Sentado numa sala, a ouvir as reacções de altos funcionários da UE aos resultados das eleições para o Parlamento Europeu, parece-me que eles estão em profunda negação. Barroso limitou-se a declarar que o euro nada tinha nada que ver com a crise, que tudo não passou do falhanço das políticas a nível nacional. E há poucos minutos, acrescentou que o problema da Europa é a falta de vontade política.
Isto é absolutamente extraordinário, no pior dos sentidos.
Eu peço desculpa, mas estes níveis de escalada da recessão nunca ocorreram na Europa antes do euro. E nós sabemos muito bem o que aconteceu: desde logo, a criação do euro estimulou fluxos massivos de capitais para o Sul da Europa. E entretanto a torneira secou – pelo que a supressão das moedas nacionais significou que os países devedores tiveram que passar por um processo extremamente doloroso de deflacção. Como é que alguém pode dizer que a moeda não teve nenhum papel na crise...
E se há coisa que a Europa teve foi vontade política. Em toda a periferia europeia do Sul, os governos têm aceite de forma obediente a austeridade extremamente dura que lhes foi imposta, em nome de serem bons europeus. O que é que eles deveriam ter feito que não fizeram?
Parece-me que a ideia é a de que se os gregos, os portugueses, ou os espanhóis, se tivessem verdadeiramente comprometido com os desejos dos todo-poderosos, de implementação de reformas e transformações, então as suas economias iriam crescer, apesar da deflação e da austeridade. Isto é, não parece estar a ser colocada a hipótese de que as coisas estão a correr mal – com estes radicais investidos de poder – por causa de políticas erradas.
Paul Krugman, European Green Lanterns
Fonte: Ladrões de Bicicletas
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