Perder um Amigo

Os amigos são uma segunda família. É verdade.

O Pai e a mãe são providenciados pela mãe natureza e pelos avós.

Os Avós, cabem à natureza, ao destino e aos bisavós providenciar. E assim, verticalmente, vai aparecendo todos os nossos antepassados de outros tempos.

Horizontalmente também, já que os avós, provavelmente, não tiveram um único príncipe. O nosso Pai e a Mãe também tiveram irmãos, também conhecidos como tios (ou tias, se forem irmãs), que também terão os seus respectivos filhos (ou filhas), também conhecidos como primos (ou primas).

E para alargar a família os nossos Pais também nos presentearam com alguém para dividir o carinho, atenção e as prendas, Lá aparecem os irmãos e as irmãs.

Os amigos, ah, esses não dependem da natureza ou do destino. Esses somos nós mesmos quem escolhemos. Ok, o destino, a natureza e o trabalho também e encarrega de nos colocar em diferentes lugares e em diferentes situações, para conhecer pessoas diferentes. Mas a escolha de um amigo, essa é pessoal e intransmissível.

Eu, por exemplo, tenho amigos em Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Bélgica, Brasil, e em mais um monte de lugares. Mas todos eles têm alguma coisa em comum: eu os escolhi como amigos. E ao efectuar essa escolha com o tempo fui incluindo-os numa família, mas só de amigos.

A natureza e o destino podem nos “presentear” com os espécimes familiares mais diversos dentre a fauna de Homo Sapiens disponíveis. Mas todos eles já estavam aqui antes de eu chegar. Ou pelo menos boa parte deles. Então, não tive nenhum poder de escolha sobre eles.

Os amigos não. Salvo alguma fenda no espaço-tempo, os amigos são todos contemporâneos e partilhamos coisas em comum: dores, alegrias, cores clubisticas, desporto, prazeres, etc.

Quando alguém parte é sempre muito doloroso, seja um familiar directo ou alguém da nossa segunda-familia. Algo de nos também parte, sentimos que ficou um vazio.

Fica a recordação, a memoria, o que ficou por dizer e por fazer.