Mesmo os que o 25 de Abril apanhou a dormir, estavam a dormir revolucionariamente
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Como é evidente, fico à margem de todas estas conversas. Infelizmente, nasci três dias depois do 25 de Abril, e não tenho um passado de luta e resistência para apresentar. Ou, pelo menos, era o que eu pensava. As histórias que tenho ouvido inspiraram-me a criar a minha própria narrativa de combate ao fascismo, toda ela verdadeira. Ora escutem. Passei os nove meses que antecederam o 25 de Abril na clandestinidade. E, também, preso. Na solitária. A cela era húmida, escura, e a comida parecia-me já ter sido mastigada. Resisti como pude a essa longa noite de fascismo e, quando o 25 de Abril chegou, foi como se eu tivesse nascido. A festa foi bonita, mas o fascismo mostrou a sua feia carranca até ao fim: mesmo à saída da prisão, ainda fui agredido, com umas palmadas. E confesso que chorei. Mais de choque e raiva do que de dor, mas chorei. Escuso de dizer que a minha vida, após o 25 de Abril, não tem nada a ver com o que era antes. É uma diferença radical, do dia para a noite. Foi como se tivesse finalmente aberto os olhos. Portanto, e à semelhança de tanta gente que, 40 anos depois, descobriu que lutou e sofreu pela liberdade, também eu passo a ter uma história impressionante de resistência ao fascismo.
Jovens de hoje, desfrutem à vontade da liberdade pela qual eu lutei. Não têm nada que agradecer.
Fonte: Ricardo Araújo Pereira @Visão
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