Primeiro troféu perdido por Cristian Rodriguez!

IMAGINE que, um ou dois meses antes de começar a época, o jogador mais valioso do Benfica anunciava que queria sair. Imagine que, depois disso, era excluído da quase totalidade dos jogos da pré-época. Imagine ainda que o mais valioso jogador do Benfica não era sequer convocado para o primeiro troféu da época. Se puder, imagine também que o Benfica perdia o troféu. Que diria a imprensa? Que se estava perante o maior escândalo desde o Watergate, que o Benfica não conseguia segurar os seus melhores jogadores, evidentemente devido a uma aflitiva falta de organização, que os dirigentes estavam a deixar que um braço-de-ferro com um jogador prejudicasse todo o chamado grupo de trabalho, que estava irreversivelmente afectado pela situação que o colega vivia.

Quando isto acontece no FC Porto, o que se passa é que o jogador manifesta uma natural ambição, ambição essa que vem, aliás, sublinhar a qualidade do trabalho dos dirigentes do FC Porto ao contratarem um jogador extremamente ambicioso. Por outro lado, a SAD portista sabe gerir de forma muito inteligente a situação, poupando o jogador ao desgaste nos sempre maçadores jogos oficiais, impedindo que contraia lesões que prejudiquem negócios futuros. E ainda hei-de ler que, num golpe de génio, Jesualdo Ferreira, a conselho de Pinto da Costa, colocou Ricardo Quaresma nas reservas do FC Porto para que o jogador possa ser a grande estrela da Liga Intercalar, prestigiando assim o troféu.

Se quiser continuar o exercício, imagine o leitor que o Benfica tinha sido campeão no ano passado (aqui vai mesmo ter de imaginar com muita força). Imagine que, depois disso, tinha vendido o lateral-direito titular e, para o substituir, o Benfica tinha contratado um desconhecido que custa cerca de 5 milhões de euros e que é suplente na poderosa selecção da Roménia. Imagine que o lateral romeno tinha cometido um erro infantil no primeiro jogo da época. Imagine também que o Benfica tinha ficado sem o médio defensivo titular e que não tinha arranjado substituto à altura. E imagine ainda que tinha contratado um central que o treinador tinha optado por deixar no banco, e que os centrais titulares tinham andado as aranhas. Finalmente, imagine que, depois de ter sido campeão, o Benfica tinha sido condenado por tentativa de corrupção e tinha perdido todos os troféus disputados depois disso, nomeadamente uma Taça de Portugal e uma Supertaça. Que diria a imprensa? Que o Benfica estava a pagar pelos erros gravíssimos que tinha cometido. Que tinha preferido andar a contratar jogadores para fazer pirraça ao rival em vez de se preocupar com as verdadeiras necessidades do seu plantel. Que tinha voltado a contratar jogadores de baixa qualidade e que dificilmente voltaria a ganhar alguma coisa nos próximos anos.

Quando isto acontece no FC Porto, não há razão para preocupações. Foi feita uma aposta inteligente em jovens promissores, e tudo isso dará frutos a curto prazo porque o FC Porto está muito bem organizado. As derrotas em todos os troféus são acidentes de percurso que a equipa, que é tão organizada, saberá ultrapassar em breve. Ainda bem que a nossa imprensa me elucida, porque eu não tenho discernimento para tanto.

Por Ricardo Araújo Pereira in Abola