quinta-feira, fevereiro 26, 2015

Tanta coisa depende de um saco de plástico

Cobrar dez cêntimos por cada saco de plástico, nos supermercados, talvez contribua para salvar o ambiente, mas a grande medida ecológica já tinha sido tomada: fazer com que os portugueses não tivessem dinheiro para comprar aquilo que depois se transporta no saco de plástico. É um facto comprovado que as pessoas usam muito menos sacos de plástico quando não têm o que pôr lá dentro. Ao longo dos últimos anos, os portugueses têm sido mesmo muito amigos do ambiente. Tendo em conta o seu poder de compra, conseguem ir às compras de pochete. E ainda sobra espaço.
Quem tenha acumulado sacos de plástico, no tempo em que eram gratuitos, possui agora uma pequena fortuna. Sacos que não valiam nada, de um dia para o outro passaram a valer algum dinheiro. Exactamente como as acções do BES, mas ao contrário.

Muitas pessoas afeiçoam-se a coisas como sacos de plástico e depois têm dificuldade em lidar com a perda. Uma medida que abale o regular usufruto dos sacos de plástico pode perturbar mais a vida destas pessoas do que um corte no salário. Refiro-me, por exemplo, às pessoas que guardam bugigangas em gavetas enquanto dizem, com uma certa volúpia, "isto pode dar jeito". Isto é alta sociologia, como o leitor bem sabe. Este tipo de pessoas existe mesmo, e há uma possibilidade grande de o leitor pertencer ao grupo. Eu, infelizmente, não pertenço - até porque sou um desses indivíduos que "nem para si é bom". Depois, apresentam-?se-me situações em que me davam jeito certas coisas, mas infelizmente não tive o discernimento de, na altura própria, as guardar numa gaveta. Deve consolar-nos o facto de estas pessoas terem guardado tantos sacos, ao longo do tempo, que só terão de dar 10 cêntimos por um em 2025.

Quando eu era pequeno, a minha avó levava o seu próprio saco para ir às compras. Creio que era uma prática comum: toda a gente levava o seu saco. A minha avó não lhe chamava saco, porque era de Viana do Castelo, e do Douro para cima os sacos mudam de género e passam a ser sacas. Regressamos agora ao tempo em que se vai de saco para o supermercado. Curiosamente, em alguns aspectos o mundo foi mudando de volta para aquilo que a minha avó achava que o mundo devia ser. Espero sinceramente que o mundo pare de fazer as vontades à minha avó. Se o mundo continuar a transformar-se naquilo que a minha avó gostaria que o mundo fosse, mais cedo ou mais tarde serei obrigado a levantar-me cedo. E a arranjar um emprego a sério. Isto das sacas chega.


Fonte: Ricardo Araujo Pereira@Visao

O martírio precocemente interrompido de Santo André Simões

Quando Santo André Simões apagou o comentário elaborado na sua página pessoal do Facebook já foi tarde, foi tardíssimo.
Depois veio o seu empresário tentar compor o ramalhete: “Foi um desabafo que lhe correu mal.”
Não lhe correu mal, amigo empresário. Correu-lhe pessimamente.
Santo André Simões, que estava a caminho de ser o novo e mais conceituado mártir da Verdade Desportiva, estragou tudo num impulso de fé.
Santo André Simões tem dois amores, o Moreirense e o Porto. Transporta ambos “no coração” com a devoção de um primitivo. Mas lá que estragou tudo, estragou.
Também é verdade que quarenta e oito horas antes da sua declaração de amor no Facebook, já tinha estragado tudo, só que exclusivamente em prejuízo do Moreirense do seu coração.
Falhou estrondosamente a marcação a Luisão naquela cobrança do canto-penalty que haveria de resultar no primeiro golo do Benfica.
Logo de seguida voltou a estragar tudo para o Moreirense ao fazer-se expulsar heroicamente, oferecendo-se ao martírio, deixando o seu “amor” com menos um em campo.
Estes prejuízos para o Moreirense redundariam em benefícios morais importantíssimos para os históricos defensores da Verdade Desportiva se Santo André Simões, como cabe a um verdadeiro mártir, tivesse resistido à tentação de correr para celebrar no Facebook a vitória do seu outro “amor” no Bessa incorrendo em confissões assolapadas de paixão por uns e de ódio por outros ao ponto de lhes continuar a chamar nomes.
Curiosamente, duas jornadas antes de o Benfica ter visitado Moreira de Cónegos coube ao Porto jogar precisamente no mesmo estádio de onde saiu vitorioso por 2-0 com toda a justiça. O segundo golo do Porto nasceu de um pontapé de canto que os moreirenses protestaram um bocadinho visto que, bem vistas as coisas, deveria ter sido antes apontado um pontapé de baliza. Enfim, minudência que não despertaram nos teólogos de serviço qualquer epifania.
Não foi, no entanto, possível obter a reação de Santo André Simões em campo a este pequeno lapso visto que Santo André Simões, na jornada anterior, ao serviço do Moreirense contra o Sporting de Braga, viu um cartão amarelo aos 90 minutos que o deixou de fora da recepção ao Porto. Foi pena.
Uma vez mais foi pena para o Moreirense.
Nos tempos antigos eram os olhos o espelho da alma. Agora é o Facebook.


Se o Benfica repetir no sábado com o Estoril a primeira parte a dormir que fez com o Moreirense são de prever grandes dificuldades.
A revalidação do título passa por este tipo de jogos, levianamente considerados mais fáceis por serem disputados em casa contra equipas do meio da tabela.
A eventualidade de o Benfica voltar a ser campeão é entendida e gritada como um crime de lesa-majestades e a pressão dos nossos rivais sobre a arbitragem está a caminho de atingir os píncaros.
Ao ponto de um golo dos nossos, 100% legal, ter sido considerado escandalosamente validado por excesso de zelo do fiscal-de-linha, lembram-se?
Ao ponto até de um canto ter passado a valer como um canto-penalty desde sábado passado.
Anteriormente, já vinham sendo os lançamentos de linha lateral acusados do mesmo. Por culpa de Maxi Pereira e dos seus escandalosíssimos lançamentos-penalty que são um regalo de ver.


Em boa hora decidiu a Comissão de Instrução de Inquérito da Liga de Clubes abrir inquérito a mais um caso do Facebook. Trata-se, desta feita, da página do presidente do Sporting na referida rede social onde foi apresentada uma gravíssima acusação ao presidente do Benfica.
A acusação de ter perseguido o presidente do Sporting e, inclusivamente, o motorista do presidente do Sporting, propondo-lhes um ciclo de vitórias “alternadas” no campeonato. Isto, a ser verdade, provocaria a queda imediata dos dois presidentes dos emblemas rivais.
Vieira seria castigado pelos sócios do Benfica por oferecer ao presidente do Sporting 5 campeonatos nos próximos 10 anos tendo em conta que o Sporting nos últimos 31 anos ganhou 2 campeonatos.
Carvalho, por sua vez, seria impiedosamente castigado pelos sócios do Sporting por ter recusado a adorável benesse.
Quem inventou o Facebook não sabia no que se estava a meter.


Nascido e criado para o futebol no Benfica, o jovem Sancidino Silva partiu para outro país no último Verão por sua conta e risco contra a vontade do pai. A aventura no estrangeiro esteve longe de ser o que Sancidino ansiava. Não houve praticamente pormenor que não tivesse falhado. Regressou agora Sancidino ao Benfica onde foi recebido de braços abertos. O jovem Sancidino perdeu-se e voltou a casa.
Lucas, 15, versículos 11-32


Prossegue, e muito justamente, o ciclo de homenagens a Pedroto trinta anos passados sobre o desaparecimento do mítico treinador nascido em Lamego.
A reparação de abusos ao seu nome é uma das muitas formas de o celebrar condignamente. E foi isso mesmo que o presidente do FC Porto fez na semana passada em jeito de autocrítica: “Já vi muitos campeões antecipados que depois tiveram de assistir à festa dos outros”, disse Pinto da Costa.
Como quem se desculpa perante o Mestre pelo título que lhe prometeu e dedicou nos primeiros dias de Janeiro de 2010 – “Queremos dedicar a vitória no campeonato a si que vai ser campeão!” – quando, no fim das contas, foi o Benfica quem conquistou, e bem, esse título da não muito longínqua temporada de 2009/2010.


A equipa B do Benfica atuou no domingo no Seixal. Foi uma bela tarde de futebol proporcionada por um conjunto de jogadores díspares nas idades, nas nacionalidades e nos currículos e todos eles, sem excepção, ambicionando chegar à equipa principal, sendo que, inevitavelmente, uns vão lá chegar mais depressa do que outros.
Rúben Amorim, por exemplo, vai chegar onde quer e onde o queremos rapidamente. Não lhe caíram os parentes na lama, antes pelo contrário, por cumprir setenta minutos muito bem pensados com a equipa B e assim vai recuperando o à-vontade depois de longos meses de ausência.
Quanto ao uruguaio Jonathan Rodriguez estreou-se oficialmente marcando dois golos. É o que se quer. Teve ainda oportunidade para fazer um terceiro golo mas a bola recusou-se a entrar. Talvez tenha sido melhor assim.
Uma estreia com um hat-trick dá a volta à cabeça de qualquer um. Incluindo à cabeça dos adeptos. Fica para a próxima.


Em boa hora a Câmara Municipal de Lisboa fez publicar um anúncio de página inteira em diversos jornais esclarecendo não ter havido favores ao Benfica nem, muito menos, isenções de taxas devidas à municipalidade.
Que boa notícia para os benfiquistas e para os cidadãos de Lisboa.
As soberbas facilidades concedidas pelas Câmaras aos emblemas poderosos são uma das abjecções do regime corrente.
Falta agora o anúncio de página inteira da Câmara de Gaia desmentindo, por sua vez, aquela notícia infame que estabelecia em 2666 anos o tempo necessário para o FC Porto pagar na íntegra os 16 milhões de euros que custou à edilidade a construção do centro de treinos no Olival tendo em conta que, na condição de inquilino, paga uma renda social de 500 euros mensais.


O Borussia de Dortmund, que ocupa o fim da tabela do campeonato alemão, foi a Turim jogar para a Liga dos Campeões e saiu de lá vivo. Com um resultado desfavorável de 2-1 mas que lhe permite razoavelmente sonhar com a qualificação. Seria curioso que o Borussia passasse esta eliminatória afastando a Juventus.
Teríamos, assim, um clube que luta para não descer de divisão na Alemanha consagrado entre as 8 melhores equipas europeias da actualidade.
É este o nosso tempo.


Pedro Proença vai receber uma homenagem do Sporting. Justa e sentida.


Fonte: Leonor Pinhão @ A Bola

sábado, fevereiro 21, 2015

A propriazinha

A minha principal objecção ao cinema é esta: parece-me que ver fotografias a um ritmo de 24 por segundo é um exagero.

Acaba por não se ver nenhuma fotografia como deve ser. A única ocasião em que o visionamento de 24 fotografias por segundo se justifica é quando amigos pretendem mostrar-nos os seus álbuns de casamento ou de férias. Nessas alturas, suspiro pelo cinematógrafo. Ao que parece, hoje sou o único a achar enjoativas estas sessões de exibição de fotografias da vida pessoal.

O mundo mudou muito. No meu tempo, contemplar fotografias de amigos era considerado um aborrecimento. Hoje, subscrevem-se contas de instagram para poder apreciar os pés de uma amiga à beira de uma piscina, o gato de um colega dormindo, ou o aspecto da sobremesa que um amigo se prepara para comer. As fotos de outrora, sendo fastidiosas, eram, apesar de tudo, menos triviais. Havia amigos junto de monumentos, defronte de catedrais, perto de animais selvagens. Não ocorria a ninguém, regressado de férias, dizer aos amigos: "Olha que giro, aqui estão os pés da Clotilde junto à piscina do hotel." Ou: "Temos agora uma foto de um prato de arroz-doce que o Mário comeu." Hoje, as pessoas procuram fotos destas. Ninguém as obriga a vê-las. São elas que buscam retratos de pés alheios. Algo se passa com a humanidade.

De todas as fotografias contemporâneas, a mais perigosa é a selfie ou, em português, a propriazinha. A selfie é o equivalente moderno da PIDE. Também persegue, tortura e mata. A PIDE contava com umas dezenas de inspectores pouco espertos e alguns bufos diligentes. As selfies contam com milhões de utilizadores pouco espertos e o facebook, o instagram e o twitter. Uma selfie, para os meus leitores do século XX, é uma fotografia que uma pessoa tira a si mesma, em geral com um telefone. A PIDE, para os meus leitores do século XXI, era a polícia política do Estado Novo. Há quem morra a tirar selfies em posições perigosas.

Há quem seja torturado durante anos pela memória de uma selfie irreflectida. Cristiano Ronaldo está a ser perseguido por umas selfies tiradas na sua festa de aniversário.

Há selfies, belfies (fotografias do próprio rabo) e felfies (fotografias do próprio junto de animais de quinta). Além da pulsão de vida e da pulsão de morte, é também muito poderosa a pulsão de publicar auto-retratos.

Freud estava distraído provavelmente, a fotografar os próprios pés junto de uma piscina.

Fonte: Ricardo Araujo Pereira @ Visão

O nobre ofício de 'ironizar' já conheceu melhores dias

Parece-me injusto e mal observado vir-se dizer que o presidente do Benfica demorou cinco dias a responder às insinuações pós-derby do presidente do Sporting porque, na verdade, o presidente do Benfica não tem de responder, nem respondeu, a nada de nada.
E porquê?
Porque o presidente do Sporting não é de todo um problema do Benfica.
O presidente do Sporting é um problema do Sporting.

Domingo, hora do almoço, faz-se um zapping rápido e dá-se de caras com uma grande defesa do nosso Quim. É a magia da II Liga. Quim, com os cabelos cinzentos da cor do equipamento que enverga, defende agora as redes do Desportivo das Aves.
A situação era a de um livre muito perigoso mas Quim voou desviando a bola com a ponta dos dedos em grande estilo. Foi campeão no Benfica e dá satisfação ver os nossos campeões sempre em forma.

Quem insistir, por conveniência ou ardil, que o presidente do Benfica demorou cinco dias a reagir às acusações do presidente do Sporting pós-derby, terá então de concluir que, em 2014, o presidente do Benfica demorou quase dois meses e meio a responder a um conjunto de não menos graves acusações vindas do presidente do Sporting quando, na realidade, o presidente do Benfica nunca o fez.
Tratou-se de um episódio singelo mas muito revelador que merece ser lembrado.

No dia 19 de Março de 2014, em declarações à Rádio Renascença, o presidente do Sporting afirmou que o presidente do Benfica lhe tinha telefonado e contado que «depois de ter gasto uns milhões valentes na equipa» o melhor reforço que conseguiu «foi um jogador chamado nomeações».
A sujíssima suspeição ficou a pairar sem resposta do visado até ao dia 27 de Maio de 2014 quando um jornalista da RTP que entrevistava o presidente do Benfica se lembrou de lhe perguntar se era verdade aquilo que o presidente do Sporting tinha dito há um par de meses.
Respondeu o presidente do Benfica ao jornalista (ao jornalista e não ao seu homólogo verde) lamentando, à cavalheiro, ter de chamar mentiroso ao presidente do Sporting – «é feio dizer mas mentiu» – porque tal conversa nunca tinha existido e nunca poderia existir.
E não é que o presidente do Benfica tinha razão?
Razão que lhe foi dada logo no dia seguinte pelo presidente do Sporting: «Estávamos a ironizar. Claro que não houve nenhum telefonema!»
Era na brincadeira.
E ficou logo toda a gente esclarecida.

Há muitos jovens jogadores formados pelo Benfica a rodar em campeonatos estrangeiros. Trata-se do nosso programa Erasmus. Estão como os estudantes os nossos jogadores. Estudam até um determinado ponto do seu percurso em casa e depois, a ver se crescem, vão estudar para fora em ambientes que lhes são estranhos e que lhes exigem um novo tipo de responsabilidades. Depois se verá como regressam a casa, os que regressarem.

Cinco dias depois do último derby, Luís Filipe falou directamente aos benfiquistas presentes na inauguração da Casa do Benfica de Leiria e, indirectamente, a todos os outros que não estávamos presentes. Como seria de esperar, não fugiu aos temas em rescaldo nacional desde aquele preciso momento em que Jardel fez o golo do Benfica em Alvalade.
Falou bem Vieira. Os benfiquistas queriam ouvir a opinião do seu presidente e, de uma maneira geral, ficaram satisfeitos com o que ouviram porque tem uma opinião igual ou muito parecida com a da maioria dos adeptos e que, no essencial, se resume assim: repúdio total pela violência das palavras, dos actos e das imagens, respeito pelo nome e pela história do adversário e apelo às autoridades competentes para que façam o seu trabalho.

Em termos práticos, o presidente do Sporting pôs fim ao blackout para anunciar aos seus fãs e admiradores que fazia anos no dia do derby e, passados sete dias, voltou a comunicar com a referida plateia para lhes dizer que até tinha «motorista».
Isto de ter motorista não é para qualquer um.

Na tarde de domingo, durante quatro minutos o Benfica teve quatro jogadores portugueses em campo. Foi mais um pormenor satisfatório num jogo tranquilo. O Benfica começou com dois portugueses, Eliseu e Pizzi. 
A um quarto-de-hora do fim do jogo Jorge Jesus mandou entrar Rúben Amorim e Gonçalo Guedes para os lugares de Samaris e de Ola John. Quatro minutos depois saiu Pizzi para os aplausos, entrou Talisca e diminuiu para três o número de portugueses do Benfica em campo.
Patrioteirismos à parte, foi satisfatório o dito pormenor dos quatro portugueses em campo porque os quatro estiveram muito bem.
Pizzi parece-se cada vez mais com Enzo Pèrez, Eliseu parece-se cada vez mais com um defesa-esquerdo, Rúben Amorim vai a caminho de se parecer com o Rúben Amorim do passado e Gonçalo Guedes vai a caminho de se parecer com o Gonçalo Guedes do futuro.
O que se pode pedir mais?

Então ninguém pede desculpas ao Clube de Futebol «Os Belenenses»?
Ninguém lamenta o modo como os adeptos do Belenenses foram retratados no anúncio da Sagres?
Um equilibrista desqualificado em cima de uma corda e o respectivo espalhanço final. Um funâmbulo incompetente para mais vestido com uma camisola vermelha. Vermelha, sim! Não haverá aqui matéria que fira também a susceptibilidade belenense para além de outras susceptibilidades feridas?
Pode uma campanha publicitária ironizar com o Belenenses se não pode ironizar com o Sporting? Onde estão, nesta barricada, os Charlies do futebol português?
Onde está o próprio Bruno de Carvalho, o primeiro a carregar de novos e insondáveis atributos o nobre ofício de ironizar?

A «Os Belenenses» devem solidariedade o presidente da Liga em protesto pela campanha da Sagres, e ainda todos os que defendem a «verdade desportiva» em protesto pela campanha do Sporting para levar os seus adeptos até ao Restelo.
É que, na semana que antecedeu o último clássico lisboeta, o nome do Belenenses também foi muito mal tratado e ninguém se indignou nem pediu desculpas. Aconteceu no site oficial do Sporting pela pena galante de um historiador que fez questão de lembrar uma goleada imposta pelos leões ao Belenenses numa visita ao Restelo «na época de 1953/54».
Com que objectivo de concórdia se desentulham estas humilhações que, pelos vistos, deixaram de mãos atadas todos os indignados da cerveja?
Factos horripilantes que deixaram de mãos atadas, inclusivamente, os próprios adeptos do Belenenses sem saber o que responder à provocação tendo em conta que o Estádio do Restelo só foi inaugurado no dia 23 de Setembro de 1956, isto é, dois anos depois da tal goleada ironizada pelo Sporting no tal Estádio do Restelo, embora ainda não existisse.

O Benfica foi o campeão da última temporada. E, como já toda a gente sabe, este era o ano em que o Sporting tinha o campeonato no papo se Bruno de Carvalho não fosse tão orgulhoso e tivesse dado ouvidos ao presidente do Benfica sempre que o presidente do Benfica o perseguiu pelos corredores da Liga propondo-lhe, a arfar de tanto «correr atrás» dele, a alternância nas «vitórias no campeonato». Ou era isso ou estava a ironizar.
Não houve reunião de presidentes na sede da Liga em que a comunicação social de serviço não noticiasse a perseguição em corrida do presidente do Benfica, em fato de treino e de sapatilhas, ao presidente do Sporting, à paisana.
Não só no interior do edifício da Liga, escada abaixo e escada acima, como também no exterior do edifício e áreas circundantes, Rua da Constituição para cima e para baixo, o presidente do Benfica correu sem êxito “atrás” do supersónico presidente do Sporting perante o olhar consternado de um Luís Duque pouco dado a correrias e sem saber que lição colher de tão estrambólicas ocorrências.

Os nossos rivais andam pela Suíça e pela Alemanha e nós vamos no sábado a Moreira de Cónegos que é o que interessa. Respeitinho pelo adversário e 100% de concentração será o caminho para a felicidade.


Fonte: Leonor Pinhão @ A Bola


segunda-feira, fevereiro 16, 2015

Frases - I


O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos.
      - Elleanor Roosevelt


sexta-feira, fevereiro 13, 2015

Lá se acabou com o 'blackout' porque o presidente fazia anos

«Olé! Olé! Olé! Olé! Olé! Olé! Olé!... Oh!»
Público em Alvalade, domingo, 8 de Fevereiro.

Não há derby que não fique com um epíteto para a História. Este último, o de domingo passado, será sempre lembrado como o derby dos olés.
Para uma impressionante maioria de místicos das nossas cores foram até os benditos olés que despertaram a equipa para aqueles valentes 6 minutos à Benfica.
E assim se somou em Alvalade um ponto menos insatisfatório do que seria admissível de véspera tendo em conta as circunstâncias em que foi obtido. Nisto estaremos todos de acordo.
A três meses do fim do campeonato este derby não servia para definir o campeão mas poderia servir para contabilizar o número de candidatos efectivos. Título discutido a dois ou título discutido a três? - era esta a questão antes de o árbitro apitar para o início do jogo.
Perante o noticiário do rescaldo que nos revelou «as lágrimas dos jogadores» na cabina e nos alertou para «a dura tarefa» que Marco Silva tem pela frente, que é a de «recuperar o moral do grupo», alguns apressados podem concluir que o resultado do jogo afastou efectivamente o Sporting da luta e que o título, a partir de agora, vai ser discutido apenas a dois e pelos dois do costume.
Se acreditam que o campeonato acabou para o Sporting, já podem voltar a torcer à vontade pelo Porto todos aqueles sportinguistas que vêm gratamente no emblema do dragão o anjo vingador das suas maleitas.



«Passo à vossa frente de cabeça erguida. Honesta e erguida.»
Artur Moraes, domingo, 8 de Fevereiro.

Este campeonato, no entanto, não acabou. Nem sequer para o Sporting. E muito menos para o Benfica.
Aliás, houve logo quem acusasse os jogadores do Benfica de exagerar nos abraços e na boa disposição com que regressaram à sua cabina quando o árbitro deu por encerrada a sessão.
Se, de um lado, não há certamente motivo para chorar um campeonato que ainda não se perdeu, já havia, do outro lado, motivo e inspiração para correr a abraçar um colega de equipa que passou a semana inteira a ser achincalhado pública e sonoramente.
Em termos práticos não lhes valeu de nada. Nem as tochas que lhe atiraram da bancada o perturbaram.
O espectáculo também não valeu grande coisa. As duas equipas ocuparam tão bem os espaços que o jogo propriamente dito só começou aos oitenta minutos quando o cansaço geral passou a consentir erros individuais que sempre provocam desequilíbrios e animação.
A diferença, basicamente, esteve nos guarda-redes. Artur teve perante si cinco situações e resolveu quatro com primor enquanto Patrício teve uma única situação para brilhar e não brilhou. Resultado: 1-1. O Benfica para voltar a ser campeão tem de fazer mais. Ou de fazer diferente.
No domingo, das três equipas em campo a melhor foi, e de longe, a equipa de arbitragem. Trata-se de um acontecimento notável.



«O Jardel vai marcar de cabeça.»
Matic, quarta-feira, 4 de Fevereiro.

E marcou. Ninguém me tirará nunca a ideia de que o golo de Jardel no domingo foi de cabeça. E de martelada porque a decisão que tomou, a de fechar os olhos antes do estrondo, foi o momento mais cerebral da exibição do Benfica nos primeiros 88 minutos do derby.
No entanto, note-se bem que, ao contrário do convencionado, o Benfica não teve grande sorte em Alvalade sendo verdade que foi mais feliz do que em Paços de Ferreira onde mandou três bolas aos ferros e desperdiçou um penalty.
Sorte, sorte teria tido o Benfica no domingo se o Sporting em vez de ter marcado o seu golo em cima dos 90 minutos, permitindo pouquíssimo tempo para recuperação, o tivesse apontado logo no primeiro quarto-de-hora da primeira parte.



«E amanhã também faço anos.»
B. de Carvalho, sábado 7 de Fevereiro.

«Hoje é dia de derby e este ano até coincide com o meu aniversário.»
B. de Carvalho, domingo 8 de Fevereiro.

«Em primeiro lugar quero agradecer a todos as milhares de mensagens de aniversário que me enviaram.»
B. de Carvalho, segunda-feira 9 de Fevereiro.

Na véspera do derby foi formalmente anunciado pelo presidente o fim do blackout que vinha serenando o Sporting desde 22 de Dezembro. Bruno de Carvalho reapareceu, historiou o caso com José Eduardo e apelou aos adeptos para se manterem focados «nos temas essenciais».
Questionado sobre a oportunidade do momento escolhido para acabar com o silêncio de um mês e meio, o presidente do Sporting avançou «também» com o facto de a data do seu aniversário calhar no dia do derby. São as curiosidades do calendário.
No dia seguinte, o dia propriamente do derby, e para os mais distraídos, o presidente do Sporting voltou a relembrar o tema cadente do seu aniversário. No dia seguinte aconteceu a mesma coisa mas já em jeito de agradecimento pelos «parabéns» recebidos que só podem ter sido muitos mas que poderiam ter sido muitos, muitíssimos mais.
Está no seu pleníssimo direito. É o presidente e fazia anos. E certamente tinha conhecimento da festa de anos de Cristiano Ronaldo em noite de derby madrileno e quis associar-se com a sua efeméride num duplo mega-evento peninsular.
Fica, no entanto, a pairar no ar a sensação de que, em termos práticos, o fim do blackout não teve outro objectivo senão o de anunciar que o presidente fazia anos no dia do derby.
Tivesse o Sporting conseguido ganhar o jogo, como esteve tão perto de conseguir, e a data do aniversário do presidente ainda passava a «tema essencial» na vida do clube.



«Sempre juntos. Carrega Benfica!»
Pizzi, segunda-feira, 9 de Fevereiro.

Começou em Pizzi o golo de cabeça de Jardel. De costas para a baliza de Patrício e de frente para a baliza de Artur, a quem ainda teve tempo de piscar o olho com amizade, Pizzi pontapeou uma bola em arco para a área do Sporting, uma jogada estudada, que resultou no golo do Benfica.
A frustração dos sportinguistas é, no entanto, bem compreensível. A sua equipa só conseguiu estar a ganhar durante 6 minutos ao rival. Sendo que o rival perdeu meia-equipa da época passada e chegou a Alvalade só com meia-equipa da actual temporada. E, imagine-se, ainda queriam que jogássemos ao ataque.



«Não nos resta outra alternativa que não seja o corte de relações institucionais com o SLB.»
Comunicado do Sporting, terça-feira, 10 de Fevereiro.

Se o SLB referido no comunicado é o Benfica então o Sporting cortou relações connosco. Mas, tratando-se mesmo do Benfica, não ficaria mais a preceito em função do esquema mental da actual liderança de Alvalade terminar o comunicado anunciando «o corte de relações institucionais com o visitante»?
Na véspera do grande derby de Alvalade e do aniversário do presidente do Sporting, houve um derby mais pequeno na Luz na modalidade de futsal. No derby do futsal um punhado de sevandijas exibiu uma faixa com referência ao trágico incidente da final da Taça de Portugal de 1996.
A mim não me representam. No dia seguinte a essa tristíssima e já longínqua tarde no Jamor, um largo número de Benfiquistas enviou ao presidente do clube, Manuel Damásio, um abaixo-assinando exigindo o fim do apoio moral e institucional a indivíduos e grupos indignos de se apresentarem a coberto das nossas cores.
Esse protesto foi na altura público e não teve aceitação. O meu nome estava lá entre muitos outros. O que me autoriza, sempre que o tema renasce, a fazer vincar, sem delongas civilizacionais e apresentando provas, que a minha opinião é a mesma desde 1996. E aplica-se indiferentemente a sevandijas de todas as cores.
Quero crer que o presidente do Sporting tomaria a mesma decisão de cortar relações «com o SLB» se o Sporting tivesse ganho o jogo no domingo. Seria uma indecência o aproveitar de um assunto lamentável como este só para se criar um facto político que desvie as atenções de um resultado menos positivo.
Todos sabemos como um corte de relações com um rival depois de um resultado menos bom com o mesmo rival é garantidamente um sucesso popular. Porque prolonga o necessário destilar e o alívio da frustração em terrenos que não são os do jogo, de quem ninguém quer mais ouvir falar, mas sim os da política onde todos tão estranhamente se sentem à vontade.



PS - O Benfica está na sua sexta final da Taça da Liga. Gonçalo Guedes foi titular e Rúben Amorim regressou. Jonas marcou o seu golinho do costume. Talisca e Pizzi marcaram de penalty. No domingo, o Vitória volta à Luz. Não se esperam tantas facilidades. Carrega Benfica!"

Fonte: Leonor Pinhão @A Bola

Introdução à linguística do caso BES

O caso BES deixou esta semana de ser apenas um problema de finanças para passar a ser também um problema de semântica. Ricardo Salgado disse que se encontrou com Cavaco Silva duas vezes, e que o alertou para os "riscos sistémicos" do BES. Tendo isto acontecido em Maio, algumas pessoas estranharam que, em Julho, o Presidente tenha feito declarações sobre o BES apelando à confiança dos portugueses no banco. Essas pessoas não têm razão para estar intrigadas, porque, de acordo com Cavaco Silva, a declaração que ele fez sobre o BES não era uma declaração sobre o BES. É aqui que precisamos de ajuda técnica. Que requisitos deve preencher uma declaração para que se possa dizer dela, com propriedade e segurança, que se trata de uma declaração sobre o BES? Estudemos a frase de Cavaco sobre o BES que não era, afinal, sobre o BES: "O Banco de Portugal tem sido peremptório, categórico, a afirmar que os portugueses podem confiar no Banco Espírito Santo." Segundo o Presidente, esta declaração sobre o BES é uma afirmação acerca do Banco de Portugal. Não está ali, diz ele, nem uma palavra sobre o BES. Se os rumores que geraram as perguntas dos jornalistas fossem de outro tipo, e o Chefe de Estado tivesse pretendido igualmente invocar o Banco de Portugal como garantia de credibilidade, Cavaco poderia ter dito, por exemplo: "O Banco de Portugal tem sido peremptório, categórico, a afirmar que os portugueses podem confiar na fada dos dentes." Nessa altura, ninguém poderia dizer: "Ouve lá, o Cavaco deve estar maluco. Ouviste aquelas declarações dele sobre a fada dos dentes?" A razão pela qual isso não seria admissível é simples: aquelas declarações sobre a fada dos dentes são, isso sim, uma afirmação acerca do Banco de Portugal. Se, dois meses antes de terem sido proferidas estas declarações imaginárias, a fada dos dentes tivesse requerido uma audiência ao Presidente para lhe revelar que era, na verdade, um sujeito do Montijo chamado Alfredo, o Presidente continuaria a ter toda a legitimidade para fazer aquela afirmação, na medida em que ela se refere apenas ao Banco de Portugal.

Só por má vontade pode pensar-se que Cavaco Silva estaria a falar do BES. Ainda estamos à espera que o Presidente fale do BPN, do modo como eram negociadas acções não cotadas na bolsa e do papel de um conselheiro de Estado e de antigos membros do seu Governo na gigantesca burla. Antes de se pronunciar sobre isso, é evidente que não faria sentido que Cavaco falasse do BES. Às vezes, as pessoas desejam apenas provocar por provocar.

Fonte: Ricardo Araujo Pereira @Visão

Desporto de fim de semana - 2024/03/16

Sábado, 2024/03/16  - 14:00 - Futebol - Fc Penafiel -v- SL Benfica B - Liga Portugal 2 | 23/24 - Jornada 26  - 15:00 - Basquetebol - SL Ben...