sábado, março 30, 2019

Inspira, expira

Havia aquela anedota de uma loira que vai ao cabeleireiro. Pedem-lhe para tirar os auscultadores do walkman mas ela diz que não pode ser, caso contrário morre. A esteticista diz-lhe que não seja tonta, tira-lhe os auscultadores e, segundos depois, a loira cai morta. A esteticista põe os auscultadores e ouve uma voz que diz: inspira, expira, inspira, expira. Hoje, a anedota não faz sentido. Já não há walkman, já não há loiras em anedotas e já quase não há anedotas. E, mais importante, já não é extravagante não saber respirar. Há uma boa quantidade de livros, vídeos e até cursos destinados a ensinar a respirar – o que significa que toda a gente precisa de aprender a respirar. E não só: também ninguém sabe bem como dormir. Há dias estava a ver um inovador produto que promete ensinar a respirar melhor para que o consumidor durma melhor. Trata-se de um disco que se coloca na mesa-de-cabeceira. Ele projecta uma luz para o tecto e a gente tem de ir respirando ao ritmo a que a luz brilha. A cadência da luz vai diminuindo e, por isso, a nossa respiração também. E então adormecemos mais facilmente. Estive a segundos de encomendar o produto, que custava 49 libras, até que me ocorreu que eu era a loira da anedota. Talvez neste ponto eu deva fazer algumas declarações de princípios. Eu não acho que exista uma relação entre a cor do cabelo de uma pessoa e a sua capacidade intelectual. Não discrimino entre loiras, morenas ou ruivas. Tenho amigas loiras e acho que elas devem poder casar e adoptar crianças. Possuo um papel azul de 25 linhas selado e reconhecido por um notário que comprova tudo o que acabei de dizer. Mas não queria ser a loira da anedota porque ela é burra ao ponto de não saber respirar. É só isso.

No entanto, hoje ninguém parece saber respirar. Nem dormir. Eram coisas que se nascia a saber fazer, como qualquer animal. Mas agora somos tão civilizados que precisamos de aprender a executar aquelas tarefas que os animais fazem instintivamente, como respirar e dormir. Ora, não é o meu caso. Agradeço a ajuda da sociedade para respirar e dormir mas cá me hei-de arranjar. Eu continuo a ser um animal – como acho que se nota. E não é circunstância que me entristeça, atenção. Posso ser um bicho selvagem, mas poupei 49 libras. 



Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ visão

Porco selvagem é o senhor

Entre as notícias mais interessantes dos últimos tempos conta-se a que revela que Portugal sofre de uma praga de javalis. A existência de javalis costuma ser vista como uma curiosidade adorável, uma plácida ocorrência bucólica. Nunca tendo comido javali, eu já lhe sentia o sabor, por causa dos livros do Astérix. O facto de cada história acabar com um banquete entusiasmava muito o pequeno alarve que eu era. Com os livros dos Cinco era a mesma coisa. Eu não fantasiava muito com as aventuras dos primos que capturavam uma quadrilha de bandidos que estavam escondidos na torre do farol para roubar os planos de um submarino que o tio tinha concebido. Estava mais interessado nas lancharadas que eles faziam, e que me pareciam preparadas com cuidado e gosto. O combate ao crime não me interessava tanto. Portanto, acolho com entusiasmo a notícia de que vai haver debate parlamentar sobre javalis. Tento imaginar como é que a assembleia se dividirá ideologicamente a propósito do javali e tenho dificuldade. Tirando o PAN, que em princípio é a favor da praga, nenhum partido produziu, que eu tivesse visto, pensamento coerente sobre o javali. Na pior das hipóteses, o debate servirá para que os deputados se agridam com insultos inovadores. Por exemplo, proferindo frases tais como: “Na opinião do meu partido, é fundamental acabar com estes porcos selvagens”, enquanto se aponta disfarçadamente para outro grupo parlamentar.

Seja como for, é uma discussão que acompanharei com interesse. Trata-se de um problema difícil: por um lado, a praga de javalis constitui uma ameaça; por outro, é importante tratar dela com alguma humanidade. O destino a dar aos javalis nunca será plenamente satisfatório, sobretudo tendo em conta as duas grandes saídas profissionais que costumam apresentar-se aos javalis portugueses: ou acabam no prato, com batatas fritas, ou num programa de televisão de domingo à noite, a escolher uma noiva. Ambas são bem pouco dignas.Talvez a primeira seja, apesar de tudo, menos má.



Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ visão

Dyego Sousa abre a porta a Gabriel

Cristiano Ronaldo fez o que fez na terça-feira em Turim e a mãe de Cristiano Ronaldo não lhe quis ficar atrás e, na quinta-feira, destroçou também ela muita gente ao vestir-se de vermelho e branco para desejar as felicidades ao Benfica através do Instagram. Os benfiquistas adoraram. Aliás, o namoro entre Dolores Aveiro e os fãs do maior clube português já vem do último dérbi em Alvalade. No fim do jogo, estabelecido o resultado de 4-2 favorável aos visitantes, a mãe de Cristiano Ronaldo respondeu com acenos e um gingar bem-disposto a um cântico que lhe foi dedicado."A Dolores é do Benfica! A Dolores é do Benfica", entoaram os benfiquistas em Alvalade e o momento, que só pode ser entendido com um acto de gentileza mútua, como o quase-hat-trick de João Félix nessa noite. 
Quase-hat-trick porque o número 79 do Benfica marcou dois golos, tendo um sido invalidado pelo VAR, e ainda teve ocasião flagrantíssima para fazer o terceiro num lance anterior à sua substituição. Nesta sua mais recente incursão pelo universo encarnado, teve a mãe do carrasco do Atlético de Madrid (e do presidente do Real Madrid) o cuidado de especificar que não é benfiquista, o que não a impediu de fazer votos de uma "óptima" quinta-feira para a equipa de Bruno Lage. Os votos de Dolores Aveiro não terão contribuído para os três golos sem resposta com que o Benfica despachou o Dínamo de Zagreb ao cabo de 120 minutos de futebol, mas lá que caíram muito bem entre os benfiquistas, caíram. Não há, actualmente, pessoa-não-benfiquista mais apreciada pelos benfiquista do que a mãe de Cristiano Ronaldo. E não será só pelos piores motivos.
O "hacker" de Budapeste soube que vai ser extraditado para Portugal, onde lhe será muito mais fácil estabelecer-se como comentador desportivo "indoor" e João Félix foi convocado para a Selecção A, o seu destino natural. Fernando Santos convocou também Dyego Sousa para os trabalhos. O jogador do Braga tem estatuto de luso-brasileiro e a sua chamada não fere nenhum princípio. A presença de Dyego Sousa no grupo que vai abordar a fase de qualificação para o Europeu de 2020 faz prever que, por um destes dias, seja também chamado por Fernando Santos um outro luso-brasileiro do futebol português, o benfiquista Gabriel. E será pelos melhores motivos.
O sorteio dos quartos-de-final da Liga Europa não foi bom para o Benfica. O Eintracht de Frankfurt é uma complicação a caminho e, em caso de apuramento da equipa da Luz, o favoritíssimo Chelsea seria uma grande, uma enorme complicação. também não teve nada de bom para o Benfica o empate consentido ao Belenenses. Tal como na Liga Europa, também no campeonato nacional tem o Benfica de se esforçar imenso para chegar onde quer. Que se comece já a esforçar amanhã em Moreira de Cónegos.



Fonte: Leonor Pinhão @ record

É mais fácil um camelo passar pelo buraco de um rico

Posso estar a citar com pouco rigor, mas sei que há uma frase bíblica sobre a improbabilidade de acontecerem determinadas coisas a ricos. Às vezes, temos a sensação de que eles são altivos e não têm sentimentos, mas há várias provas do contrário. Ainda esta semana, Ricardo Salgado deu uma entrevista em que confessava: “Consigo dormir, mas não durmo totalmente descansado.” E acrescentou ainda: “Penso todos os dias nos lesados. Todos os dias. E sofro com isso.” O facto de ninguém se ter comovido documenta mais uma vez a profunda crise de valores que a nossa sociedade atravessa. Um homem anuncia em público que, sendo embora capaz de dormir, não consegue fazê-lo totalmente descansado e ninguém se condói, não se ouve um lamento, nada. Além disso, declara que guarda todos os dias um bocadinho para pensar nos lesados do banco que dirigia e nenhum deles foi capaz de lhe agradecer o gesto. É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um lesado manifestar compaixão pelo homem que o lesou. Muito feio. E pouco cristão.

A verdade é que Ricardo Salgado é o maior lesado do BES. Foi quem mais perdeu com a queda do banco. Era o Dono Disto Tudo e deixou de ser. Deve ser terrível perder tanto. Ficou reduzido a apenas umas mansões com vista para o mar e, provavelmente, alguns milhões de euros em contas offshore. Ninguém fala neste drama. Olha-se para ele e nota-se a falta de sono – e a magreza. Desde que o BES colapsou, parece ter perdido uns 200 gramas. Talvez 250. Já dá entrevistas a órgãos de comunicação que não controla através da publicidade, e tudo. 

Enfim, quando se cai é com estrondo. E o pior de tudo é que, ao contrário dos outros lesados do BES, Ricardo Salgado tem de conviver diariamente com o homem que o lesou. Vai fazer a barba e lá está o outro, no espelho. Segue-o para todo o lado, o provocador. É inevitável que Salgado se irrite quando o vê a almoçar em bons restaurantes de Cascais, ou a ver televisão na sala de estar do seu palácio, ou simplesmente a andar em liberdade. Os outros lesados do BES não têm de assistir a isto. Mas Ricardo Salgado dorme com o homem que o lesou. Não admira que não consiga dormir totalmente descansado.



Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ visão

sábado, março 16, 2019

Desporto de fim de semana - 2019/03/16

Futebol 
Sábado, 2019/03/16
 - 11:00 - Académica OAF -v- Braga B - Ledman LigaPro 18/19 (SportTv1)
 - 12:00 - Huesca -v- Alavés - Liga Espanhola 18/19 (11Sports 1)
 - 14:30 - Schalke 04 -v- RB Leipzig - 1. Bundesliga 18/19 (11Sports 2)
 - 15:00 - Benfica B -v- Penafiel - Ledman LigaPro 18/19 (BTv)
 - 15:00 - Clube de Albergaria -v- Sporting - Camp. Nacional Feminino BPI 18/19 (Online)
 - 15:15 - Real Madrid -v- Celta de Vigo - Liga Espanhola 18/19 (11Sports 1)
 - 15:30 - V. Setúbal -v- Braga - Liga NOS 18/19 (SportTv1)
 - 15:30 - Belenenses SAD -v- Portimonense - Liga NOS 18/19 (SportTv4)
 - 17:00 - SPAL 2013 -v- Roma - Serie A 2018/19 (SportTv3)
 - 17:20 - Swansea City -v- Manchester City - FA Cup 18/19 (SportTv2)
 - 17:30 - Athletic -v- Atlético Madrid - Liga Espanhola 18/19 (11Sports 1)
 - 17:30 - Hertha BSC -v- Borussia Dortmund - 1. Bundesliga 18/19 (11Sports 2)
 - 18:00 - V. Guimarães -v- Boavista - Liga NOS 18/19 (SportTv1)
 - 19:00 - Caen -v- Saint-Étienne - Ligue 1 18/19 (11Sports 3)
 - 19:55 - Wolverhampton -v- Manchester United - FA Cup 18/19 (SportTv2)
 - 20:30 - FC Porto -v- Marítimo - Liga NOS 18/19 (SportTv1)

Domingo, 2019/03/17
 - 11:15 - Paços Ferreira -v- Estoril Praia - Ledman LigaPro 18/19 (SportTv1)
 - 11:15 - VVV-Venlo -v- PSV - Holland 18/19 (SportTv2)
 - 11:30 - Genoa -v- Juventus - Serie A 2018/19 (SportTv3)
 - 13:30 - Lyon -v- Montpellier - Ligue 1 18/19 (11Sports 6)
 - 14:00 - Lazio -v- Parma - Serie A 2018/19 (SportTv3)
 - 14:15 - Fulham -v- Liverpool - Premier League 2018/19 (SportTv1)
 - 14:30 - Eintracht Frankfurt -v- FC Nürnberg - 1. Bundesliga 18/19 (11Sports 2)
 - 15:00 - Alverca -v- U. Leiria - Campeonato de Portugal SC 2018/19 (Online)
 - 15:15 - Espanyol -v- Sevilla - Liga Espanhola 18/19 (11Sports 1)
 - 16:30 - Everton -v- Chelsea - Premier League 2018/19 (SportTv3)
 - 17:00 - Napoli -v- Udinese - Serie A 2018/19 (SportTv4)
 - 17:00 - Bayern München -v- Mainz - 1. Bundesliga 18/19 (11Sports 2)
 - 17:10 - Bursaspor -v- Galatasaray - Süper Lig 2018/19 (SportTv5)
 - 17:30 - Moreirense -v- Benfica - Liga NOS 18/19 (SportTv1)
 - 17:30 - Valencia -v- Getafe - Liga Espanhola 18/19 (11Sports 1)
 - 19:30 - Milan -v- Internazionale - Serie A 2018/19 (SportTv2)
 - 19:45 - Real Betis -v- Barcelona - Liga Espanhola 18/19 (11Sports 1)
 - 20:00 - Paris SG -v- Marseille - Ligue 1 18/19 (11Sports 2)
 - 20:45 - River Plate -v- Independiente - Campeonato Argentino 2018/19 (SportTv4)
 - 23:00 - San Martín Tucumán -v- Boca Juniors - Campeonato Argentino 2018/19 (SportTv4)

Quarta-Feira, 2019/03/20
 - 19:45 - Alemanha -v- vs - Sérvia (Sérvia)

Quinta-Feira, 2019/03/21
 - 19:45 - Bélgica -v- vs - Rússia (Rússia)

Sexta-Feira, 2019/03/22
 - 19:45 - Portugal -v- vs - Ucrânia (Ucrânia)
 - 20:00 - Argentina -v- vs - Venezuela (Venezuela)



Formula 1
Domingo, 2019/03/17
 - 05:00 - Formula 1 - Australian Grand Prix



Ténis
Sábado, 2019/03/16
 - 18:00 - Thiem D. (8) -v- Raonic M. (14) - ATP Indian Wells (EUA)
 - 19:30 - Federer R. (4) -v- Nadal R. (2) - ATP Indian Wells (EUA)

Domingo, 2019/03/17
 - 17:00 - Kerber A. (8) -v- Andreescu B. V. (60) - WTA - Indian Wells (EUA)



Modalidade - 2019/03/16

Sábado, 2019/03/16
 - 15:00 - Andebol - ABC de Braga -v- SL Benfica - Taça de Portugal - Fase 2 Jornada (Tvi)
 - 16:00 - Futsal - SL Benfica -v- Modicus - Campeonato Nacional - Jornada 22
 - 17:00 - Futsal Feminino - Nun'Álvares -v- SL Benfica - Campeonato Nacional - Apuramento de Campeão Jogo 3
 - 18:00 - Hóquei - SL Benfica -v- OC Barcelos - Campeonato Nacional - Jornada 20
 - 18:00 - Voleibol - SL Benfica -v- AA São Mamede - Taça de Portugal - Final Four Jogo 2 (SportTv)
 - 19:30 - Andebol Feminino - SL Benfica -v- ABC de Braga - Campeonato Nacional - Jornada 3 (Btv)
 - 20:30 - Hóquei Feminino - FC Alverca -v- SL Benfica - Campeonato Nacional - Apuramento de Campeão Jogo 3

Domingo, 2019/03/17
 - 11:00 - Futebol Feminino - Sporting CP -v- SL Benfica - Campeonato Nacional II Divisão - Apuramento de Campeão Jogo 1
 - 17:30 - Futebol - Moreirense FC -v- SL Benfica - Liga NOS - Jornada 26 (SportTv)

Quarta-Feira, 2019/03/20
 - 20:00 - Andebol  - Sporting CP -v- SL Benfica - Campeonato Nacional - 2ª Volta Jornada 1 




quinta-feira, março 14, 2019

Intoxicação de notícias sobre intoxicação

Parece que Portugal está de tal maneira contaminado por glifosato que todos os portugueses têm no organismo vestígios do herbicida que a Organização Mundial da Saúde classifica como provável carcinogéneo. Já se dizia que o frango tinha hormonas, a vaca tinha antibióticos, o peixe tinha mercúrio e agora tudo tem pesticidas. Confesso que é um grande alívio. Quando tudo está infectado, não há nada a temer. Qualquer estratégia para evitar o mal é fútil. Portanto, há que aproveitar. É como com o pecado. Só há uma coisa pior do que pecar: é pecar mal. 
A partir do momento em que se estabelece que o pecado vai ser cometido, então é para pecar a sério. Para transgressõezinhas, não me convidem. Ou é ou não é. Essa ética do pecador chega agora à comida. Acabaram as preocupações, as estratégias para evitar certos alimentos, os cuidados com a proveniência dos ingredientes: tudo é mau e estamos todos perdidos. Nunca estive tão feliz.

O apocalipse nutritivo dá-me uma fulgurante alegria. Ingiro refeições ricas em colesterol? Sim, e depois? Seja como for, estou todo carcomido por dentro. Fará bem fumar um charuto depois do almoço e outro depois do jantar? É provável que não, mas isso só seria preocupante se eu não tivesse o organismo atafulhado de coisas tóxicas. Não se nega um cigarro a um moribundo, e eu estou a morrer de glifosato há décadas.

Uma vez li um texto de Marina Keegan, uma escritora, dramaturga e jornalista que era intolerante ao glúten. Dizia que, se soubesse o dia em que iria morrer, encomendaria uma última refeição de pizzas, hambúrgueres, donuts e todos os alimentos com glúten que não tinha podido comer. Keegan morreu com 22 anos, num desastre de automóvel, apenas cinco dias depois de se ter graduado magna cum laude na Universidade de Yale. Não pôde cumprir o seu desejo.

Eu acabo de perceber que estou todo podre. Os meus últimos dias são estes. Venha a picanha com antibióticos, a cabidela com hormonas, o sargo com mercúrio, tudo acompanhado de grelos salteados com glifosato. Agora é que eu me vou divertir a sério.



Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ visão

sábado, março 02, 2019

Nove Em Cada Dez Secretários De Estado Recomendam

Quando se soube que o secretário de Estado João Galamba tinha pedido aos cidadãos da Guarda para recompensarem os investimentos da EDP na região consumindo mais energia, fiquei chocado. Eu também já fiz publicidade a grandes empresas e não creio que este seja o método mais adequado. Segundo o Jornal de Notícias, Galamba disse mesmo: “Continuem a consumir. Consumam mais.” Ora, se é certo que todas as manobras publicitárias visam apelar ao consumo, também é verdade que esse apelo será mais eficaz na mesma medida em que consiga ser subtil. Cristiano Ronaldo não encara a câmara para dizer simplesmente às pessoas que consumam mais champô. Primeiro, gaba as qualidades do produto no combate à caspa, à comichão e à oleosidade. E deixa subentendido que são as virtudes do champô que lhe permitem acelerar com mais alegria no carro descapotável em que se encontra. Receio, por isso, que a intervenção de João Galamba não tenha sido tão persuasiva como a direcção de marketing da EDP desejaria.

Uma estratégia clássica, mas sempre boa, é a recomendação. A figura escolhida para protagonizar o anúncio revela ser consumidora do produto e aconselha o público a fazer o mesmo: “Olá, eu sou o secretário de Estado da Energia e sinto-me fresco, seguro e natural porque consumo os produtos da EDP.”

Mais interessante ainda é evidenciar o modo como o produto anunciado nos mudou a vida: “Eu sou João Galamba, e há apenas quatro ou cinco anos era um blogger obscuro. Mas entretanto comecei a consumir a energia da EDP, e agora sou secretário de Estado. Obtenha também o sucesso consumindo os produtos EDP.”

Outro modelo de reclame é aquele em que se conta uma pequena história na qual o produto desempenha um papel decisivo. Por exemplo: “Ontem mesmo solicitei o aumento de potência contratada à EDP e assim pude lavar, secar e passar a minha camisola da EDP, que trago sempre vestida por baixo do fato.”

A última sugestão é arriscada mas, por isso mesmo, chama muito a atenção. Trata-se de usar psicologia invertida e desdenhar do público: “A energia da EDP é, de facto, muito boa. Mas, se não quiser, não consuma. Mesmo que todos os cidadãos da Guarda passem um ano sem acender uma única lâmpada, a EDP já ganha mais do que o suficiente, só com os chamados CMEC.



Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ visão

Sísifo na corticeira

Primeiro, Cristina Tavares foi despedida por extinção do seu posto de trabalho. Recorreu para tribunal e teve sentença favorável: a corticeira Fernando Couto Cortiças S.A. teve de indemnizá-la e reintegrá-la. E então Cristina Tavares foi obrigada a carregar e descarregar os mesmos sacos de 20 quilos para a mesma palete, ao sol, com constantes hemorragias nasais. A Autoridade para as Condições do Trabalho foi investigar e confirmou que nós, aqui na civilização, não toleramos este tipo de prática, e autuou a Fernando Couto Cortiças S.A. em 31 mil euros, julgando que a multa iria ter um efeito pedagógico. Mas agora a Fernando Couto Cortiças S.A. despediu novamente Cristina Tavares por calúnias.

Isto dos despedimentos é como o amor: a gente pode nunca esquecer o primeiro, mas ao longo da vida aparece outro que é o verdadeiramente marcante. O primeiro despedimento de Cristina Tavares foi muito engraçado, sobretudo por assentar numa alegação que o tribunal julgou aldrabona, mas este segundo parece-me ainda mais bem conseguido, na medida em que aponta como falsa uma acusação que um organismo do Estado já considerou verdadeira. Uma análise superficial do caso levar-nos-ia a concluir que a Fernando Couto Cortiças S.A tem dificuldade em distinguir o bem do mal, mas não é assim. Quando despede Cristina Tavares por considerar que as acusações que ela fez à entidade patronal são ofensivas, mostra ter consciência de que tratar um trabalhador daquela forma é repugnante. Essa consciência é muito saudável. Agora basta não tratar um trabalhador de forma repugnante, para não ser acusada de ser repugnante.


Não sei como funciona a cadeia de comando da Fernando Couto Cortiças S.A., mas há-de ter havido uma reunião em que se decidiu obrigar Cristina Tavares a carregar constantemente as mesmas sacas, e pelo menos um director teve de comunicar à funcionária que o seu trabalho passaria a ser esse. Para descobrir quem são essas pessoas, talvez as autoridades possam procurar, na Fernando Couto Cortiças S.A., quem tenha o corpo todo em carne viva, uma vez que, após praticar esse tipo de sujeira, imagino que uma pessoa chegue a casa com muita vontade de se esfregar toda com palha-de-aço. De qualquer modo, o caso acaba por ser uma excelente publicidade à Fernando Couto Cortiças S.A. e à indústria corticeira em geral: se uma empresa pode dar-se ao luxo de aplicar a força de trabalho de um funcionário em tarefas inúteis e desperdiçar dezenas de milhares de euros em multas e indemnizações, é porque o negócio vai de vento em popa.



Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ visão

Melhor na delação do que na competição

Foi uma boa semana da comunicação do Benfica. E nem foi preciso suar para que tudo corresse de feição. Foi, por outro lado, a pior semana da comunicação do FC Porto desde que entraram em vigor as coordenadas nascidas daquele concílio com o Sporting num quarto de um hotel em Lisboa e fotografado à socapa pelos serviços secretos sabe-se lá de quem. Antes de revisitarmos os passos trocados da comunicação do comandante da Liga desde o preciso instante em que Jorge Sousa deu por findo o jogo em Moreira de Cónegos, 100 minutos depois do apito inicial, é justo proceder ao reconhecimento do supremo laconismo do treinador Benfica ao longo da semana. Até no futebol-falado da guerrilha ocorrem, por vezes, situações, em que menos é mais.
Recapitulemos, então, o minimalismo do antigo treinador da equipa B da Luz.
Sobre a goleada imposta ao adversário da 21.ª jornada do campeonato, disse: “O Benfica são as pessoas.” Quanto à interdição do Estádio da Luz por 4 jogos por requisição do Sporting – …e que lhe valerá por outros 4 títulos a reconhecer pela Assembleia da República –, afirmou Lage, sem dramas: “Jogaremos onde quer que seja.” No que diz respeito à primeira vitória do Benfica em solo turco com recurso a mais de meia-equipa de garotada formada em casa, anunciou burocraticamente: “Amanhã há treino.”
E basta porque o importante é vencer no campo e, vencendo no campo, quanto menos conversa e menos explicações, melhor.
Outros, porém, não vencendo no campo no decorrer de uma semana (atípica), viram-se forçados a um registo inaudito de conversas a mais e, sobretudo, de explicações a mais.
E, assim, lá foi obrigado – pelas circunstâncias e pelo patronato – o treinador das crianças do FC Porto a vir a terreiro explicar ao país as razões ponderosas e sábias que o levaram a excluir o Félix da “cantera” local e a despachá-lo para o Padroense.
Como se não bastasse, no dia seguinte, lá se viu forçado – pelo patronato e pelas circunstâncias – o valente defesa central Filipe a vir a terreiro acrescentar à explicação oficial fornecida por F. J. Marques a sua própria explicação oficiosa para o gesto (atípico) que dirigiu ao seu treinador mal terminou o jogo em Roma.
Numa semana menos risonha em termos de resultados, de linguagem gestual e de outras coisas – bem melhor na delação do que na competição estiveram, por exemplo, os parceiros do Altis –, deu-se por feliz o patronato por não ter de dar explicações a ninguém.
Patrão é patrão. Fala quando quer e visita quem quer sem que lhe exijam carta de intenções. E se foi à cabina dos árbitros no fim do jogo em Moreira de Cónegos só haverá a lamentar que os eventuais conselhos matrimoniais prestados a Jorge Sousa não sejam já do domínio público porque muita gente, árbitros e não-árbitros, beneficiaria certamente com tanto “know-how” acumulado.
Isto é que não foi nada atípico.



Fonte: Leonor Pinhão @ record

Parabéns, Feicebuque. E boa sorte

Na semana em que se comemora o 15º aniversário do Facebook, resolvi empreender uma profunda reflexão sobre o 15º aniversário da minha ausência do Facebook. Nesta década e meia eu não assinalei publicamente a minha mágoa pela morte do Prince, não exibi o meu excelente repúdio pela guerra na Síria e não dei a conhecer a minha opinião sobre a cor daquele vestido que podia ser dourado mas também podia ser azul. Estou a viver à antiga, como se fosse 2003. Se um amigo faz anos, dou-lhe os parabéns com a boca, artesanalmente. Eu falo, os sons propagam-se no ar, e ele ouve. Em vez de cinco mil amigos, tenho uns dez. Às vezes discutimos, mas não em público, com desconhecidos a ver e a comentar a discussão. De vez em quando encontro pessoas que já não via há muito, mas é na rua. Cumprimento-as e depois retomamos as nossas vidas, cientes de que, se tínhamos perdido o contacto, por alguma razão tinha sido.

Não sei quem seria se fosse uma pedra, uma flor, um animal, uma figura do passado, nem como é que seria se fosse do sexo oposto. Nunca tive de fazer diplomacia de likes: se puser um like nesta publicação irei indispor outras pessoas?, por outro lado, se não puser irei indispor esta? Não sei quais são as dez melhores praias que tenho de conhecer antes de morrer. Nunca li o que Abraham Lincoln disse sobre os perigos da internet. Só comuniquei a um grupo muito reduzido de pessoas onde estava, com quem, e com que estado de espírito. Até porque em princípio estava em casa, sozinho e a sentir-me amorfo, como sempre. Quando me indignei, que terão sido três vezes nos últimos 15 anos, fiquei irritado durante um bocado e depois fui fazer outra coisa. Consegui ficar calado quando Jamie Oliver nos ofendeu gravemente a todos divulgando uma receita de pastéis de nata que incluía crème fraîche e uma cobertura de caramelo de laranja, o filho da mãe. Nunca fiz refresh para ver se o meu comentário tinha respostas ou likes. Mantive as fotografias das minhas férias dentro de álbuns que ninguém vê – nem mesmo eu. Vou tentar sobreviver outros 15 anos.


Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ visão

Traços de personalidade de um ascendente remoto

O presidente do Sporting atirou-se ao presidente do Benfica como gato a bofe. Os analistas convencionais não demoraram a descodificar esta volúpia insultuosa de Frederico Varandas. trata-se de um ativismo, foi a conclusão a que chegaram. No campo da Biologia diz-se que um ativismo é a "reaparição em um descendente de traços de personalidade de um ascendente remoto que permaneceram latentes por várias gerações". Em sentido figurado, um ativismo remete para a "hereditariedade biológica de características psicológicas, intelectuais, comportamentais". Perante a ânsia latente na diatribe de Varandas, os analistas parecem ter toda a razão. É que este episódio, apesar de recentíssimo, remete para todo um historial de episódios já seculares. E, assim, é legítimo concluir que esta semana o presidente do Sporting limitou-se a ser presidente do Sporting.
Existe, no entanto, uma segunda escola de analistas que explica de outro modo, bastante menos convencional, a inspiração para esta epístola furiosamente anti-Benfica assinada por Varandas a meio da semana. Não lhe terá surgido por causa daquele impulso atávico de insultar o presidente do clube rival fornecendo, sem custos, uma alegria e um suplemento motivacional às suas hostes em vésperas de dérbi.. Não, nada disso. Não é com o Benfica nem com o lugar onde se vai sentar para assistir ao jogo que o presidente do Sporting está preocupado. É com a aproximação vertiginosa do dia do lançamento do livro de memórias do ex-presidente do Sporting que o actual presidente do Sporting está preocupado. E ainda que à pala do Benfica, tocou a unir as hostes, fez bem.
Há qualquer coisa de inatingível e de muito perverso nesta febre com que o Benfica se dedica a contratar para as suas camadas jovens os descendentes de velhas glórias portistas. Depois do filho de Sérgio Conceição, teremos agora no Seixal um filho de Domingos Paciência e ambos os progenitores estão descansadíssimos porque têm os filhos bem entregues. No entanto, o "benfiquismo" mais básico torce um bocadinho o nariz a estas notícias. Ah, se "eles" fossem mesmo jeitosos, de certeza que jogariam no FC Porto e não os deixavam sair... - é esta a suposição corrente entre os que não acreditam no Pai Natal e são pessimistas por natureza. Já os optimistas por natureza vêem a coisa de uma maneira totalmente diferente. Para estes, é óbvio que Sérgio Conceição e Domingos Paciência estão apenas a zelar para que ninguém diga aos seus talentosos filhos o que foi dito ao pequeno João Félix lá no FC Porto: aqui não, miúdo, no Padroense, talvez...
O Benfica despachou as suas quatro contratações mais ou menos sonantes do defeso passado e fez subir à equipa principal o mesmo número de jogadores da equipa B. E passou duas mensagens para o exterior: que se espalhou ao comprido no mercado de verão e que o Seixal é que é. E será. Ou não será?



Fonte: Leonor Pinhão @ record

Infâncias Peculiares

Estás outra vez a estudar físico-química, Luís Miguel? Eu vou esconder esse livro. E o Fortnite? Quando é que tu obténs uma Victory Royale, Luís Miguel?

– É difícil, mãe. E para a semana vou ter teste de físico-química.

– Físico-química, físico-química. Só pensas em físico-química. Valha-me Deus. O teu primo ainda ontem matou 20 utilizadores só com o machado, ainda antes de explorar a ilha à procura de pistolas e munições. Porque é que tu não podes ser mais como o Fábio?

– O Fábio chumbou a físico-química, mãe.

– Ó Luís Miguel, eu percebo que tu gostes de físico-química e se quiseres seguir físico-química no futuro o teu pai e eu apoiamos-te. Mas primeiro está o Fortnite. Jogar só uma ou duas horas todos os dias não te custa nada. E depois então, se quiseres, estudas a tua físico-química. Até te faz bem, para espairecer. Mas assim não. Não me obrigues a pôr-te de castigo.

– Mas é que eu não tenho muito interesse naquilo.

– Não tens interesse. E tens a desfaçatez de o dizer. Sabes o sacrifício que nós estamos a fazer para te pagar as explicações com aquele excelente gamer? Chega de físico-química. Estou a perder a paciência contigo, Luís Miguel. Arruma o livro, liga a PlayStation e põe os auscultadores. Não sais do teu quarto enquanto não jogares três horas de Fortnite.

– Mas é quase hora de jantar.

– Não me interessa. É o que acontece aos meninos que não jogam Fortnite. Tivesses pensado nisso quando estavas a estudar físico-química. Só pensas em fórmulas. E as skins para seres outras personagens? Compro-as eu? Ainda não gastaste os vbucks que o teu pai te comprou em Novembro. Eu nem lhe vou dizer, para não haver problemas. Mas tens de me prometer que jogas, Luís Miguel.

– Mas eu não jogo bem.

– Porque não praticas, Luís Miguel. Eu sei que tu, se te esforçares, consegues passar de nível. Tu não gostas de matar pessoas e derrubar edifícios em busca de material para construir torres no topo das quais podes construir um ponto de mira para snipers, Luís Miguel?

– Sim, mas eu não percebo bem o jogo. Para que é que servia aquele cubo roxo que apareceu na season 6?

– Ninguém percebeu, Luís Miguel. Mas o que não perceberes deixas e avanças. Em vez disso, disparaste contra o cubo roxo e ele matou-te, Luís Miguel.

– Porque quando se disparava contra o cubo ele libertava um relâmpago e eu gostava de ver a reacção química.

– Outra vez a química, Luís Miguel. Mas será que tu não te consegues concentrar em nada sem ir buscar a química? Eu choro todos os dias por tua causa, Luís Miguel.




Fonte: Ricardo Araújo Pereira @ visão


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