domingo, dezembro 27, 2015

Anestesia linguística

Dois anos depois, consegui tirar o número da minha avó da lista de contactos do telemóvel.

Nem só quem foi à guerra sabe o que é coragem.

Para custar menos, primeiro mudei o idioma do telefone para inglês. Entre "Delete entry 'Avó'?" e "Apagar 'Avó'?", tenho menos dificuldade em responder afirmativamente à primeira pergunta.

Toda a gente já percebeu que a vida, em inglês, é mais fácil. As coisas passam a ser outras coisas, embora continuem a ser as mesmas. Um CEO é um patrão, mas ao mesmo tempo não é. É mais difícil contestar as decisões de um CEO, dado que, em princípio, ele terá um MBA. Como é evidente, esse know-how permite-lhe saber mais, em termos de management, do que os outros sobretudo, do que as pessoas que ainda pensam em português. Daí que toda a gente se sinta habilitada a contestar os despedimentos impostos por um patrão, mas ninguém se atreva a criticar um downsizing determinado por um CEO. Numa canção de 1974 chamada "O patrão e nós", Fausto diz do patrão que e cito "não faz falta e é cabrão". É impensável dizer o mesmo de um CEO, até porque quase nada rima com ci i âu.

Beber um copo a seguir ao trabalho não será mau de todo, mas a sugestão de álcool está demasiado presente, por causa do copo, e a referência ao trabalho é inestética, além de antiquada. Quem trabalha são os trabalhadores, e não há trabalhadores desde a Revolução Industrial. Há project managers, web designers, sales assistants e controllers. Esta gente não vai beber um copo a seguir ao trabalho. Vai a um sunset. Haverá copos, mas são de cocktail. Dentro dos copos haverá bebidas brancas, mas também pepino, tomate cherry, morangos. É o antigo álcool, mas também é a moderna salada.

Ninguém dá crédito nem atenção a um grupo de pessoas que esteja a tentar começar um negócio, a ver se pega. Mas se o mesmo grupo de pessoas se dedicar a montar uma start up, será convidado a integrar uma incubadora, com vista à formação de clusters estratégicos que contribuam para a federação de players. Se resultar, a start up fará uma operação de recruiting. Mas é certo que acabará por preterir as pessoas que se candidatarem, em detrimento das que fizerem um pitch. Ninguém triunfa com uma mentalidade. O mundo é dos que possuem um mindset.

Fonte: Ricardo Araújo Pereira@Visão

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