sábado, março 02, 2019

Parabéns, Feicebuque. E boa sorte

Na semana em que se comemora o 15º aniversário do Facebook, resolvi empreender uma profunda reflexão sobre o 15º aniversário da minha ausência do Facebook. Nesta década e meia eu não assinalei publicamente a minha mágoa pela morte do Prince, não exibi o meu excelente repúdio pela guerra na Síria e não dei a conhecer a minha opinião sobre a cor daquele vestido que podia ser dourado mas também podia ser azul. Estou a viver à antiga, como se fosse 2003. Se um amigo faz anos, dou-lhe os parabéns com a boca, artesanalmente. Eu falo, os sons propagam-se no ar, e ele ouve. Em vez de cinco mil amigos, tenho uns dez. Às vezes discutimos, mas não em público, com desconhecidos a ver e a comentar a discussão. De vez em quando encontro pessoas que já não via há muito, mas é na rua. Cumprimento-as e depois retomamos as nossas vidas, cientes de que, se tínhamos perdido o contacto, por alguma razão tinha sido.

Não sei quem seria se fosse uma pedra, uma flor, um animal, uma figura do passado, nem como é que seria se fosse do sexo oposto. Nunca tive de fazer diplomacia de likes: se puser um like nesta publicação irei indispor outras pessoas?, por outro lado, se não puser irei indispor esta? Não sei quais são as dez melhores praias que tenho de conhecer antes de morrer. Nunca li o que Abraham Lincoln disse sobre os perigos da internet. Só comuniquei a um grupo muito reduzido de pessoas onde estava, com quem, e com que estado de espírito. Até porque em princípio estava em casa, sozinho e a sentir-me amorfo, como sempre. Quando me indignei, que terão sido três vezes nos últimos 15 anos, fiquei irritado durante um bocado e depois fui fazer outra coisa. Consegui ficar calado quando Jamie Oliver nos ofendeu gravemente a todos divulgando uma receita de pastéis de nata que incluía crème fraîche e uma cobertura de caramelo de laranja, o filho da mãe. Nunca fiz refresh para ver se o meu comentário tinha respostas ou likes. Mantive as fotografias das minhas férias dentro de álbuns que ninguém vê – nem mesmo eu. Vou tentar sobreviver outros 15 anos.


Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ visão

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