sábado, janeiro 21, 2017

Numa bandeja de prata

A Jorge Jesus, posto em blackout pelo seu avisado patrão nas vésperas da dupla jornada transmontana, só se lhe ouviu a voz por uma vez nesta última semana e não foi, obviamente, para tecer comentários ao frio que se fazia sentir no nordeste. Nem, muito menos, foi para explicar a decisão de tirar Bas Dost nos minutos finais do jogo que contava para o campeonato ou para confessar aos jornalistas o que lhe vai na alma depois de ter lido – certamente leu – as notícias veiculadas pela imprensa desportiva e generalista dando conta de que o treinador do Sporting só não será despedido sem direito a indemnização neste mês de janeiro porque se recusou, liminarmente, a aceitar aquela alínea do contrato que autorizaria o presidente do Sporting a mandá-lo embora se, à entrada para a segunda volta, a classificação da equipa de futebol se quedasse por um inaceitável quarto lugar. 

Obediente, pacato e bem aconselhado, Jesus respeitou o blackout que lhe fora exclusivamente dirigido e só abriu uma exceção para matar saudades conversando, sorridentemente, com um adepto do Benfica que lhe apareceu pela frente em Vila Pouca de Aguiar no fim de um treino entre os dois jogos do Sporting com o Chaves. 

A boa disposição de Jorge Jesus no bate-papo com um "inimigo" pode ter chocado as almas sportinguistas mais sensíveis mas a verdade é que o treinador não desrespeitou o silêncio que lhe estava imposto por obrigação contratual. Este blackout, sendo uma decisão do Sporting sobre questões relativas ao próprio Sporting, não podia de modo algum ser extensível ao Benfica e à passagem de Jesus pelo Benfica. 

Não resistiu, assim, Jesus a voltar ao tema da sua predileção entre abraços com um adepto do Benfica que, atrevendo-se a elogiar Rui Vitória na cara do atual treinador do Sporting, ouviu deste a resposta típica de um ego inflamado que ainda não digeriu nem aceitou o facto de ter visto os seus serviços dispensados pelo anterior patrão: "Fui eu que vos ensinei a ganhar!", disse. E depois dirigiu-se ligeiro para o balneário onde a triste equipa do Sporting já se encontrava a banhos. 

O remoque do seu ex-treinador suscitou entre os benfiquistas um rol de graçolas inevitáveis sobre o vazio do palmarés de Jesus antes de chegar à Luz mas não pode ter agradado aos adeptos do Sporting que, eventualmente, exigirão ao seu atual funcionário uma concentração exclusiva nos assuntos da casa. E como a frustração gera crueldade, começam a ser muitas as vozes que veem no gesto de Luís Filipe Vieira, que entregou Jesus ao rival numa bandeja de prata, um ato genial de gestão e de estratégia. E de maldade.


Fonte: Leonor Pinhão @ correio da manha


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