sexta-feira, maio 16, 2014

Sacana do homem (e quatro cartas fora do baralho)

Sábado, 10 de Maio
O Benfica chegou hoje ao Porto já campeão com 16 pontos de avanço sobre os donos da casa e na adorável perspetiva de terminar a prova com os mesmos 16 pontos de avanço sobre o grande rival, ou com 19 pontos, ou com 13 pontos, que foi precisamente o que acabou por acontecer.
O Benfica jogou no Dragão pelo seguro, sabendo que tem uma final europeia à porta deixou os seus titulares em sossego e apresentou-se com uma mescla de jogadores menos utilizados da equipa A com jogadores mais utilizados da equipa B que, de uma maneira geral, fizeram boa figura.
O FC Porto também jogou pelo seguro, guardando Kelvin no banco até aos minutos finais da partida de modo a causar um frisson de cariz nostálgico quando foi lançado para o jogo.
O árbitro ainda mais jogou pelo seguro. Ao contrário dos seus predecessores em clássicos não se atreveu a expulsar nenhum jogador do Benfica antes da meia hora de jogo (nem depois), não fosse a coisa dar para o torto, e optou por descortinar uma grande penalidade à beira do intervalo que, concretizada por Jackson, permitiu ao FC Porto ganhar o jogo com todo o mérito.
Como nota final deste dia impõe-se dar os parabéns ao Sporting de Braga, conquistador do título nacional de futebol júnior.

Domingo, 11 de Maio
Chegou hoje ao fim o campeonato. A última jornada apenas serviu para ditar quem desce (o Olhanense) e quem ainda tem direito a discutir a permanência (o Paços de Ferreira) numa liguilha com o Desportivo das Aves. Foi do céu ao inferno a trajetória do Paços de Ferreira no espaço de um ano. É caso para se dizer que as parcerias abençoadas já não são o que eram.
O segundo classificado do campeonato principal, o Sporting, despediu-se do seu público com uma derrota frente ao Estoril de Marco Silva, apontado como sucessor de Leonardo Jardim dando-se o caso de o treinador madeirense seguir para o estrangeiro como noticia insistentemente a imprensa.
Nada melhor do que esperar para ver. As agências de comunicação andam meias doidas neste final de temporada quase fazendo gala em apostar no cavalo errado de modo sistemático e pouco inocente. O caso de Jorge Mendes tem sido o mais flagrante, o que não deixa de ser muito curioso. 
O nome de Mendes tem sido associado festivamente à contratação do novo treinador do FC Porto à laia de carimbo de autenticidade da tão ansiada parceria com a SAD do Dragão com o super-empresário desavindo. Parece que, afinal, as coisas não são bem assim.
À falta de argumentos, Mendes passou a ser a justificação filosófica e prática para o triunfo do Benfica nesta última Liga. Tal como em 2009/2010 o título do Benfica foi por causa do “túnel”, este título de 2013/2014 foi por causa da ligação do empresário a Vieira. Temos assim Jorge Mendes como novo “túnel”, o que tem a sua graça.
Já a meio da época, quando as coisas começaram a correr mal para o FC Porto, surgiram notícias dando conta da reaproximação de um outro empresário, José Veiga, ao FC Porto graças à sua relação pessoal com o filho do presidente. Também à falta de argumentos dos adversários, o campeonato conquistado pelo Benfica em 2004/2005 foi batizado como o “campeonato do José Veiga”, à época director do futebol benfiquista. 
Curiosos sintomas, estes falsos ou verdadeiros, à vontade do freguês, namoros com super-agentes.
Voltemos a Alvalade e ao jogo de despedida do Sporting que, em termos do resultado, não correu bem porque, perdendo, encerraram-se as contas com 7 pontos de desvantagem em relação ao campeão impedindo, um bocadinho, a celebração do título da verdade desportiva.
Houve benfiquistas que se indignaram, também um bocadinho, com as faixas em Alvalade em apoio do Sevilha. Não é justo que se indignem, nem um bocadinho, porque são coisas que acontecem em todas as cores e em todos os países. Se, por exemplo recente, soubemos apreciar o apoio dos adeptos do Torino na meia-final com a Juventus, que espécie de estatuto moral há para criticar os sportinguistas que ambicionam a vitória andaluza na final da Liga Europa?
Em 2004, quando o Benfica venceu o FC Porto na final da Taça de Portugal houve faixas no Jamor desejando boa sorte ao Mónaco, com quem o FC Porto iria jogar dali a poucos dias a final da Liga dos Campeões. 
Em 2009, quando o Sporting foi trucidado pelo Bayern de Munique, houve cartazes na Luz dando graças aos alemães. Lembram-se?
Nada mais natural do que estes desamores. Uma coisa é certa e para todas as cores, incluindo as nossas. É ser triste e pequenino, quando não se tem vida própria, viver a vida dos outros.

Segunda-feira, 12 de Maio
Soube-se hoje o nome de quem vai apitar no domingo a final da Taça de Portugal. É Carlos Xistra que, ao longo de uma profícua carreira, acumula actuações de bradar aos céus com actuações de bradar aos infernos. Isto conforme os gostos e conveniências, naturalmente.

Terça-feira, 13 de Maio
Paulo Bento tornou pública a sua lista de pré-convocados para o Mundial. Os dois Andrés, Ruben Amorim e Ivan Cavaleiro constam do rol. Ricardo Quaresma também e é da mais elementar justiça. Do lado dos nossos vizinhos da Segunda Circular chora-se as ausências de Cédric e de Adrien. Tudo isto vai dar muita discussão mas hoje a imprensa ocupou-se mais da viagem para Turim de milhares de benfiquistas do que destas “menoridade” nacionais.
Faltam 24 horas para final e, pensando bem, o Benfica deve esta sua décima final europeia ao seu ex-guarda-redes Roberto. Explicando-me melhor: foi Roberto, ao serviço do Olympiakos, com duas exibições extraordinárias – ele que tão pouco extraordinário se mostrou ao serviço do Benfica – quem colocou a equipa de Jesus na rota da Liga Europa afastando-a da Liga dos Campeões e dos grandes tubarões.
E é de duvidar que o Benfica tivesse chegado à final da Liga dos Campeões, que é outra música, se por lá tivesse permanecido. Enfim, nunca se sabe, mas…

Quarta-feira, 14 de Maio
Sacana do homem. 
Não, não me refiro ao austro-húngaro Bella Guttman, que não tem culpa nenhuma, mas sim ao alemão que nos calhou em sorte para arbitrar a final com o Sevilha. Fez um trabalho hostil ao Benfica, sobre isso nem haverá dúvidas.
No entanto, tivesse o Benfica podido contar com o seu meio-campo titular e com os seus alas mais rápidos – e foram logo quatro cartas fora do baralho – é de crer que nem o mais inspirado sacana do apito conseguiria levar o jogo para a decisão por grandes penalidades como acabou por suceder.
O Sevilha fez os trinta minutos extra a pensar nos penaltis e o Benfica fez os mesmos trinta minutos a pensar, certamente, na imensa quantidade de situações de golo de que dispôs e que tão desastradamente foram concluídas nos primeiros noventa minutos.

Foi azar? Foi, sem dúvida que foi. 

Bateram-se bem? Nada a apontar.

Foi o Guttman? Nem pensem nisso.

Voltaremos em breve? Voltaremos.


Fonte: Leonor Pinhão @ A Bola

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