Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito há quatro dias e já é o melhor Presidente da República dos últimos 10 anos. O professor sempre foi conhecido por ser um estratega habilidoso, mas esta manobra foi especialmente astuta. Suceder a Cavaco Silva na presidência é como casar em segundas núpcias com a Tina Turner. Depois daquele primeiro marido, qualquer homem é um príncipe.
Cavaco e Marcelo são parecidíssimos, e no entanto Marcelo consegue ser o anti-Cavaco. É uma proeza notável. Marcelo abdicou de ser comentador político na estação televisiva com mais audiência para ocupar um cargo muito menos importante. Foi perder dinheiro, prestígio e poder.
Ser Presidente da República é um sacrifício para ele. A presidência de Cavaco foi um sacrifício para nós.São o rigoroso oposto um do outro.
Cavaco criava tabus e recusava responder a certas perguntas; Marcelo faz questão de responder até a questões que não lhe foram colocadas. Um não lê jornais; o outro foi jornalista. Um faltou ao funeral do prémio Nobel; o outro recomenda livros de pessoas que nem os jogos florais das Caldas da Rainha ganharam. Um rejeita estar na companhia de comunistas, mesmo que já tenham morrido; o outro vai à Festa do Avante! Um não dorme; o outro é soporífero. Um ajudou a escrever a Constituição; o outro deu muitas vezes a sensação de nunca a ter lido. Um é filho de uma grande figura do Estado Novo; o outro podia ter sido uma grande figura do Estado Novo.
Marcelo quis referendar o aborto; agora, Cavaco deseja reverter o resultado do referendo. Há 20 anos, Marcelo parecia retrógrado; hoje é um jovem desempoeirado. Cavaco é botox ideológico. Por causa de Cavaco, Marcelo é o primeiro conservador de 67 anos de quem se espera que seja uma lufada de ar fresco. Ambos presidiram ao mesmo partido de centro-direita mas, junto de Cavaco, Marcelo é o Che Guevara. Cavaco é um milagroso elixir da juventude.
É uma pessoa junto da qual dá gosto tirar fotografias, porque rejuvenesce os outros.
Fonte: Ricardo Araujo Pereira @ Visão
Sem comentários:
Enviar um comentário