No fim da temporada em que se sagrou bicampeão nacional, feito suado que não acontecia há mais de três décadas, o Benfica prescindiu magnanimamente dos serviços do seu treinador. Não lhe faziam mais falta essas pitorescas capacidades alheias que tinham por hábito dirigir a equipa de futebol.
Na realidade, todos os proventos adquiridos nos últimos anos se ficaram a dever à "estrutura". Mas afinal o que é a "estrutura"? Será, porventura, uma espécie de central de inteligência altamente especializada na matéria inoculada em míticos templos da sabedoria futebolística como são os palácios, os ministérios da governação pública, os escritórios de advogados e os sempre frenéticos estúdios de televisão.
Bastaram duas lamentáveis derrotas frente ao rival para que a nação benfiquista fosse oficialmente informada de que o treinador, seja ele qual for, continua a ser uma figura meramente decorativa da casa e que o que continua a valer, para o bem ou para o mal, é a famosa central de "know-how".
Rui Gomes da Silva, que curiosamente ainda é vice-presidente do Benfica, veio a público explicar que o problema maior reside no "aburguesamento da estrutura". Ora sendo o Benfica um clube eminentemente popular, estes aburguesamentos são contra a sua natureza e só podem ter um custo elevado. É no que dá desprezar o operariado.
Outro Rui, este Vitória, no mero papel de figurante face à estrutural omnipotência residente, foi na mesma alocução mortalmente defendido pelo primeiro Rui, o Gomes da Silva. Isto porque se Rui Vitória capitulou na conversa, ficámos a saber, foi porque lhe falhou "o aconselhamento para as conferências de imprensa", sem o qual o treinador não sabe o que dizer. Ficou, no entanto, por confirmar se foi a estrutura que aconselhou o treinador a substituir um defesa-esquerdo por um médio defensivo quando se viu a perder por 3-0 ou se foi coisa da sua cabeça.
O terceiro Rui do Benfica é o Costa e, para mal dos seus pecados, vem diretamente do operariado. Está agora em maus lençóis porque o anterior treinador, vingativo, resolveu apontá-lo como "a única pessoa que percebe de futebol na estrutura do Benfica". Ora um atributo destes é verdadeiramente alarmante.
Outras histórias
Estão preparados para o próximo dérbi?
Foi tão explosivo o último dérbi – quer nas circunstâncias em que ocorreu, quer no resultado com que terminou – que uma pessoa é quase levada a esquecer que vem já aí outro dérbi, desta vez a contar para a 4ª eliminatória da Taça de Portugal.
Está o reencontro marcado oficialmente para o dia 22 de novembro e até lá muita coisa pode acontecer. Pode, por exemplo, o presidente do Sporting já estar preso e condenado a 20 anos de cárcere – segundo as suas próprias contas dando-se o caso de se vir a descobrir que dá de comer aos árbitros –, ou pode o Benfica apresentar-se em Alvalade na condição de equipa do escalão secundário, dando-se o caso de vingar na justiça a exigência formal do presidente do Sporting que quer ver o Benfica relegado para a II divisão.
Em função do historial da Taça, convirá mais ao Benfica deslocar-se até ao campo do rival interiorizando o seu novo estatuto de equipa da II divisão. Há que fazer fé no velho sortilégio dos "tomba-gigantes" inerente à competição. Isso e marcar golos.
Sobe e Desce
Sobe: Jorge Jesus - Modéstia à parte
Terminado o dérbi, bastou-lhe um pequeno gesto para o treinador do Sporting ilustrar bem a má exibição da sua antiga equipa.
Fly Emirates - Competentes no relvado
A coreografia das hospedeiras da Fly Emirates no relvado da Luz foi a única competência do Benfica na tarde de domingo.
Desce:
Águia Vitória - Violência animal
Um adepto do Benfica saiu da Luz com os óculos partidos graças a um golpe de asa da águia Vitória. Foi o incidente da tarde.
Pérola:
"Se fosse o Sporting a dar 120 jantares eu já devia estar preso para aí 20 anos", Bruno de Carvalho
Fonte: Leonor Pinhão @ Correio da Manha
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