sexta-feira, dezembro 30, 2016

Donald Trump e "O costa do castelo": um estudo

Quando se soube que a China tinha recolhido um drone subaquático americano em águas internacionais, Donald Trump observou no Twitter que se tratava de um acto "sem presidentes". Algum tempo depois corrigiu para "sem precedentes", mas já era tarde: a explicação para a sua eleição tinha sido finalmente encontrada.

Foi uma tarefa difícil. Ao longo dos últimos meses, vários analistas políticos tentaram descobrir a razão que pudesse justificar que Trump tivesse sido eleito.

Para uns foi por Hillary ser mulher, para outros foi por não ser mulher o suficiente, para outros ainda foi por ser mulher de Bill Clinton. Para certos filósofos amadores, o alaranjado troglodita venceu por representar os desfavorecidos o que constitui uma proeza notável para um milionário que admite não pagar impostos. Para outros analistas, igualmente argutos, Trump ganhou por causa do racismo da sociedade americana a mesma sociedade que tinha eleito um negro para dois mandatos seguidos. Para Bernie Sanders, e cito, "Trump ganhou porque as pessoas estão cansadas da retórica do politicamente correcto". Mas a mais perspicaz foi, sem dúvida nenhuma, a famosa politóloga Madonna, segundo a qual "Trump ganhou porque as mulheres se odeiam umas às outras". "Está na sua natureza", concluiu a especialista. É uma teoria que não consegue explicar a eleição de Thatcher, Merkel, Dilma e Fátima Felgueiras, por exemplo, mas já fazia falta uma voz que viesse recriminar as malvadas sufragistas: isto de as mulheres poderem votar, ao que parece, impede as mulheres de chegarem ao poder. Infelizmente, Madonna não pôde aconselhar Emmeline Pankhurst, e agora estamos metidos neste lodaçal da igualdade de direitos. Com surpresa minha, ninguém considerou a hipótese de a vitória de Trump se dever ao facto de 50 milhões de pessoas terem dito "eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se ele tornar a ir para o hospital, pronto", embora essa possibilidade seja bastante melhor do que qualquer das outras.

Até que, esta semana, Donald Trump chamou a uma manobra militar chinesa um acto "sem presidentes", e revelou que é, afinal, uma personagem de um filme português dos anos 40. Trump é, sem tirar nem pôr, "O Pai Tirano" até porque também é pai, e tudo indica que vá ser tirano. Não admira que tenha sido eleito: toda a gente tem ternura por aquelas personagens, cuja ignorância compõe trocadilhos involuntários que dão muita vontade de rir. Foi assim que ele conseguiu interpretar o sintimento assim mesmo, com i do povo americano. Quando, durante a campanha, ele disse que adorava os eleitores com menos habilitações não estava a ser paternalista estava a revelar auto-estima.

Fonte: Ricardo Araujo Pereira @ Visão

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