sexta-feira, janeiro 15, 2016

O combate real ao crime imaginário

Na semana passada, a Polícia de Segurança Pública emitiu um alerta contra certos alertas. Parece que o facebook está cheio de mensagens que aconselham as pessoas a prevenirem-se em relação a crimes que, na verdade, não existem, e a PSP vê-se na obrigação de combater agora o crime imaginário. É importante não confundir o combate ao crime imaginário com o combate imaginário ao crime modalidade que certas autoridades têm praticado em Portugal, como podemos constatar quando verificamos o número de presos que cumprem pena efectiva pelo crime de corrupção. O combate imaginário ao crime é menos trabalhoso, até porque costuma consistir, precisamente, em não trabalhar. Já o combate ao crime imaginário requer acção e, sobretudo, paciência. Quando a PSP desmente que haja quadrilhas de ucranianos a organizar concertos de apoio aos emigrantes de leste e a assaltar os espectadores com metralhadoras antes de a orquestra começar a tocar, há sempre alguém que diz: "Bom, mas o certo é que isso aconteceu ao meu primo." Obesos e fumadores levam vidas seguras, quando comparados com as pessoas que pertencem ao grupo de risco mais propenso a calamidades: os primos de utilizadores do facebook.

Uma das histórias fictícias que passam por verdadeiras nas redes sociais conta que um homem, primo de vários utilizadores do facebook, passeava tranquilamente pelas ruas de São Mamede de Infesta quando, sem querer, esbarrou com uma senhora vestida de burca, que por causa disso deixou cair a carteira. Quando o homem apanha a carteira e a devolve à mulher, ela fica tão sensibilizada com aquela simpatia que lhe deixa um aviso: "Não passe o ano na Baixa do Porto, pois está em preparação um ataque terrorista." Alertar para a hora e o local de atentados terroristas é, neste momento, a gorjeta dos muçulmanos imaginários. Se um infiel for suficientemente gentil, pode beneficiar de informações a que todos os árabes têm acesso exclusivo, e evitar a morte certa. Noutros tempos, ninguém acreditaria numa história destas. Se, há 15 anos, uma senhora de burca revelasse possuir informações acerca de um atentado terrorista, o transeunte simpático dirigir-se-ia à esquadra da polícia, para que as autoridades tentassem localizá-la, entre a vasta comunidade muçulmana de São Mamede de Infesta. Nos nossos dias, a história é mais plausível na medida em que, agora, quando tomamos conhecimento de uma informação verdadeiramente importante, o procedimento correcto é escrever um post no facebook.


Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão

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