quinta-feira, dezembro 11, 2014

A paixão, o fair-play e a ciência

O Benfica despediu-se anteontem da Europa. Para recordar de bom desta campanha triste, apenas três situações:
1) Na Luz, os aplausos do público a recompensar a exibição digna e em inferioridade numérica no jogo como o Zénite. É a paixão.
2) Em São Petersburgo, a atitude de Nico Gáitan interrompendo o jogo quando se isolava ao dar conta que o adversário que o perseguia, Javi Garcia, caiu redondo a contas com uma distensão muscular. É o fair-play.
3) De novo na Luz, e no jogo da despedida, a apresentação em público do resultado de um trabalho laboratorial de aparente sucesso: a transformação de Pizzi num clone de Enzo Pérez. É a ciência.
A campanha foi triste mas não foi infame. O Benfica terminou o seu percurso europeu com 5 pontos que não lhe valem de nada mas que valeram, por exemplo, os mesmos 5 pontos ao Liverpool para seguir para a Liga Europa.
Já na temporada anterior, o Benfica somou 10 pontos na fase de grupos da Liga dos Campeões, 10 pontos que o relegaram para a Liga Europa enquanto noutros grupos o mesmo número de pontos chegou e sobrou a quem os somou para seguir em frente na competição mais importante.
Em Londres, o nosso Mourinho, na mesma semana em que acusou os apanha-bolas de serem responsáveis pela derrota do Chelsea em Newcastle, mostrou-se estupefacto com os “falhanços” europeus do Benfica.
É porque não viu os nossos jogos. Quem os viu constatou que o Benfica, perante três adversários de igual valia, só se conseguiu superiorizar ao Mónaco perdendo inapelavelmente nas duas “mãos” dos confrontos directos com o Zénite e com o Bayer de Leverkusen.
E porquê? Porque os adversários foram substancialmente melhores em campo. Não foi, certamente, por causa dos apanha-bolas que o Benfica saiu da Europa.


O denominado “caso dos casuals” que, na verdade, fez correr pouca tinta no rescaldo extra-futebol do último FC Porto-Sporting a contar para a Liga, volta agora aos jornais. O Ministério Público entendeu acusar 87 cidadãos do crime “de participação em rixa” e pede para todos a mesma pena: a proibição de entrada em recintos desportivos.
Foi também assim que a solene Inglaterra resolveu de uma penada o seu problema com os hooligans. Obrigando-os a apresentar-se em esquadras de polícia à hora dos jogos e, para reforçar a ideia, estacionando à porta dos estádios umas quantas carrinhas – “vans” em inglês –, logo humoristicamente apelidadas de “hollivans”, que de se destinavam a arrecadar da via pública qualquer espectador que se portasse mal ou que, pelos seus maus modos, constituísse ameaça ao decorrer pacífico da função.
Entre os 87 acusados de participação em rixa figuram adeptos de ambos os clubes – deveremos chamar-lhes adeptos? – e entre eles figura Fernando Madureira, o líder dos Super Dragões e autor da mais confessional autobiografia que honra a biblioteca do futebol português.
Cumprindo-se a vontade do Ministério Público, o que seria de pasmar, Fernando Madureira fica impedido de entrar em recintos desportivos. Fica, portanto, com mais tempo livre para emprestar toda a sua vasta gama de conhecimentos teóricos e práticos em ações de formação para jovens árbitros sob o alto patrocínio da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol, vulgarmente conhecida por APAF.
Chegamos assim ao fim do ano com duas notícias - ainda longe de estarem confirmadas, note-se bem – que destituiriam o futebol português de duas das suas mais carismáticas personalidades. Ou não é?
1) O árbitro Pedro Proença garante que não apitará mais em Portugal.
2) O Ministério Público não garante mas recomenda a interdição do estatuto de espetador a Fernando Madureira.
Se assim acontecer, prevê-se um ano de 2015 com menos polémicas estéreis e com mais, muito mais ações de formação.
Querido Rúben Amorim, não voltes a cair na esparrela.


O Rio Ave encerrou o ano em bom estado. Um resultado líquido positivo de 20 mil euros foi apresentado e aprovado pelos sócios. É o sexto ano consecutivo em que o Rio Ave apresenta lucro. Estas coisas impressionam sempre. Parabéns ao Rio Ave, campeão das boas contas.


Vamos perder Maxi Pereira. Tenho muita pena. Basta ler os jornais para adivinhar que o uruguaio, cujo contrato com o Benfica termina no próximo Verão, certamente sairá neste Janeiro de modo a ainda permitir um pequeno encaixe ao clube que representou e defendeu (sim, defendeu muito) durante meia-dúzia de anos. Pelas minhas contas, Maxi Pereira nunca gozou férias tantas foram e continuam a ser as deslocações intercontinentais para jogar pela seleção do seu país. Nunca gozou férias nem nunca se queixou.
É verdade que algumas vezes nos fez perder a paciência mercê de umas “paragens” em campo, paragens de raciocínio, especifique-se. Porque paragens dessas à parte, Maxi nunca parou de correr por aquele corredor direito acima e abaixo, as vezes que fossem necessárias.
Leio hoje que o Liverpool se prepara para dar 5 milhões ao Benfica no Ano Novo pelos serviços do uruguaio que sairia de borla da Luz se cumprisse o seu contrato até ao fim. Por um lado, estou conformada. Por outro lado, ainda acredito no Pai Natal.


No sábado à tarde, na Luz, o Belenenses rematou pouco à baliza do Benfica. Rematou mesmo muito pouco. Um dos poucos lances perigosos do Belenenses aconteceu ao minuto 34 quando Fredy, depois de se desembaraçar de André Almeida, rematou fraco e ao lado do poste esquerdo da baliza de Júlio César.
No momento, dei comigo a pensar:
- Se fosse o Deyverson ou o Miguel Rosa a fazer um remate destes íamos de ter de ouvir das boas dos nossos impolutos rivais durante uma semana!
Mas o Deyverson e o Miguel Rosa, como é do conhecimento geral, nem sequer se equiparam à pala de um eventual acordo entre as SADs do Benfica e do Belenenses, ambas detentoras em percentagens desiguais dos direitos de transferência da famosa dupla ausente do antiquíssimo clássico lisboeta.
É o que se diz.
Nunca o Belenenses, nunca o Benfica falaram oficiosa ou oficialmente sobre este assunto. Perante o silêncio, a imprensa supõe e a opinião pública vive de suposições, o que sempre vai ajudando à festa.
Eu, por exemplo, suponho que se a moda pega internacionalmente qualquer dia deixa de haver jogos da Liga dos Campeões porque as grandes estrelas, pertencendo a clubes diferentes mas a fundos de investimento comuns, passam a constituir matéria permanente de conflito de interesses e, por essa legítima razão, nem se podem equipar.
Compreendo a revolta dos adeptos do Belenenses. Seria exatamente igual à minha se o caso se desse ao contrário. Trata-se de um episódio lamentável, dispensável independentemente das cores.
E causa-me incómodo e desgosto só de pensar que daqui a uns meses, no jogo da segunda volta, vamos ter de passar por isto tudo outra vez. Para quê?


Talisca entrou a matar na sua época de estreia na Europa e agora, que o fim do ano se aproxima, parece ter perdido gás e fulgor. Ouço dizer nos areópagos benfiquistas que a ida ao “escrete” lhe fez mal. Não concordo.
Outros, mais minuciosos, explicam a quebra de Talisca pelo facto de não gozar férias há mais de um ano. Concordo. Em questão de férias por gozar e de trabalho acumulado ao mais alto nível não é Maxi Pereira quem quer, só é Maxi Pereira quem pode. 

PS: Vendo ontem o Matic a jogar com a corda toda tive, por vezes, a doce sensação de que o Benfica, afinal, ainda estava na Europa.


Fonte: Leonor Pinhão@A Bola

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