sábado, janeiro 23, 2010

Subtilezas do futebol português

Há antijogo bom e antijogo mau. Pela segunda jornada consecutiva, um adversário do Porto é expulso por mão na bola sem ter tocado com a mão na bola. Julgo que se trata de uma estratégia para prejudicar o Porto.
O tempo que se perde a assinalar uma falta que não existe, a expulsar um jogador que não merece ser expulso e a esperar que ele saia de campo enquanto tenta fazer ver a toda a gente que o que acaba de acontecer é uma vergonha, são minutos preciosos que o Porto não pode aplicar a marcar golos com a mão.
É certo que, na primeira parte, o Porto marcou um golo que foi mal invalidado. Falcao, que ironicamente dessa vez até optou por marcar com o pé, estava em jogo. Mas, ainda assim, não tão em jogo como estava o jogador do Paços no último minuto do Paços de Ferreira-Porto da primeira jornada, quando se isolou à frente do guarda-redes.

Há ilegalidades boas e ilegalidades más.
As escutas, as nunca desmentidas escutas, foram agora colocadas no YouTube — facto que, como é evidente, vai levantar muitas e importantes questões.
A quem interessa que tenham aparecido? Que leis viola a sua publicação? Quem as publicou? Porquê agora? Porquê no YouTube? Porquê cerca das dez da noite? Porquê com legendas brancas sobre fundo negro? Enfim, vai discutir-se tudo sobre as escutas.
Tudo menos o que lá é dito, bem entendido.
Há sempre quem tenha a caridade de nos explicar que isso é um pormenor que não interessa nada. Pela minha parte, tenho a certeza de que se trata de mais uma urdidura centralista e critico sobretudo o YouTube: um sítio que proíbe a divulgação de pornografia mas não coloca objecções à difusão de obscenidade moral não merece respeito. A outra obscenidade vale muito mais a pena.
Se o incidente tiver alguma consequência, que seja nas escolhas literárias de Pinto da Costa. O presidente do Porto declama José Régio sempre que pode. Mas os diálogos que interpreta nas escutas também são muito ricos. Podia passar a declamá-los nas festas, em substituição do Régio.
Em vez do Cântico Negro, passa a declamar o Cântico ao Homem Que Veste de Negro.
Em vez do verso «Não vou por aí!», o também bonito «Não vá por aí, que a minha casa fica na segunda à direita, depois da rotunda».
É tudo tão subtil, tão cheio de subentendidos... Que faz um árbitro que quer ir a casa de um dirigente desportivo pedir-lhe que preste aconselhamento matrimonial ao pai?
Primeiro, não pede para ir lá a casa, nunca fala no pai, não diz uma palavra sobre aconselhamento matrimonial, e jamais refere o nome do dirigente.
É contactado por um empresário e combinam um encontro com um engenheiro máximo que é gerente de caixa. Que faz um dirigente que é surpreendido pela visita de um árbitro?
Combina a visita com um intermediário, com alguns dias de antecedência, e fornece indicações sobre o melhor caminho para chegar a sua casa — a mesma em que vai ser surpreendido.
Depois da publicação em jornal e na Internet, aguardo a edição destes diálogos em livro. O tribunal não liga nenhuma às escutas, mas o público interessa-se muito por elas.

Há milhões suspeitos e milhões insuspeitos. Quando Benfica e Sporting começaram a fazer contratações de Inverno, Pinto da Costa disse que o seu clube não contrataria ninguém porque no Porto não havia petróleo. Duas semanas depois, o Porto contratou Rúben Micael.
Antigamente, era preciso perfurar o solo para encontrar petróleo. Agora, basta empatar em casa com o Paços de Ferreira. Deve ser uma tecnologia nova.
Se o Paços quiser fazer o favor de vir empatar ao meu quintal, eu agradeço.

Há violência boa e violência má. Os elementos da equipa do Porto vão para o balneário e agridem seguranças. Os elementos da equipa do Sporting vão para o balneário e agridem-se uns aos outros. Trata-se do tipo de agressão que prefiro. É o lado bonito da violência — e Sá Pinto sempre foi o melhor a mostrá-lo.
É um homem que, antes de ser director desportivo do Sporting, fez um curso de direcção desportiva. Chegou dez minutos atrasado à primeira aula, e perdeu aquela parte em que o professor explica: «Bom, isto nem é preciso dizer, mas evitem agredir o melhor jogador da vossa equipa. É a regra básica de um dirigente. Pronto, vamos então começar a dar matéria mais complicada…» Enfim, o destino prega partidas destas.
Liedson recuperou de uma lesão em tempo recorde e, nos primeiros 20 minutos que jogou, marcou dois golos. Sá Pinto decidiu premiá-lo com dois bananos nas ventas.
Hélder Postiga deve ter suspirado de alívio por não marcar golos desde o Paleolítico Inferior. Apesar de tudo, não concordo que a escolha de Sá Pinto para aquele lugar tenha sido disparatada. Sá Pinto tem perfil para dirigente. Infelizmente, é para dirigente do Porto.

Fonte :
RAP@Chama Imensa in Jornal "A Bola" - 2010/01/23

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