sábado, fevereiro 18, 2017

Ederson matou a lenda

O Benfica ganhou ao Borússia Dortmund. Lutou que se fartou e teve uma sorte danada. E um guarda-redes do outro mundo. Dizem os mais velhos que não se lembram de ver o Benfica ser tão magnífica e generosamente abençoado pelos deuses da fortuna num jogo internacional desde o distantíssimo ano de 1961, quando, em Berna, a equipa das águias de Lisboa, comandada por Bélla Guttmann, venceu o infinitamente superior Barcelona de Kubala & Companhia na assombrosa final da Taça dos Campeões Europeus. 

Aconteceu há 56 anos, e o resultado foi 3-2 a favor da equipa portuguesa, que beneficiou de um autogolo dos catalães, de umas quantas bolas nos postes na baliza de Costa Pereira e, como se não bastasse, beneficiou ainda da trajetória inacreditável de uma bola que, percorrendo obedientemente e em toda a extensão a linha de golo da baliza encarnada, acabou por, mais obedientemente ainda, voltar para trás para as mãos do guardião do Benfica. 

Dizem os que viveram esse jogo que foi tanta a sorte perante o super-Barcelona de 1961 que o Benfica teve de pagar no meio século seguinte a fatura desse abuso da bondade divina que lhe permitiu conquistar a sua primeira prova europeia. 

E, de facto, o número de finais europeias perdidas pelo Benfica, bem como alguns pormenores dessas e de outras campanhas infaustas – o ‘frango’ de Costa Pereira em Milão, a lesão de Coluna em Wembley, a eliminação por moeda ao ar frente ao Celtic, os penáltis de Estugarda e de Sevilha, o golo sofrido nos descontos em Turim e tantos outros azares… - pareciam dar razão à lenda de que o Benfica tinha gasto num só jogo toda a sorte que lhe caberia normalmente em mais de meio século de competições internacionais. 

Esta saga castigadora deu-se por encerrada na noite da última terça-feira. Não é que, longe disso, o Benfica tenha garantido com esta tangencial vitória sobre a poderosa equipa alemã o bilhete para os ‘quartos’ da Liga dos Campeões. Antes pelo contrário, avizinha-se um reencontro temível a 8 de março, porque o Dortmund só pode estar sedento de vingança contra "o ridículo" que lhe assombrou a última terça-feira. 

A questão que se coloca é a de saber se conseguirá Ederson repetir na Alemanha as coisas mirabolantes que fez na Luz. Ederson, que defendeu tudo o que lhe apareceu pela frente e que no fim do jogo ainda se atreveu a encher de ilusões os adeptos, afirmando que o seu sonho é "fazer história no Benfica como fez o Luisão". Referia-se, certamente, aos 500 jogos que o capitão cumpriu de águia ao peito. 

A acontecer uma coisa destas, teremos Ederson na baliza do Benfica por mais uns 450 jogos. Mas nisto já ninguém acredita. Seria sorte demais. 



No capítulo do futebolês, não há maior criativo em Portugal 
Em qualquer parte do mundo o futebol tem a sua linguagem e Portugal não foge à regra que autoriza a invenção de palavras e de expressões que logo ficam no ouvido e nos manuais da especialidade. Pimenta Machado será o autor da frase mais emblemática de sempre, quando se saiu com aquele "no futebol o que hoje é verdade, amanhã é mentira". 

Foi já há muito tempo, mas vale como nunca. Também Jorge Jesus, atual treinador do Sporting, tem dado o seu contributo para o léxico e, só por isso, merece ser distinguido entre os demais. Foi ele que transpôs da ginástica para o futebol a expressão "nota artística" no tempo em que lidava diariamente com Aimar e Saviola e é também da sua autoria o mais recente neologismo do nosso futebol: a "cotovelite" que empregou para descrever a inveja que alguns sentem da sua carreira ou do seu vencimento mensal. 

Jesus não conseguiu inventar Bernardo Silva como lateral-esquerdo, mas no capítulo do futebolês, não há maior criativo em Portugal.


Fonte: Leonor Pinhão @ correio da manha


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