quinta-feira, outubro 15, 2015

Análise e interpretação dos resultados eleitorais

Uma antiga má vontade contra as humanidades tinha um lema: "Letras são tretas". O argumento era o seguinte: ao passo que os números não deixam margem para interpretações, um leitor pode dizer de um poema, por exemplo, o que lhe apetecer. Esta semana ficou mais claro do que nunca que este argumento não é verdadeiro. Ninguém pode dizer que Os Lusíadas contam a história de três porquinhos que procuram construir casas para se protegerem de um lobo malvado. Mas, após estudo minucioso dos resultados eleitorais, os líderes dos principais partidos concluíram, todos, que tinham vencido as eleições. "Números são tretas", pode agora dizer, com propriedade, um estudante de letras.

No entanto, o principal debate político do dia das eleições ocorreu em Setúbal. Um eleitor dirigiu-se a uma assembleia de voto e foi impedido de votar porque os cadernos eleitorais indicavam que estava morto desde 2013. Esta divergência entre o eleitor e os cadernos eleitorais revelou-se menos polémica do que a discussão acerca de quem venceu as eleições, e acabou por ter uma conclusão clara: venceram os cadernos eleitorais. O eleitor voltou para casa porque não foi capaz de argumentar contra os documentos oficiais, e concluiu-se que não poderia votar. Dias depois das eleições, o eleitor continua a alegar que está vivo, mas a ficção acerca de finados que regressam da campa ensina-nos que este tipo de cidadão nem sempre diz a verdade. Pessoalmente, gostava de sugerir algumas soluções para problemas deste tipo. Em primeiro lugar, e verificando-se sem margem para dúvidas que o eleitor em causa está, de facto, vivo (requerendo, para isso, mais do que a sua palavra de honra), é preciso fazer uma reforma profunda da documentação oficial portuguesa. Além de fazer a limpeza dos cadernos eleitorais, para os expurgar de mortos, há que fazer igualmente a limpeza dos registos de óbito, para os expurgar de vivos.

Em segundo lugar, creio que a lei deveria prever casos semelhantes a este, no futuro. Na minha opinião, um defunto que se dá ao trabalho de se dirigir a uma assembleia de voto deveria ser autorizado a exercer o seu direito. Há cidadãos vivos com menos afeição pela República.

Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão

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