sexta-feira, abril 15, 2016

A leste do Paraíso Fiscal

Inocente leitor, temos de falar. Talvez seja melhor sentar--se, porque o abalo que vai sentir pode fazer-lhe mal. Passa-se o seguinte: ao que parece, Vladimir Putin não é uma pessoa completamente impoluta. E não é tudo, leitor amigo. Segundo dizem, há pessoas muito ricas que recorrem a estratagemas manhosos para pagar menos impostos. Juro que é verdade. Descobriu-se esta semana. E mais: certos bancos não se importam com a origem do dinheiro. Venha de onde vier, escondem-no, lavam-no, lucram com isso.

O que os chamados Panama Papers revelaram não é do âmbito da finança, é do âmbito da teologia: há paraísos fiscais e infernos sociais. O funcionamento é ligeiramente diferente do habitual. Quem se porta mal vai para o paraíso. Quem se porta bem (normalmente, porque não tem outra alternativa), vive no inferno. E tem de se sustentar a si mesmo e ao estilo de vida dos que vivem no paraíso. Talvez seja tempo de actualizar aquela frase antiga: na sociedade capitalista nada é certo, excepto a morte e a fuga aos impostos. Não pagar impostos é um sinal de egoísmo – e, por isso, de uma certa pobreza de espírito.

É justo, portanto, que o paraíso fiscal seja destes pobres de espírito. Os apenas pobres ficam no inferno social, para aprenderem a não ser parvos. Os habitantes do paraíso vêem a sua inteligência premiada: não só não pagam impostos como, frequentemente, são proprietários de empresas que beneficiam de subsídios – por exemplo, para não tomarem uma atitude chamada “deslocalização”. Não pagam impostos e recebem dinheiro proveniente de impostos. Acabam por fazer tanto ou mais dinheiro com os impostos como o Estado. É como se um cliente chegasse a uma loja e pedisse um desconto. Sobre o desconto, um preço de amigo. Sobre o desconto e o preço de amigo, uma atençãozinha. E acabasse por receber dinheiro para levar o produto.

Depois dos Panama Papers, creio que nada mais voltará a ser o mesmo. Estas empresas fictícias vão mesmo ter de se retirar do Panamá e arranjar moradas inexistentes nas Ilhas Caimão, para aprenderem. Espera-se que mudem de comportamento e nunca mais se deixem apanhar.


Fonte: Ricardo Araujo Pereira @ Visão

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