sábado, fevereiro 02, 2019

O meu nome é OGRUNAP

A publicação da auditoria realizada à gestão da Caixa é uma vergonha. Não para aqueles que integram a lista de devedores, mas para mim. Várias pessoas conseguiram sair da crise financeira a dever dinheiro a um banco. Eu saí com um banco a dever-me dinheiro a mim. É mais uma prova de que não percebo nada de finanças. Nem de literatura. Panurgo, o amigo de Pantagruel na história de Rabelais, explana uma teoria muito interessante a certa altura do terceiro livro. Diz ele, para mim um tanto contra-intuitivamente, que encher-se de dívidas é o melhor modo de viver. E justifica: os credores rezam todos os dias pela nossa saúde, zelam pela nossa reputação dizendo bem de nós nas nossas costas, tentam convencer mais gente a emprestar-nos dinheiro, para poderem recuperar o deles.

A lista de grandes devedores da Caixa é composta por fulgurantes Panurgos, e eu sou o seu rigoroso inverso: um Ogrunap – personagem que a literatura tem ignorado. Mas não devia, uma vez que a história dos parvos também merece ser contada. Sempre que pedi meia dúzia de tostões emprestados a um banco fui obrigado a andar numa passadeira, para fazer uma prova de esforço. E também avaliaram a minha taxa de esforço, para descobrir se eu ganhava dinheiro suficiente para pagar o empréstimo. Verificaram se eu era capaz de fazer o esforço de trabalhar para depois poder fazer o esforço de pagar. Fizeram-me análises, perguntaram-me se fumava, se bebia, se tinha diabetes, asma, alergia ao pólen. No fim, não totalmente convencidos, pareceu-me, emprestaram-me o dinheiro. E foram exigindo pontualmente o pagamento mensal. O que me surpreende mais é olhar para os proprietários das empresas que devem milhões à Caixa e ver bastantes pançudos. De que desempenho atlético foram capazes na passadeira para terem conseguido contrair empréstimos deste valor? Que saúde de ferro revelaram as suas análises clínicas para lhes emprestarem montantes tamanhos? De uma coisa não há dúvida: esta gente percebe de finanças. A quem não percebe nada, como eu, os bancos ficam a dever. Estes livram-se de pagar milhares de milhões como outros se livraram de pagar uma libra de carne. Se fosse comigo, ter-me-iam ficado com a carne toda.



Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ visão

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