quinta-feira, outubro 16, 2014

Uma semana a ver jogar os outros

Quinta-feira, 9 de Outubro
Hoje a equipa nacional de sub-21 foi até Alkmaar e despachou com grande categoria a sua congénere holandesa com um resultado de 2-0 dificilmente contornável na próxima terça-feira, em Paços de Ferreira, mesmo que o nosso Ola John venha a ser titular e faça o jogo da sua vida.
O melhor jogador português na Holanda foi Bernardo Silva. Gostaria muito de escrever “o nosso Bernardo Silva” mas não tenho a certeza de assim ser e longe de mim está a intenção de enganar seja quem for. É nosso? Ou não é nosso? Está emprestado e qualquer dia está de volta a casa ou foi vendido e nunca mais o vemos? Aguarda-se o esclarecimento por voz autorizada, se faz favor.
O jogo de hoje dos sub-21 foi engolido nos noticiários pelas declarações da véspera do presidente do Sporting para quem o próximo FC Porto-Sporting, a contar para a Taça de Portugal, só pode “correr pior” do que o último Sporting-FC Porto, a contar para o campeonato, se o próprio “sair de lá morto”. 
Carvalho é, destacadamente, o mais “venezuelano” dos nossos presidentes de clubes de futebol no que ao campeonato do mais grosseiro populismo diz respeito. Embora, faça-se justiça, ninguém tenha chamado populista a José Mourinho quando, há coisa de uma década, no comando do Chelsea, desembarcou no Porto rodeado de seguranças esclarecendo o aparato nos seguintes termos em declarações ao “Expresso”. “Se você fosse a Palermo não levava guarda-costas?”. 
O homem é o estilo e o estilo é o homem.
Perante tudo isto o que importa realçar é o nome da competição em que os dois emblemas se vão defrontar já no próximo sábado. Chama-se Taça de Portugal, repito, de Portugal, portanto não há aqui lugar para Sicílias-Venezuelas nem para Palermos-Caracas. É simplesmente um FC Porto-Sporting.


Sexta-feira, 10 de Outubro
Hoje, pelas sete e meia da manhã, bem cedo portanto, já havia gente em fila à porta da sede do Sporting da Covilhã esperando a sua vez para comprar bilhetes. Vai lá jogar o Benfica no sábado. É a tal Taça de Portugal. Estão justificados os madrugadores. 
O Benfica é o detentor do tão amado troféu. E não o ganha em dois anos consecutivos desde os triunfos de 1985/1986, batendo na final o Belenenses, e de 1986/1987, batendo na final o Sporting. O Sporting da Covilhã é o primeiro adversário desta edição da Taça de Portugal e para não ser o último será da maior conveniência que o Benfica “não espere facilidades”, tal como oportunamente avisou o nosso César Brito que também jogou pelos Leões da Serra. Desde aquela tarde mágica de Abril de 1991, tudo o que o César Brito diz ou faz é para levar a sério.
Entretanto, a selecção dos crescidos joga amanhã em Paris com a França. É o adversário ideal para a estreia de qualquer seleccionador porque a última vitória portuguesa sobre os gauleses aconteceu em pleno período revolucionário, em Abril de 1975, com José Maria Pedroto no banco, acumulando o cargo com o de treinador do Boavista.
“A Bola” dá conta que Fernando Santos experimentou no último treino uma linha defensiva constituída por Cédric, Pepe, Carvalho e Antunes. Tem o meu aval. 
O desejável é que Eliseu não jogue porque como é do Benfica e não foi formado na Academia do Sporting como o grosso do contingente será, certamente, apontado a dedo por tudo o que de mal venha a acontecer à nossa seleção amanhã em Paris. 
E o importante é não desmoralizar o nosso Eliseu que já nos resolveu à bomba dois jogos do campeonato nacional.


Sábado, 11 de Outubro
Aconteceu precisamente o que temia. Até dos sucessivos falhanços dos avançados franceses que poderiam ter construído um resultado parecido com o vexatório foi o pobre do Eliseu acusado de ser o responsável.
Faço votos para que não jogue na terça-feira na Dinamarca.

Domingo, 12 de Outubro
Talisca brilha na selecção olímpica do Brasil. Jorge Jesus disse que Talisca tem coisas de Rivaldo. Para mim tem coisas de Isaías, o que já é altamente satisfatório. Há muitos anos, desde Isaías, que o Benfica não dispunha de um jogador que tomasse embalo a meio campo com uma passada daquelas toda projetada para a baliza do adversário.
Em Espanha, a jogar pelo Rayo Vallecano, Abdoulaye deu hoje uma entrevista ao “As” e disse que “mudar para o Rayo foi um passo em frente”. E foi.
Sem desprimor para o FC Porto e para o Vitória de Guimarães, os seus últimos clubes em Portugal. Não é a importância dos emblemas que está em causa. É a visibilidade do campeonato espanhol, muitíssimo superior à visibilidade da nossa Liga.


Segunda-feira, 13 de Outubro
O Tribunal Arbitral do Desporto suspendeu a suspensão de Fernando Santos. O nosso novo selecionador pode assim sentar-se no banco amanhã em Copenhaga. Se o TAS, entretanto, mudar de opinião, lá voltará o engenheiro a ver os jogos da bancada. Na conferência de imprensa de hoje vimos o Fernando Santos mais bem-disposto e sorridente de sempre. E se Portugal vencer amanhã a Dinamarca todos estes problemas do senta-no-banco-ou-não-senta-no-banco passam a ter pouca ou nenhuma importância. E é isso que se deseja.
“O importante é continuar a jogar e ter saúde” disse agora mesmo Nani confrontado por um jornalista sobre o passo atrás ou o passo à frente que foi o seu regresso ao Sporting. Ao contrário de Abdoulaye, Nani não dá crédito ao desprimor de jogar na Liga portuguesa.


Terça-feira, 14 de Outubro
Por ordem de entrada em ação:
O nosso Gaitán marcou dois golos pela Argentina num jogo disputado em Hong-Kong. Parabéns!
O nosso Ola John não fez o jogo da sua vida e a Holanda foi à vida nos sub-21. O jogo de Paços de Ferreira teve nove golos. O último foi marcado pelo nosso (é nosso, não é?) Bernardo Silva. Portugal esteve sempre tranquilo com a evolução do resultado. 
Quem assistiu ao jogo através da televisão sabe como as coisas se passaram: sempre que o comentador da RTP afirmava que a Holanda tinha um futebol “caótico” os holandeses, que nem o estavam a ouvir, marcavam logo um golo. Foi assim que se chegou a um resultado de 5-4.
À noite, em Copenhaga, entraram os dois Carvalhos na equipa e o nosso Eliseu foi outra vez titular. Como Portugal ganhou à Dinamarca ninguém lhe apontou o dedo. Foi uma vitória sofrida. Garantida com um golo assinado por três autores, o que é apreciável e coisa rara de se ver. O centro de Ricardo Quaresma valeu 30% do golo, a cabeçada de Cristiano Ronaldo valeu outros 30% do golo e o oportuno desvio do dinamarquês Kjaer para o fundo da baliza do filho de Schmeichel valeu os restantes 40%.
Para a História ficará, e muito bem, que o golo foi de Cristiano Ronaldo. Ele merece. É o melhor de todos.
No outro jogo do nosso grupo, o Sérvia-Albânia, o ex-nosso-Mitrovic foi acusado por alguns facciosos de ter provocado o “caos” quando arrecadou à mão o drone que fez voar a bandeira albanesa sobre o relvado do estádio de Belgrado. Não foi o piloto à distância do dito drone que provocou o caos. Foi o Mitrovic. 
Na confusão que se gerou lá na Sérvia vimos o ex-nosso-Markovic, que estava sentado no banco, disparar para o centro da acção em grandes gestos e correrias. Também em Turim, na meia-final com a Juventus, fez uma coisa parecida o que lhe valeu um cartão amarelo que o impediu de jogar a final com o Sevilha. Markovic é um irrefletido genial. Aliás, se não fosse irrefletido ainda estava no Benfica.


Quarta-feira, 15 de Outubro
Lê-se hoje na primeira página de “A Bola”. “Estou numa Liga inferior mas boa para crescer.” São palavras de Óliver, actual jogador do FC Porto, pronunciadas numa entrevista à Marca TV. Óliver saiu do campeão Atlético de Madrid para o campeonato português e, tal como Abdoulaye, sabe muito bem o que são passos para trás, para a frente e para o lado.


Quinta-feira, 16 de Outubro
O próximo jogo de Portugal é em Novembro com a Arménia. A vitória de anteontem lança paz e sossego sobre a selecção e as opções do seleccionador. O único motivo de discussão será, porventura, o novo equipamento da selecção. Camisola branca, calções azuis, meias brancas. Gosto. Tem classe. Faz-me lembrar o equipamento do Paço de Arcos. Há quem não goste. O ex-presidente do Sporting, Godinho Lopes, lamentou há dias a ausência do verde no trajar da selecção. Uns meses antes já o actual presidente do Sporting tinha protestado contra o vermelho da bandeira nacional. E, mais recentemente, desaprovou as bolas vermelhas de protecção dos microfones que recolhiam as suas palavras. Gostos são gostos. E desde que Bruno de Carvalho não exija, um dia destes, a retirada do vermelho dos semáforos poderemos continuar a atravessar as ruas com toda a tranquilidade.


Fonte: Leonor Pinhão @A Bola

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