sábado, maio 20, 2017

Cuidado com os rapazes

Há um aspecto das eleições francesas que tem sido incompreensivelmente desprezado pelos analistas: Macron tem mais ou menos a minha idade. Depois de Justin Trudeau, é o segundo rapaz da minha geração a ascender ao poder. Este facto sugere-me duas reflexões diferentes. Primeira: eu já sou uma pessoa que se refere a outras como “rapazes da minha geração”. A minha avó costumava usar a mesma formulação, no caso dela para designar rapazes de idade igual ou superior a 80 anos. Segunda: isto significa que a minha geração vai começar a mandar no mundo. Temo o pior.

Não sei se estamos preparados. Está tudo contra nós. Somos a última geração a saber o que é viver sem internet, smartphones, redes sociais e apps. Aqueles que vieram depois de nós já não sabem o que isso é e têm dificuldade em imaginá-lo. Para eles, nós nascemos no século XIX. Talvez nunca uma geração tenha estado tão distante da seguinte, quanto à experiência de ser humano neste planeta. “No teu tempo já havia carros?”, perguntam
-me, por vezes, pessoas de gerações mais novas. Depois de mandar essas pessoas para o quarto de castigo, ponho-me a pensar no que aquela pergunta revela: a nova geração olha para a nossa como nós olhávamos para o Marquês de Pombal – e os jovens, mesmo os que não são jesuítas, não consideram certamente agradável um governo do Marquês de Pombal. Eles são pessoas do futuro que, por qualquer razão inexplicável, estão a viver no presente connosco. Agora que mandamos nós, temos de lidar com as gerações anteriores, que acham que nós não sabemos nada, e com as gerações seguintes, que também acham que nós não sabemos nada. Uma coisa é a geração anterior lamentar a nossa falta de experiência, outra coisa é acontecer o mesmo com a geração seguinte. Infelizmente, é possível que os jovens tenham razão: nós temos menos capacidade do que eles no que respeita a lidar com o mundo tal como ele é hoje. Tinha de me calhar a mim: quando finalmente atinjo a maturidade, o mundo muda radicalmente e faz-me criança outra vez. É preciso ter azar. 
E há mais. Tenho a suspeita muito forte de que, em breve, os cientistas descobrirão uma maneira de viver para sempre. Tudo indica que não faltará muito. E eu até desconfio que sei quando é que isso vai acontecer. Em princípio será exactamente um dia depois de eu ter morrido.



Fonte; Ricardo Araujo Pereira @ Visão



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