sexta-feira, setembro 29, 2017

O problema é lá chegar

Pode parecer que não, mas, na realidade, houve aspetos muito positivos na última exibição do Benfica na Europa. O grego Samaris, por exemplo, esteve em campo no último quarto de hora do jogo e cumpriu com excelência a missão de que foi incumbido: não só não foi expulso como também impediu com o seu esforço que o "score" atingisse proporções que pusessem em risco o marco histórico registado em 1999 em Vigo. Com Samaris em campo em Basileia, o Benfica sofreu apenas 1 golo e a coisa ficou-se modestamente pelos 5-0. No entanto, esteve bem à vista a reabilitação moral da equipa que se viu trucidada na Galiza no derradeiro ano do velho século XX. Duas bolas nos postes de Júlio César e uma soberba intervenção do guarda-redes brasileiro a roubar o golo a Van Wolfswinkel nos minutos finais garantiram a Rui Vitória que o pior resultado de sempre da história europeia do Benfica continua a ser aquele que o seu colega Jupp Heynckes trouxe da funesta viagem aos Balaídos há 18 anos. 

Outro aspeto encorajador desta última viagem internacional dos tetracampeões nacionais é a certeza de que, para bem dos seus pecados, o Benfica não joga em 2017/2018 no campeonato suíço. É que o registo de confrontações com o poderio helvético começou a descambar logo na pré-temporada, com uma exótica goleada sofrida perante a equipa dos Young Boys de Berna. Somando esses 5-1 de julho a estes 5-0 de setembro, é caso para se dizer que não há como a velha neutralidade suíça para neutralizar por completo o estatuto e as ambições do maior emblema de Portugal. 

Mas há mais ilações positivas a tirar do jogo de quarta-feira. A questão das bolas nos postes, por exemplo. Chegou o Benfica à Suíça detendo o inóspito recorde de ter atirado 10 bolas aos ferros nos primeiros 10 jogos oficiais da temporada. O presente transe resolveu-se a bem em Basileia, embora de um modo radical que pode não ter agradado a uma imensa maioria de adeptos. Em 90 minutos, conseguiu o Benfica desfazer a maldição dos postes limitando-se estrategicamente a não rematar uma única vez à baliza à guarda do simpático Vaclik e, assim, se deu por encerrado o assunto com eficácia e prontidão. 

Temos, portanto, um Benfica com zero pontos à segunda jornada do seu grupo da Liga dos Campeões e com a perspetiva de ter ainda de jogar duas vezes com o Man. United, de ter de ir a Moscovo e, mais difícil ainda, de ter de receber em sua casa o mesmo Basileia, esse portento helvético. E também aqui se vislumbra um repto positivo: a Liga Europa, uma provazinha mais à medida das nossas capacidades. O problema é lá chegar. 



Outras Histórias 
Só houve Benfica fora das quatro linhas 
A bater palmas aos adeptos esteve bem a equipa de Rui Vitória Verdade, verdadinha, em Basileia só houve Benfica fora das quatro linhas. E diga-se que a prestação dos dez mil benfiquistas nas bancadas do St. Jakob-Park foi de se lhe tirar o chapéu. A soma dos milhares de quilómetros que toda aquela gente percorreu até chegar ao seu lugar na bancada e a soma dos outros tantos milhares de quilómetros feitos no regresso a casa são a expressão máxima do amor e do querer dos adeptos que não olham a sacrifícios para comparecer onde a sua voz for precisa. E que voz. Aos 3-0, ouviam-se puxando pela equipa como se nada de catastrófico se estivesse a passar. E estava. Aos 5-0, continuavam a fazer ouvir-se, merecendo as atenções e a homenagem da realização da transmissão televisiva que lhes concedeu um merecidíssimo protagonismo pelo seu exemplo de fé nos instantes finais da coisa. No fim de tudo, viram-se aplaudidos pelo público da casa e pelos jogadores do Benfica. Aí, sim, a bater palmas aos adeptos esteve bem a equipa de Rui Vitória. 


Fonte: Leonor Pinhão @ correio da manha

quinta-feira, setembro 28, 2017

Uma indigna auswncia de indignação

A atenção do País esteve concentrada em Fernando Medina, que foi vítima de um maldoso ataque dos seus adversários, primeiro, e de uma maldosa defesa de José Sócrates, depois. Um azar nunca vem só. Mas essas ocorrências fizeram com que passasse despercebido o drama de um homem de 73 anos cuja pensão de reforma a antiga entidade empregadora quer reduzir em 87%. Parece incrível, mas é verdade. O Novo Banco pretende que a reforma de um antigo funcionário, chamado Ricardo Salgado, desça dos actuais 90 mil para uns míseros 11 mil e 500 euros mensais. No momento em que escrevo, a APRe!, associação de defesa dos aposentados, pensionistas e reformados, ainda não emitiu qualquer comunicado. Serei o único, pelos vistos, a defender este pensionista injustiçado.

Quando as reformas sobem apenas um euro, muitas pessoas se indignam, e com razão. Pois a reforma deste homem desceu 78 mil e 500 euros, e há silêncio. É difícil entender este sentido de justiça. Como é que se espera que um homem habituado a auferir uma pensão de três mil euros por dia viva agora com 11 mil e 500 euros por mês? Vai ter de fazer contas, certamente, o que equivale a condená-lo à pobreza: é muito provável que um homem que conseguiu levar à falência o maior banco privado e a maior empresa portuguesa não tenha especial jeito para números.

Há vantagens, claro. Menos dinheiro é mais fácil de guardar, e Ricardo Salgado sempre teve pouco espaço no bolso, visto que, ao que se diz, tinha vários ministros e jornalistas lá dentro. Mas como pode um pensionista que sofre um corte destes na reforma fazer face às despesas correntes? Os medicamentos, a alimentação, as alegadas avenças a administradores – tudo isso custa dinheiro a um pobre reformado. É todo um estilo de vida que se reforma também. A Comporta terá Orbitur? 
O Banco Alimentar terá delegação na Quinta da Marinha? Não devia isto ter sido acautelado antes de se decidir pelo cruel corte na pensão?

Só uma coisa me consola. Em tempos, um construtor ofereceu 14 milhões a Ricardo Salgado em troca de um conselho. Acredito que Salgado tenha mais conselhos para dar – talvez nem todos tão preciosos, mas ainda assim suficientemente sensatos para valerem uma boa quantia. O meu conselho é, por isso, que Salgado aconselhe. Infelizmente, os meus conselhos são famosos por não valerem nada.



Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão

domingo, setembro 24, 2017

Anónimos e famosos da vida real

Em suporte audiovisual e transmitido ao mundo através da funcionalidade do ecrã gigante do estádio a poucos instantes do início de um jogo de futebol este recentíssimo "sketch" do anúncio do alargamento da descendência do presidente teve o condão de, pela milésima vez, colocar na ordem do dia uma dúvida da maior importância para os sociólogos e para os terapeutas que se ocupam destas questões tão globais da influência, das transversalidades e da dependência do mundo do baixo entretenimento audiovisual na relação com áreas da informação e com as áreas do Poder instituído ou a instituir.

Eis, então, a questão necessariamente especulativa:
Tivesse Bruno de Carvalho sido dado a apresentar pela primeira vez ao público português não na condição de candidato e depois na condição de presidente do Sporting Clube de Portugal, como se verificou, mas na condição de um vulgar cidadão anónimo aspirante a "famoso" e apurado para um vulgar "reality-show" – onde entraria apenas como mais um Bruno Miguel – que favores (ou desfavores) receberia este tipo de personalidade dos seus colegas de internamento na "casa" e dos telespetadores destes concursos da "vida real"?

Achar-lhe-iam graça? Ou acabariam por se cansar do narciso e da chinfrineira? Teríamos, nessas circunstâncias hipotéticas, um Bruno Miguel saindo como vencedor depois de ter conquistado com o seu descaramento e linguarejar a simpatia de toda a gente ou, pelo contrário, seria o mesmo Bruno Miguel liminarmente expulso ao cabo da primeira semana de emissões do "espectáculo da vida real" castigado pelos extenuadíssimos demais concorrentes e pela crueldade do televoto popular? 

Colocando de lado os preconceitos aqui está um assunto que dá que pensar até porque se trata de um exercício especulativo alheio às magníficas emoções do futebol e às benesses do estatuto de presidente de um clube de futebol que conferem automaticamente a qualquer ex-cidadão anónimo uma posição de destaque na sociedade e uma reverência por parte dos mídia com que nenhum concorrente de um "reality-show" alguma vez ousou sonhar.

O Benfica revelou esta semana as suas contas. Há quatro anos que o clube não se endivida perante instituições financeiras. Neste período reduziu para metade a sua dívida à banca. Perante isto ninguém foi a correr para o Marquês de Pombal. O campeonato dos números pouco significa para os apaixonados para quem o campeonato da bola é tudo e mais do que tudo. Neste ponto, realmente, as coisas não andam famosas. Os benfiquistas quererão muito acreditar que aquele momento na noite de quarta-feira em que Luisão convocou os colegas para um abraço no meio do campo enquanto das bancadas chegavam o som terrível do descontentamento popular terá sido o arranque, em definitivo, para a temporada de 2017/2018. E já tarda.



Fonte : Leonor Pinhão @ record

sábado, setembro 23, 2017

Virados do avesso

O Benfica, tetracampeão nacional, anda virado do avesso. Alguma vez tinha de acontecer, é certo, porque estes transes da bola não acontecem só aos outros. No entanto, quatro anos é muito tempo e quatro anos de belos sucessos desabituaram, inevitavelmente, os adeptos do Benfica de experimentar o travo amargo da inoperância formal que a sua equipa vem exibindo, sem rodeios, em casa e fora de casa. 

A soma de resultados medíocres, o momento periclitante de alguns setores da equipa e os arranques sem mácula dos dois principais adversários internos viraram do avesso o estatuto do campeão e a relação de confiança com a vasta multidão de público afeto. 

De tal modo tudo é ao contrário do que devia ser, de tal modo vive o Benfica de pernas para o ar que o simples facto – simplicíssimo, na realidade – de ter marcado um golo cedo no jogo com o Sp. Braga na Taça da Liga despertou na assistência do Estádio da Luz um estado de angústia que, francamente, não se sabe se vem dos relvado para a bancada ou se, pelo contrário, parte da bancada para o teatro das operações. 

O caso é bicudo. Obedece a um comportamento padrão de foros surreais e que se resume ao facto de o pior que pode acontecer a este Benfica é adiantar-se no marcador. Assim aconteceu no jogo com o CSKA e depois foi o que se viu: as infames reviravoltas dos resultados mercê de um misterioso abandono do foco na ação e de uma notória incapacidade de gerir a vantagem e, mais preocupante ainda, de a dilatar para sossego das suas gentes. 

Só este bizarro, bizarro porque repetitivo, comportamento da equipa de Rui Vitória explica a ansiedade que se viveu na noite de quarta-feira na Luz quando Jiménez apontou, com um remate impecável aos 10 minutos da primeira parte, o golo que adiantou o Benfica no marcador no jogo inaugural da fase de grupos da tão estimada Taça da Liga. O público, naturalmente, ergueu-se dos assentos para festejar o golo do mexicano mas quando todos se voltaram a sentar o sentimento era unânime e tudo menos otimista: agora é que vão ser elas! E foram, outra vez. 

Tal como o fizeram CSKA e Boavista, também o Sp. Braga encontrou alento no seu suposto desalento e, trocando a bola com grande à-vontade, foi-se aproximando com perigo da baliza do Benfica até chegar ao empate. É um facto que não chegou à vitória como moscovitas e boavisteiros chegaram, mas chegou para o susto e para confirmar a teoria de que o Benfica desliga, e desliga sempre que se vê em vantagem tangencial. Ora é a isto, precisamente, que se chama andar virado do avesso. Até quando? 



Visão futurista da comunicação 
Os puristas que representam ‘os perigos no futebol português’ 
Para já é apenas ficção científica mas um dia veremos um qualquer espaço informativo de uma qualquer estação de TV atribuir o estatuto de comentadores ilustrados no tema ‘os perigos no futebol português’ aos especialistas que pelas suas práticas, pelos seus graus académicos e pelos seus currículos estarão em condições de explicar à multidão o que é isso da permeabilidade do desporto-rei à pequena, à média e à grande delinquência e como é isso de combater os que afligem o bom nome da modalidade com exotismos tribais e generosidades ignóbeis. 

Será este o futuro brilhante que nos aguarda: o império do ‘quem sabe, sabe’, as vozes autorizadas, o respeito do público, o explodir das audiências. Haverá também quem venha a considerar que o abjecionismo tomou conta, de uma vez por todas, da tropa-fandanga da bola. São estes puristas de meia-tigela, estes descrentes no progresso que representam ‘os perigos no futebol português’. Felizmente não passam de uma minoria.



Fonte: Leonor Pinhão @ correio da manha

Reductio ad Portugalum

É um quadro de Werner Buttner: tem um copo, uma escova de dentes, uma bisnaga de pasta dentífrica e uma espingarda. Por baixo, a legenda: “Cuida tus dientes como tus armas”. Se o ministro da Defesa segue o conselho do pintor, temo pelo seu hálito. Caso dedique aos dentes o mesmo cuidado que dedica às armas, Azeredo Lopes não sabe quantos dentes tem, onde estão, nem o estado de conservação em que se encontram. Há jornais espanhóis que sabem mais sobre os seus dentes do que ele próprio.

Numa recente entrevista, a propósito do furto das armas do paiol de Tancos, o ministro disse: “No limite, pode não ter havido furto nenhum. Como não temos prova visual nem testemunhal, nem confissão, por absurdo podemos admitir que o material já não existisse (…)”. Ora, quando a tropa permite que lhe roubem as armas, já estamos perante uma situação absurda. Tenho dúvidas de que ensaiar raciocínios que reduzem ao absurdo ocorrências absurdas seja filosoficamente possível. Gera-se uma concentração de absurdo que não pode fazer bem à saúde. O absurdo devia ser o sal da conversa: uma pitada de absurdo num argumento com pés e cabeça entretém e até ilumina; considerações absurdas sobre ocorrências absurdas são bastante menos proveitosas e costumam ser expendidas em sanatórios.

Sísifo empurra a pedra montanha acima; depois, a pedra volta a rolar para o sopé, e Sísifo começa tudo de novo. Isso, já foi assinalado, é absurdo. No entanto, se Sísifo se puser a conjecturar que, no limite, a pedra talvez não exista e que, por absurdo, a montanha pode nunca lá ter estado, a gente questiona a saúde mental de Sísifo. Uma coisa é executar repetidamente uma tarefa que se sabe ser desprovida de sentido; outra coisa é estar armado em parvo. Higino não falaria dele, e Homero arranjaria maneira de o expulsar da Odisseia.

Quando, em Julho, o Presidente da República visitou Tancos, disse: “Não podemos, em matéria de furto de material militar, ter furtos desta dimensão. Há que prevenir para que não volte a acontecer”, e acrescentou: “É preciso investigar se há alguma ligação entre este furto e furtos que têm acontecido nos últimos dois anos em países membros da NATO”. O ministro Azeredo Lopes, que o acompanhou, não disse (mas deveria ter dito) que não havia nada para prevenir, e que subsistiam dúvidas de que houvesse algo para investigar. É possível que, no limite, Tancos não exista – e mesmo Portugal, por absurdo, pode ser um produto da nossa imaginação. Mas em princípio não é, porque ninguém conseguiria inventar isto.



Fonte: Ricardo Araujo Pereira @ Visão

domingo, setembro 17, 2017

Ascenção e queda de Talisca

Regressaram as competições europeias – que sempre têm o seu encanto especial ainda que frequentemente efémero – e o meio da semana viu-se preenchido com jogos e mais jogos para deleite de quem vibra, por dentro ou por fora, com estes confrontos das nossas equipas perante oponentes estrangeiros. A grande nota da participação portuguesa vai para o Sporting de Braga que, pela primeira vez na sua história, venceu um adversário alemão na Alemanha e para o Sporting, o Sporting propriamente dito, que pela primeira vez na sua história, venceu um adversário grego na Grécia. Estão, assim, os dois Sportings de parabéns pela eficácia com que iniciaram os respectivos percursos europeus.

Benfica e FC Porto, que ainda não tinham perdido nenhum jogo neste início de temporada em Portugal, perderam com estrondo os seus desafios internacionais para surpresa e consternação das suas massas adeptas. Também é verdade que nem o FC Porto tinha ainda jogado nesta época com os turcos do Besiktas nem o Benfica tinha ainda jogado com os moscovitas do CSKA, equipas da segunda linha europeia – ou terceira? – mas que em Portugal discutiriam certamente o título em pé de igualdades com os três grandes do costume.

O que a primeira jornada das provas da UEFA trouxe de substancialmente inesperado ao panorama retórico do nosso futebol foi a surpreendente reabilitação de Talisca aos olhos dos benfiquistas e a sua queda em desgraça na consideração dos portistas. E, também, por respeitosa solidariedade institucional, no apreço dos sportinguistas. Tudo porque o brasileiro emprestado pelo Benfica ao Besiktas marcou um golo a Iker Casillas. É isto o que o futebol gera. Súbitas alterações no clima provocadas por um mísero golo colocam em causa argumentos de outrora e inclinações do passado. 
Como se não bastasse a dramática alteração do estatuto interno de Talisca logo surgiria um novo episódio capaz de estilhaçar corações quando o simpático Aboubakar resolveu ir passar um bom bocado à cabina do Besiktas consumado que estava o jogo e o resultado no estádio do Dragão. Imediatamente emitiu o FC Porto um aparatoso comunicado lamentando a "falta de noção" da RTP. É verdade que a RTP nada – rigorosamente nada – teve a ver com o caso mas trata-se aqui de uma nova forma de comunicar por código. O que, na realidade, o FC Porto queria dizer é que lamentava a "falta de noção" do seu risonho jogador camaronês mas acabou por ser a televisão estatal a apanhar por tabela. Os decifradores desunham-se para entender estas subtilezas da arte da comunicação.
No entanto, e porque o amor é como o vento, já foi designado um "novo" Talisca para entreter os corações que batem a compasso no Dragão e no Altis. Trata-se de Nuno Gomes. E como Nuno Gomes já não pode marcar golos nem ao Porto nem ao Sporting a paixão tem tudo para durar. Se o Nuno Gomes consentir, claro."



Fonte: Leonor Pinhão @ Record


sábado, setembro 16, 2017

Dois maus ensaios gerais

De sexta-feira a terça-feira, em quatro dias apenas, os adeptos do Benfica viram-se forçados a mudar de ideias e a conformar-se com as realidades práticas que os jogos com o Portimonense e com o CSKA na Luz tão dramaticamente evidenciaram. O vídeo-árbitro é, afinal, um posto do progresso do futebol português e, pelo que se viu com os russos, ainda não vai ser este ano que o Benfica vai voltar a ganhar a mais importante prova do futebol europeu. Sabendo-se que as verdades nesta indústria não duram mais do que uma semana esperam agora os benfiquistas pelo desfecho do jogo desta tarde no Bessa para poderem, pelo menos, confiar num dos mais velhos axiomas do jogo da bola e dos espetáculos teatrais. Aquele que reza ser um redobrado mau ensaio geral a melhor dupla garantia para uma performance de estalo. 

Foi com este espírito, otimista, que o público da Luz abandonou o recinto na noite da penúltima sexta-feira, depois de André Almeida ter marcado o golo da sua vida e de o vídeo-árbitro ter anulado corretamente o golo incorreto com que os algarvios chegaram a gelar a casa dos tetracampeões nacionais. Este jogo foi logo considerado como um mau ensaio geral nas vésperas do jogo com CSKA, o que acabava por ser uma excelente notícia em função da crendice popular. Crentes em que a coisa só podia correr lindamente com os moscovitas, os espectadores da Luz regressaram aos seus lugares quatro dias depois para serem surpreendidos por mais um mau ensaio geral. A boa notícia, para quem se fia nisto, é que depois de dois maus ensaios gerais nada obstará cientificamente a que o Benfica acerte com as marcações e faça hoje uma grande exibição com um resultado correspondente na casa do Boavista. 

É bom que o público vá acreditando nestas tradições porque são lendas como estas que fornecem sal e pimenta às discussões anteriores e posteriores a cada ensaio geral. Mas, tal como é bom que os adeptos confiem, é péssimo que os artistas – jogadores e treinadores… - alinhem em semelhantes disparates. Nesta fase prematura da temporada, o Benfica precisa de racionalidade a todo o custo. A verificar-se um terceiro mau ensaio geral não faltará quem, por exemplo, reclame o regresso do emprestado Talisca no mercado de inverno. Precisamente o mesmo Talisca que no ano passado foi vituperado por se ter atrevido a marcar um golo ao Benfica na Luz. Alguma coisa se deve ter passado com Talisca esta semana porque, de repente, registou-se uma mudança de opiniões sobre os méritos do brasileiro exilado na Turquia. Ai passou-se, passou-se… 



Outras Histórias 
Uma grande lição no Dragão  
Aboubakar planando muito acima destas odientas questiúnculas 
Naquele minuto fatídico em que Ryan Babel assinou o terceiro golo do Besiktas no Estádio do Dragão aconteceu, certamente, que milhões de benfiquistas espalhados pelo mundo suspiraram fundo e disseram para com os seus botões. "Pronto! Agora já não podem gozar connosco!" É esta a triste cultura de rivalidade que domina o futebol. 

As tristezas de uns são as alegrias dos outros e vice-versa. Que diferença anímica faz para o povo ignaro levar 2, como levou o Benfica do CSKA, ou levar 3, como levou o FC Porto do Besiktas! Não há fair-play nestas coisas, não há solidariedade nem, muito menos, patriotismo. Uma lástima. Saúde-se, portanto, o simpático profissional camaronês Aboubakar que, planando muito acima destas odientas questiúnculas, visitou alegremente o não menos balneário do Besiktas no Dragão confraternizando com os seus antigos colegas. Antes do jogo? Ou depois do jogo? Não importa. É para dizer que foi antes do jogo? Ah, bom, então foi antes do jogo, não liguem à propaganda.



Fonte: Leonor Pinhão @ Correio da manha

quinta-feira, setembro 14, 2017

História do século XXI, primeiro volume

É difícil não só pelo escasso acesso às fontes, cuja destruição foi quase total, mas também porque só há cerca de dez anos deixámos de fazer fogo com pedras, o que prejudica bastante a historiografia. Quem precisa de esfregar dois calhaus para fazer o jantar (normalmente, baratas fritas) tem menos tempo para dedicar ao estudo da História do que um académico que disponha de um aparelho a que os antigos chamavam fogão. Segundo certos relatos, uma frase popular no século XXI dizia: "A História repete-se." Essa ideia parecia ignorar outra, porventura mais importante: "A Pré-História repete-se também." Foi o que aconteceu após a devastação provocada pela III Guerra. Sobre esse conflito global sabemos apenas que foi provocado por testes nucleares levados a cabo por Kim Jong-un, o ditador de um país chamado Coreia do Norte. Ao que se imagina, o principal problema de Kim Jong-un era o facto de a cara de Kim Jong-un ser extremamente parecida com o rabo de Kim Jong-un. Supõe-se que tenha sido essa circunstância a precipitar os trágicos acontecimentos de 2017, e que motivaram a inclusão, na Nova Constituição Mundial, do artigo 23º, que diz: "Nenhum indivíduo cuja cara pareça um rabo poderá alguma vez candidatar-se a cargos públicos" regra que deve, aliás, ser lida em articulação com o artigo 22º, que prevê a mesma inibição para candidatos com bigodinhos ridículos e/ou caras cor-de-laranja.

De acordo com jornais da época, descobertos no ano passado cem metros abaixo do solo numa casa situada numa localidade portuguesa chamada Marmeleira, a Coreia do Norte era um país subdesenvolvido que, ao contrário dos demais, não era visível do espaço, à noite, dada a escassa iluminação. O conflito iniciado por Kim Jong-un produziu, desse ponto de vista, uma uniformização bastante democrática, uma vez que, agora, nenhum país do mundo é visível do espaço, à noite. Com algum esforço, a humanidade consegue compreender as razões que levaram aos dois primeiros conflitos mundiais. Mas continua a não entender totalmente as intenções de Kim Jong-un nas vésperas do terceiro conflito global e, sobretudo, os motivos que o levaram a fazer eclodir uma inoportuna guerra mundial mesmo antes de o Benfica conseguir o Penta."



Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão

domingo, setembro 10, 2017

Almeida, o bruxo de serviço

Puxa uma cadeira e senta-se uma pessoa à mesa de um café onde já estão sentadas outras quatro ou cinco individualidades. O tom da conversa é desmesuradamente exaltado sendo o assunto ou política internacional ou futebol ou jardinagem ou desemprego de longa duração. Na realidade, tanto faz. Qualquer que seja o tema em apreço é a exaltação geral que se sobrepõe. Já jantada, sentadinha à mesa do café diz finalmente essa pessoa o que lhe vai na alma sobre isto ou sobre aquilo e caem-lhe em cima os demais comparsas em desacordo numa chinfrineira sem medida. São quatro ou cinco contra um. A conversa prossegue, dá à volta à mesa e todos exprimem com alarido opiniões incrivelmente iguais sobre tudo até chegar outra vez a vez do último a chegar que, constrangido pela desproporção em vigor, lá dá ao seu parecer sobre os tópicos em discussão. Logo lhe voltam a cair em cima os outros clientes numa tal gritaria que até parece coisa de gente doida. Uns impedem-no de falar batendo com as mãos no tampo da mesa, outros espumam-se e reviram os olhos e outros desatam a debitar recordações sobre as visitas que faziam à madrinha na Páscoa no tempo em que as madrinhas lhes davam saquinhos com amêndoas e já era um pau. O empregado de mesa não só não mexe uma palha para por cobro aos desacatos como ainda vai servindo doses reforçadas de cafeína porque o patrão lhe disse que estava ali para vender bicas e não para vender chá de tília que dá sono segundo a tradição popular. Um cidadão comum colocado perante uma situação destas, impossibilitado pela grossa maioria de exprimir as suas mais banais opiniões à mesa do café só tem duas opções: ou se levanta e vai para casa tranquilamente deixando os demais a falar sozinhos ou, se for dado a ímpetos socialmente condenáveis, levanta-se e, antes de voltar para casa, vira a mesa do café provocando estardalhaço e uma quantidade de louça partida. Ou não é assim? Toda esta historieta para sugerir que talvez esteja na altura de o departamento de comunicação do Benfica repensar seriamente os termos e os objectivos da participação – ou da não-participação – dos seus esforçados e minoritários comunicadores nas charlas televisivas que, na verdade, só existem maioritariamente à pala do mesmo Benfica.

O que Sporting e Benfica ontem sofreram para vencer o Feirense e o Portimonense deitou um bocadinho por terra a teoria de Manuel Machado e de todos os que, como ele, entendem que a diferença de orçamentos entre as equipas da Liga é determinante e incontornável. Ontem o Sporting só contornou o Feirense no oitavo minuto do tempo extra e o Benfica para vencer os algarvios passou pela vergonha de ter de agradecer ao vídeo-árbitro a anulação – certíssima – do segundo golo de Fabrício e pela vergonha de sofrer as passas do Algarve quando jogava em superioridade numérica contra um recém-promovido. Se foi questão de bruxos, os bruxos estiveram em grande. Os bruxos e André Almeida.



Fonte : Leonor Pinhão @ record




sábado, setembro 09, 2017

Dá-lhes, batanete, dá-lhes!

No remanso do lar, confortavelmente sentado no sofá sem deixar cair aquele sorriso de uma aprovação que vem do fundo da alma, com que orgulho deve o presidente da Liga ter assistido na noite de terça-feira à prova oral do presidente do Sporting, o seu colega de estudos. Ambos terão frequentado o mesmo estabelecimento do ensino superior e, por isso mesmo, ambos são doutores e camaradas de armas na linha da frente da luta pelo progresso. E não se trata de um progresso qualquer. Trata-se de fazer avançar para patamares invejáveis em toda a Europa civilizada a maravilhosa indústria do futebol nacional.

- Que talento! – disse o presidente da Liga, falando com os seus botões, quando viu o presidente do Sporting embrenhar-se na imitação do filho de um presidente de um clube com quem teve um desaguisado recentemente. 
– Dá-lhes, batanete! – clamavam, entretanto, pelos cafés dos subúrbios os apoiantes do presidente do Sporting definitivamente conquistados pelo momento único a que acabavam de assistir.
- Impecável! – murmurou embevecido o presidente da Liga quando viu o presidente do Sporting puxar dramaticamente da Constituição da República para fazer valer a sua liberdade de expressão e ignorar os castigos absurdos que um qualquer órgão disciplinar lhe impôs por dá cá aquela palha.

O presidente do Sporting reservou para si o estúdio da Sporting TV na já histórica noite de terça-feira passada porque terá sentido uma urgência em explicar à minoria ínfima de sócios que não o veneram as verdadeiras razões pelas quais dois ‘capitães’ do clube ficaram tão amarfanhados no fecho deste mercado. O caso de Adrien que vai estar sem jogar até ao Ano Novo e o caso de William que vai estar sem jogar até que Jorge Jesus, o psicólogo anunciado, o consiga recuperar para a vida ativa poderiam estar a provocar algumas ondas de incompreensão – mínimas, esclareça-se… - entre os sportinguistas menos dados a deliciar-se com estas práticas de gestão. E como nesta luta não está sozinho, visto que escolheu o presidente do Porto para companheiro de estrada, não espantará que este também tenha assistido à emissão televisiva por uma questão de delicadeza. 
- Ao pé disto aquela cena do major em roupão à porta de casa passou a ser um dos momentos mais chiques do futebol português! – terá proclamado o pensativo presidente do Porto, quando viu o presidente do Sporting a representar para a câmara o expelir do fumo pelo nariz e pela boca. 
Ai o progresso! O progresso que os confunde.

Outras Histórias
O fim da Aliança Luso-Britânica
Falta a chancela do Porto Canal aos emails do West Ham   
Os jornais noticiaram a decisão do West Ham no sentido de processar o dirigente ‘tuga’ que chamou "dildo brothers" aos responsáveis do clube inglês. Por ignorância, puritanismo ou alto sentido de Estado, a tradução para língua portuguesa da expressão em causa foi, de um modo geral, sonegada aos leitores nacionais deixando perplexos os que não dominam estas áreas de conhecimento linguístico e vocabular. Mas processado porquê? – ter-se-á interrogado muito boa gente antes de correr ao Google para solucionar o bicudo caso. Entretanto, sem menor pinta de fleuma, os britânicos, de tão ofendidos que ficaram, desataram a mandar para a Sky Sports – uma minúscula estação de televisão inglesa que funciona numa loja de sapateiro num bairro pobre de Londres – uns ‘supostos’, "alegados", "forjados" e "mal amanhados" emails. Coitado do West Ham! Coitada da Sky Sports! Mal sabem eles que para os seus ridículos emails serem levados a sério falta- -lhes a chancela do Porto Canal.



Fonte: Leonor Pinhão @ correio da manha 

sexta-feira, setembro 08, 2017

Se governar; não beba

Quando soube que o Texas ia ser acometido por um furação destruidor, Donald Trump procedeu como qualquer grande líder: foi imediatamente escrever no Twitter. A mensagem dizia: “Chuvadas HISTÓRICAS em Houston e por todo o Texas. Cheias sem precedentes e vem aí mais chuva. O espírito do povo é incrível. Obrigado!” Três coisas saltam à vista: 
1. Trump é um daqueles PATUSCOS que escrevem ALGUMAS palavras em MAIÚSCULAS no meio DO texto; 
2. Trump tem dificuldades com o conceito de tom; 
3. Trump agradece, como se fosse um favor pessoal, que o povo do Texas esteja a tentar salvar-se como pode. Gostaria de analisar todos estes pontos detalhadamente.

Quanto ao primeiro, deve registar-se que se trata de mais uma falha de carácter de Donald Trump, a juntar às já conhecidas – e não é das menores. Ao longo do tempo, os membros do Partido Republicano foram abandonando Trump por vagas: uns abandonaram-no mal ele abriu a boca; outros deram o benefício da dúvida até saírem umas gravações sobre o tratamento que ele dava às mulheres; outros esperaram um pouco mas não aguentaram mais quando ele disse que havia gente mesmo impecável na manifestação nazi. Agora que se SABE que ele faz ESTA brincadeira PARVA e extremamente IRRITANTE com as palavras, não se imagina quem possa continuar ao lado de um homem destes.

A propósito do segundo ponto, é interessante notar que o tweet parece ter sido concebido por aqueles maduros que vão contemplar vagalhões para o pontão quando há tempestade. Mais do que preocupação, Trump parece exprimir profunda admiração pelo fenómeno natural. São chuvas históricas – e não vão ficar por aqui. É um fenómeno sem precedentes e temos a sorte de estar cá para o contemplar. Realmente, a natureza tem coisas giras.

O terceiro ponto indica que o presidente dos Estados Unidos da América é aquilo que se costuma designar por “buéda fixe”. Obrigadão, malta. Força aí. Tenho visto pessoal a nadar com muito estilo, nesse dilúvio. Está a dar gosto ver. Continuem. Aquele abraço. Cumps.
Apesar de interessante, a mensagem de Trump não me deixa esquecer a ausência de um tipo especial de apreciador de furacões: aqueles fanáticos religiosos que costumam fazer uma interpretação moral dos fenómenos da natureza. Quando o Katrina destruiu Nova Orleães, disseram que se tratava de um castigo divino aos homossexuais daquele Estado. Ora, desta vez, Deus atacou no Texas, povoado sobretudo por caubóis, que não são cá dados a mariquices – apesar do que sugere o filme O Segredo de Brokeback Mountain, que é eminentemente uma obra de ficção científica. Além disso, Trump acabou de aprovar a proibição da entrada de transsexuais na tropa. Talvez Deus não receba o Diário da República.



Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão

segunda-feira, setembro 04, 2017

É apenas questão de pobreza

E lá seguiu para Marselha o extraordinário Mitroglou a quem os benfiquistas ficam a dever uma impressionante quantidade de momentos sublimes em apenas dois anos de permanência na Luz. O grego que não sabe sorrir e que tanto nos fez sorrir já não mora cá. O seu contributo foi mais do que inestimável para o título de 2015/2016 – foi ele o autor do golo solitário em Alvalade que permitiu ao Benfica ascender à liderança que não mais abandonaria – e, como se não bastasse, foi também ele o autor inspiradíssimo do golo solitário com que o Benfica venceu em Braga ao cair do pano não permitindo ao FC Porto ascender à liderança quando o campeonato de 2016/2017 se aproximava da decisão. A estes dois golos memoráveis somem-se mais 50 tentos assinados pelo grego em 88 jogos e some-se ainda aquele gesto tão seu de cumprimentar os adeptos com um sereníssimo agitar de mão à maneira da rainha de Inglaterra. Ou de outra rainha qualquer. Que rei.

O melhor jogador da última Liga viu-se afastado dos trabalhos da Selecção Nacional porque se terá lesionado no decorrer do jogo do Benfica em Vila do Conde. Vai continuar, assim, o Pizzi sem ver nenhum cartão amarelo durante mais uma semana. Uma coisa destas merece, no mínimo, três assanhadas dúzias de debates televisivos em prol da verdade desportiva convocando-se, para o efeito, todas as forças intelectuais da desgraçada coligação em vigor.

Na noite da passada terça-feira, enquanto o mundo civilizado se angustiava com o lançamento de um míssil norte-coreano que sobrevoou o território do Japão (merecendo este episódio bélico grande destaque nos serviços noticiosos estrangeiros) entretinham-se por cá todas as nossas estações de televisão servindo ao estimado público português altíssimas chinfrineiras sobre a tormentosa questão do vídeo-árbitro que, como é do conhecimento público, se trata de uma acção experimental superiormente autorizada pela UEFA em uns poucos – pouquíssimos – campeonatos da segunda linha europeia. Que a imprensa em Portugal vive uma crise danada é um dado adquirido e, assim sendo, ninguém com o mínimo de bom senso se atreve a sugerir que sairia mais em conta ao patronato manter correspondentes internacionais constantemente a debitar informação em directo do Congresso em Washington ou em directo da mais alta torre de Tóquio ou em directo de qualquer outro lugar exótico do planeta do que enfiar durante três ou quatro horas três ou quatro indivíduos de singela extracção nacional num estúdio de televisão à mão de semear e, sob a orientação profissional de um moderador da casa, pô-los sem moderação aos gritos sobre, repita-se, a tormentosa questão do vídeo-árbitro ou outra qualquer do mesmo género. E desta maneira se vão preenchendo diariamente emissões atrás de emissões a preços mais do que acessíveis. E quem quiser saber o que se passa neste mundo pois que sintonize a CNN. No fundo, a questão por cá é só uma e é triste: pobreza.



Fonte: Leonor Pinhão @ Record

sábado, setembro 02, 2017

É, portanto, costume...

Singularidades do campeão  
Findo o seu quinto jogo oficial da temporada – um empate molengão em Vila do Conde – o Benfica apresenta-se, do ponto de vista clínico, como a equipa mais regular da Europa e, eventualmente, do mundo. Cinco jogos e cinco jogadores recolhidos à enfermaria. Primeiro foi Grimaldo, titular indiscutível, seguiu-se Fejsa, titular indiscutível, depois foi Salvio, outro que tal, e, por fim, apresentaram baixa Jardel – que caminhava, lenta e naturalmente, para a titularidade indiscutível depois de um ano de ausência – e Pizzi, titularíssimo acima de qualquer discussão. A esta mão- -cheia vazia de jogadores de primeira água vem somar-se os três grandes – aliás, enormes – desfalques sofridos do último defeso: Ederson, Lindelof e Nelson Semedo. Se isto não é caso para levar as mãos à cabeça… 

Não, não é caso para tal! – responderão os mais otimistas entre os apaniguados da Luz lembrando que, na época passada, foi a mesma coisa o que não impediu a festa no Marquês, Nem, muito menos, a celebração final no Jamor. É verdade que o Benfica chegou ao título em 2016/2017 não dispondo de Jonas durante metade da temporada – e isto, sim, foi uma proeza – e contando de agosto a maio com as persistentes intermitências clínicas de jogadores como Salvio, como Fejsa, como Mitroglou, como Raúl Jiménez, como Grimaldo, como Samaris e como tantos outros. É, portanto, costume. E, sendo costume, não haverá motivo para alarme. Podem até, os mais otimistas, regozijar-se pelo facto de ter sido o Benfica, mesmo desfalcadíssimo, a impor ao surpreendente Rio Ave a primeira perda de pontos nesta Liga. É uma maneira de ver as coisas pelo prisma positivo tanto mais que esta Liga só agora começou. 

Trata-se tudo isto de uma questão de confiança. Uns confiarão na recuperação rápida dos pacientes, outros terão por certa a injustiça diariamente cometida pelos departamentos de propaganda do FC Porto e do Sporting que acusam os jogadores do Benfica de uma prática continuada de violência quando, na verdade, são eles – os jogadores do Benfica – que vão saindo a coxear a cada jogo efetuado. Exposto o que os otimistas e os confiantes pensam desta série de maleitas, chegou a altura de vos confidenciar o que pensam os calculistas destas singularidades. Os adeptos calculistas, mais frios e mais racionais, pensam que não podia ter vindo em melhor altura o tropeção em Vila do Conde nem a renovada onda de lesões nem as flagrantes fragilidades tendo em conta que as ditas ocorrências se verificaram a uma semana do fecho do mercado de Verão. Mãos à obra. 



OUTRAS HISTÓRIAS 
Balanço ainda impossível, mas…  
A expressão de Acuña em "pico cardíaco" é um hino ao futebol 
É cedo para o balanço do vídeo-árbitro no campeonato olhando, exclusivamente, para a verdade que a sua existência empresta à tabela. Mas não é cedo para duas outras verdades conclusivamente instaladas ao cabo de quatro jornadas da Liga e que se revelam de uma bondade extrema não para o jogo em si, mas, em primeiro lugar, para a corporação: se, há uns anos, uma equipa de arbitragem era composta por 3 elementos e, de repente, passou a ser de 5 com a introdução dos 2 árbitros que ocupam as linhas de fundo, agora passaram a ser 7 ou 8 os árbitros em função de cada jogo com a chegada dos vídeo-árbitros. Ora isto é, corporativamente, um maná. A segunda bondade do vídeo-árbitro é, como diz o treinador do Sporting, a "grande emoção" que dá ao porque provoca "picos cardíacos que até bates coma cabeça no tecto". Aliás, a expressão de Acuña a sofrer um pico cardíaco quando o Estoril atirou com uma segunda bola para dentro da baliza de Patrício é toda ela um hino ao futebol.



Fonte: Leonor Pinhão @ correio da manha

O homem novo do MPLA envelheceu mal

No momento em que escrevo não se sabe ainda que partido venceu as eleições angolanas – e o suspense está a consumir-me. Será que o MPLA vai ganhar? 

E por quanto? 70%? 80%? 110% Todos os cenários estão em aberto. Quando este texto for publicado, o leitor já conhece os resultados, mas eu vou acompanhar pela noite dentro este renhido sufrágio, prestando especial atenção às sondagens à boca das urnas, para tentar antecipar o imprevisível vencedor. Quem não teve oportunidade de acompanhar a campanha eleitoral poderá recorrer ao relato imparcial do editorial do Jornal de Angola sobre todos os partidos concorrentes. De acordo com a avaliação do maior jornal do país, a UNITA vive de “esquemas ideológicos ultrapassados e de preconceitos do passado”, e está “totalmente desfasada da realidade”. A coligação CASA-CE tem “defeitos de nascença” e cai em “vícios políticos”. Quanto às outras formações, “praticamente não fizeram campanha”, sobretudo porque “vêm repetindo o mesmo de há 25 anos”. Finalmente, o MPLA apresenta um “pensamento diferenciador” e um “projecto altamente global e abrangente”. É, portanto, uma decisão difícil, e suponho que ninguém gostaria de estar na pele dos eleitores angolanos. Que fazer? Optar pela indigência política, o irrealismo, o defeito e o vício da oposição ou pela excelência do MPLA? É uma verdadeira escolha de Sofia. Nos últimos 38 anos, o povo angolano escolheu sempre o MPLA, e é provavelmente por isso que hoje tem uma sociedade livre de indigência, irrealismo, defeito e vício. Outra escolha talvez tivesse feito de Angola um país vergado à pobreza, à corrupção e ao abuso de poder.

Segundo os principais analistas, a única certeza que temos quanto ao resultado destas eleições é esta: José Eduardo dos Santos não vai ganhar. Sinceramente, não estou assim tão seguro. Creio que, em Angola, do facto de José Eduardo dos Santos não se candidatar a eleições não decorre necessariamente que ele não consiga ganhá-las. Basta que meia dúzia de delegados nas mesas de voto não tenham recebido a circular correcta. Se, no entanto, se verificar a substituição do actual presidente por outra figura do MPLA, vai ser interessante acompanhar as mudanças que essa transformação implicará: ao fim de quanto tempo estarão bilionários os filhos do novo presidente? Que meios de comunicação social portugueses irão eles e os seus amigos adquirir? Qual a lista de livros cuja leitura vão decretar proibida e punida com pena de prisão? Enfim, será sem dúvida nenhuma uma lufada de ar podre.



Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ Visão 

Desporto de fim de semana - 2024/03/16

Sábado, 2024/03/16  - 14:00 - Futebol - Fc Penafiel -v- SL Benfica B - Liga Portugal 2 | 23/24 - Jornada 26  - 15:00 - Basquetebol - SL Ben...