"Não é muito normal ver-se um treinador celebrar um título como Jesus celebrou, no último domingo, no Marquês de Pombal.
O mais comum dos benfiquistas parece definitivamente convertido a Jesus. E o Benfica é sobretudo feito dos mais comuns benfiquistas. Jesus é, portanto, hoje, entre os mais comuns dos benfiquistas, o mais desejado treinador para a próxima época. E se perguntássemos aos mais comuns dos benfiquistas o que esperam, talvez digam que esperam que Jesus continue por muitos e bons anos. Ou, no mínimo, por mais um.
O que aconteceu, mais uma vez ontem na Luz, numa grande noite europeia de futebol, ainda mais gente converte a Jesus, por ser capaz de levar a equipa a enfrentar de peito aberto e coração na mão uma poderosa Juventus, mesmo não tendo o melhor jogador, Gaitán, o jogar que mais em forma começava a estar, Salvio, e o jogador que melhor equilíbrio vinha dando aos movimentos defensivos da equipa. Fejsa.
Apesar de tudo isso, o Benfica atacou, sofreu, reergueu-se e venceu um grande jogo de futebol e prepara-se para discutir até ao fim esta meia-final europeia frente a um adversário que deitará mão de tudo o que puder para não deixar fugir a final da competição que se joga na sua própria casa.
Quantos benfiquistas serão agora capazes de negar que Jesus é grande?!
Não é, por outro lado, muito normal vermos um treinador celebrar o título de campeão como celebrou Jesus o título do Benfica, no último domingo, sobretudo quando chegou à praça do Marquês de Pombal e parecia muito mais um adepto do que o líder técnico da equipa, como se viu, até, pela inesperada e surpreendente reacção das autoridades, quando o confundiram por causa daquele tremendo disfarce.
Apesar de ser um treinador de futebol e de tudo o que ele próprio se impõe como profissional - ele e todos os treinadores -, nunca foi segredo para ninguém o sportinguismo de Jorge Jesus. Mas agora, depois do que se viu no domingo, também ninguém deve ter dúvidas de que Jesus se converteu à Luz.
Foi uma invulgar explosão de alegria e uma invulgar forma de a manifestar.
Sendo verdade que se esperava que Jesus celebrasse o título de forma absolutamente vibrante - tendo especialmente em conta o que sucedeu na última época e depois de tudo o que ele próprio sofreu de contestação - também não precisava Jesus de ter ido tão longe na manifestação da sua imensa alegria.
Mas foi, e os benfiquistas gostaram, certamente, muito.
Com o Benfica campeão, é inevitável falar-se do que terão sido os momentos da época encarnada, o que foi mais decisivo, que histórias ficam a marcar mais o título da equipa de Jorge Jesus. Elege, nesta página, José Couceiro o empate do Benfica em Alvalade, à terceira jornada, como o momento mais dos encarnados. Foi na verdade um momento muito importante, mas haverá outros.
Os golos de Markovic e Lima, o deste já na compensação do jogo com o Gil Vicente, à segunda jornada, depois do mau arranque com derrota no campo do Marítimo, não podem deixar de ser considerados como momentos altos, porque ter perdido mais pontos naquela altura, e logo na Luz, poderia ter conduzido a contestação para níveis ensurdecedores.
Contestação vinda das bancadas que terá terminado de vez à quinta jornada, quando em Guimarães, Joege Jesus perdeu a cabeça para defender um adepto das garras das autoridades. Outro momento-chave da época benfiquista porque a partir daí Jesus ganhou definitivamente o apoio dos mais fervorosos seguidores da equipa.
O desaparecimento de Eusébio veio deixar, já este ano, a marca mais profunda no caminho encarnado. O adeus ao maior jogador da história do clube aconteceu precisamente antes do grande Benfica - FC Porto, a fechar a primeira volta, quando as duas equipas, note-se, tinham o mesmo número de pontos - 33.
Um jogo sempre muito importante.
Claramente tocada pela emoção daqueles infelizes dias, a equipa de Jesus vence por 2-0, como se sabe, e chega à vantagem com um grande golo de Rodrigo, ainda por cima um golo à Eusébio, obtido num remate fantástico, supersticiosamente apontado ao minuto 13 de que Eusébio gostava muito.
Enfim, místico.
Isolado pela primeira vez no comando da Liga - graças a essa vitória bem no final da primeira volta -, e conseguindo então três preciosos pontos de vantagem sobre o grande rival das últimas décadas, o Benfica ganhou asas.
E realmente voou.
PS: Garante-se, nos bastidores da Luz, que Jesus só não será o treinador do Benfica na próxima época se lhe surgir um daqueles chamados convites irrecusáveis do estrangeiro. Caso contrário, fica. Está convertido!"
Fonte: João Bonzinho @ A Bola
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