quinta-feira, setembro 26, 2013

Jesus quis mudar o mundo

A meio de um programa de debate de futebol, depois de discutirem longamente treinadores e administradores que agridem ou talvez não, apresentador e comentadores concordam felizes: vamos falar de futebol finalmente, e a pergunta seguinte surge de imediato: quem foi mais prejudicado no jogo xis? 

"Fui eu, fomos nós, não foram nada, como consegue dizer isso com esse ar sério?", e depois sorriem, soltam a gargalhada falsa e irónica, por entre mais um "não é possível", como se negar a evidência em televisão fosse já uma arte. Futebol em Portugal é muito isto, quase nada de jogadores, tudo de bastidores.

Os treinadores entraram na dança: Jorge Jesus disse antes dos jogos que os rivais eram favorecidos e Paulo Fonseca respondeu depois das partidas que, com o que disse, Jesus ganhou em três campos. Logo Jesus a ganhar por falar, ele que tem tão pouca habilidade com as palavras. É da tradição: aos primeiros pontos perdidos, a culpa é dos árbitros. Claro que alguns, como Rui Silva ou Carlos Xistra, só ajudam à festa mas são o alvo fácil neste reino do "quem não chora não mama".

Leonardo Jardim, que recusou queixar-se, faz lembrar o soldado que marcha ao contrário de todo o pelotão. Chega a dizer que o seu clube está entre os... habitualmente beneficiados. Está ele certo ou estão os outros? Pelo sim pelo não, falem menos e treinem mais, sugeriu o presidente de Leonardo, logo a seguir.

O resto foi ainda mais fantasmagórico. Jorge Jesus perdeu a cabeça depois de ter ganho (!) e anda pelo campo no meio de adeptos e polícias, a querer mudar o mundo com palmadas e puxões. A intenção inicial podia ser a melhor mas o espectáculo foi deprimente e já não é o primeiro caso. Um administrador do FC Porto, também reincidente em cenas pouco louváveis, reagiu agressivamente ao festejo de um golo do Estoril por parte de um dirigente associativo de Lisboa. Jovem dirigente, benfiquista, logo lhe chamou um velho dirigente, portista.

Nas declarações posteriores ao caso, Lourenço Pinto e Nuno Lobo prestaram um péssimo serviço e às associações que dirigem e aceitaram colocar-se como correias de transmissão (a expressão era outra mas vou conter-me) no terreno minado de uma estúpida guerra entre dois clubes e que tão mal faz ao futebol. É a tempestade perfeita. 

Meu caro e saudoso Vítor Correia, a sua frase histórica está desatualizada: já é a bicicleta que anda de porco.


-Carlos Daniel, Diário de Noticias

Sem comentários:

Modalidades - 2024/04/13

Sábado, 2024/04/13  - 15:00 - Rugby - Gds Cascais -v- SL Benfica - Campeonato Nacional De Honra | 23/24 - Jornada 18  - 15:00 - Andebol Fem...