
when you're waiting 
for the miracle, for the miracle to come. 

Waiting for the miracle 
There's nothing left to do. 
I haven't been this happy 
since the end of World War II. 

Nothing left to do 
when you know that you've been taken. 
Nothing left to do 
when you're begging for a crumb 
Nothing left to do 
when you've got to go on waiting 
waiting for the miracle to come. 

I dreamed about you, baby. 
It was just the other night. 
Most of you was naked 
Ah but some of you was light. 
The sands of time were falling 
from your fingers and your thumb, 
and you were waiting 
for the miracle, for the miracle to come 

Ah baby, let's get married, 
we've been alone too long. 
Let's be alone together. 
Let's see if we're that strong. 
Yeah let's do something crazy, 
something absolutely wrong 
while we're waiting 
for the miracle, for the miracle to come. 

Nothing left to do ... 

When you've fallen on the highway 
and you're lying in the rain, 
and they ask you how you're doing 
of course you'll say you can't complain -- 
If you're squeezed for information, 
that's when you've got to play it dumb: 
You just say you're out there waiting 
for the miracle, for the miracle to come.


Interprete:  Leonard Cohen
Musica: "Waiting For The Miracle"

Taxi - Chiclete



E como tudo que é coisa que promete
A gente vê como uma chiclete
Que se prova, mastiga e deita fora, se demora
Como esta música é produto acabado
Da sociedade de consumo imediato
Como tudo o que se promete nesta vida,chiclete

Chiclete, ah!(5x)
Ah!(5x (chiclete)

E nesta altura e com muita iquietação
Faço um reparo e quero abrir uma
excepção
Um cassetete nunca será não, chiclete

Chiclete, ah!(5x)
Ah!(5x) (chiclete)

E como tudo que é coisa que promete
A gente vê como uma chiclete,
Que se prova, mastiga, dita fora, se
demora
Como esta música é produto acabado
Da sociedade de consumo imediato
Como tudo o que se promete nesta vida,
chiclete

Chiclete ah!(5x)
Ah!(5x)

Chiclete
Chiclete (prova)
Chiclete (mastiga)
Chiclete (deita fora)
Chiclete (sem demora)

Interprete: Taxi 
Musica: Chiclete

quinta-feira, setembro 18, 2014

A caminho da terceira final da Liga Europa

O resultado mais admirável da jornada inaugural desta Liga dos Campeões foi o do jogo Olympiakos-Atlético de Madrid que para o interesse dos benfiquistas foi liminarmente encarado como o jogo Roberto-Oblak.
Ganhou o Roberto por 3-2 ao Oblak. Este, sim, é um resultado sensacional.

Já no jogo Benfica-Zénite o mais sensacional não foi propriamente o jogo, muito menos o resultado, mas o que se viveu nas bancadas do Estádio da Luz assim que o árbitro norueguês apitou para acabar com aquilo.
Imediatamente se ouviu um fortíssimo clamor de aplausos para a equipa da casa, a equipa derrotada, como testemunho do reconhecimento por um trabalho honesto e abnegado em circunstâncias de inferioridade muito difíceis de disfarçar.
Com pouco mais de um quarto-de-hora de jogo era flagrante a diferença de poderio individual entre as duas equipas. Nada a obstar, portanto, ao resultado. A fase de grupos da Liga dos Campeões tem sido, por regra, o passaporte do Benfica para posteriores glórias na Liga Europa que, essa sim, é a nossa praia.
Aliás, sem drama e com as mais altas expectativas, já nos estou a ver a caminho da terceira final consecutiva da Liga Europa.
Pelo carácter demonstrado pela equipa, pela paixão a todos comum e pelo sentido de justiça exibido pelos adeptos, nunca uma derrota me aborreceu tão pouco como a de anteontem.


Para mim, só para mim, Talisca era Talisca, o Coveiro, antes de Jorge Jesus ter dado cabo da hipótese de o baiano poder ter em Portugal qualquer outra alcunha que não seja D’Artagnan.
E Talisca, o Coveiro, porquê? Porque, num modo cinéfilo de ver as coisas e as pessoas, Talisca tem pinta de coveiro.
No cinema, tal como os personagens de banqueiros são normalmente representadas por tipos anafados, tal como os personagens de mordomos são normalmente representadas por tipos cheios de classe, os personagens de coveiros exigem sempre tipos longilíneos, desengonçados e com orelhas de abanico.
Na noite de sexta-feira, mais e melhor a alcunha de O Coveiro assentou em Talisca depois de, com três golos, ter enterrado as esperanças do Vitória de Setúbal. Uma equipa de futebol que não tem, metaforicamente, um regular coveiro dos adversários tem poucas hipóteses de sonhar alto.
E uma equipa de futebol que tem entre as suas fileiras um coveiro das suas próprias ilusões muito menos vai a lado algum. Adiante…
Talisca, o Coveiro, assim se manteve, nos meus pensamentos, catalogada a arte do baiano nos dias imediatamente seguintes ao jogo do Bonfim, para mais vendo o Sporting e o FC Porto empatar os seus respetivos jogos sem coveiros que lhes valessem, bem antes pelo contrário.
Depois veio José Mourinho falar de Talisca, The Undertaker, para nos dizer que o jogador brasileiro do Benfica era já bem conhecido em Inglaterra antes de viajar para Luz e que só não está a jogar nas ilhas britânicas por não ter visto de trabalho. Acredito que José Mourinho tenha razão no que disse.
Mas Jorge Jesus é que não se aguentou. É por estas e outras coisas que gosto tanto do nosso treinador. “Conheciam tanto o Talisca como eu conheço o D’Artagnan!”. E tomem nota de que o treinador do Benfica não se referiu ao “Dartacão” da bonecada infantil. Referiu-se ao “D’Artagnan” dos romances de Alexandre Dumas, pai, que é logo outra coisa.
Temos, assim, para todo o sempre Talisca, o D’Artagnan. Adeus, Talisca, o Coveiro. Quem sabe, sabe.


Quem também sabe e sabe muito é o nosso José Augusto, bi-campeão europeu. Vi o jogo Vitória de Setúbal-Benfica a seu lado em Vila Nova de Foz Coa por motivos que coincidiram dos nossos respetivos calendários… cinematográficos. José Augusto foi ao Alto Douro apresentar um filme sobre Eusébio e eu fui lá fazer outra coisa qualquer que não vem para o caso.
Quando Jorge Jesus substituiu Talisca, ainda o Coveiro, depois de o baiano ter feito os tais três golos de rajada, o melhor extremo-direito da Europa na década de 60 do século passado torceu o nariz. “Compreendo o Jesus mas eu não o substituía, quando um jogador está com o pé quente é deixá-lo em campo, quem sabe se não fazia um quarto golo ou mesmo um quinto golo?”.
- Foi substituído para os aplausos – alguém alvitrou.
- Tem 20 anos, tem muitos anos pela frente para os aplausos – retorquiu José Augusto, o grande.
É deste Benfica que gosto.


A decadência do futebol nacional fez mais uma vítima. No caso presente chama-se Paulo Bento. Não é que Paulo Bento seja o melhor treinador do mundo mas basta olhar para a constituição das equipas do Benfica e do FC Porto na última jornada do campeonato – e o Benfica e o FC Porto são os dois únicos clubes portugueses de top internacional – para se evidenciar o, chamemos-lhe assim, âmago da questão.
Nos respetivos “onzes” com que iniciaram os jogos de Setúbal e de Guimarães cada emblema rival apresentou apenas um jogador compatriota de Luís de Camões. No caso do Benfica, o veterano Eliseu. No caso do FC Porto, o adolescente Rúben Neves.
Nem Eliseu nem Rúben Neves estiveram no Mundial do Brasil nem na última convocatória de Paulo Bento, a referente ao jogo que se haveria de revelar desgraçado com a Albânia.
Já o Sporting, que se assumiu no arranque da época como garboso candidato ao título partindo, como anunciou Inácio, da “pole position” para a grande corrida, apresentou seis compatriotas de Luís de Camões na sua equipa titular no jogo com o Belenenses.
Três deles - Rui Patrício, William Carvalho e Nani – estiveram no Mundial do Brasil a representar, dentro das suas possibilidades, a nossa seleção.
E sendo assim, destacadamente, o Sporting o mais “português” entre os três grandes, conclui-se que esse sobriquet não lhe tem valido de muito nestas primeiras quatro jornadas do campeonato em que já perdeu 6 patrióticos pontos.
Todos sabemos que, face ao império do mercado, qualquer jogador português que seja um bocadinho, e basta um bocadinho, acima da média vai parar ao estrangeiro num abrir e fechar de olhos. E, obviamente, não vão todos para o Real Madrid.
E não vai nenhum para o Manchester United, para o Barcelona, para o Bayern de Munique, para a Juventus, etc…
O que o futebol português tem produzido, de uma maneira geral, nos últimos anos são jogadores internacionais da segunda linha europeia. Jogadores que cabem no Wolfsburgo, no Málaga, no Dínamo de Kiev, no Desportivo da Corunha, no Lyon, no Fenerbahce. E também uma pequena e simpática legião de jogadores que, ainda não tendo emigrado, representa em Portugal emblemas respeitáveis como o Sporting de Braga ou o Vitória de Setúbal.
Aliás, nesta ponta final da era Paulo Bento, tem sido o Sporting de Braga o grande alimentador interno da seleção nacional. E recordemos que o Sporting de Braga, que ainda na última jornada perdeu com o Arouca, ocupa presentemente o 6.º lugar da Liga portuguesa.
É com isto que o próximo selecionador se tem de confrontar.
Por este conjunto de razões, e quando o país debate com intensidade o nome do sucessor de Paulo Bento, abstenho-me de lançar sugestões. Não é por modéstia. É por comiseração.
É porque, com franqueza, não antipatizo, nem de perto nem de longe, com nenhum treinador português ao ponto de gostar de o ver no comando da selecção nacional de futebol. Ninguém merece.


Revelava este jornal na sua edição desta última terça-feira que o presidente do Sporting, para além de ter ficado agastado com o árbitro do jogo com o Belenenses, ficou também agastado com os jogadores da sua equipa tendo aplicado ao grupo um castigo e peras.
“O presidente do clube de Alvalade optou por não falar com os jogadores nos dias seguintes ao encontro frente aos azuis do Restelo, não se deslocando à Academia nem domingo nem ontem”, lia-se em “A BOLA” de anteontem.
Castigo ou bênção, no final de contas?


Derley entrou bem no jogo com o Zénite substituindo Lima que anda arredado dos golos e, por isso, tristonho. André Almeida também entrou bem para os quinze minutos finais com os russos. Alma até Almeida! – conhecem, com certeza, a expressão.

Fonte: Leonor Pinhão@A Bola

Clube dos socialistas mortos


Exmo. Sr. Presidente da Federação do PS de Braga,

Na qualidade de socialista falecido em 2005, venho felicitar a sua federação por possibilitar a participação de mortos no processo eleitoral. Durante demasiado tempo, só pessoas vivas eram chamadas a votar, pelo que se saúda o alargamento do espectro eleitoral a espectros eleitores. A iniciativa de V. Exa. produz efeitos ideológicos que, tenho a certeza, hão-de marcar a história do socialismo. A velha divisa cubana "Socialismo ou morte" terá de merecer actualização, na medida em que a federação socialista de Braga demonstra que socialismo e morte não são conceitos que se excluam. Talvez em Cuba os cidadãos sejam obrigados a escolher "socialismo ou morte", mas em Braga podemos ter "socialismo e morte", tudo ao mesmo tempo. É, literalmente, o melhor de dois mundos: este e o outro.

Note que não falo em nome dos mortos-vivos, mas sim dos muito mais prosaicos mortos. Os mortos-vivos, pese embora a fama de que vêm gozando, não merecem direito de voto. As criaturas lendárias já estão muito bem representadas na vida política pelos vampiros. Acrescentar os mortos-vivos seria redundante. Os mortos, em contrapartida, nunca obtiveram representação política. O falecimento, ocorrência tantas vezes alheia à vontade do cidadão, retira-lhe o direito de voto, sem que seja apresentada uma justificação válida. A ausência de actividade cerebral não serve de desculpa, uma vez que também se verifica, quer em outros eleitores, quer em boa parte dos eleitos.

Como é evidente, coloca-se a questão de saber de que modo pode o morto participar no processo eleitoral, dadas as suas limitações. Neste ponto, permita-me que lhe apresente o meu sobrinho Nelson, que é bruxo em Esposende. É a ele que estou a ditar estas palavras. Por uma verba simbólica, o Nelson está disponível para colaborar com a concelhia do PS, transmitindo aos seus dirigentes a posição política de um vasto leque de defuntos. Todos os dias, o Nelson recebe a visita de inúmeras almas de antigos socialistas, ansiosos por participar na vida partidária. O morto, hoje em dia, já não se satisfaz com as tradicionais aparições fantasmagóricas em casa dos familiares para bater com portas e abrir torneiras. O defunto moderno quer continuar a ter uma palavra a dizer na vida cívica. O meu sobrinho Nelson pode ajudar a concelhia a registar as opiniões de antigos socialistas, por apenas dois euros por alma. No entanto, o Nelson está preparado para lhe oferecer um preço especial por atacado, a saber: 15 euros por cada palete de 10 defuntos.

Creia que somos muitos, neste lado, a querer participar. E está aqui um senhor chamado Engels que quer dar uma palavrinha a V. Exa. acerca do que é, na verdade, um partido socialista.

Com os melhores cumprimentos,

Fernando Manuel T. Guedes

Defunto


Fonte: Ricardo Araújo Pereira@Visão

segunda-feira, setembro 15, 2014

Frases - XIII

"Você vê coisas e diz: Por que?
mas eu sonho coisas que nunca existiram e digo: Por que não?"

George Bernard Shaw



domingo, setembro 14, 2014

Ornatos Violeta - Ouvi Dizer



Ouvi dizer que o nosso amor acabou.
Pois eu não tive a noção do seu fim!
Pelo que eu já tentei,
Eu não vou vê-lo em mim:
Se eu não tive a noção de ver nascer um homem.
E ao que eu vejo,
Tudo foi para ti
Uma estúpida canção que só eu ouvi!
E eu fiquei com tanto para dar!
E agora
Não vais achar nada bem
Que eu pague a conta em raiva!
E pudesse eu pagar de outra forma!


Ouvi dizer que o mundo acaba amanhã,

E eu tinha tantos planos pra depois!
Fui eu quem virou as páginas
Na pressa de chegar até nós;
Sem tirar das palavras seu cruel sentido!
Sobre a razão estar cega:
Resta-me apenas uma razão,
Um dia vais ser tu
E um homem como tu;
Como eu não fui;
Um dia vou-te ouvir dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!
Sei que um dia vais dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!


A cidade está deserta,

E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! Ora doce!
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!



Interprete : Ornatos Violeta

Musica : Ouvi Dizer

sexta-feira, setembro 12, 2014

Escatologia dos euros

"O rico moderno tem menos bens em seu nome do que São Francisco de Assis"

De acordo com Jesus Cristo, é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus. Quem já tentou fazer um camelo passar pelo buraco de uma agulha tem a noção exacta da dificuldade da tarefa, sobretudo se usou o mesmo método que se aplica às linhas, e que consiste em humedecer-lhes a ponta. Humedecer a cabeça de um camelo exige alguma coragem, muita salivação e um bom elixir oral. Cirilo de Alexandria acreditava que as palavras do Messias tinham sido mal reproduzidas. Em grego, o vocábulo que designa camelo (kamelos) é muito parecido com o que designa corda (kamilos), e quem registou as declarações do Senhor pode ter feito confusão (já se sabe como são os jornalistas). Uma vez que uma corda também não passa facilmente pelo buraco de uma agulha, os ricos foram forçados a engendrar uma estratégia para entrar no reino dos céus, a saber: não possuir quaisquer bens em seu nome. 

O rico moderno tem menos bens em seu nome do que São Francisco de Assis. A questão, portanto, não é tanto a de saber para onde vão os ricos quando desaparecem. O que deve ocupar os teólogos é descobrir para onde vão os euros quando desaparecem. Nunca me desapareceu um rico, mas desaparecem-me euros todos os dias. Sobretudo, é difícil responder às questões que as crianças nos colocam a este respeito. "Papá, o dinheiro que tinhas no chamado banco mau para onde foi?" "Onde estão as poupanças que o avô foi convencido a investir nas empresas do grupo BES?"

"O meu dinheiro também vai desaparecer?" São inquietações para as quais não temos resposta clara. Dizemos apenas que não sabemos onde o dinheiro está. "Mas o Cavaco não tinha dito que os portugueses podiam confiar no BES, papá?" Não convém deixar as crianças assistir aos noticiários. É muito cedo para elas aprenderem a lidar com a perda. Mais tarde poderemos dizer-lhes que o desaparecimento do dinheiro é uma parte da nossa vida financeira, e que o máximo que podemos fazer é protege-lo de uns gatunos entregando-o a outros. Mas, para já, teremos de esperar que a ciência seja capaz de determinar claramente para onde vai o dinheiro que desaparece. Com a justiça, aparentemente, não contamos. Entretanto, teremos de contar às crianças as mentiras piedosas do costume. Que o dinheiro desapareceu mas vive agora num banco muito bonito, com inúmeras outras notas. Que tem uma vida de grandes investimentos que nós não lhe podíamos proporcionar. Enfim, que está no paraíso. No paraíso fiscal, evidentemente. 

Fonte: Ricardo Araújo Pereira @Visão

Não vi mas também não gostei

"Será que a Selecção tem cozinheiro? Tem? Então a culpa é do cozinheiro. No Benfica também temos cozinheiro: o Talisca já engordou cinco quilos.

Não fizemos um mau jogo disse Paulo Bento.
Lamento, e lamento muito sinceramente, mas não usufruo do grau mínimo de legitimidade para desancar com os meus argumentos impiedosos a supracitada análise do nosso seleccionador nacional devido a uma razão nada complicada. É que não vi o jogo.
Não ver é um direito que a todos assiste e que não menoriza ou, pelo menos não deveria menorizar, os que dele (do direito) não prescindem em certas e bem determinadas ocasiões. Como esta, justamente.
Portugal contra a Albânia não era grande programa, admita-se sem complexos. O cartaz só não era fraquíssimo para quem não anda nestas coisas. E ainda são algumas privilegiados.
Mas para os outros, os que andam forçosamente nestas coisas mas com consciência plena dos factos, e ainda são muitos, fazia arrepiar só a ideia de que o cair da noite do primeiro domingo do sempre admirável mês de Setembro pudesse vir a ser importunado por um acontecimento tão insuficientemente exótico como um Portugal - Albânia.
E se fosse ao contrário? Se em vez de um Portugal - Albânia marcado para Aveiro, antes fosse um Albânia - Portugal agendado para Tirana?
Com o devido respeito pelas duas federações em contenda, ia das ao mesmo.
Mas, sendo o jogo no estrangeiro e sabendo-se que as excursões para fora do país provocam sempre formigueiros em qualquer tipo de comitivas, não se poderia antecipar um Albânia - Portugal prometedoramente mais atractivo do ponto de vista da qualidade das emoções? Não, de modo algum. Sò os ingénuos acreditam numa coisa destas.
Cá ou lá, a coisa tinha todos os ingredientes para estar condenada à partida.
Começou mal a campanha de qualificação da Selecção portuguesa de futebol para a fase final do Europeu de 2016, evento para o qual ainda falta imenso tempo? Sim!
Começou pessimamente. Mas pior teria começado para mim, egoistamente falando, se tivesse de ver esse mesmo jogo de que me escapei, muito decididamente, atravessando a fronteira para a Espanha sem pinga de remorso.
Remorsos? Nada, nem um bocadinho. Mas onde é que as exóticas festas da Senhora das Angústias de Ayamonte ficam alguma vez atrás, no domínio das mais básicas expectativas, de um Portugal-Albânia ou de um Albânia-Portugal, seja em que modalidade for?
Devo dizer, em abono da verdade, que estava o jogo precisamente no seu intervalo e ainda estava eu em terras portuguesas. Mais precisamente numa estação de serviço à beira da estrada. Foi aí que ouvi em fundo, e sem querer, o som vindo do minúsculo aparelho de televisão que para lá está a um canto a fazer companhia ao gasolineiro nas horas mortas, que devem ser incontáveis daqui até ao próximo verão.
A televisãozinha estava sintonizada na RTP que transmitiu o jogo como é deu dever. Conto-vos então o que ouvi no momento em que liquidava a despesa sob um cheiro intenso e inebriante a gasolina.
«Chegamos ao intervalo e em termos de ocasiões, uma para Portugal, zero para a Albânia».
Foi este (e num tom enfadado) o modo como o comentador de serviço resumiu os primeiros quarenta e cinco minutos do tal desafio internacional.
E pensei com grande tranquilidade: «Deve estar a ser bonito, deve».
O homem ou adivinhou os meus pensamentos ou terá reparado num franzir de sobrolho que me escapou e logo se dispõe a dar-me razão sem eu lhe pedir:
- Não está a perder nada de especial, não senhora.
E disse-o com bonomia que é o que ser quer. Segui viagem.
Meia hora depois, sentada à mesa com um grupo de bons amigos na esplanada da Puerta Ancha na já mencionada cidade de Ayamonte, perante a excelência de tudo o que se me deparava, afligiu-me um rebate de consciência muito característico de quem na infância frequentou a catequese.
Foi maior a preocupação do que o arrependimento, convenhamos. Mas a perspectiva de uma derrota da Selecção portuguesa frente à selecção albanesa, resultado indiscriminadamente exótico, obrigava-me por isso mesmo, e por razões morais, a ter visto o jogo sobre o qual toda a gente, dos amadores aos profissionais, iria falar durante a semana.
E eu, no fundo, considerei-me e considero-me uma profissional, anda que sem nada para dizer sobre o assunto albanês.
Vi o jogo? Honestamente, não, não vi.
Não vi mas também não gostei.
Pronto. É o mais longe que me posso permitir em termos do comentário profissional, do tipo intelectualmente honesto predominante.
E, sem ter visto o jogo, o que escrever?
Poderia, nas circunstâncias difíceis em que me encontrava, optar por uma de duas soluções para uma saída airosa tendo em vista a crónica desta quinta-feira.
A primeira era desancar à tripa forra no seleccionador nacional. Para dizer mal do Paulo Bento e deixar toda a gente satisfeita nem é preciso ver jogos da Selecção que ninguém dá conta. Mas não será fácil de mais, quase ignóbil, desancar no seleccionador goleado por 1-0 pela Albânia num jogo que nem vi?
A propósito desta questão moral lembrei-me de uma frase que nunca me saiu da cabeça lida num romance de Conrad - «... aquela cobardia peculiar da respeitabilidade» - e logo se me afastou essa ideia tristíssima de me fazer consensual às custas de um pobre diabo caído em desgraça.
A primeira solução ficou, portanto, imediatamente arrumada.
A segunda solução era cumprir a crónica desta quinta-feira sem considerações sobre o jogo da Selecção ou sobre qualquer outro jogo ou evento desportivo, ou mesmo escândalo judicial, considerando eu, do meu imbatível lugar sentado numa esplanada espanhola, que não havia nada de mais contundente, espirituoso e urgente para os leitores de A BOLA do que conhecer o menu proposto pela casa juntando-lhe eu a minha muito pessoal descrição sábia e vaporosa de uns quantos pratos que me mataram a fome.
É isso, é isso queremos! - gritam os leitores que, francamente, já preferem não importa que assunto a ter de ler mais uma página de alto a baixo a descansar no Paulo Bento.
Ganhou, portanto, a segunda solução. Cá vai. Da exibição do nosso renovado meio campo nada sei nem quero saber. Mas naquela hora de domingo à noite em Ayamonte podia garantir-vos que o tataki du atún con wasabi y encurtido de jengibre ganhava de largo a qualquer prato confeccionado pelo cozinheiro da Selecção Nacional.
E agora interrogo-me: será que a Selecção tem cozinheiro? Tem? Ah, então a culpa, está visto, é do cozinheiro. Há que substitui-lo com urgência. La vida es demasiado corta para beber vino malo, reza o cardápio da Puerta Ancha na contracapa. E reza muito bem. Por alguma razão já foram campeões do mundo.


Uma vez sem exemplo a falar de comida, é verdade, mas não por falta de assunto, nem por temor reverencial, muito menos por gula, Deus me livre, antes por deliberada falta de comparência, tal como ficou justificado.
No entanto, o tema alimentar, devo confessar, persegui-me durante a semana e coloco-o mesmo no cume da minha montanha de atenções neste primeiro terço de Setembro. E pelas melhores e mais felizes razões.
Então não é que o nosso Talisca, dizem os jornais já engordou cinco quilos em massa muscular desde que aterrou no Estádio da Luz? No Benfica, ao menos, temos cozinheiro."

Fonte: Leonor Pinhão @A Bola

Gustav Klimt - Retrato de Adele Bloch-Bauer I

Gustav Klimt (Baumgarten, Viena, 14 de julho de 1862 — Viena, 6 de fevereiro de 1918) foi um pintor simbolista austríaco. Estudou desenho ornamental na Escola de Artes Decorativas. Associado ao simbolismo, destacou-se dentro do movimento Art nouveau austríaco e foi um dos fundadores do movimento da Secessão de Viena, que recusava a tradição académica nas artes, e do seu jornal, Ver Sacrum.

Os seus maiores trabalhos incluem pinturas, murais, esboços e outros objetos de arte, muitos dos quais estão em exposição na Galeria da Secessão de Viena.

Em 1883, com a inauguração do novo edifício da Universidade de Viena, encomendou-se a Gustav Klimt uma série de painéis que descrevessem o triunfo da luz sobre as trevas. Os frescos deveriam ser alusivos às quatro faculdades: Teologia, Filosofia, Medicina e Jurisprudência. O primeiro painel, representando a Filosofia, foi de certa forma um choque. Em vez da descrição da Escola de Atenas, Platão ou Aristóteles, Klimt influenciado por Schopenhauer, representa o mundo como Vontade, em que os seres vagueiam. 

Em 1894, famoso como decorador de grandes edifícios culturais na Ringstraße, Klimt , junto com Matsch, foi encarregado pelo ministro da Educação, von Hartel, de criar os quadros para representar as alegorias das faculdades no salão nobre da universidade reconstruída na Ringstraße. Os quadros confiados à Klimt foram: A Medicina, A Filosofia e A Jurisprudência. Klimt rejeitou o tema desejado para os quadros - "A Vitória da Luz sobre a Obscuridade". Rejeitou a "glorificação das ciências racionais", diferindo, nas três composições, da "pintura histórica" em que ele próprio havia participado alguns anos antes. Coincidentemente, era o início da Secessão e os esboços, que iam pouco a pouco sendo expostos na Associação dos Artistas, provocaram um conflito que durou alguns anos.

A arte de Klimt não pretendia representar o papel racional e otimista da ciência universitária. Membros da faculdade colocaram-se contra os seus esquissos. A princípio, o ministro von Hartel ignorou a reação - protestos dos professores e ataques da imprensa conservadora - porém, a apresentação do projeto de Klimt para o segundo quadro (A Medicina) na "10ª Exposição da Secessão" (1901) reavivou a discussão. A ciência médica não estava ali representada segundo a corporação dos médicos. Nesta fase, Klimt revela a relação existente entre a cultura patriarcal e o elemento feminino, expõe a sua concepção do mundo como "…um protesto, uma contradição do passado, mas também como um projecto do futuro, de uma nova cultura feminina.". Juntamente com a corporação dos médicos, os meios estéticos dirigiam aos quadros de Klimt maldosas críticas contra a representação do nu, chegando a provocar o confisco de um número do Ver Sacrum, onde um projeto de A Medicina tinha sido publicado. O Ministério Público não viu razão para perseguir judicialmente a representação do nu, mas a reação pública com a exposição de A Medicina incomodou o "conselho imperial", que pretendia utilizar a arte como estratégia política. O ministro da educação, von Hartel, "protetor da Secessão", viu-se obrigado a justificar a encomenda do Estado e "…parece ter-se verdadeiramente convencido dessa responsabilidade." A nomeação de Klimt para o cargo de professor na Academia das Artes Decorativas é recusada pela primeira vez. Carl Schorske reputa à recusa a aparência agressiva do terceiro quadro, A Jurisprudência, sobretudo a partir das alterações que Klimt efetuou entre os esquissos e a versão definitiva. 

Retrato de Adele Bloch-Bauer I

Os quadros A Medicina, A Filosofia e A Jurisprudência foram retomados à força pelo Estado e, por fim, foram queimados na "Baixa Áustria", em maio de 1945, no Castelo de Immendorf que foi incendiado pelas tropas SS em retirada. 





segunda-feira, setembro 08, 2014

domingo, setembro 07, 2014

Manuel Freire - Pedra Filosofal



Eles não sabem que o sonho
É uma constante da vida
Tão concreta e definida
Como outra coisa qualquer

Como esta pedra cinzenta
Em que me sento e descanso
Como este ribeiro manso
Em serenos sobressaltos

Como estes pinheiros altos
Que em verde e oiro se agitam
Como estas aves que gritam
Em bebedeiras de azul

Eles não sabem que sonho
É vinho, é espuma, é fermento
Bichinho alacre e sedento
De focinho pontiagudo
Em perpétuo movimento

Eles não sabem que o sonho
É tela, é cor, é pincel
Base, fuste ou capitel
Arco em ogiva, vitral,
Pináculo de catedral,
Contraponto, sinfonia,
Máscara grega, magia,
Que é retorta de alquimista

Mapa do mundo distante
Rosa dos ventos, infante
Caravela quinhentista
Que é cabo da boa-esperança

Ouro, canela, marfim
Florete de espadachim
Bastidor, passo de dança
Columbina e arlequim

Passarola voadora
Pára-raios, locomotiva
Barco de proa festiva
Alto-forno, geradora

Cisão do átomo, radar
Ultra-som, televisão
Desembarque em foguetão
Na superfície lunar

Eles não sabem nem sonham
Que o sonho comanda a vida
E que sempre que o homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos duma criança

Interprete: Manuel Freire
Musica: Pedra Filosofal

sexta-feira, setembro 05, 2014

Artur e as lesões propriamente ditas

"Se Jesus defendesse serem os padecimentos da mente tão reais quanto os padecimentos do físico, não hesitaria em lançar Júlio César na segunda parte do 'derby'."

Com simpatia, humanidade e devoção, os comentadores do Benfica TV, estação que transmitiu o derby da Luz, não cessaram de vislumbrar qualidades e talento, em suma, apetência para o lugar, em todas as intervenções do nosso guarda-redes depois daquele seu fatídico lapso que resultou no golo do empate do Sporting.
As subsequentes fífias, e foram algumas, passaram pudicamente sem criticismo e as mais simples operações do guardião foram profusamente elogiadas como se tratassem de acções só ao alcance de um predestinado.
Ao contrário de Artur, de facto um predestinado, os comentadores da Benfica TV cumpriram com o seu trabalho missionário sem mácula. E, mais do que uma vez ao longo da emissão, alertaram para a necessidade de «dar moral», de «recuperar o ânimo», de «fazer esquecer», enfim, de tratar com carinho o guarda-redes que só podia estar a passar um mau bocado, mentalmente de rastos, depois de ter oferecido o golo a Slimani.
Como eu os compreendo, os comentadores da Benfica TV. Com 70 minutos ainda por jogar era da maior conveniência a tal benesse caritativa de «dar moral» a Artur ainda que ele não os pudesse ouvir.
O que Artur ouviu, de facto, ouvimos todos nós. Os que foram ao estádio e os que ficaram em casa em frente ao televisor. A crueldade do público, dos vermelhos e dos verdes, manifestou-se ininterruptamente a cada intervenção do guarda-redes do Benfica. E mesmo quando, bem perto do fim do jogo, Artur fez, efectivamente uma grande defesa salvando o empate, esgotado de tanto o achincalhar, o público afecto ao Benfica reagiu com um fleumático «era o mínimo exigível» que não antecipa nada de bom na relação entre o guarda-redes e os adeptos.
Neste arranque da temporada de 2014/2015, e estando frescas as memórias de Oblak, as similitudes do presente caso Artur com o caso Roberto, não tão distante assim, são tantas que nem vale a pena perder tempo a apontá-las.
A questão é que o Benfica, que luta para conquistar títulos, não pode recair no logro auto-infligido de ter um guarda-redes que é um caso, ou não é? Basta que a bola ronde a sua área para que o público se arrepele de nervos e para que os seus colegas de equipa, solidários, entrem em colapso orgânico perdendo o discernimento e o resto.
Foi isto que se viu no domingo na Luz.
E a tal ponto que mesmo alguns benfiquistas que se exasperaram com a contratação de Júlio César por ter sido o guarda-redes mais batido do último Mundial, quase exigiam, quando chegou o intervalo, que Jorge Jesus deixasse Artur no duche e fizesse a equipa regressar ao relvado com o titular da selecção do Brasil entre os postes, o que não veio a suceder, no mínimo por razões humanitárias.
O treinador do Benfica fez valer na sua decisão a corrente da antipsiquiatria que se recusa a definir os males morais e mentais como doenças propriamente ditas, enfim, como males do corpo. E, por isso, Artur continuou em campo até ao fim do jogo e, não é demais repetir, até salvou o resultado à beira do fim.
Se Artur se tivesse aleijado fisicamente num braço, numa mão, numa perna seria naturalmente substituído, tal como aconteceu na temporada passada quando, em Dezembro, caiu desamparado em Olhão magoou um ombro e cedeu o lugar a Oblak que não mais largou a posição até à última final da brilhantíssima época.
Se o treinador do Benfica concordasse com a corrente que defende serem os padecimentos da mente tão reais quanto o são os padecimentos do físico, não teria hesitado em lançar Júlio César na segunda parte do derby considerando que Artur, de facto, estava tão magoado quanto o está, por exemplo, Rúben Amorim. 
Podemos divagar tempos infinitos sobre este assunto. Há até quem acredite que Artur está mais lesionado do que Ruben Amorim. Sobre o tema, podemos mudar as vezes que quisermos de opinião. Jorge Jesus, por ser o treinador, é que não hesitou e Artur regressou depois do intervalo à baliza do Benfica.
Postas como estavam as modas, o treinador não quis correr o risco de, no mesmo jogo, queimar dois guarda-redes, o que seria duplamente lastimável.
Analisados os factos com frieza, é esta a minha opinião sobre o caso Artur no seu esplendor. Não será, certamente, uma opinião abalizada. Aliás, agradeço que nem me falem mais em balizas.



Nico Gaitán vem desenvolvendo o hábito de marcar golos ao Sporting mas, de facto, neste aliciante pormenor, Nico Gaitán ainda não é nenhum Óscar Cardozo. Embora para lá caminhe, isto se permanecer mais alguns anos no Benfica, obviamente.
No domingo à noite muitos devem ter sido os benfiquistas assobiadores do Cardozo que tiveram saudades do paraguaio que tinha o condão de perturbar Rui Patrício, só de o ver por perto. Sem Cardozo em campo, o guarda-redes do Sporting assinou uma atuação consistente e, por diversas vezes, salvou a sua equipa de situações de muito apuro.
Não me entendam mal. O Cardozo, a quem os benfiquistas muito devem mesmo contrariados, saiu na altura certa, pelo preço certo. Na sua última temporada entre nós, recorde-se, pouco fez de relevante para além de um hat-trick a Rui Patrício (lá está!) numa eliminatória ainda precoce da Taça de Portugal, troféu que o Benfica viria a ganhar.
Mas que ao Benfica faz falta não o Cardozo mas um Cardozo, ai isso faz. Vai ter de ser inventado, ai isso vai.


Pelas mesmas razões, depreende-se, os adeptos do AC Milan estão tão chocados com a saída do jovem Bryan Cristante para o Benfica como os adeptos do Benfica estão chocados com a saída do jovem Bernardo Silva para o Mónaco.
Aguardemos serenamente pelos resultados práticos destas duas operações. Para depois termos opinião. 


Começou Setembro. Até ao fim do ano vão quatro meses. Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro. O Enzo Pérez sairá em Janeiro. Já percebemos. Não é preciso repetir e repetir e repetir.


Agora um bocadinho de literatura. A propósito de Bella Guttmann e do episódio da sua inóspita saída do FC Porto mal tinha o mítico treinador acabado de festejar nas Antas o título de campeão nacional de 1958/1959.
Guttmann deu um título nacional ao FC Porto e, surpreendentemente, mudou-se para o Benfica, a conselho médico, na urgência de fugir à humidade da cidade Invicta. Terá sido por causa do reumatismo que afligia a mulher do treinador que o Benfica acabou por receber em Lisboa o húngaro que lhe marcou uma era ao sol.
No Porto, naturalmente, a justificação do esposo dedicado nunca foi aceite como razoável. Antes pelo contrário, a desculpa da humidade foi interpretada como insultuosa artimanha para a deserção. E com bastos motivos para tal, convenhamos.
Por causa da humidade… onde é que já se viu uma coisa destas?
E é aqui que entra o prometido bocadinho de literatura. No volume II das suas Memórias, o escritor Raúl Brandão, recordando as circunstâncias da morte do poeta Guerra Junqueiro, avança com este pormenor: «Foi então que o médico interveio, aconselhando-o a mudar-se, durante algum tempo, para Lisboa, porque a humidade do Porto lhe estava a prejudicar a saúde.»
Ora aqui está outro conselho clínico da mesma índole do que fez viajar Bella Guttmann do Porto para Lisboa no ano de 1959. Que se saiba, não sofreu revezes na Capital a saúde da mulher do treinador húngaro. Já da saúde e do estado de espírito de Guerra Junqueiro não se poderá dizer a mesma coisa.
Para mais esclarecimentos voltemos às Memórias de Raúl Brandão:
«Trouxeram-no para Lisboa para casa da filha e do genro, mas ele, frequentemente, dizia:
- Levem-me para o Porto! Quero morrer no Porto!»
Não levaram o poeta para o Porto. Morreu em Lisboa num dia de Julho de 1923.
Ao contrário de Guerra Junqueiro, Bella Guttmann voltaria ao Porto, provavelmente já viúvo, mas ainda muito saudável, com a provecta idade de 73 anos para treinar, na temporada de 1973/1974 o emblema de que desertara catorze anos antes.
Tal como Guerra Junqueiro, Guttmann também não morreu na Invicta mas foi aí que acabou, sem glória, a sua gloriosa carreira."

Fonte: Leonor Pinhão @A Bola

Desporto de fim de semana - 2024/03/16

Sábado, 2024/03/16  - 14:00 - Futebol - Fc Penafiel -v- SL Benfica B - Liga Portugal 2 | 23/24 - Jornada 26  - 15:00 - Basquetebol - SL Ben...