sexta-feira, setembro 14, 2018

Hora essa

Quando se soube que a Comissão  Europeia ia propor o fim da mudança da hora tive, mais uma vez, uma sensação de conforto e segurança. É muito bom saber que, enquanto eu vivo de forma inconsciente e despreocupada, há gente responsável, num gabinete de Bruxelas, a operar as transformações de que o mundo precisa. Além disso, esta proposta vem ao encontro da minha perspectiva sobre a vida. Com o fim da mudança da hora, no inverno o dia nasce às 9 da manhã, e eu sempre disse que 9 da manhã é madrugada. Talvez agora me compreendam.

A regulamentação do calibre das frutas foi um primeiro passo para vivermos uma vida melhor e mais civilizada. Nunca mais tivemos de passar pela experiência traumática de comprar uma maçã de diâmetro irregular. Mas continuava a ser perturbador adquirir maçãs regulamentares às 9 da manhã no inverno. Havia demasiada luz. Por isso, e concretizando certamente um sonho de Jean Monnet, a União Europeia vai intervir no sentido de acabar com a mudança da hora.
Talvez seja injusto atribuir a responsabilidade desta medida exclusivamente à União Europeia.

As notícias sobre o assunto dizem que, e cito: “A maioria dos europeus quer acabar com a mudança da hora.” Fui então investigar em que consulta popular é que a maioria dos europeus exprimiu este desejo e descobri que a União Europeia fez um inquérito na internet em que participaram 4,6 milhões de cidadãos dos 28 Estados-membros, 3 milhões dos quais eram alemães. Tendo a União Europeia 508 milhões de habitantes, 4,6 milhões corresponde a menos de 1% da população. Sucede então que a maioria de uma esmagadora minoria de cidadãos deseja que, em Janeiro, o dia amanheça às 9. Não sei quantos dos 508 milhões de habitantes da União Europeia trabalham no ramo da electricidade, dos candeeiros e das lanternas, mas suspeito que o número ande à volta dos 4,6 milhões.


Pessoalmente, a alteração vai causar-me algum transtorno. A mudança da hora constituía uma excelente desculpa para chegar atrasado. Com jeito, conseguia esticar a desculpa durante uma ou duas semanas. “Fiz confusão porque ainda não mudei o relógio do carro”, por exemplo, era um clássico muito eficaz. Enfim, é mais uma tradição antiga  que se perde em nome do progresso. Ao menos  sabemos que é por uma boa causa.



Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão

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