Alguém tem de fazer alguma coisa. Talvez a Comissão Nacional de Eleições (CNE) devesse emitir um comunicado. É preciso explicar que, de acordo com a lei, podem ser candidatos à Presidência da República todos os cidadãos portugueses maiores de 35 anos, mas não convém que se candidatem todos ao mesmo tempo. A nove meses das eleições, já temos uns dez candidatos declarados e outros tantos ponderando candidatura. No meu tempo não era assim. Normalmente, havia dois candidatos fortes apoiados pelos partidos do centro, um ou outro independente, um apalermado e o do PCP. Neste momento, há uma grande abundância de apalermados e independentes. É cedo para perceber quem são os candidatos apoiados pelos partidos do centro. E ainda falta o do PCP.
O facto de a Presidência da República atrair cada vez mais candidatos apalermados é muito difícil de compreender. Historicamente, o candidato apalermado nunca ganhou a eleição (se excluirmos as vitórias irrepetíveis do Almirante Américo Thomaz), pelo que a candidatura parece condenada à partida. Não digo que não seja útil haver um candidato apalermado, até para que se respeite a tradição. Mas um palerma faz mais efeito a solo. Acompanhado de outros palermas, vê a sua palermice diluída na dos outros. É por isso que eu ando quase sempre sozinho, ou acompanhado de pessoas claramente não-palermas. A CNE devia chamar à parte os candidatos apalermados e ter com eles uma conversa franca. Dizer-lhes que, sem menosprezar a palermice de cada um, que é realmente vasta, talvez devessem fazer uma reflexão e desistir em favor do mais apalermado.
Creio que seria mais vantajoso para todos se o actual modelo de eleição do presidente fosse substituído por um sistema de cupões. Não há nenhuma prova que indique que as escolhas produzidas por uma tômbola são menos acertadas do que as decisões tomadas em consciência pelo povo português. E é um tipo de sufrágio em que a sorte desempenha um papel importante. Já vai sendo altura de termos sorte numa eleição.
O grande benefício da profusão de candidatos é este: o Presidente da República sai-nos mais barato. Um superavit de candidaturas significa, segundo a lei da oferta e da procura, que o preço do candidato tende a cair. Com o Presidente que termina o mandato em Janeiro já não gastámos dinheiro em salários. É possível que, ao próximo, nem a reforma tenhamos de pagar.
Fonte: Ricardo Araújo Pereira@Visão
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