quinta-feira, abril 30, 2015

Em Portugal as homenagens são sempre contra alguém

“Que coisa é um nome?”
William Shakespeare
“Romeu e Julieta”
Acto II, Cena 2


Diz a sabedoria popular que as homenagens em Portugal são sempre contra alguém.E são. Como ainda se viu no domingo passado.
Ou como explicar a correria de Ricardo Quaresma para os braços de Jorge Jesus depois de tudo o que se passou?
O jogo chegara ao fim com um resultado não pior do que apenas pouco satisfatório para as contas do Porto. Nada está ganho, nada está perdido.
Mas chegou o jogo ao fim com o treinador do Porto, “don” Julen Lopetegui Argote, de seu nome completo, observado de cabeça perdida à entrada do túnel, todo ele a crescer em bravatas para o treinador do Benfica.
Mas que ego tem o basco! Não troca o reino por um cavalo, como Ricardo III, mas já que o hipotecou quer, efusivamente, o seu nome bem pronunciado para a posteridade: Rulén Ló Pê Teggy, é assim, aprendam.
Revendo as imagens fica-se com a ideia de que Jorge Jesus demorou a entender o sentido das palavras de “don” Julen. Tudo se inicia em ambiente de aparente bom-tom, até de elogiável cordialidade entre rivais.
Puro engano de Jorge Jesus. E é só quando o treinador do Porto se repuxa todo num frenesim até lhe encostar a franja, que é a sua imagem de marca, que o treinador do Benfica dá conta da má disposição do colega.
Ficaram, naturalmente, as actuações dos dois protagonistas à mercê do crivo da crítica profissional e dos desmandos da opinião pública com larga vantagem para Jorge Jesus por não ter sido o causador do incidente, por não se ter encolhido e também por não se ter esticado mas, muito principalmente, por não se ter deixado arrastar no engodo de prosseguir com a conversa pelo túnel dentro.
“Don” Julen bem tentou.
Já internado no túnel, o basco ainda se virou mais umas quantas vezes para o treinador do Benfica a citá-lo de longe para a discussão onomástica a coberto da escuridão. Mas não teve sorte.
Imperou o bom senso e o treinador do Porto foi sendo empurrado para o urgente recato por gente tranquila do staff portista, gente que, cá para mim, devia estar com uma vontade danada de lhe chamar, no mínimo dos mínimos, Lopotegui ou Lotopegui ou pior ainda.
Foi feio? Foi.
Bonito, bonito mesmo, foi o que se passou no relvado assim que Jorge Sousa apitou para o fim. Os jogadores das duas equipas cumprimentando-se como que a provar que o futebol pode ser um lugar cortês. Os dois guarda-redes abraçando-se e trocando de camisolas como que a vincar que o futebol pode ser um lugar bem frequentado.
E, finalmente, Ricardo Quaresma que depois de abraçar Júlio César se dirigiu a Jorge Jesus com quem trocou beijos e, se calhar, até uma confidência:
- Não faça caso, mister, aquilo é só fumaça, eu também lhe chamo Tototegui e ainda aqui estou para as curvas…
Quaresma começou o jogo sentado no banco de suplentes. Entrou em campo só a meio da segunda parte. Deveria ter entrado de início? Nunca se saberá. Mas que saiu de campo em grande estilo, lá isso saiu.


Falando de golos. No último domingo, 2206 dias depois da última vez que ficou em branco no Estádio da Luz, o Benfica voltou a ficar em branco num jogo disputado em casa.Falando de contas. Os adeptos não se mostraram muito desagradados porque o resultado com que o jogo terminou – 0-0 – permitiu ao Benfica manter sobre o Porto o avanço de 3 pontos que terá agora de defender nas quatro jornadas que faltam até ao fim do campeonato.
Falando do futuro. Três pontos a mais. Não é uma vantagem sobrenatural. É, muito simplesmente, um avanço vulgar, corriqueiro, uma vantagem concreta mas que não consente desleixos. E bem sabe o Benfica como, por negligência ou por delírios de optimismo, se podem perder títulos que estiveram à mão de semear.
Falando do Gil Vicente. É o próximo adversário. Ocupa os últimos lugares da tabela e luta afincadamente para não descer de divisão. No sábado, o Benfica só somará 3 pontos se for a Barcelos predisposto a lutar afincadamente para ser campeão.
Falando do nome do treinador adversário. José Mota. Não haverá enganos. José Albano Ferreira Mota. Ninguém lhe vai trocar o nome. Trata-se de um treinador português, bem conhecido, com uma honrada folha de serviço. Fez-se a si próprio sem benesses nem padrinhos.
Todos a Barcelos. Carrega, Benfica.


Com o clássico do último domingo terminou o mini-campeonato entre os três grandes que, obviamente, nada decide mas que sempre alimenta a retórica de que o país se alimenta nestes fervores.Abundaram os empates. Mas o melhor dos três grandes nos jogos entre eles disputados foi o Benfica porque ganhou um jogo ao Porto e empatou os demais. O Porto ganhou um jogo ao Sporting, perdeu um jogo com o Benfica e empatou os restantes. Quanto ao Sporting, somou duas derrotas e dois empates.
Lá mais para o fim de Maio, e se o Benfica cometer a difícil proeza de revalidar o título, talvez os estudiosos da matéria apontem para os dois golos de Lima no Dragão como os momentos fulcrais da Liga de 2014/2015.
Permitam-me discordar. Os dois golos de Lima têm grande importância. Mas, aconteça o que acontecer nas quatro jornadas que faltam disputar, o momento mágico que permitiu ao Benfica perseguir o sonho da revalidação do título terá sido aquele do golo de Jardel ao cair do pano em Alvalade.
Jardel Nivaldo Vieira, o nosso inconfundível Jardel, um portento de oportunidade.


Um jogo sem golos não é obrigatoriamente um mau jogo de futebol. O Benfica-Porto não teve golos mas foi, em termos atléticos, o melhor jogo do campeonato em curso.Pela intensidade posta em campo, pela altíssima rotação com que foi disputado do princípio ao fim, pela entrega de todos, pelo fair-play e também pela excelente arbitragem, o Benfica-Porto de domingo mais pareceu um jogo “estrangeiro” do que um jogo da nossa Liga que é bastante pindérica de tal monta são as diferenças entre os dois emblemas que disputam o título e as demais 16 equipas.
Poderão contrapor os benfiquistas dizendo que bom jogo do Benfica foi o dos 6-0 ao Estoril. Mas como se não houve Estoril? Poderão também ripostar os portistas clamando que bom jogo do Porto foi o dos 3-0 ao Sporting. Mas como se não houve Sporting?
No domingo, houve Benfica e houve Porto. Anularam-se, é certo, porque são equipas do mesmo campeonato. Não houve golos, é verdade. Mas o combate foi formidável.
Em função das circunstâncias da classificação e do resultado do jogo da primeira volta entre ambos, este Benfica-Porto teve muito mais características de uma eliminatória a duas mãos de uma prova internacional, de uma Liga Europa (também não chegou aos calcanhares de uma Liga dos Campeões…) do que de um jogo do nosso campeonato de trazer por casa.
E é caso para dizer que o Benfica, jogando manco do lado direito na ausência de Eduardo António Salvio, defendeu muitíssimo melhor (e a coxear) a sua posição de privilégio e o seu bom resultado no Dragão do que o Porto fez, objetivamente, para o reverter em seu favor na Luz.



E agora, “don” Julen Lopetegui Argote?
Em Setúbal, joga o Helton da Silva Arruda ou joga o Fabiano Ribeiro de Freitas? O Helton deve estar muito mal visto pelos filósofos do trogloditismo porque foi abraçar o Júlio César no fim do jogo. Bem chamou a atenção para este pormenor Jaime Pacheco, em rescaldo televisivo, garantindo que estas gentilezas não têm cabimento no histórico da casa. E Pacheco sabe do que está a falar.
Jogue Helton ou jogue Fabiano, na verdade, tanto faz. São dois bons guarda-redes.
É pena é não haver um émulo do “portero” que foi “don” Julen Lopetegui entre os guarda-redes do Porto.
- Um Lopetegui para a baliza, já!
Mas não, não há. Também era pedir muito.

Fonte : Leonor Pinhão @A bola


Balança de candidatos

Alguém tem de fazer alguma coisa. Talvez a Comissão Nacional de Eleições (CNE) devesse emitir um comunicado. É preciso explicar que, de acordo com a lei, podem ser candidatos à Presidência da República todos os cidadãos portugueses maiores de 35 anos, mas não convém que se candidatem todos ao mesmo tempo. A nove meses das eleições, já temos uns dez candidatos declarados e outros tantos ponderando candidatura. No meu tempo não era assim. Normalmente, havia dois candidatos fortes apoiados pelos partidos do centro, um ou outro independente, um apalermado e o do PCP. Neste momento, há uma grande abundância de apalermados e independentes. É cedo para perceber quem são os candidatos apoiados pelos partidos do centro. E ainda falta o do PCP.

O facto de a Presidência da República atrair cada vez mais candidatos apalermados é muito difícil de compreender. Historicamente, o candidato apalermado nunca ganhou a eleição (se excluirmos as vitórias irrepetíveis do Almirante Américo Thomaz), pelo que a candidatura parece condenada à partida. Não digo que não seja útil haver um candidato apalermado, até para que se respeite a tradição. Mas um palerma faz mais efeito a solo. Acompanhado de outros palermas, vê a sua palermice diluída na dos outros. É por isso que eu ando quase sempre sozinho, ou acompanhado de pessoas claramente não-palermas. A CNE devia chamar à parte os candidatos apalermados e ter com eles uma conversa franca. Dizer-lhes que, sem menosprezar a palermice de cada um, que é realmente vasta, talvez devessem fazer uma reflexão e desistir em favor do mais apalermado.

Creio que seria mais vantajoso para todos se o actual modelo de eleição do presidente fosse substituído por um sistema de cupões. Não há nenhuma prova que indique que as escolhas produzidas por uma tômbola são menos acertadas do que as decisões tomadas em consciência pelo povo português. E é um tipo de sufrágio em que a sorte desempenha um papel importante. Já vai sendo altura de termos sorte numa eleição. 
O grande benefício da profusão de candidatos é este: o Presidente da República sai-nos mais barato. Um superavit de candidaturas significa, segundo a lei da oferta e da procura, que o preço do candidato tende a cair. Com o Presidente que termina o mandato em Janeiro já não gastámos dinheiro em salários. É possível que, ao próximo, nem a reforma tenhamos de pagar.


Fonte: Ricardo Araújo Pereira@Visão

segunda-feira, abril 27, 2015

sábado, abril 25, 2015

Crítica de cinema

Neste momento, o filme mais visto do ano, em Portugal, é Velocidade Furiosa 7. Acaba por ser uma homenagem póstuma bastante terna do povo português ao mestre Manoel de Oliveira, cuja ideia de cinema era permeada pela velocidade furiosa enquanto valor estético fundamental. ?A segunda película mais vista do ano é As 50 sombras de Grey, o que faz sentido: um filme é sobre sinistralidade rodoviária e outro é sobre violência doméstica - dois temas centrais na actualidade portuguesa. Confesso que não vi nenhum dos filmes, na medida em que aprecio condução segura e sexo, digamos, gandhiano. Sou pela não-violência no leito. Rejeito tudo o que vá além daquelas tradicionais formas de ternura bruta, produto do entusiasmo, a saber: a palmada firme mas suave e o apertão ameno. Gostaria, aliás, de aproveitar este espaço para lamentar que as pessoas que repudiam o tipo de sexualidade que se pratica em As 50 Sombras de Grey sejam com frequência reputadas de enfadonhas e pouco modernas. Levar uma bolachada parece-me claramente nocivo para a lubricidade não só porque se assemelha menos a uma manifestação de regozijo e mais a um castigo por um trabalho mal feito, mas também porque me transmite a sensação inquietante de estar na cama com Trinitá, o caubói insolente. Creio que a vontade de imitar as práticas publicitadas no filme configura mesmo um caso de novo-riquismo sexual. Por causa destas objecções ideológicas, prefiro debater ambas as películas sem proceder ao seu visionamento - que, na maior parte dos casos, só atrapalha.
O aspecto mais saliente da série Velocidade Furiosa - ao menos para quem, como eu, só assistiu aos trailers - é que não só é difícil distinguir os filmes entre si como é difícil distingui-los do grande prémio de Silverstone. ?Os actores praticam um estilo de condução extremamente ousado, excepto na estrada nacional 1, onde se considera que este modo de conduzir é próprio de choninhas que não andam nem deixam andar.

Quanto a As 50 Sombras de Grey, creio que se trata de um filme bastante irrealista, uma vez que um jovem milionário com aquele aspecto não se relaciona com uma rapariga daquelas. Relaciona-se com 17 raparigas daquelas.

Deve registar-se, no entanto, que Hollywood parece estar a produzir cinema baseado nos temas da sociedade portuguesa, pelo que devem esperar-se para breve películas sobre incêndios florestais e greves nos transportes. Cá estaremos para apreciar, com toda a atenção, os trailers


Fonte: Ricardo Araujo Pereira@Visão

41 anos do 25 de Abril

Comemora-se hoje a liberdade, a 41 anos esse dia que teve um rosto, Salgueiro Maia. A data e o homem foram ultrapassados pela politica, espera-se que a liberdade nunca seja substituída pela politica.





Remédio para tudo

Não deixa de ser curioso como uma expressão nascida com intuito destrutivo – o afamado 'colinho' – que começou por ser gritado ao desbarato pelos nossos rivais históricos e histéricos, acabou por se transmutar num maravilhoso floreado metafórico adoptado pelos benfiquistas como signo da união na campanha em curso. Nasceu o 'colinho' para nos ofender mas num instante se esfumou a pretensão. Agora o 'colinho' é de quem o soube transformar, inteligente e perversamente, em incontornável e mais do que merecido auto-elogio.
Muito antes de o departamento de marketing ter respondido oficialmente aos confundidos e direccionados detractores do Benfica com uma campanha a que chamou 'colinho' – pena a referência a Lopetegui, de mau gosto e absolutamente dispensável -, já os benfiquistas anónimos, que não falham em qualquer estádio do país, tinham transformado o 'colo' e o 'colinho', com que nos pretendiam diminuir, em palavras de ordem no mínimo empolgantes.
Na nossa maneira de falar veio, assim, o 'colinho' tomar o lugar significante do antigo 'Terceiro Anel', que era a palavra-símbolo do apoio incondicional dado pelos adeptos à equipa. No futebol também é o povo que faz a língua. Nem sequer é grande novidade. E contra isto não há nada a fazer.
A grande novidade é que, rendidos à semântica triunfante, agora já todos querem ter 'colinho'.
A capa de O Jogo da última segunda-feira foi disso mesmo pragmático exemplo. «Colo até Munique» rezava a manchete em letras bem gordas ilustrada pela fotografia de um rapazinho, equipado de azul e branco, levado ao colo pela mãe até ao Aeroporto de Pedras Rubras para se despedir da equipa que partia para a Alemanha.
São estas transmutações de sentido das palavras que constituem a felicidade das línguas vivas, sempre capazes de se reinventar e de conferir novos e insuspeitos sentidos a palavras suspeitas, ou vice-versa, ao contrário do que acontece com o latim que é uma língua morta.


No sábado de manhã, na sua edição on-line, o Expresso trazia um título de pôr os cabelos em pé: «Benfica já está a gravar hino de campeão».
- Cambada de idiotas! – foi o que me saiu. Peço desde já desculpa. O insulto, de que logo me arrependi, era todo ele dirigido às alegadas luminárias do meu clube que, pelos vistos, não tinham aprendido nadinha com o que nos acabou por custar o título de 2012/2013 – a fanfarronice.
Perante um título destes, epítome da intolerável fanfarronice, para mais veiculada num semanário de referência, uma pessoa sensata até tem de respirar fundo antes de se abalançar, temendo o pior, a ler a notícia no seu todo. Mas nem me valeu a pena o esforço de respirar fundo porque imediatamente ficou tudo esclarecido.
Na verdade, o texto jornalístico não mencionava em parte alguma que o Benfica estivesse a gravar um «hino de campeão» quando ainda falta tanto para o termo da prova. Nem insinuava, valha a verdade.
Apenas nos contava a notícia do Expresso, e com singeleza, que o Benfica tinha convidado o maestro Nuno Feist para «compor os arranjos musicais de uma versão moderna da canção Ser Benfiquista, hino escrito originalmente por Paulino Gomes Júnior nos anos 50».
O que é uma coisa completamente diferente, como concordarão. Não há aqui indícios de festejos antecipados nem da tal fanfarronice. Peço, portanto, desculpa por ter sido injusta ao chamar impulsivamente idiotas aos responsáveis do meu clube. Não, não são.
E vejam só como um título enganador – «Benfica já está a gravar hino de campeão» – que não tem correspondência com a realidade e que só tem correspondência direta com a idiotice (felizmente, não com a nossa idiotice como se acabou por revelar) pode encimar uma notícia que só tem correspondência directa com uma tocante homenagem musical e familiar prestada pelo Benfica a Paulino Gomes Júnior.
Sendo o maestro Nuno Feist neto de Paulino Gomes Júnior – facto fulcral e ignorado na notícia -, é bem bonito ter-se o Benfica lembrado de encomendar a Feist uma versão contemporânea da canção originalmente composta pelo seu avô para a campanha de recolha de fundos que permitiu a construção do Estádio da Luz.
Coisas nossas, apenas isso.


No jogo com o Belenenses o Benfica conseguiu matar o fantasma do golo madrugador que lhe roubou os 6 pontos das deslocações a Braga e a Vila do Conde. Isto para quem acredita em fantasmas, obviamente. 
Houve, é certo, muito boa gente preocupada com o golo de Jonas no Restelo logo aos 5 minutos de jogo. Anteviam o adormecimento da equipa e a inerente derrota, não seria a primeira vez. Nem, pior ainda, a segunda.
Não foi isso, no entanto, o que aconteceu. O Benfica, sem jogar bem, esteve sempre vivo no jogo e um segundo golo de Jonas arrumaria a questão a pouco mais de dez minutos do fim.
Ficam agora a faltar cinco jornadas. Se o Benfica ganhar os três jogos que lhe faltam disputar em casa é campeão.
Carrega, Benfica! Carrega mais três vezes…
Eu sei, eu sei que falar é fácil.


O que aconteceu anteontem ao Porto em Munique é, precisamente, o que me fez suspirar de alívio nas duas últimas temporadas sempre que o Benfica saiu da Liga dos Campeões e se viu relegado para a Liga Europa. 
Não é falta de ambição, é realismo.
As equipas portuguesas de top não têm andamento quando se chega a este patamar da competição europeia mais importante e arriscam-se a ser veementemente maltratadas por poderosíssimos adversários. Já a Liga Europa é uma prova simpática, à nossa medida, como se tem vindo a provar.
Este ano, é verdade, o Benfica nem à Liga Europa chegou, foi uma pena.


O Valência lá voltou a espiar o Benfica, contam-nos os jornais. Agora no Restelo os seus emissários reviram em acção o maior artista do campeonato português, Jonas.
Precisamente o mesmo Jonas a quem o Valência fez a vida negra, impedindo-o de jogar e até de se treinar com os companheiros acabando por o libertar de borla para o Benfica, que muito encarecidamente agradece.
Saberá o Jonas que tem vindo a ser observado pelos detectores de talentos do Valência, por mais que tentem fechar os olhos quando o brasileiro pega na bola? Tudo leva a crer que sim, sabe. Se não sabe, desconfia. E como isso o tem inspirado.
Aproxima-se agora o clássico. E mesmo que o Valência, farto de ver golos do Jonas, não mande ninguém espiar o jogo do Benfica no próximo domingo é da maior conveniência dizer ao jogador, meia hora antes da entrada em campo, que o próprio Peter Lim, munido de binóculos, já está no camarote pronto a observá-lo e, se possível caro Jonas, a interrogar-se sobre o sentido da vida.


Na noite de terça-feira, o Expresso on-line explicava a humilhação sofrida pelo Porto em Munique recorrendo à sobrenaturalidade.
A goleada aconteceu porque «Jesus encarnou em Julen». E foi uma «invenção» feita «à treinador do Benfica» que «deixou o Porto a descoberto» na Alemanha.
Está visto, portanto, de quem foi a culpa do colapso portista. O treinador do Porto por si só não chegava lá. Teve de encarnar no treinador do Benfica, o verdadeiro réu de Munique.
Em resumo: houve que baixar o espírito do Jorge Jesus no espírito Lopetegui para lhe poderem chamar burro à vontade. Ao Lopetegui, naturalmente.
O Benfica, que nasceu numa farmácia e foi fundado por um homem cujo nome evoca os dois Santos maiores da medicina – São Cosme e São Damião -, também não pode ser remédio para tudo em Portugal."


Fonte: Leonor Pinhão@ A Bola

segunda-feira, abril 20, 2015

Frases - VIII

"Escreve, se puderes, coisas que sejam tão improváveis como um sonho, tão absurdas como a lua-de-mel de um gafanhoto e tão verdadeiras como o simples coração de uma criança."

 - Ernest Hemingway

sábado, abril 18, 2015

Terá o Valência vindo à Luz observar Jonas?

O Valência voltou à Luz no sábado. Lá estiveram sentadinhos os seus prospectores cheios de euros e de dólares e de vontade de os gastar. Não conhecem local mais aprazível para ir às compras do que o Estádio da Luz. São as singularidades do mercado. Nada a obstar.
Entretanto regressaram a casa e, certamente, já apresentaram a Peter Lim o relatório de tudo o que lhes foi dado observar na hora e meia do jogo do Benfica com a Académica.
Se foram sérios na análise às exibições individuais dos jogadores do Benfica, e é para isso que lhes pagam, a esta hora os olheiros do Valência já devem ter sido todos despedidos.
E com justa causa.
O senhor Lim pode ter muito bom feitio e ser dono de uma generosidade sem limites mas, caramba, virem-lhe dizer que o melhor jogador do Benfica e da Liga portuguesa é aquele brasileiro de 31 anos chamado Jonas e que, no fim de contas, se trata exactamente do mesmíssimo Jonas que o Valência teve consigo e que castigou, isolou, humilhou e chutou para o mercado sem proventos nem dividendos, digam lá se isto não é coisa para confundir e fazer perder a compostura a todo e qualquer magnata de Singapura.


As emoções de um campeonato como este, disputado taco-a-taco com o rival das últimas três décadas, distraem-nos de outros temas que não se prendam directamente com a luta em vigor pelo título nacional.
É compreensível que assim seja, acho eu.
No entanto, bastou uma notícia vinda dos confins da Alemanha para despertar em todos ou, pelo menos, em quase todos, memórias de situações que, em tempos idos, fizeram furor. E que furor.
O caso das agressões aos stewards no Benfica-Porto de 20 de Dezembro de 2009, por exemplo, já foi resolvido na Justiça ou continua a vaguear pela sua senda gloriosa rumo à prescrição?
Os cinco arguidos já se apresentaram em tribunal? E terão conseguido fazer valer a tese de que se agrediram os stewards foi em legítima defesa do seu bom nome? E quanto aos stewards, propriamente ditos, sempre são «agentes» do espectáculo ou provocadores contratados ou sacos de pancada para alívio de frustrações?
Há novidades deste episódio, passados que são mais de cinco anos sobre a original ocorrência?
A bem da verdade, a ocorrência nem sequer é extraordinariamente original. Ainda na semana passada, num jogo a contar para Taça da Alemanha entre o Leverkusen e o Bayern de Munique, o internacional bósnio Emir Spahic viu-se substituído nos instantes finais da partida e, a caminho do balneário, agrediu um steward que lhe apareceu pela frente.
O defesa-central do Leverkusen alegou que tinha sido provocado pelo dito steward mas, para não perdermos mais tempo, o melhor será passar já a palavra ao senhor Michael Schade, director-geral do clube que Spahic representa. Ou melhor, representava.
- A análise do caso através das imagens das câmaras de vigilância deixaram-nos sem outra escolha que não fosse a rescisão do contrato com Emir Spahic a quem desejamos as maiores felicidades para a sua carreira futura.
E, como se não bastasse, ainda acrescentou o dirigente do Leverkusen:
- O vídeo do incidente chocou-nos e embaraçou-nos e como não podemos esperar pelas decisões do processo legal entretanto instaurado tivemos de pensar numa resposta imediata a dar pelo nosso clube. 
Estes alemães, coitadinhos, devem ser malucos.


Na última jornada da Liga o Benfica venceu por 5-1 a Académica. Dizer que foi melhor a exibição do que o resultado, que foi farto, já é dizer tudo sobre a exibição. Foi, na verdade, muito boa.
A Académica apresentou-se na Luz teoricamente escalada para não sofrer golos mas cedo se viu goleada e desanimou.
Para além do caso sério que foi o Benfica a jogar à bola, o jogo não teve casos.
Os nosso rivais em não se podendo agarrar a decisões da arbitragem, argumento recorrente quando a nossa vitória é tangencial, insinuam sempre que o adversário estava feito com o Benfica quando o resultado é uma goleada como a que aconteceu no sábado.
Rapazes da Académica, é que nem se ofendam com isto. São os nervos.
Adiante.


Por questão de lesões e também, provavelmente, de feitio, Enzo Pérez não tem sido feliz nestes seus primeiros tempos em Valência. Sosseguem, valencianos. O argentino também não foi nada feliz nos seus primeiros tempos no Benfica e depois foi o que viu.
É provável, no entanto, que o dono do Valência, o tal magnata de Singapura, seja uma pessoa impaciente e se exaspere por ver justificados os milhões investidos em Enzo.
E mais exasperado ficou, certamente, se os seus emissários lhe apontaram, em letra de relatório, que o substituto para Enzo inventado no Benfica, um tal Pizzi, enfim, é tão bom ou melhor do que a mercadoria entretanto adquirida.
Se não é, olhem bem, é o que parece.
Carrega, Pizzi!


Antigamente, os jogos eram todos ao domingo e à mesma hora. Os adeptos iam sabendo pela rádio os resultados nos outros campos do país. Era emocionante.
Depois de amanhã vamos ter coisa parecida. Depois de muitas curiosas hesitações, a recepção do Porto à Académica ficou, finalmente, marcada para a mesma hora da visita do Benfica ao Restelo.
Vão, assim, os dois que discutem o título jogar ao mesmo tempo. Vai haver uma corrida aos transístores de bolso. E não se esqueçam das pilhas.


A linha da frente do Benfica fez maravilhas no sábado passado mas, em prol daquele espírito indispensável à revalidação do título, o melhor jogador em campo foi o André Almeida.
Pelo que jogou, pelos dois golos que ofereceu, por ter sabido uma vez mais responder em pleno à necessidade de substituir um companheiro, por saber ser suplente sem nunca se queixar, por estar sempre disponível para a equipa em cada momento do jogo, por não nos deixar ficar mal.
Quando, já perto do fim do jogo com a Académica, Maxi Pereira conseguiu ver o pretendido cartão amarelo que o afasta do Restelo e o garante para o clássico seguinte, não deve ter havido adepto do Benfica que não pensasse com grande tranquilidade: 'Não faz mal, com o Belenenses joga o André Almeida a defesa-direito …'
E este é um grande elogio porque, com toda a franqueza, substituir Maxi Pereira não é para qualquer um.


E o colinho que o Bayern deu ontem ao Porto? Tantas facilidades. Até pareciam a Académica na Luz.
Ou não pareciam?
Transpondo para o jogo de ontem no Dragão as palavras a que recorreu Miguel Sousa Tavares, por exemplo, para descrever a sugerida renúncia da Académica no jogo com o Benfica, também os jogadores do Bayern «assim que ouviram o apito inicial, não descansaram enquanto não viram a derrota feita, consumada e garantida».
E nisso gastaram os alemães apenas 5 penosos minutos enquanto, voltando ao jogo da Luz, os jogadores da não-Briosa «nisso gastaram apenas 18 minutos».
Estou, no entanto, plenamente convencida de que a Académica conseguirá fazer melhor do que o Bayern de Munique fez no Dragão.
Aliás, está no seu pleno direito.

Fonte: Leonor Pinhão @A Bola

Fluxo de inconsciência

"(...) até acho que, nesse aspecto, nessa coincidência, tem a felicidade de ser no mesmo momento em que outro grande português também nos deixa e por isso, nessa dimensão, é uma felicidade poder sê-lo e partilhar o momento com o mestre (...)."
José Pedro Aguiar Branco, sobre o facto de Silva Lopes ter morrido no mesmo dia de Manoel de Oliveira

Quando o ministro Aguiar Branco publicou um esclarecimento sobre estas declarações, dizendo que pretendia evitar que alguns fizessem uma utilização perversa das suas palavras, fiquei muito surpreendido. Normalmente, sou dos primeiros a fazer utilizações perversas das palavras alheias, mas só quando as compreendo. O potencial de utilização perversa desta frase (digamos assim) tinha-me passado despercebido, uma vez que, nesse aspecto, nessa coincidência, nessa dimensão, eu não fazia ideia do que ele estava a falar. Avisado por Aguiar Branco, fui então reexaminar as afirmações de Aguiar Branco, e julgo estar neste momento em condições de fazer uma utilização perversa, quer das palavras iniciais, quer do esclarecimento publicado a seguir.

Aguiar Branco justificou as suas declarações com um lapsus linguae. Não é uma desculpa aceitável. Trata-se, de facto, de um lapsus, mas a linguae não tem culpa nenhuma. Um lapsus linguae é, por exemplo, dizer "na praça vou ao domingo" em vez de "no domingo vou à praça". Aquela algaraviada sobre a felicidade da coincidência de um grande português que pode sê-lo também por isso no mesmo momento, não é um lapsus linguae. Creio que se trata do modo narrativo conhecido por fluxo de consciência, em que são reproduzidas as complexidades do processo mental das personagens. O fluxo de Aguiar Branco é particularmente torrencial, pelo que, como é óbvio, estilhaça as regras da sintaxe. Comparado com o pensamento de Aguiar Branco, o de Benjy Compson* é organizado e límpido. Ainda assim, é possível recolher, na estranha amálgama de vocábulos proferida pelo ministro, três magníficos conceitos novos.

O primeiro conceito é o do óbito sincronizado. Aguiar Branco assinala, e bem, a coincidência de terem morrido duas pessoas no mesmo dia. Esse acaso é, para o ministro, uma felicidade. Esta hipótese de encontrar felicidade num momento que, até aqui, se considerava ser pouco feliz, pode levar a que as pessoas pretendam sincronizar o seu óbito com o de figuras que admiram, buscando felicidade idêntica.

O segundo conceito é o do falecimento de prestígio. Está ligado ao óbito sincronizado, na medida em que o prestígio advém da coincidência dos óbitos, mas aprofunda a relação entre os dois finados, uma vez que um, além da felicidade que proporciona ao outro, ainda lhe confere uma notoriedade adicional.

O último conceito é o do defunto pendura. Não se pode ignorar que, neste jogo de passamentos, há um defunto mais prestigiado que dá uma boleia de status ao outro, a caminho da eternidade. Quando pensávamos que a morte nos torna iguais uns aos outros, Aguiar Branco consegue descobrir ainda um restinho de desigualdade, uma pole position rumo ao infinito.


Fonte: Ricardo Araújo Pereira

segunda-feira, abril 13, 2015

Não tivemos estofo de campeão. Nós, o público.

A primeira hora de jogo do Benfica com o Nacional foi de altíssima categoria. Depois, com o resultado já em 3-0, e sendo impossível manter aquele padrão de excelência, lá veio a descontracção e com a descontracção reinante veio, naturalmente, o golo do Nacional.
E com o golo do Nacional vieram as manifestações de desagrado do público da Luz num momento posterior em que o adversário recuperou uma bola e voltou a aproximar-se da baliza de Júlio César.
A situação nem sequer era de perigo extremo mas memórias recentes de jogos em que o Benfica não soube segurar vantagens adquiridas provocaram um ataque de nervos no público que praticamente enchia o Estádio da Luz.
No entanto, o que Jorge Jesus ouviu e não gostou não foram assobios. Foram suspiros de aflição. São coisas muito diferentes ainda que ambas desagradáveis.
A verdade é que das bancadas saíram em catadupa «ais!» que deveriam ter sido diplomaticamente abafados em cada peito benfiquista a bem da tranquilidade e do sucesso da equipa, que é o nosso sucesso também. Mas aos suspiros não houve maneira de os conter, aconteceu mesmo.
O treinador viria a lamentar publicamente a atitude do público e dou-lhe inteira razão.
Não tivemos estofo de campeão. Nós, o público. Não custa reconhecer esta evidência.
Na penúltima jornada, a da visita a Vila do Conde, aconteceu precisamente o oposto. Do lado de dentro, o Benfica não teve estofo de campeão porque se iludiu fatalmente com aparentes facilidades enquanto o público afecto, ao comparecer em massa no Estádio dos Arcos apoiando do primeiro ao último minuto, deu uma cabal demonstração do que é ter estofo de campeão do lado de fora.
Voltemos ao incidente de domingo passado. Julgo ter sido a primeira vez nesta época que se ouviram na Luz manifestações de desagrado.
Nem quando a equipa foi prematuramente eliminada da Taça de Portugal pelo Sporting de Braga houve quem protestasse de modo a se fazer escutar. E, com mais classe ainda, se comportou o público da Luz quando a equipa se viu derrotada contundentemente pelo Zénite de São Petersburgo e recebeu, à despedida, uma calorosa ovação pelo empenho real demonstrado em campo jogando em inferioridade numérica grande parte do encontro.
O que aconteceu no domingo depois do golo do Nacional foi, portanto, uma raridade. O que também não custa reconhecer.
Foi a primeira vez que nesta temporada o público falhou à equipa. A equipa, em contrapartida, já nos falhou mais uma ou duas vezes.
O ideal era dar por encerrada a contabilidade dos falhanços mútuos de 2014/2015. Fiquemo-nos todos, equipa e adeptos, por aqui.
Falhando pouco, já falhámos todos demais.
Carrega Benfica!


O Benfica já conhece o nome do seu adversário na final da edição corrente da Taça da Liga. Trata-se do Marítimo que conquistou esse direito na quinta-feira passada.
O semi-finalista vencido foi o Porto que, ano após ano, lá se continua a ver livre da dita Taça da Liga. E com os preciosismos que a proeza exige.
Sim, porque já constitui proeza, porque mania não deve ser, em oito edições da prova não se contar uma que sorrisse ao Porto.


A relação de Jonas com o Benfica, ou vice-versa, é de igual para igual em aspectos do ponto de vista prático. Ambos são enormes.
O Benfica é um clube enorme e Jonas é um jogador enorme. Juntos ficam ambos muito bem. Uma beleza. 
Do ponto de vista exclusivamente sentimental também só pode existir grande reciprocidade entre Jonas e o Benfica. Gostam um do outro. E ambos lamentam ter-se conhecido só agora.
Que pena não ter chegado um ou dois aninhos mais cedo ao Benfica, pensará Jonas quando não está ocupado a marcar golos. E também nisso estamos com ele, totalmente de acordo. Que pena o Jonas não ter vindo mais cedo para o Benfica. Que desperdício.


No capítulo das expectativas, contra o pessimismo de uns e contra o optimismo de outros, Carlos Xistra foi tudo menos um árbitro condicionado no Estádio dos Barreiros, na quinta-feira à noite, e no Estádio da Luz, no sábado à tarde.
No Benfica-Nacional, enganou-se por uma vez transformando um pontapé-de-canto num livre indirecto (ou vice-versa) e terá sido somítico no tempo de desconto. Concedeu apenas 3 minutos. Tivesse concedido 4 minutos e teria recebido nota máxima.
O mesmo árbitro, diga-se, já tinha estado em excelente plano no Marítimo-Porto.
Para o treinador do Porto, no entanto, Carlos Xistra falhou estrondosamente ao assinalar a grande penalidade que permitiu ao Marítimo chegar ao empate.
É uma desculpa como outra qualquer. E nem sequer é o momento mais criativo de Lopetegui na sua saga contra os árbitros portugueses.
Em primeiro lugar, porque não falou em latim.
Em segundo lugar, porque já lhe é difícil ultrapassar-se a si próprio depois de ter acusado os tocadores de bombos da claque do Nacional de serem responsáveis pelos 2 pontos perdidos na anterior viagem à Madeira.
E em terceiro lugar, porque não falou em latim em primeiro lugar.


Eliseu viu um cartão amarelo no sábado e não pode jogar com a Académica, o próximo adversário do Benfica. Diz-se que na sua posição vai estar André Almeida que fez uma belíssima exibição com o FC Porto no jogo da primeira volta ocupando o lugar ingrato de defesa-esquerdo. Lembram-se?


No sábado à noite houve muita discussão por esse país fora mas discussão da boa, 100 por cento construtiva.
E, enfim, depois de muita troca de opiniões foi praticamente impossível chegar-se a consenso sobre o que de melhor o Benfica nos acabara de oferecer no jogo com o Nacional.
Havia muitas dúvidas e opiniões contrárias.
Se foi o segundo golo de Jonas ou se foi a exibição de Gaitán ou se foi a chiquelina aplicada por Salvio a um adversário, ou se foi… ou se antes foi…
Pela parte que me toca, apreciei imenso a chiquelina do Sálvio, a exibição do Gaitán e o segundo golo do Jonas mas não consigo dar primazia a nenhum destes momentos artísticos e por uma boa razão, acho eu. 
Porque, na verdade, do que mais gostei no jogo com o Nacional foi do instante, já mais para o fim, em que Maxi Pereira, defendendo a sua zona perante uma investida contrária, foi empurrando o adversário que transportava a bola num ombro-a-ombro tão notável quando legítimo, forçando-o a andar para trás uma dúzia de metros e a regressar ao seu meio campo bastante desmoralizado e sem saber o que fazer.
É assim que se ganham campeonatos.
O que seria dos artistas da bola sem os operários do futebol?


O Benfica-Porto está ameaçado! – foi a manchete de anteontem da imprensa desportiva e não só.
Isto por causa de um movimento reivindicativo dos árbitros portugueses.
Expresso aqui a minha solidariedade com a sua luta. Exigem receber as verbas a que têm direito e que a Liga retém sem lhes dar cavaco nem mostras de arrependimento.
Com o intuito de fazer valer as suas pretensões, os árbitros pediram dispensa de apitar nas últimas cinco jornadas do campeonato. É uma forma de pressão legítima.
E continuo a expressar a minha solidariedade com esta luta desde que, longe vá o agouro, não se lembrem as entidades competentes de resolver o assunto da falta de árbitros repescando árbitros já retirados para dirigir os jogos das últimas cinco jornadas.
Expresso, portanto, a minha solidariedade com a greve dos árbitros desde que não se lembrem de ir repescar o já aposentado Pedro Proença para dirigir o próximo Benfica-Porto como só ele sabe."


Fonte: Leonor Pinhão @A Bola

Aspectos da poesia de louvor a José Sócrates

Trata-se de uma poesia que lamenta não ter acesso a processos judiciais, o que é bastante original
Após a publicação do segundo hino de homenagem a José Sócrates, os principais observadores chegaram a algumas conclusões interessantes. A primeira, e mais evidente, foi esta: entre os maiores apoiantes do antigo primeiro-ministro, não há ninguém com ouvido para a música. Creio que talvez haja aqui uma precipitação. Na minha opinião, a desarmonia de ambas as canções pretende obter um efeito duplo: colocar em evidência o carácter também desarmónico da justiça portuguesa e infligir ao ouvinte um sofrimento semelhante ao que José Sócrates padece no cárcere. No segundo hino, os versos "se quiseres dizer presente / Portugal vai estar contigo / amanhã" parecem ser interpretados por um tecido de vozes que inclui um apreciador contumaz de bagaceiras, duas feirantes e um coro de, pelo menos, meia dúzia de leitões.
Nestes hinos de homenagem, a poesia é ainda mais interessante do que a música. O poema do primeiro hino é, à maneira de Neruda, uma canção desesperada. O poeta começa por interpelar o próprio Sócrates: "Diz-me porquê, diz-me / Nós não sabemos nada". Trata-se de uma poesia que lamenta não ter acesso a processos judiciais, o que é bastante original. Estamos perante um poema que substitui as perguntas, já estafadas, da poesia lírica (por exemplo: "Qual é a essência do amor?"), por uma questão que mergulha nos problemas concretos da vida ("Quais são, afinal, os fundamentos legais desta prisão preventiva?") A primeira quadra termina com a promessa "Mas resistiremos por ti / Até que seja madrugada", indicando que os apoiantes de Sócrates têm coisas combinadas para a manhã do dia seguinte. Resistem até de madrugada, mas depois, provavelmente, têm de ir trabalhar - o que volta a introduzir no poema um tom prosaico, lembrando uma vez mais que estamos a falar de gente de carne e osso, que sofre, trabalha e canta francamente mal. Mais à frente, surge um verso irónico: "Ser livre não tem preço". Uma evidente referência à liberdade de Ricardo Salgado, cujo preço foi, precisamente, três milhões de euros.

No segundo hino, o poema conta uma história: "Era uma vez uma criança / que sonhava ver nos montes ventoinhas a rodar". O poeta leva-nos para a infância de Sócrates, um menino que, como tantos, fantasiava com a instalação de dispositivos geradores de energias alternativas. A intenção do poema é óbvia: os projectos de José Sócrates foram sonhados na infância, e nenhuma criança sonha com corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais. O ex-primeiro-ministro continua a ser aquele menino, o que agrava o sentimento de injustiça relativamente à sua detenção. Não se pune um menino com a prisão. Orelhas de burro talvez sejam um castigo apropriado. Uma palmada, no máximo. É curioso notar que este menino venceu, nas eleições, outro menino, o menino guerreiro. Portugal é uma brincadeira de crianças. Isto de alguém acabar preso é uma novidade que sobressalta. Não admira que os poetas se agitem.

Fonte: Ricardo Araujo Pereira@Visão

Frases - VII

"A vida já complicada e cheia de contratempos. Conservar o bom humor é um segredo de sobrevivência."

 - Autor desconhecido


segunda-feira, abril 06, 2015

domingo, abril 05, 2015

Agostinho da Silva

Agostinho da Silva, 
(Porto, 13 de Fevereiro de 1906 — Lisboa, 3 de Abril de 1994)


"Vida lhe é tanto de amor

e amor à vida tão forte

que morte não lhe dá na vida

vida vê na própria morte"





Modalidades - 2024/04/13

Sábado, 2024/04/13  - 15:00 - Rugby - Gds Cascais -v- SL Benfica - Campeonato Nacional De Honra | 23/24 - Jornada 18  - 15:00 - Andebol Fem...