sábado, maio 13, 2017

Ai que horror: uma piada

Quando é alvo de uma piada na televisão, Donald Trump vai choramingar para o Twitter. Esse encantador traço de personalidade tem duas consequências óbvias: primeiro, faz com que ele passe mesmo muito tempo no Twitter; segundo, leva-o a não comparecer ao jantar dos correspondentes da Casa Branca – uma cerimónia anual em que os presidentes dos Estados Unidos reúnem os jornalistas numa sala e tradicionalmente fingem que gostam deles. Pela primeira vez em muito tempo, o Presidente faltou ao jantar. O último presidente a fazê-lo fora Ronald Reagan, em 1981, que na altura apresentou uma desculpa bastante boa: tinha acabado de levar um tiro. Mesmo assim, acabou por discursar na mesma, por telefone. Eu não tinha nenhuma simpatia política por Reagan, mas há qualquer coisa no sentido de humor que nos aproxima até de adversários, e há também qualquer coisa na falta de sentido de humor que nos repele até em amigos. Donald Trump faz linha no bingo da repugnância, na medida em que é politicamente abjecto e tem um sentido de humor que faz Cavaco Silva parecer Groucho Marx.

Enquanto decorria o jantar, Trump estava noutro ponto do país a discursar em mais um daqueles comícios que ninguém percebe se ainda pertencem à campanha eleitoral anterior ou se já fazem parte da próxima. Não podendo gabar-se de ter cumprido qualquer das suas promessas (e, tendo em conta as promessas em causa, o mais apropriado seria gabar--se de não as ter cumprido), Trump gabou-
-se de ter cunhado uma expressão agora popular: “fake news”. Talvez essa tenha sido a única ocasião em que Trump cedeu à modéstia: ele não inventou apenas a expressão “notícia falsa”, ele parece uma notícia falsa. Já passaram 100 dias e eu ainda não acredito. Continuo convencido de que é a partida mais estúpida de sempre. Um hoax. Acredito que os americanos tenham ido à Lua. Ainda tenho dúvidas que tenham eleito Donald Trump.

Hasan Minhaj, o humorista convidado para discursar no jantar, lembrou que o alicerce de uma sociedade aberta é a liberdade de expressão, e lamentou que o presidente não estivesse presente para celebrá-la. Bem sei que colocar o mundo às avessas tem um potencial humorístico muito grande. Mas é uma operação para se levar a cabo com parcimónia. Viver num planeta em que o presidente da maior potência mundial é um palhaço e os palhaços exibem sentido de Estado é estar permanentemente de cabeça para baixo. Começo a sentir o sangue a latejar nas têmporas. Ponham tudo como estava, por favor.



Fonte: Ricardo Araujo Pereira @ Visão


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